Kiss and Control
UA - Ele não precisava dizer ou fazer mais nada, se mantendo afastado e demonstrando um prazer horripilante em vê-la querer algo que não podia ter: liberdade. Até o momento em que havia algo mais a impedindo de ser livre: seus controladores beijos.
Prólogo
O sol não precisava despontar amarelamente no horizonte. A rotina e o dever fizeram com que a herdeira Hyuuga o pressentisse antes disso acontecer.
Piscou três vezes e tal qual esse sutil movimento, os seguintes se deram igualmente leves, mudos e precisos. A cama arranjada como se ela não tivesse passado a sua noite ali.
Seus pés a levaram para o banheiro. Os músculos se adaptando ao novo estado, os olhos perdendo a névoa que os embaçava após todo o despertar. A postura que contradizia o torpor sonolento que seu organismo relutava em largar.
Com a coluna reta, ela se olhou no espelho.
Mais um dia começava.
- Iá! – Hinata treinava na ala oeste da mansão Hyuuga.
Para manter o equilíbrio e adquirir a sabedoria e, a formação que seu destino requisitava, não era somente necessário estudar, ou aulas de postura, ou de comportamento adequado.
A mente e o corpo são como a ponta de um mesmo fio e se este está padecendo ao ser desfiado numa das pontas, não demorará muito para que o mesmo ocorra com a outra ponta.
Por isso ela estava cumprindo mais um dia de treino.
- Bom treino Hinata-sama – o mestre Yushiki sinalizou o fim da aula.
- Obrigada mestre – ela disse docemente e foi liberada em seguida.
Se inclinando em agradecimento para uma das criadas, que lhe aguardava na porta do local de seu treino, ela aceitou uma toalha e um copo de água.
As endorfinas liberadas pelo seu corpo logo após o exercício físico a enovelaram num abraço prazeroso, assim como a descida do líquido gelado pela sua garganta. Porém sua face permaneceu corada (independente do recente refrescor que bebera), devido ao esforço da atividade física e frente à expectativa de encontrar sua irmã. Elas haviam marcado uma manhã de compras e Hinata não fazia tal coisa com freqüência, mas somente o fato de sua irmã estar tão empolgada e falando pelos cotovelos desde as vésperas, fez com que a Hyuuga mais velha acabasse se contagiando.
Hinata sempre fora muito sensível às emoções alheias. Característica interpretada como fraqueza pela maioria do seu clã. Se ela estava em contato com alguém muito alegre, seu coração se aquecia com o mesmo sentimento; se era alguém que estivesse muito triste, ela sufocava com uma dor no peito ao sentir o mesmo que o outro.
E esse "dom" influiu na futura escolha sua para medicina, a capacidade de se identificar era a base do curso. Porém, não significa que o que a doce Hyuuga gostaria de fazer, ela iria fazer.
Seu pai acreditava que a medicina iria somente desviar Hinata do seu verdadeiro destino: assumir a liderança da corporação Hyuuga.
Ao relembrar das palavras ásperas do pai, Hinata sentiu a conhecida onda de impotência e incapacidade que sempre lhe assomava, desde quando era pequena. A decepção e insatisfação de seu genitor era uma constante em sua vida, mas nem por isso fizera com que Hinata se acostumasse.
Era constantemente doloroso.
Certas regras existiam e deveriam ser respeitadas e naquele momento Hinata havia esquecido completamente delas, seja devido aos seus pensamentos tristes (que envolviam o pai) ou aos entusiasmados (que levitavam em torno de Hanabi e a ida às compras). Os passos se davam mais rápidos do que era seu costume, um pequeno sorriso aflorava em seus lábios assim como um brilho perceptível em seus olhos, além da sensação de pré-ouvir as exclamações excitadas e escandalosas de sua irmã.
Hinata havia conseguido, pelo menos naquele ínfimo segundo, esquecer do gélido e amargo olhar que seu pai lhe reservava.
Com uma das mãos no corrimão de madeira nobre, a outra balançando à esquerda para manter o equilíbrio na sua corrida, ela percorreu o primeiro lance de escadas. A vista borrada e o que menos importava era o que estava a sua frente no agora, mas sim o que estaria num futuro bem próximo.
Seu corpo já tinha decorado num mapa interno todos os centímetros da casa. Ao menos era no que ela se escorara para continuar seu caminho rumo ao seu quarto. Provavelmente Hanabi já estaria lá a aguardando com um livro preenchido de reclamações e uma lista determinando o que deveriam fazer passo a passo e...
Uma pisada em falso e a perda do seu ponto central de equilíbrio. Ela ainda tentou recuperar sua posição anterior, mas só conseguiu atrasar a sua queda por questão de segundos. Instintivamente ela fechou os olhos e trouxe as mãos na direção dos mesmos para proteger o rosto.
Um, dois e três.
Ela refez a conta com as pálpebras mais apertadas.
Um, dois e três e...
Lhufas.
Confusa ela descontraiu todos os músculos, abrindo os olhos.
Braços a impediram de cair.
Braços tão diferentes dos dela, não unicamente porque eram masculinos. Eram fortes, determinados e agiam com uma precisão que ela reconhecia que nunca chegaria a ter. Apesar de seus treinos, não obtinha a mesma habilidade e aparência daqueles braços.
Hinata não precisava ver o dono dos membros para saber a quem pertenciam.
- Neji-nii-san... – ela não sabia o que dizer, ao menos tinha certeza absoluta de que não precisava fitar seu rosto para saber que era ele, sendo que ela não precisava fitá-lo principalmente porque não conseguiria.
Ele deveria lhe estar encarando inexpressivamente repreensivo. Era impossível presenciar um momento sequer em que seu primo esboçasse um milímetro de emoção. Assim como ela se vigiava o máximo possível para que não fosse pega fazendo algo que fosse contra as regras...
Porém, ali estava ela. E o frio que a enforcava era pura e simplesmente recriminador.
- O-o-obrig... – ela teria completado seu agradecimento, se ele não tivesse lhe dado as costas e continuado seu caminho como se nada tivesse acontecido.
O que era a mais crua ilusão.
Ele não era do tipo que esquecia.
Ainda congelada por uns bons vinte segundos, Hinata soltou o ar aliviada e se lembrou do compromisso com Hanabi. Não adiantava se torturar por algo que poderia ser um problema, assim como não poderia se tornar um.
Com cuidado, ela chegou à porta de seu quarto e retomando seu sorriso discreto, ela entrou.
Para sua grande surpresa Hanabi não estava ali. Em vez disso, seu pai a esperava tão impassível e endurecido como sempre fora.
- P-p-papai...? – ela se lembrou que precisava respirar após, enfim, pronunciar o que sua visão lhe indicava estar adiante.
- Seu treino acabou faz dez minutos – o líder Hyuuga mencionou, sem emoção.
Não era uma pergunta.
- E-eu... encontrei c-com Neji-nii-san – ela se justificou, aos poucos se refazendo da presença inesperada.
- Desça para o meu escritório, temos coisas para acertar Hinata – ele encerrou o assunto não esboçando ter dado importância ao que ela lhe dissera.
- Si-sim senhor – ela anuiu respeitosamente, diante da saída de seu pai.
A decepção fez com que seus braços caíssem pesados na lateral de seu corpo.
Mais uma vez ela tentaria provar não ser fraca, ou uma inútil.
Os Hyuuga possuíam muitos bens. Eram uma grande família que fazia parte da classe abastada e influente do Japão. E no interior dessa rica família, havia uma hierarquia.
Existiam dois ramos: um que desfrutava da riqueza e era responsável por administrá-la e passá-la às futuras gerações, e outro que servia ao primeiro em todos os sentidos possíveis.
Assim se passava há anos.
Sendo o pai de Hinata o líder do "clã" (alcunha dada não somente aos bens materiais dos Hyuuga, por exemplo: a corporação Hyuuga, como também às pessoas que faziam parte da imensa família), logo, sua primogênita era a herdeira de tudo aquilo que ele possuía.
Ela sempre soube disso. Só que nos últimos anos tal conhecimento se tornou verdadeiramente pesado para carregar. O que fazia a Hyuuga se perguntar: por quê?
Por que ela? Ela não era forte o suficiente, não tinha a determinação suficiente e muito menos, o brilhantismo suficiente.
Ela não era como Hanabi.
E nem como Neji.
Neji que fora marcado para ficar à sua sombra.
Claro que ela sabia do ódio que ele alimentava por ela. Quando eles eram mais novos as brincadeiras entre eles eram restritas. Hinata era cercada de zelos desnecessários e proibições quanto ao contato que poderia manter com Neji. Ela não entendia, ele também. Fato que ainda se mantinha imutável no presente para Hinata, mas quanto a Neji... Ele demonstrava uma distância tão fria, que Hinata preferia um milhão de vezes mais que ele a esbofeteasse ou gritasse com ela.
E foi com a mente povoada por essas lembranças tempestivas que ela aguardou na porta para que o pai lhe desse a permissão para entrar no aposento.
Recebendo o seu consentimento, a primogênita Hyuuga buscou forças para encarar o genitor com firmeza e confiança e, com muito mais força: não gaguejar.
- Não preciso lhe lembrar do seu papel dentro do clã Hinata – ele começou, a voz tão rígida como da última vez que ele lhe falara, diretamente.
Hiashi mantinha o olhar na paisagem aquém da janela. O que reforçava o sentimento dela de nem merecer o olhar do pai enquanto este lhe dirigisse a palavra.
- E é somente em nome disso, que tomei uma decisão – algo nessa frase fez com que Hinata vencesse a timidez e o peso da inferioridade que amarrava seu olhar ao piso.
- De-desculpe papai, n-n-não entendi di...
- Não terminei de falar.
Ela engoliu em seco e ruborizada, voltou a fitar o solo.
- Por mais evoluída que a sociedade esteja, uma mulher como líder do clã precisa se esforçar em dobro para atingir os objetivos que seu cargo impõe - ele se afastara da janela e caminhou até a lateral de sua mesa, parando exatamente ali, com as mãos cruzadas atrás das costas e a atenção concentrada na filha.
- No seu caso, o esforço necessário é ainda maior.
Hinata estremeceu, não somente pela percepção do olhar do pai sobre si, mas pela última frase proferida com a comum frieza impessoal que sempre lhe era reservada.
Imaginando que suas preces poderiam fazer com que ela desaparecesse, Hinata contraiu os músculos do corpo para ajudar no propósito de suas orações, inconscientemente. Assim como o surgimento de tímidas lágrimas que ameaçavam transbordar pelos seus olhos.
Não havia motivo para segurar o choro. Ela possuía prova viva disso. Ela própria. Ela se enforcando com os fios de seu próprio cabelo. Ela acelerando a vinda de seu fim ao resistir contra a força que lhe afogava. Nada mudaria.
Hiashi se manteve rígido, mais uma vez aparentemente indiferente à atitude da filha e ela nem elaborou hipóteses sobre o que poderia lhe acontecer dali para frente.
Ela que ingenuamente acreditava ter feito progressos e que seu pai os notaria e enfim, lhe reconheceria com orgulho. Que a cada treino ignorava as dores adicionais em mais um golpe. A cada aula enxotava o cansaço por ter ficado até de madrugada estudando. Esperava ansiosamente o reconhecimento de que se tornara mais forte, mais sábia, mais segura e mais digna da liderança do clã...
Contudo, nada parecia mudar. E todos estavam certos sobre ela, afinal.
Não havia esperanças, somente a sufocante escuridão de sempre.
-... Pode entrar – Hiashi disse e voltou a se sentar, fazendo com que a delicada Hyuuga relegasse ao segundo plano de sua mente as emoções que lhe aturdiam.
Antes tão cega pelas mesmas aflições, ela não ouviu quando a outra pessoa que requisitava a permissão de seu pai para entrar o fez, muito menos quando seu pai abandonou a sua frente e se acomodou na poltrona da grande mesa do escritório.
Lugar que seria de Hinata, por direito...
Ela estremeceu mais uma vez, perante a conjectura.
Neji adentrou o ambiente e se inclinou respeitosamente na direção de Hiashi. Hinata grudara seu olhar na figura do primo, temendo sem saber exatamente o quê e igualmente não sabendo explicar a razão de não ter evitado encará-lo, como era de seu feitio em situações como essas em que se sentia coagida, amedrontada e mais do que tudo, sozinha.
- Para a sua preparação Hinata, você será isolada – sentenciou Hiashi – E Neji, como servo direto, irá se reportar a mim sobre os seus progressos.
Hyuuga Hinata viu seu mundo desmoronar.
N/A: Acho que a minha Hinata não está tão angustiante... O Neji parece uma estátua xD
Então... Deu pra agradar? O que vocês acharam? Devo continuar?
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