DISCLAIMER: A Song of Ice and Fire não me pertence.
coisas demais,
Existem várias coisas que eu não te conto mais. Coisas demais.
Meus sonhos, meus medos (que costumavam ser seus sonhos e seus medos, também, ainda que você nunca admitisse ter medo de alguma coisa). É engraçado pensar que eu estou aqui, de novo – porque eu realmente acreditei que eu fosse morrer sem sentir o seu cheiro outra vez, sem sentir as tuas mãos delicadas na minha pele. Você nunca vai me ouvir admitir isso, mas eu deixei, por um momento, de acreditar. Eu quis morrer.
Mas eu voltei – para você e por você, por mais ridiculamente romântico que isso soe e a verdade é que eu tenho mais medo de te perder do que de me perder, e isso me assusta.
Eu não posso te contar, mas às vezes eu me toco, ainda. Penso na tua boca—a língua sempre mordaz e esguia que sabia exatamente o que fazer. Finjo que essa pele é a tua pele. Que essa mão é a tua mão. Meio estranho pensar que antes nós éramos um, e agora eu preciso fazer isso: imaginar, sonhar. Fingir.
Eu me pergunto se as coisas não teriam sido diferentes, se eu soubesse que eu não conseguiria mais te reconhecer quando eu voltasse. Você, que sempre foi o meu reflexo, a única parte de mim que eu conseguia amar. Eu olhava os teus olhos cor dos meus e conseguia saber o que você queria, como você queria, porque você queria. Debaixo dos meus toques você era minha – quando eu entrelaçava meus dedos nas ondas dos teus cabelos e te fazia arrepiar com minha língua na pele da tua clavícula, você era minha; quando você alcançava minha mão debaixo da mesa, escondida dos olhares de nosso pai, e passava o restante do jantar com um sorriso vitorioso, você era minha.
Agora você é—eu não sei. Eu não sei o que você é, Cersei, mas sei que não é minha. Talvez você tenha, o tempo todo, pensado em você, e eu era uma parte mais ou menos conveniente do teu plano. Você, querendo se casar com Rhaegar. Você, querendo ser homem. Você, querendo ser herdeira. Você, querendo ser rainha.
(Eu querendo você).
O que eu sei é que as pessoas querem ouvir histórias, você entende? "Regicida, como você fugiu?" ou "é verdade que você derrotou cavaleiros com uma só mão?", ou ainda "qual é a sensação de foder a própria irmã?" A última é a minha favorita, eu juro. Eu queria poder responder a essa pergunta, também, dizer mais fácil você comer Cersei do que eu, hoje em dia, mas eu não consigo dizer uma maldita piada sem me sentir um completo fracasso.
(Porque, Cersei, eu dei minha vida a você. Literalmente. Essa maldita armadura branca é uma fantasia – serve pra que eu consiga fingir que eu faço algo diferente de viver por você. Eu nunca quis nada disso.)
Então, falem de outra coisa. A história do Regicida não é interessante. Não é, eu juro. Matei meu rei, comi minha irmã—esposa do outro rei. Várias vezes. Perdi uma mão, ajudei a planejar o Casamento Vermelho. Quebrei mais promessas do que ossos. Vê, eu sou só um vilão. Falem de outra coisa, pra variar um pouco. Até a minha outra parte (a parte interessante) se cansou de mim. Vocês vão cansar também, verdade.
