- Avisos: Uchihacest, slash, yaoi. E aquele palavreado chulo básico, como de costume. / Rated M pelos futuros lemons.

- AU: Mesmo que os personagens tenham nomes japoneses, a história não se passa no Japão, principalmente porque há muita "ocidentalização", como sempre.

- Presente para Sophia-amora :D

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Color the Sky

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I think I'll miss you forever
Like the stars miss the sun in the morning skies
Later's better than never
Even if you're gone I'm gonna drive, drive

I've got that summertime, summertime sadness

– Lana del Rey, Summertime Sadness

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Shisui se inclinou para frente, certo de que não ouvira direito.

- Vão...?

- ... me levar – completou Itachi. – Daqui a dois dias. Os papéis... já foram assinados.

- Não. – Ele recuou um passo, balançando a cabeça. – Não, não.

Aquele estava sendo um outono moribundo. Após a breve nevasca do dia anterior, o solo do pátio onde se achavam estava seco, nu e castanho. Shisui desviou os olhos para o céu branco e ofuscante acima deles. Mais neve para de noite, pensou, com raiva. Como se não bastasse a queda de luz ontem, quando tivemos de comer sopa enlatada e tomar banho de água gelada.

Ele fechou os olhos, respirando fundo.

- Quem é?

- Uma moça.

- Que moça, Itachi?

Shisui abriu os olhos para encará-lo e viu que ele puxava fiapos do suéter velho, um antigo sinal de ansiedade. A peça era feia e tinha um caimento horrível em seu peito estreito – não que as suas estivessem em melhor estado. Crescera bastante nos últimos meses e estava muito alto para um garoto de 16 anos. Seu blusão, que devia ter sido grosso e quentinho há uns vinte anos atrás, puíra-se até adquirir a espessura de um lençol e ficara coalhado de bolinhas de lã. As calças cáqui eram o único par que lhe servia e acabavam logo acima do tornozelo.

- Só disseram que era mulher com um grande futuro – Itachi disse. – Solteira, e não pode engravidar.

- Você só pode estar de brincadeira. – Levantou os braços exasperadamente. – Mulheres assim não costumam adotar garotas?

Ele não respondeu.

- Não era para você ser levado com essa idade – disse estupidamente. – Quando alguém vem aqui – e se alguém vier aqui –, é para adotar os bebês. Por causa da adaptação ou qualquer merda assim. Ninguém assume crianças com mais de 10 anos.

Ainda sem dar resposta, Itachi continuava puxando fios soltos do suéter, como se estivesse fabulosamente interessado neles.

Shisui cerrou os lábios, o rosto vermelho e os punhos plantados nos quadris.

- Meu Deus, por que você não diz alguma coisa? Faz alguma coisa?

- E o que é que eu poderia fazer, Shisui? – Itachi ergueu o rosto para ele, e embora estivesse pálido, seus olhos estavam sérios, preocupados e lúcidos. – Que peça para Nan Melda não me entregar à mulher? Que faça birra, bata o pé no chão e chore para que ela não faça isso?

Shisui viu o que ele quis dizer. Nan Melda, a encarregada do orfanato, tinha tanto senso de piedade quanto um jabuti, mas ele ignorou esse ponto.

- Você podia ao menos tentar – disse, obstinadamente.

- Shisui – Itachi disse, num tom de voz baixo, o que deu ainda mais ênfase ao seu nome; um calafrio percorreu suas costas até as pernas –, não tem como.

Naquele momento, embora jamais tivesse o agredido, Shisui teria esbofeteado ele com real prazer. Não porque o amasse (Shisui o amava, claro, amor que foi fraternal no início e que passou a ser sequioso posteriormente, até se transformar no desejo tumultuoso que sentia agora), mas porque ele havia dito justamente aquilo que Shisui não queria que fosse pronunciado em voz alta. Que era isso para eles. Acabou, foi bom enquanto durou, mande notícias de vez enquanto.

- Então faça uma boa viagem – ele falou entre os dentes. Havia uma raiva trêmula em sua voz, mas ele não se importou de esconder. Com certeza dava para vê-la em seu rosto. – Espero que essa puta te dê tudo o que você não conseguiu ter aqui.

Uma sombra passou pelo rosto de Itachi. Shisui pôde ver a injúria nos olhos dele, sentindo-se simultaneamente enjoado e satisfeito.

- Por que diz isso? – ele murmurou.

- Porque é verdade. No fundo, Itachi, você quer ir com ela. No fundo, você quer viver uma vida com uma cama macia, um futuro que valha a pena e se livrar dessa sensação de que foi abandonado porque não tinha utilidade o suficiente para te quererem. Eu também quero. Mas eu teria ficado. Eu teria ficado por você, porra. Você pode dizer que quer fazer o mesmo, mas na verdade não está nem se esforçando para isso. Por isso, para mim, chega.

Ele começou a ir embora.

- Aonde você vai? – Itachi perguntou, soando perturbado e infeliz.

- O que isso te interessa? Você vai embora mesmo. Aonde vou ou deixo de ir não é mais da sua conta.

- Shisui, isso não é justo.

- Desculpe, Itachi – disse por cima do ombro, agora a uma distância razoável dele –, mas creio que não me interesse mais o que você acha justo ou não.

Dito isso, entrou no orfanato. Itachi ficou a olhar para porta aberta por ainda muito, muito tempo.

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