Há dois milênios os Elfos viviam em paz, apesar de ocasionais disputas e convergências de pensamentos, havia uma harmonia entre eles, os grandes reinos eram: os Elfos da Floresta conhecidos por suas grandes habilidades de batalha e forja de armamentos; o Reino da Noite de onde toda a arte élfica e o registro da história tinha sua origem; já o Reino da Luz apesar do nome, vivia mais na escuridão a escavar as grandes montanhas em busca de pedras preciosas e diferentes de seus parentes que adoravam a lua, eles tinham grande amor pela terra e seus tesouros e por último, os Elfos Brancos, que tinham o conhecimento de toda a magia da raça.
Os reinos conviviam da troca de suas habilidades até que Sylvester, a guardiã de Brolduz - lar dos Elfos Brancos - com a alegação de que seu povo detinha o direito de governar os outros reinos começou a formar um grande exército de invasão com o objetivo de subjulgar os demais povos. Com uma iminente guerra nunca antes vista, os três reinos uniram-se e marcharam até os portões das terras de Brolduz e uma sangrenta batalha teve início.
Quando a balança da batalha pendeu contra os Elfos Brancos, as bravas guerreiras da Floresta invadiram o castelo e certeiras eliminaram os magos supremos, ficando face a face com Sylvester que defendeu-se de todos os modos que podia e quando restaram apenas duas guerreiras, a mais jovem delas se lançou contra a guardiã e com um golpe indefensável cravou sua espada no peito da inimiga, mas não a tempo de impedir que sua companheira fosse sufocada pela inimiga.
Com o fim da guerra, vieram as perdas tão lamentadas daquele dia que não seria esquecido pelo povo e para que tal atrocidade não voltasse a acontecer foi decidido pelos guardiões que um feitiço poderoso seria lançado sobre os túmulos de Sylvester e seus magos para selar a escuridão e maldade nas profundezas da montanha de Brolduz.
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Quinn já começava a sentir a falta de ar, mas ela corria, mesmo que eu corpo de elfo aguentasse muito mais esforço que outras espécies, foi ali quase chegando ao seu destino que ela por um momento pensou em desistir, mas forçou sua respiração, ela não tinha corrido por dois dias e meio para desistir no fim de sua jornada.
Já entrando na floresta ela foi diminuindo sua velocidade e, quando viu o grande portão dos Elfos da Noite finalmente se permitiu parar, dois guardas vinham atentos em sua direção, não era comum ver um elfo neste estado de exaustão. Apoiava suas mãos nos joelhos e buscava regular sua respiração, quando botas entraram em seu campo de visão ela levantou a cabeça olhando para os guardas.
Q: Fomos traídos [e desmaiou]
Abriu os olhos e a luz acima de si não afligia seus olhos, afinal, o dia que a luz da lua não tivesse aquele efeito calmante em seu povo seria o sinal do fim dos tempos. Levantou-se devagar e ainda podia sentir a rigidez em seus músculos, porém sem a dor dilacerante, alguém devia ter-lhe aplicados os medicamentos enquanto ela estava inconsciente e não pôde deixar de agradecer mentalmente a pessoa que o tinha feito.
Vestia uma túnica branca com detalhes em prata, olhou em volta buscando suas roupas e as encontrou em cima de uma cadeira, estavam dobradas e completamente limpas, entretanto não viu vestígios de suas armas. Quando terminava de se vestir uma mulher morena entrou e a olhava de forma desconfiada, embora os três reinos élficos vivessem em paz a situação inusitada de sua chegada tinha deixado alguns ali desconfiados.
S: Sou a capitã dos exércitos, me chamo Santana [anunciou] minha Senhora aguardava o seu despertar.
Q: Por favor, não quero deixá-la esperando, podemos ir [então seguiu a mulher porta a fora]
Observava a mulher a sua frente, ela usava uma armadura feita não para batalhas de campo, mas sim uma que mostrava seu status para o reino e a mantinha capaz de defender-se em alguma emergência. Logo passou a olhar o lugar em si, já tinha estado algumas vezes ali, porém sempre como parada antes de seguir em suas viagens.
Algo comum aos povos élficos era que os salões dos senhores do reino eram completamente abertos, para um povo imortal, manter segredos aos assuntos do reino era tido como desnecessário e principalmente desrespeitoso. Galgava os últimos degraus, mais alguns guardas mantinham seus postos ladeando o trono esculpido na grande árvore, desceu seus olhos até chegarem à mulher que levantava e vinha em sua direção. Seus olhos tão expressivos transmitiam uma calma que nunca havia sentido, vestia uma túnica branca, porém os detalhes em dourado, assim como a tiara que tinha um solitário diamante incrustado no centro. Abaixou a cabeça em respeito, colocou a mão sobre o próprio peito e então voltou a levantar a cabeça.
Q: Chamo-me Quinn, venho do Reino da Floresta e temo trazer notícias não agradáveis minha Senhora.
R: Sou Rachel, meus guardas falaram que você anunciou uma traição [a mulher falava tão calma que a própria loira não conseguiu ficar nervosa]
Q: Sim, o senhor Blaine está com o inimigo, armas do meu povo foram enviadas para as terras de Brolduz e receio que o conselho esteja de acordo com essa situação.
Alguns ali trocaram olhares preocupados.
R: O inimigo foi banido daquelas terras há dois milênios e sem qualquer exército, como poderia voltar a ser uma ameaça aos povos livres?
Q: Esse foi o mesmo questionamento que tive Senhora, então fui investigar e o que encontrei foi alarmante [imagens das monstruosidades que estavam sendo criadas lhe voltavam a mente] há um mago naquelas terras e ele está criando para o inimigo uma nova espécie de orc, eles são maiores, mais fortes e com uma sede de sangue que jamais vi.
Rachel andava levemente ao redor da loira, era como se ela levitasse.
R: Como você descobriu que o seu senhor havia nos traído?
Q: Sou espiã [deixou a parte de assassina de lado] é meu dever saber tudo o que acontece longe dos olhos do povo.
R: E porque eu deveria acreditar nas palavras de uma espiã? [ela tinha que admitir, a mulher sabia apertar os pontos certos]
Q: Fui caçada do meu reino até as montanhas do leste, coloquei-me no mais alto risco para não permitir uma atrocidade aos povos livres, minha posição sempre será duvidosa aos olhos dos outros de nós, mas tenho minha honra e nunca, nunca trairia a sobrevivência de nosso povo.
Recebeu um breve sorriso da morena que voltava ao seu assento.
R: Mandarei alguém de minha confiança até o Reino da Floresta, você pode ficar por aqui Quinn, estará segura em meu reino e então descobriremos se as suas palavras se confirmam.
A loira então fez um novo sinal de respeito e saiu dali acompanhada da capitã.
S: Você pode ficar no mesmo lugar em que acordou.
Q: Obrigada.
S: Pedi para alguém devolver suas armas, o arco e a aljava.
Q: Agradeço.
S: Espero que você esteja errada [explicou-se depois de receber um olhar questionador] uma traição assim vinda do nosso povo poderá causar muitas mortes.
Q: Entendo, mas compactuar com tal coisa certamente causará muitas mais.
A capitã acenou e ali elas concordaram silenciosamente, era melhor a morte de alguns de que a de milhares de inocentes.
Alguns dias haviam se passado desde que o enviado pela guardiã não tivesse voltado com uma resposta, na verdade ele não voltara e isso serviu como confirmação para a acusação feita por Quinn. A loira aproveitou para conhecer bem o reino nesse meio tempo e não deixava de admirar-se com o quão belo era o anoitecer por ali.
Não voltou a encontrar com a guardiã, porém quando Santana veio ao seu encontro ela sabia que finalmente voltaria a ver a bela senhora e ciente disso sentiu seu coração bater mais rápido. Acompanhou a capitã, mas reparou que não iam em direção ao salão, mas a um lindo jardim privativo e então percebeu que ali era onde residia a guardiã. A capitã a deixou ali e saiu.
Perdia-se ao admirar os pequenos cristais que pendiam de alguns galhos, tocava um quando a voz lhe atingiu.
R: São lindos não? [virou-se e a mulher estava como da última vez que a viu]
Q: Sim, perfeito [e não era dos cristais que ela falava] a Senhora solicitou minha presença?
R: Me chame de Rachel [andou até um banco que dava a vista de todo o reino] aqui neste lugar sou só eu e não as responsabilidades que carrego [loira acenou e então foi sentar ao lado na mulher.
Q: Aqui tudo é tão lindo Rachel [a morena não soube dizer o motivo, mas gostou de como seu nome saia pelos lábios da outra] sinto uma imensa paz, mas acredito que o que vamos conversar nos leve ao oposto, não é?
R: Temo ser verdade, meu enviado não retornou e isso é mais que o suficiente para confirmar o que você nos contou.
Q: E o que vai acontecer agora?
R: Me reunirei com a guardiã do Reino na Luz e decidiremos como vamos lidar com essa situação [voltava a olhar a loira] você é mais do que bem-vinda a permanecer conosco, mas preciso perguntar, como podemos recompensá-la por ter trago uma informação tão importante?
Q: Senhora Rachel agradeço, mas não quero nada em troca [deu um pequeno sorriso para a morena] cumpri apenas com o meu dever para com o nosso povo.
R: É estranha essa sua postura [percebeu o olhar um ofendido da outra] não quis ofendê-la, mas veja, espiões geralmente ficam muitos satisfeitos com recompensas.
Quinn acenou, mas não falou mais nada. Claro que era assim que ela era vista e aquilo geralmente não a incomodava, mas ter Rachel pensando assim dela incomodava-lhe.
Q: Não foi por escolha que me tornei espiã Rachel, foi uma nova designação dada pelo senhor Blaine alguns séculos atrás.
Aquilo chamou a atenção da guardiã.
R: Que função você tinha antes?
Q: Eu fazia parte da divisão de guerreiras...
R: Das que derrotaram Sylvester? [aquilo não podia ser possível]
Q: Sim.
R: E como ele te colocou em tal posição? [tal coisa soava tão desrespeitosa com alguém que teve um papel tão importante]
Q: Apenas colocou [sorriu triste] mas isso já foi a séculos. A Senhora ainda vai precisar de mim? [desejava que a mulher precisasse]
R: Oh não [mas sua mente queria dizer sim] não vou prender mais do seu tempo.
Q: Então me despeço da Senhora [levantou] devo partir ainda esta noite [aquilo pegou a morena de surpresa]
R: Partir? Para onde?
Q: Vou para as terras dos Elfos Brancos, preciso terminar de investigar.
R: É perigoso que você vá sozinha! [aquela preocupação aqueceu o coração da loira]
Q: Estou recuperada e sei viajar sem que notem minha presença.
Rachel pensou em coisas para dizer que fizessem com que Quinn ficasse, mas a determinação nos olhos e postura da loira a impediram.
R: Neste caso, desejo sucesso em sua missão [levantou e segurou nas mãos da loira] e espero vê-la novamente quando retornar.
A loira que até então olhava para suas mãos unidas levantou seu olhar para Rachel sorriu e sem pensar muito no que estava fazendo levou as mãos da morena até os lábios e deu um beijo singelo em cada uma.
Q: Voltaremos a nos ver guardiã[e saiu dali]
Rachel viu a mulher sair e levou uma mão ao peito sentindo seu coração batendo disparado e falou baixo para si:
R: Tenho certeza que sim Quinn.
