| Wilson's pov |
Não havia mais quem enganar, não mais. Não depois de suas palavras frias sussurradas. Não depois de encarar suas costas, o observando sair da sala. O meu silêncio sempre fora meu refúgio e logo hoje você queria minha voz. Foi doloroso permanecer mudo diante sua dor, admito. Mas ambos sabíamos que seria pior ouvir a voz de traição. A voz suja que eu tinha certeza, não mais o faria bem; pelo menos não agora. Não no meio do seu choro tão digno.
O deixei chorar ali, em minha frente. O rosto tão próximo que eu poderia sentir a umidade de sua respiração lenta. Afinal, você nunca quis mentira. Nunca quis sequer um motivo para querer confiar, mas era tarde. E por eu ter consciência disso, me odiei; me odiei como nunca fizera.o machucara. E eu era o sujo. Então nada seria o suficiente, nada servia. Minha preocupação contigo, minha dedicação... o cativo ganho. E a queda fora injusta.
A sala escura deixara meu corpo sozinho, sem ações. Não queria a verdade da mesma forma que você a implorava desesperadamente.
"Eu queria saber a verdade"
A voz rouca, fraca.
"Eu quero a verdade de você, mesmo se isso for me machucar"
E você tentou se controlar de certa forma. Pela primeira vez desejei não ter me aproximado, pela primeira vez você chorava feito uma criança, pela primeira vez eu não quis lhe dar o que você me pedia.
"O pior é que eu sempre soube que seria assim"
Eu não queria me importar, mas você se importava. Automaticamente eu sabia que seria a última frase sofrida, a última jogada em meu ouvido.
Você ficaria intocável novamente. E eu perdera.
| House's pov |
Eu nunca gostei de anjos. Aquelas crianças de cabelos claros, encaracolados e asas nas costas. Aqueles que deveriam proteger simples humanos vulneráveis.
E pela primeira vez eu era o vulnerável. Admiti em sua frente. Ali houve a queda, de forma desastrada, rápida, não me pergunte como. Melancólica e patética. Era uma mentira. Uma mentira imbecil e tão dolorosa.
Aceitar um anjo sujo nunca foi uma opção, ele simplesmente caíra e eu, um dia, pensei que poderia— ok, de quem foi a idéia de transformar pessoas com asas em anjos? Afinal, é mais fácil sentir falta de pessoas do que algo que proteja e não existe. Eu desejava que isso nunca terminasse, essa projeção de anjo.
Eu fui um tolo em acreditar e agora o silêncio parecia me castigar o tempo todo. O seu silêncio exposto. Eu estava com medo.
Apostei comigo mesmo que você viria para casa em três horas.
Perdi para o álcool, que eu sabia estar fazendo efeito em você, quando meu telefone tocou.
"Me perdoa"
Com o pedido o ouvi choramingar. Eu apenas respirava.
Desliguei a ligação.
Sempre precisaria de você e você de mim, no fim. Sua voz não saía nunca da minha cabeça e eu não precisava mais de ligações, estava feito.
Eu não te queria mais mudo.
