(Obs.: Os personagens de Twilight não me pertencem. São de autoria da tia Stephenie Meyer. Se me pertencessem, teríamos um BD no mínimo diferente...Espero que gostem. Primeira fic. Iniciante total.)
Capítulo I: Mudando
Fiquei ao lado dela durante todo o processo.
Foram os dois dias mais longos da minha existência. Como sempre, Bella fora excepcionalmente corajosa ou, como costumava me parecer, assustadoramente desprovida de senso de autopreservação. Mesmo agora, quando eu sabia que a queimação devia estar dilacerando suas entranhas, ela permanecia em silêncio. Não sei com certeza se devido as elevadas doses de morfina que Carlisle aplicara em suas veias ou se, como eu temia, a um imenso autocontrole. Seria bem típico de Bella, sofrer em silencio para não me angustiar. Como se fosse possível não sofrer vendo-a em silencio daquele jeito. Lívida e fria. Meu pior pesadelo, as visões de Alice se concretizando.
Foi...Difícil. Eu insisti para que apenas injetássemos o meu veneno diretamente em suas veias e em seu coração, mas Bella fora muito intransigente quanto a isso. Ela fez questão absoluta de que eu a mordesse. Como sempre os procedimentos complicados de sua mente me deixavam confuso. O que eu não daria para poder ler seus pensamentos naquele momento! Acabei, como de costume, cedendo. Não havia nada que eu não fizesse por ela quando aqueles olhos cor de chocolate me deslumbravam. Mas eu fui irredutível quanto à morfina e a aplicação diretamente no coração. Tinha esperanças de que isso facilitasse a mudança. Para ela, por que para mim era simplesmente o inferno.
Eu esperei ansiosamente que ela ficasse apavorada quando o momento chegou. Que seu coração acelerasse, que sua respiração ficasse entrecortada. Que ela me encarasse como o monstro que eu sou. Mas, claro, Bella fez justamente o oposto. Absurda, como sempre. Sorriu placidamente, assustadoramente tranqüila. Eu planejara chamar Jasper, para mantê-la calma após o pânico que não aconteceu. Portanto, em seus últimos momentos humanos éramos Carlisle, ela e eu, em meu quarto. Bem, em nosso quarto. A idéia de que ela era de fato minha ainda era maravilhosa demais para ser considerada real.
Eu estava nervoso. Bella apenas um pouco corada. Os pensamentos de meu pai eram quase um mantra: Vai dar tudo certo, Edward. "Pronta Bella?", Carlisle perguntou, preparando a seringa com morfina. Ao ver a agulha, ela empalideceu. Claro, a danação eterna e dias queimando com o veneno em seu corpo não eram problema. Uma agulha, no entanto, causava-lhe calafrios. Ela respirou fundo e respondeu "sim". Veio até mim e me deu um beijo suave, com seus lábios quentes. "Eu te amo" murmurou e deixou que meu pai aplicasse a injeção em seu braço. Carlisle aplicou o analgésico potente em suas veias delicadas e eu senti o cheiro do seu sangue quando a agulha a penetrou. Pungente. Doce. Quente. Irresistível.
Por um momento fiquei em pânico absoluto. Eu iria matá-la. Assim que a mordesse e provasse seu sangue, eu não poderia parar. No entanto, me lembrei que eu já conseguira parar. E que, naquela época, eu não tinha o autocontrole imenso que adquirira ao pensar que ela estava morta. E nem a dependência e amor absolutos que ela inspirava, pelo menos não na escala descontrolada e assustadora de agora. Portanto, eu conseguiria. Eu devia isso a ela.
Aproximei-me devagar, hesitante. Ela estava serena, adormecida. Linda demais. Seda sobre vidro, sua pele clara, suave, levemente corada. Os cabelos negros espelhados sobre a colcha branca. Fiquei olhando-a, memorizando sua fragilidade angustiante. Eu conhecia cada detalhe do corpo dela. Depois que fazíamos amor e ela adormecia em meu peito frio eu ficava decorando cada ínfima parte de sua pele macia, quente, cada contorno delicado do seu corpo frágil. Ela era minha. O corpo dela era meu. O coração dela era meu. E a sua alma agora também seria.
Debrucei-me sobre ela, o mais suavemente possível e beijei seu pescoço. A pulsação sob meus lábios era convidativa, atraente, irresistível. Respirei fundo e deixei o monstro tomar controle. Sua pele cedeu facilmente, sem resistência. Seda perante meus dentes mortalmente afiados e cheios de veneno. O gosto do seu sangue chegou até mim, inebriante, doce, absolutamente delicioso. O prazer era indescritível. E, no entanto, eu senti a imensa convicção de que poderia parar a hora que fosse preciso. Que o apelo de seu sangue e seu aroma não era maior do que o desejo que seu corpo me inspirava. De que seria mais fácil parar de beber do que era me controlar ao ter seus lábios contra os meus, sua língua pequena e rápida deslizando pelo meu peito, sua voz rouca sussurrando meu nome sob meu corpo. O sabor do sangue de Bella não era nada comparado a ter Bella. Impressionante.
Do pescoço deslizei até seus pulsos, cotovelos, mordendo todos os lugares onde havia maior circulação sanguínea. Acabado o processo, peguei a seringa que Carlisle deixara separada para esse fim e apliquei o veneno, meu veneno, diretamente em seu coração.
E esperei.
Alice ocasionalmente vinha sentar-se a meu lado. Seus pensamentos estavam cuidadosamente ocultos. Ela pensava banalidades, propositalmente, ou coisas que ela e Jasper estiveram fazendo na última noite que certamente não me interessavam. Claro que ela já tranqüilizara meus temores, afirmando que vira que tudo daria certo. Que já tivera uma nítida visão da nova Bella. A legítima Isabella Cullen, como ela dizia. E era justamente isso que ela não queria me mostrar. Queria que fosse surpresa. Se eu não amasse tanto minha pequena e atrevida irmã, nesse momento eu seria capaz de detestá-la. Jasper viera algumas vezes. Parara ao lado da porta, calado, prestando mais atenção as reações de Alice do que as minhas. Alice está ansiosa, ele pensou. E então uma onda de tranqüilidade nos invadiu. Desejei que Bella fosse afetada também. Observei meu cunhado pelo canto dos olhos. Sempre fiquei surpreso pela intensidade de seus sentimentos em relação à Alice. Com o fato de que ela era simplesmente tudo para ele. O universo de Jasper. Agora, no entanto, eu podia entendê-lo exatamente. Seu ar geralmente soturno mudou em um sorriso radiante quando ela ergue-se graciosamente e foi até ele. "Vamos, Jazz. Vamos caçar. Ainda vai demorar um pouco".
Assim que Alice e Jasper saíram, foi à vez de Esme ficar comigo. Eles pareciam estar se revezando, afim de não me deixar completamente a sós com minha esposa. Minha mãe pôs as mãos delicadamente sobre meus ombros. Calma, meu filho. Vai dar tudo certo. Ela observava Bella com olhos atentos, procurando por mudanças. Fiz o mesmo. Certamente a olhos humanos Bella pareceria à mesma, embora consideravelmente mais pálida. Tomei a mão dela entre as minhas. Estavam praticamente da mesma cor. Sua face perdera aquele tom rosado adorável e, ainda assim, estava aos poucos assumindo um tom perolado, translúcido. Se possível, parecia ainda mais aveludada e seus lábios estavam decididamente mais vermelhos. As manchas sob seus olhos, olheiras profundas que todos nós tínhamos quando estávamos com sede, começavam a surgir. Mas o mais impressionante, o que mexia comigo de fato era o cheiro. O cheiro de Bella não parecia alterado. Estava lá, doce, encantador, frésia e jasmim. Sem, contudo, a dor do aroma de seu sangue queimando em minha garganta. Esme foi até ela e beijou sua testa docemente.
Emett foi o próximo. Vou sentir falta do desastre ambulante. Era divertido quando ela quebrava as coisas. Mas ele também estava tenso. Gostava muito da Bella, isso era límpido e claro, como quase todos os sentimentos e pensamentos dele. Mais uma vez me senti grato pela escolha de Rosalie. Ninguém tinha um irmão melhor que o meu. Ela é claro, não viria. Estava deixando bem óbvio que estava descontente com a decisão de Bella e especialmente com a minha, de ceder. Como se isso de alguma forma a afetasse. O pessimismo de Rosalie me cansava. Embora eu soubesse que ela também estava preocupada, com medo de que Bella se arrependesse. Podia ouvir o pensamento dela claramente vindo da sala, onde mudava de canal furiosamente Satisfeito, Edward? Agora ela é uma condenada, como nós. Seu cretino egoísta.
E ela estava certa, não estava? Eu era, de fato, um egoísta incorrigível.
Eu insisti para que Bella permanecesse inalterada; para que ela vivesse, fosse feliz, humana. E tinha absoluta certeza de que estava sendo altruísta e bom ao lutar por isso com todas as minhas forças. Afinal de contas, era nobre não obrigá-la a viver comigo por toda a eternidade, já que era justamente isso que eu queria. Depois do ataque dos recém nascidos, entretanto, eu comecei a pensar diferente. A perceber algo. Bella jamais estaria segura. Ela era um imã natural para coisas sobrenaturais e perigosas. Para humanos perigosos e acidentes fatais. Bella era frágil demais para esse mundo; seda sobre vidro. Era egoísmo, portanto, privá-la de uma imortalidade que ela desejava e que era de fato necessária para sua existência, apenas para que ela precisasse de mim. Para que eu fosse seu herói, seu defensor, seu vampiro guardião. Era injusto mantê-la desprotegida para poder protegê-la. Lembrei de meus pensamentos desvairados de quando eu a via dormir, noite após noite, e pensava em seu anjo da guarda atrapalhado, que a moldara de tal modo que fosse inevitável atrair meu desejo. De repente essa idéia já não me parecia tão tola. Era como se tudo na vida de Bella a conduzisse para esse destino. Como se ela tivesse nascido para ser uma vampira. Para ser completamente minha. A idéia de certa forma me consolava e fazia sentir menos culpado.
O ritmo de seu coração tornou-se dolorosamente acelerado. Quanto tempo passara mesmo? Muito. Uma pequena eternidade. Dias, certamente. E então Alice estava ali ao meu lado novamente, segurando minha mão, encarando Bella com intensidade e se concentrando no relógio. Duas horas, vi junto com ela, através de seu pensamento. Eu não precisava ser Jasper para sentir o alívio intenso que estampou seu rosto de fada. Ela também estivera tendo momentos difíceis. Alice amava Bella, um amor igualmente imenso, embora diferente e muito menos abrasador do que o que me deixava ansioso e angustiado agora, esperando desesperadamente que as horas passassem.
"Ela está linda", minha irmã disse suavemente. Sim, ela estava. Mas para mim isso era indiferente, já que a meus olhos Bella sempre fora linda, a mais linda de todas. A única. Encare-a atentamente e fiquei surpreso ao constatar que a mudança era muita pouca. Ela estava mais pálida do que jamais estivera, sem dúvidas. Mas fora isso, a grande diferença era que agora não havia mais vidro sobre a seda que era sua pele. Havia aço. Ela estaria finalmente segura. Tudo nela estava mais intenso: o cabelo parecia ainda mais escuro em contraste com a brancura da face, os lábios mais rubros, as feições delicadas mais marcadas, ainda mais perfeitas. E o cheiro. O aroma delicioso de Bella se intensificara de uma forma inebriante, agora sem a apelação de seu sangue. Apenas a delícia, sem o tormento. Fabuloso. De repente fiquei ainda mais ansioso para que ela despertasse. Para tê-la sob meu corpo, em meus braços, para tê-la para mim de verdade. Sem cuidado, sem tensão, sem medo. Para me afogar nela sem amarras.
"Vou deixar vocês sozinhos. Esse momento é de vocês. Mas não se atreva a deixar ela se olhar no espelho sem a minha presença, Edward. Isso seria imperdoável". "Certo, Alice" prometi, os olhos grudados em minha esposa. Agora faltava muito pouco. Quando o coração dela desse a derradeira batida, todos na casa ouviriam. Saberiam que estava acabado. Mas Alice não permitiria que viessem até nós. Ela faria isso por mim, eu pude ver em seus pensamentos. Teria que agradecer a ela mais tarde por esses momentos de privacidade.
(continua)
