N.A.: Gente, essa fic se passa um ano depois dos meninos terem deixado Hogwarts. Eu comecei a escrever há muuuuito tempo atrás, enquanto eu ainda estava no período de negação da morte do Sirius (e podem acreditar, foi um looooongo período), por isso, nessa fic, tá todo mundo vivo, ninguém matou ninguém, ninguém 'traiu' ninguém... Resumindo: tá tudo feliz! Ou não, né?
Bem, espero que vocês gostem! Pliiiiix! R&R!
Disclaimer: Quanto a esse negócio de leis... Infelizmente, nenhum desses personagens me pertence (ou você já teria visto a Umbridge caindo morta há muito tempo e o Bichento vivendo feliz para sempre com a Madame Nor-r-ra), eles são todos da JKR e afins.
Capítulo I – O Aniversário Esquecido
Estava parada no centro do Largo Grimmauld. O vento doce resvalava em sua pele, fazendo oscilarem seus cabelos, hoje, lutuosos como o ébano. Seus olhos refletiam todo o resplendor da lua, parcialmente encoberta por seus medos e desejos. De outro modo, não seriam diferentes de seu humor. Há tempos vinha sentindo-se assim, fria, vazia.
Era tudo culpa dessa guerra maldita! Mortes, sofrimento, traições... Famílias arruinadas pela dor da perda, laços de amizade e amores rompidos pela busca do poder.
Esses pensamentos não saíam de sua cabeça, apesar de saber que faria melhor se conseguisse abster-se de tais idéias.
"Quando isso tudo vai acabar?" pensou " quantas mortes mais serão necessárias até que essa guerra idiota acabe? Quantas pessoas mais eu vou ter que perder antes do fim?" Com um aperto no coração, continuou a contemplar o firmamento.
De súbito, uma voz cortou o silêncio.
- Dora? Que você está fazendo aqui fora? – disse Sirius, tocando-lhe o ombro.
- Nada. Estava só pensando.
- Não fique assim, Dora. Ele morreu como gostaria de ter morrido: na batalha. – disse Sirius enxugando uma lágrima que rolava pelo rosto da prima.
- Eu sei, Sirius. Mas Dawlish era um excelente Auror, isso só me faz pensar que poderia ter sido qualquer um de nós! Eu não quero que mais nenhum de vocês morra! – Tonks começou a soluçar incontrolavelmente enquanto Sirius a abraçava.
- Minha querida, você não pode ficar assim. Perdas são inevitáveis numa guerra como essa, mas nem se compara à vez passada. Dessa vez há de correr tudo bem. Não precisa se preocupar, mas se por um acaso algum de nós morrer, lembre-se do que eu sempre digo: têm coisas pelas quais vale à pena morrer. – e deu um beijo na testa da prima – Agora, vamos voltar lá pra dentro?
- Não, eu já estou indo para casa. Mas muito obrigada, Sirius. Você me fez sentir bem melhor.
- Não vai ficar na Ordem hoje? Molly está fazendo uma macarronada deliciosa.
- Não. Quero ir pra casa. Acho que preciso ficar um pouco sozinha para absorver isso tudo.
- Tudo bem então. Quer que eu te acompanhe?
- Não, 'brigada. - Virou-se para ir embora. Contudo, sentiu as mãos dele fecharem-se em torno de seu pulso.
- Boa noite, Dorinha. - Beijou-lhe a testa.
- Boa noite, Sirius. - Foi embora, ainda com lágrimas silenciosas lavando seu rosto.
Continuou sua caminhada, sem olhar para os lados. O que mais queria naquele momento era não ter mais que agüentar aquela dor. Nenhuma palavra, nenhum pensamento conseguiria dissipá-la. Ela só queria ter Dawlish de volta.
Chegando em casa, tomou um banho rápido e atirou-se em sua cama, mas não antes de tomar um frasco cheio de Sono sem Sonho. Adormeceu instantaneamente.
Conquanto, não fora uma noite bem dormida. Snape sempre falava que o sono com essa poção não era um sono de verdade. E ela descobriu no dia seguinte que concordava plenamente com ele. Ao ser acordada por uma coruja muito peculiar, sentiu que seu corpo estava relaxado, mas a sua mente estava tão atormentada quanto estivera na noite anterior.
- Bom dia, E-E-EEEEdwiges! - Disse, bocejando. Desamarrou a carta. Continha apenas duas frases, com uma caligrafia que ela pode reconhecer instantaneamente como sendo de seu primo, Sirius.
"Apresente-se imediatamente na sede da Ordem. Assunto de extrema importância".
Sem pensar duas vezes e até mesmo sem trocar a camisola, aparatou naquela cozinha tão familiar. Deparou-se com uma cena um tanto estranha. Quase todos os membros da Ordem encontravam-se ali. Havia uma faixa violeta, com dizeres em branco. Ela ficou alguns segundos tentando decifrar o que estava escrito, até que, com um súbito ar de compreensão passando por seu rosto, conseguiu ler: "Parabéns, Tonks!".
Como pudera esquecer seu aniversário? Andara tão triste, que esquecera do seu próprio aniversário. Sentiu alguém a puxando até a mesa. Era Molly.
- Venha, querida. Coma alguma coisa. - Disse Molly, apontando para a mesa, com um gesto largo. - Agora, quanto ao almoço, passei a semana atrás de Sirius, pesquisando seus pratos favoritos. Você vai amar.
- Ai Molly, eu agradeço muito, mas eu não estou em clima pra festas. – Não sabia porque, mas a visão daquela cozinha cheia de todas as pessoas que ela mais amava, trouxe à tona todos os pensamentos da noite anterior. Sem pensar em mais nada, desaparatou.
Foi um alívio estar, novamente, no silêncio da sua casa. Enfiou-se em sua cama e desatou a chorar.
Não havia passado dez minutos e alguém tocou a campainha. Sem a mínima vontade, levantou, calçou sua pantufa e desceu para ver quem era. Quando abriu a porta, ficou surpresa ao ver Molly.
- Vim conversar com você. Eu sei o que está acontecendo contigo e acho que seria melhor se, ao invés de ficar se remoendo sozinha, você desabafasse. - Apesar das palavras, seu tom de voz soava doce e acolhedor, ao ouvido da garota.
- Entre, Molly.
As duas dirigiram-se à sala de estar. Tonks fez sinal para que ela sentasse. Acomodando-se na poltrona em frente à lareira, Molly começou a falar.
- Pode me contar, querida. O que havia entre você e Dawlish?
- Como assim, Molly?
- Ah, minha querida, sinto informar, mas você não é muito boa em esconder seus sentimentos. – ao olhar preocupado de Tonks, Molly continuou – Não quer dizer que todo mundo tenha percebido. Agora me conte, vocês estavam namorando, não estavam?
- Estávamos, Molly. – disse, com lágrimas começando a brotar em seus olhos – Nós tínhamos começado a namorar dois dias antes dele... dele morrer.
- Tonks, eu sei que você está sentindo uma dor imensa, mas não pode deixar que isso te afete tanto assim. Todos nós sofremos perdas e, numa guerra como essa, é inevitável que muitas mais ocorram. Quando Percy se foi, eu achei que jamais poderia sorrir novamente. E ele era meu filho. Não estou desmerecendo os seus sentimentos, mas a dor da perda de um filho é a pior dor do mundo. Nenhuma mãe deveria passar por isso.
- Mas eu tenho tanto medo, Molly. Eu não quero perder mais nenhum de vocês. E toda hora eu fico pensando que eu não aproveitei todos os momentos que poderia ter aproveitado com o Dawlish. Tanta coisa que eu poderia ter feito que não fiz. Eu nunca disse pra ele o quanto ele era importante pra mim. Ele morreu sem saber...
- Ah minha querida, venha aqui.
Tonks sentou-se no chão, em frente à poltrona onde estava Molly, apoiou sua cabeça no colo da bruxa, que afagava carinhosamente seus cabelos e incapaz de se conter, chorou. Parecia que tudo que estivera consumindo-a por todo esse tempo estava esvaindo-se. Era quase como se tivesse sua mãe de volta.
- Pode chorar, minha querida. Chorar faz bem. Lava a alma.
Não sabia ao certo quanto tempo se passara. Sentiu que estava perdendo as forças, até mesmo para continuar chorando. Levantou a cabeça. Viu que Molly também ostentava olhos vermelhos.
- Vou fazer um chá para nós. - Molly anunciou. Com a varinha, conjurou sobre a mesinha de centro, um bule, duas xícaras e um prato de biscoito.
Passaram um bom tempo apenas tomando chá. Até que Molly falou.
- Olha, Tonks, você não pode deixar que esse medo a domine, senão vai passar o resto da vida sofrendo assim. Perdas são naturais. Não estou dizendo que seja fácil enfrenta-las, mas você deve fazer o melhor que puder. E eu sei que você é uma bruxa formidável - Tonks deu-lhe um sorriso deprimido, e Molly continuou – e vai conseguir passar por essa fase. Agora, vamos voltar pra sua festa. Não há nada melhor para espantar a tristeza do que uma boa festa.
Não fosse a imensa gratidão que sustentava por Molly, não haveria nada no mundo que a fizesse voltar àquela cozinha.
- Tudo bem, Molly. Só vou lá em cima me trocar. Fique à vontade enquanto isso.
Molly tinha razão, ela não podia deixar que aquilo tudo a consumisse. Um pouco menos desanimada e determinada a aproveitar a festa para alegrar seus pensamentos, entrou em seu quarto e abriu o guarda-roupa. A escolha demorou um pouco, mas finalmente, decidiu-se por um quimono muito bonito, que havia comprado em uma viagem ao Japão. Era preto, com detalhes floridos, bordados em vermelho-sangue. Caía-lhe até os pés, com uma fenda de cada lado, até um pouco acima dos joelhos.
Pronto. A roupa já estava escolhida. Agora a parte mais difícil. Cabelos e olhos. Resolveu deixar os cabelos negros, como já se encontravam. Prendeu-os num coque, graciosamente enfeitado com presilhas, também no estilo japonês. Os olhos tonaram-se azul-petróleo, bem torneados com delineador preto e alguém corretivo, para disfarçar as olheiras. Olhou-se no espelho.
"É, até que pra quem passou a manhã inteira debulhando-se em lágrimas, você está com uma aparência bem agradável." Pensou.
Desceu, então, para encontrar com Molly.
Alguns minutos mais tarde, as duas apartaram na famosa cozinha. Todos os olhares voltaram-se para Tonks. Longe de parecer desconcertada, a garota falou.
- Gente, minhas sinceras desculpas, mas quem me conhece sabe que meu humor, quando acordo, é quase tão bom quanto o de um hipogrifo contrariado. - Quase todos caíram na gargalhada. Em seguida, um a um, dirigiu-se até a mesa para cumprimentá-la.
Logo, aos poucos a cozinha foi esvaziando-se. Restaram apenas Tonks, Molly e seus filhos, Harry e Hermione. Assim, passaram um restinho de manhã bastante agradável. Riram-se das palhaçadas contínuas de Fred e George, das transformações de Tonks, de Molly contando como ela e suas amigas costumavam preparar poções do amor secretamente... Estavam tão entretidos na conversa, que quando Sirius entrou na cozinha, dizendo-se faminto, Molly ainda nem tinha começado a preparar almoço.
Uma hora depois, ouvia-se o tilintar dos talheres, pontuado pelas mais variadas conversas. Tonks apenas comia, inconsciente de tudo mais que acontecia à sua volta. Forçando-se a concentrar na comida, foi interrompida por Sirius, sentado ao seu lado.
- Tonks, não sei se você está ciente, mas Dumbledore pediu para que eu também fosse à reunião.
- Tudo bem - Disse - pelo menos não é o Snape.
Sirius abafou uma risadinha. Tonks deu um sorriso reprovador ao seu primo e anunciou que ia subir, para tentar relaxar um pouco antes da reunião. Saiu da cozinha e, inconsciente de onde seus pés a estavam levando, foi parar na sala que continha a árvore genealógica dos Black. Seus olhos pousaram na figura de sua tia Bellatrix.
- Pobre anta...
- Bem, aí você vai ter que explicar a quem estava se referindo. - Sirius acabara de entrar na sala - Anta é uma característica que pode ser atribuída facilmente a qualquer um deles. - terminou de falar e jogou-se no sofá.
- Na verdade, anta e enxerido são qualidades notórias da família Black. - Disse Tonks, seus olhos faiscando na direção do primo - Deu pra me seguir agora, foi?
- Não. Achei apenas que você quisesse conversar. Ah, priminha, ainda é essa história do medo de perder alguém, não é? - Sirius viu que um tremor involuntário, passar pelo corpo de sua prima. Ela aninhou-se em uma poltrona defronte a ele e começou a falar.
- Na verdade, Dawlish não era só meu amigo, nós começamos a namorar dois dias antes... Antes de matarem ele.
Sirius ficou meio espantado com a notícia, mas continuou ouvindo sem interromper.
- Sabe, eu fico pensando o que aconteceria se ele não tivesse morrido. Foi tão pouco tempo que nós passamos juntos. Por Merlin, quanto tempo eu desperdicei! Se eu pudesse arranjar um vira-tempo... Tudo seria diferente.
Enquanto Tonks desabafava, Sirius apenas olhava para ela. Enrolada na poltrona, como uma criança amedrontada, procurando algum refúgio. Como se a olhasse com novos olhos, percebeu como era linda, delicada, quase um bibelô, que ele poderia jurar que se quebraria ao menor toque de mãos inábeis. Todavia, também mostrava-se segura, valente. Provavelmente, o paradoxo de uma sensível fortaleza, era o que a tornava infinitamente mais interessante que qualquer outra bruxa. E estava ali, numa aterrorizada tormenta sentimental.
- Sirius? Você estava me escutando?
- Lógico que estava. - Mentiu Sirius, ainda meio aparvalhado por tudo que havia acabado de passar pela sua cabeça.
- Ah, tá vendo? É por isso que eu não converso com você. Aposto que não ouviu uma palavra do que eu disse. - Disse, levantando-se abruptamente - Vou tentar dormir antes da reunião, que é o melhor que eu faço. Tchau, Sirius!
- E Tonks havia deixado a sala. Mas não fora sozinha, consigo levava, mesmo sem perceber, os pensamentos de um certo animago.
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