• Ordinária Depressão •

Londres é altamente depressiva, porém ninguém vê essa tristeza como ele. Já viu, em algum lugar da Terra, chover tanto como aqui chove? Já viu, em algum lugar na Terra, uma névoa tão densa como a que aqui há? Névoa que parece, aos olhos daquela criança, proteger a cidade? Proteger, ou esconder. Por quê?

Como sempre, escorre água pelo vidro da janelinha. Pelo menos, ele pode se conformar de que há um projeto de luz esforçando-se para adentrar o quarto. Quarto? Isso não é um quarto. Nem deveriam sonhar em chamar aquele cubículo de quarto! Se pudesse, explodiria o orfanato. Se pudesse, cresceria logo. Seria adulto e iria embora. Iria fazer fama, seria importante como ninguém naquele buraco de lugar fora! Não havia névoa densa ou chuva forte o suficiente para escondê-lo por muito mais tempo. Tivesse ele 10 anos ou não.

Concentra-se, fixando seus olhos nem tão inocentes e escuros ao longe, atravessando a cidade. O que não é a mente de uma criança? Sendo ela demoníaca ou não? Demoníaca? Ele não era demoníaco! Ele fazia coisas ruins, sim! Porém, todos viam que só feria quem o maltratava. Era por isso que era respeitado. Adorava ver aqueles olhinhos inocentes lacrimejando, as pernas não muito diferentes das suas, tremendo de medo. O pavor nos olhos dos adultos. Médicos não entendiam seu comportamento. Religiosos o chamavam de demônio. Contudo, ele tinha melhor denominação para ele. Muito, muito melhor. Ele era...Especial.

A chuva parou. Os lábios se curvam e seu sorriso não é como o de uma criança. Aliás, é raro que ele sorria como agora sorri. É raro que ele mostre qualquer sentimento que não revolta com a aura chuvosa da cidade, como se alguém lá em cima chorasse pelos Londrinos! E eles não possuíam motivo algum para se envergonhar! Possuíam? Ele não sabia. Era apenas uma criança. Uma criança especial. Inspira profundamente, sentindo aquele tão característico da cidade, misturado com aqueles aromas de produtos de limpeza do orfanato. Eca.

Passos rápidos no corredor. Cheiro de álcool. Quem é que havia bebido? Ouve vozes baixas, sussurrando. Não entende o que falam. Mas sabe que falam dele.

"Coisas ruins...Gosta de intimidar as outras crianças...Ele não....Quieto, sabe?...Não, tem certeza? Sem volta?...Está bem."

Era certo que era dele sobre quem sussurravam. Não sentiu revolta. O sorriso apenas aumentou. Gostara daquela pequena fama. Era bom saber que não era só...Só mais um londrino acostumado com aquela depressiva aura esbranquiçada de névoa.

Virou a página do livro, sem realmente passar os olhos pelas palavras. Não queria ler. Não conseguia com a sensação de que as gotículas de água em sua janela o observam. Quem é que zomba de mim?

Uma batida discreta, quase temerosa na porta. Duas. Três. Não responde, ele sabe que ela vai entrar. Encolhe-se ainda mais atrás do livro, escondendo-se sem motivo. Idiotas.

"Tom? Tom, querido?"

Ela abre uma fresta, espiando para dentro do quartinho. Ele nota que há alguém com ela. Aperta as bordas dos livros com as mãos. Não responde.

Ela abre a porta completamente, colocando o rosto (corado por bebida, ele deduz.) para dentro. Força um sorriso, tentando amaciar o menino.

"Tom, você tem uma visita."

Ela sai e quem entra é o homem mais...Mais diferente de tudo que ele sonhou em ver. Pisca, surpreso com a figura.

"Olá, Tom. Eu sou...O Professor Dumbledore."

FIM (?)

Nota da Autora: Oh, My! Deu para entender a cena? Ou melhor, deu para ver quem é o personagem? Pior, dá para ganhar review? Tomara. Há.