Olá pessoal. Essa é a minha primeira fanfic de Percy Jackson e os Olimpianos e imagino que eu provavelmente não vá ter nenhuma review. Apesar disso, ficaria muito, muito feliz mesmo, se você comentasse. Outra coisa. Eu pensei no casal Nico-Rachel um dia desses e me surpreendi ao ver que existiam várias fanfictions muito boas sobre eles aqui, todas em inglês. Talvez eu traduza alguma. Bem, a idéia é que a história é sobre Nico e Rachel. Não sei se esse shipper tem nome, se tivesse, seria algo como Nicachel.
ATENÇÃO: Esta fanfiction contém spoilers do livro Percy Jackson e o Último Olimpiano. Se você não terminou de ler o livro ainda e não quer saber parte do final sem querer, não te aconselho a ler. Para todos os outros, boa leitura.
Disclaimer: Percy Jackson e os Olimpianos não pertence à mim, e sim à Rick Riordan.
Sinopse: O acampamento meio-sangue está mergulhado em um tempo de apaixonados. Apenas Nico di Angelo não consegue entender porquê todos ficam agindo feito bobos.
(In)capaz de Amar
Era final de verão no Acampamento Meio-Sangue mas, apesar disso, pareciam estar em plena primavera. As flores haviam desabroxado mais cedo este ano, a plantação de morangos deixava os arredores do acampamento com o cheiro doce dos morangos e os campistas agiam como se estivessem estupidamente felizes. Até mesmo Clarisse La Rue andava cantarolando por aí - obviamente apaixonada. Aliás, todos pareciam apaixonados. Afrodite devia estar mesmo dando uma festa no Olimpo, a julgar pelo número de casais que se juntavam sob as árvores para passar o tempo.
O único que não parecia estar curtindo este clima romântico era Nico di Angelo. Nico passava seu tempo livre enfurnado sozinho em seu chalé, muitas vezes lendo algum livro ou simplesmente olhando para o teto. Não que ele gostasse muito de ler ou filosofar - mas não era lá muito sociável. Não fazia amigos tão facilmente assim, pelo menos não amigos vivos. E seus amigos atuais estavam muito ocupados.
Percy e Annabeth pareciam ter se tornado gêmeos siameses unidos pelos lábios. Nico simplesmente não suportava mais ficar perto deles, porque sempre que estavam juntos - e eles sempre estavam juntos - era como se uma áurea pegajosa de amor os envolvesse. Os dois nem andavam brigando muito ultimamente, talvez por causa de todo aquele romantismo de final de verão. O fato era que eles não tinham tempo para dedicar ao solitário Nico.
Júniper, a namorada de Grover, passava as tardes cantarolando e ajudando flores a desabroxar. Quando alguém tentava falar com ela sobre qualquer coisa, Júniper parecia estar em uma espécie de transe e tudo o que conseguia falar era como estava orgulhosa de Grover e como ele havia conseguido salvar raras espécies da fauna américo-latina com ajuda de apenas meia duzia de sátiros e algumas criaturas da floresta. Não havia como começar uma conversa mentalmente saudável com Júniper até que Grover voltasse ao acampamento, o que só aconteceria dali a alguns meses.
Os outros poucos caras com quem Nico conversava estavam na mesma situação de Percy - andavam por aí com suas namoradas trocando beijos e carícias. Até mesmo Travis Stoll havia arrumado uma bela namorada filha de Apolo, e ninguém ao menos entendia como os dois conseguiam se dar tão bem. O fato é que Nico parecia ser o único lobo solitário das redondezas.
Claro que Nico havia cogitado a hipótese de ele mesmo arrumar uma namorada. Apesar disso, ele não parecia sentir nada de especial por nenhuma garota, a não ser um certo... temor. Imaginava que esta era uma das consequências de ser filho de Hades - Nico não se lembrava de ter tido, em momento algum, alguma dessas sensações que os outros campistas descreviam sobre estar apaixonado. Na verdade, Nico não se importava. Amor não era para os filhos de Hades, mesmo.
Uma dessas tardes, quando o Sol já estava quase se pondo, Nico sentiu um intuito de sair do quarto para dar uma volta no bosque. A ideia lhe veio de súbito e, como não havia nada para fazer e logo o jantar seria servido, Nico saiu. Caminhou durante poucos minutos no bosque até que começou a ouvir uma leve melodia.
O som vinha de seu lado direito, e Nico começou a andar na direção dele, para ouvir com mais clareza. Ele nunca havia escutado aquela música, porém ela parecia familiar para ele. A voz que cantarolava era feminina, e Nico não sabia de onde já havia ouvido-a. No entanto, a música surtia o efeito de algum tipo de bebida nele - parecia que algo quente corria por dentro de seu corpo, uma sensação prazerosa, e ele podia jurar que os pêlos de sua nuca estavam arrepiados.
Um pensamento gelado passou pela cabeça de Nico. E se aquela voz viesse de algum monstro? Era comum que alguns monstros manipulassem as vozes para parecer moças convidativas. Eles também costumavam ter aparência doce e bela. E se fosse um monstro? Ele poderia estar agora mesmo rindo daquela cara de bobo que Nico estava fazendo por causa da música, e provavelmente estaria esperando com um garfo e uma faca, pronto para devorar o filho de Hades.
Nico sacou sua longa espada negra e começou a andar mais cautelosamente na direção da música. Monstro nenhum iria tirar sarro da cara dele e sobreviver para contar a história. Quando ele estava perto o suficiente para ouvir a música em alto e bom som, ela subitamente parou e foi seguida de um gemido. Uma voz, afinada pelo medo, sussurou:
- Quem está aí? - disse alguém acima de Nico. Ao enguer seus olhos, deparou-se com uma menina sentada no alto de um galho. Ela segurava seu vestido junto das pernas de forma a cobrir-se, e olhava com olhos assustados para todos os lados. A princípio Nico imaginou que ela tivesse cabelos castanhos, mas ao olhar melhor viu que eram ruivos. Ele tinha certeza de que a conhecia, muito embora daquela distância não conseguisse reconhecê-la.
- Quem ou o quê é você? - repetiu a garota com a voz tremida, ainda sem olhar diretamente para Nico. Por estar exatamente abaixo dela, Nico estava tecnicamente escondido. Ele pôs a espada novamente na bainha e ergueu a voz para que ela lhe pudesse ouví-lo.
- Tudo bem. - disse, e de repente sentiu-se envergonhado - Sou só eu, Nico.
Se a garota realmente o conhecesse, Nico saberia. A ruiva se endireitou no galho e murmurou:
- Nico? Nico di Angelo? Filho de Hades?
- Sim - ele respondeu, aliviado - Nico.
A garota remexeu-se no galho, finalmente olhando diretamente para baixo. Talvez a visão de Nico a tenha assustado um pouco, porque ela engoliu alguma coisa em seco e começou a descer do galho com muito cuidado para que seu vestido não subisse.
Nico finalmente a reconheceu. Era Rachel Elizabeth Dare. Ela estava vestida com um vestido verde claro, que combinava perfeitamente com seu cabelo laranja-avermelhado. Usava sapatilhas tão sutis que parecia estar descalça. O vestido era um pouco cheio, e lhe dava o ar de uma inocente e doce menina do século passado. Nico sentiu o rosto esquentar ao constatar que a achara graciosa, talvez estivesse mais bonita do que jamais a havia visto, apesar de algumas folhas terem grudado na bainha de seu vestido.
- Você me assustou. - disse ela, quebrando os pensamentos de Nico - Achei que fosse algum monstro ou algo do tipo.
- Engraçado - Nico disse mais para si mesmo do que para ela - Também achei que você fosse um monstro.
Rachel pareceu ter levado um soco no estômago. Nico percebeu que havia falado uma coisa horrível: que garota gostaria de ser comparada à um monstro?
- Ahn, eu... - ele começou a tentar se desculpar.
- Você achou que eu fosse um monstro? - Rachel enfatizou a última palavra, parecendo ferida - O que diabos...
- E-eu posso explicar. - Nico resmungou nervoso, falando rápido após isso - Muitos monstros cantam para atrair seu jantar, e você estava cantando, e era tão magnético, e aí eu pensei "ele vai me devorar" e...
- Você achou que eu fosse te devorar? - ela repetiu, voltando a enfatizar a última palavra. Cada vez mais parecia irritada, e Nico devia estar ficando cor de tomate enquanto respondia apressadamente.
- Desculpe, desculpe - murmurou - Eu só... a música... não sou bom com... sensação... - as palavras saiam desconectadas - Sinto muito, mesmo. - Nico disse por fim, mordendo o lábio. Rachel analizou-o por alguns segundos antes de suspirar.
- Bom... Tudo bem. Acho que não foi culpa sua, mesmo, Garoto dos Mortos. Só por favor, não espalhe por aí que eu fico perambulando pelo bosque. Não sooa bem para o Oráculo.
Nico quase havia se esquecido. Rachel era portadora do Oráculo de Delfos. Ela devia ao oráculo a inocência e virgindade eterna, tal como uma dama de Ártemis, que renega os homens em nome do bem maior. Pelo menos era isso que eles achavam que era o bem maior. Antes de lembrar-se que ela era o oráculo, milhares de pensamentos haviam se apoderado de Nico: a forma como ela parecia brilhar debaixo dos poucos raios de Sol que passavam entre as folhas; o cheiro gostoso de jasmim que ela parecia exalar; a forma como seus olhos verdes brilharam por um momento por estar irritada e ainda o fato de sua boca ser tão perfeitamente rosada enquanto ela falava com ele. Todos esses pensamentos estranhos que faziam da cabeça de Nico um tomate gigante haviam murchado com a lembrança de que aquela garota era o Oráculo de Delfos e que, por isso, estaria eternamente longe de garotos.
Finalmente, a ficha caiu e Nico se viu perguntando por que diabos ele se importava com o fato dela não poder se envolver com rapazes. A resposta fez Nico ferver por dentro - não, devia haver outra explicação. O fato é que ele não poderia estar ... gostando dela, poderia? Nico sacudiu os pensamentos para fora da cabeça.
- E o que você fazia aqui, garoto? - Rachel perguntou, após assistir Nico batalhar mentalmente contra seus próprios pensamentos.
- Ah, bem... - ele pensou um pouco antes de responder - Sei lá. Estava sozinho no chalé de Hades e resolvi que seria legal sair um pouco para caminhar.
- E por que você não foi com os outros? Achei que todos estavam reunidos hoje para um piquenique.
Nico havia esquecido completamente do piquenique. Talvez porque estivera muito ocupado com seu livro para lembrar, ou talvez porque simplesmente quisera esquecer. Não se sentia nada bem no meio daqueles milhões de casais apaixonados que valsavam pelo acampamento.
- Acho que esqueci. - falou após um tempo - E você, não foi convidada?
Por um bom tempo, Rachel não respondeu. Nico já estava imaginando que havia sido intrometido ou grosseiro, e quando ia abrir a boca para pedir desculpas, Rachel disse:
- Eu não tenho me sentido bem quando estou com todos. - ela pegou uma mecha do cabelo ruivo e começou a brincar com ela - Tem uma espécie de... atmosfera amorosa encobrindo o acampamento. Todos os pássaros cantando, esse cheiro de morango, os campistas todos andando em pares... Sem falar naquela visão. - Rachel dissera a última parte com desconforto.
- Visão? - Nico preocupou-se um momento - Que visão?
Rachel ainda brincava com uma mecha do cabelo ruivo. - Você sabe, eu vejo o futuro. E bem... não sei se eu devia te contar, mas...
- Eu não falaria para ninguém. Não tenho conversado com ninguém, mesmo. - o garoto adiantou-se em dizer.
- Bem... - ela pensou por um momento - Acho que a visão não tem nada a ver com você, então não vai fazer mal te contar.
Ela parou de enroscar o cabelo e pegou a barra do vestido, delicadamente retirando as folhas que estavam presas nele.
- Eu previ que... hm... Um capista iria, bem, apaixonar-se por mim. - Rachel disse muito desconfortável - E você sabe, por eu ser o Oráculo e tudo mais - ela não olhava mais para Nico enquanto falava - presumi que seria doloroso para quem quer que fosse gostar desse jeito de mim.
Nico sentiu-se culpado ao vê-la tão preocupada. Mesmo que ele não pensasse exatamente que era sobre ele que a visão de Rachel falava, ele podia ver claramente que a ideia de machucar alguém neste nível de profundidade acabava com a garota. E ele sentia-se mal por vê-la daquele jeito. Sua vontade era de dar um passo à frente e colocar uma mão no ombro de Rachel, mas imaginou que isso só a deixaria mais receosa ainda.
- Então eu resolvi não falar mais com os campistas. - resmungou Rachel, ainda retirando folhas do vestido - Tenho evitado todos eles desde então. Acho que é primeira vez que falo com algum campista em dias.
Mais uma vez, Nico sentiu o impulso de consolá-la. Desta vez, não segurou-se para não fazê-lo. Ele deu um passo tremido para perto dela - seguido de outro passo, e mais outro, até estivesse perto o suficiente para tocá-la. Então pegou uma de suas mãos, que estavam ocupadas com o vestido, e apertou-a levemente. Rachel levantou os olhos para fitá-lo, e Nico pôde ver nervosismo e culpa neles.
- Você não tem culpa das travessuras de Afrodite. - disse, com um cálido sorriso.
Pela segunda vez desde que se encontraram, Rachel passou algum tempo avaliando-o com o olhar. Então, como se tivesse encontrado o que procurava, sorriu. O sorriso dela foi o suficiente para que Nico sentisse seu coração começar uma corrida de salto em distância, pulando feito louco obstáculos invisíveis.
- Obrigada. - ela disse, parecendo um pouco mais calma - Eu realmente odeio estar causando esse tipo de coisa a alguém.
- Você devia estar orgulhosa. - Nico falou, e percebeu que não estava mais envergonhado e que apenas precisava dizer-lhe o que vinha à sua cabeça - Esse tipo de coisa é um sentimento puro e bom, e você é apenas abençoada por estar causando isso a alguém. Você é maravilhosa e eu tenho certeza que, não importando qual seja este tal campista, ele deve estar muito feliz por amar alguém como você.
Rachel parou para olhá-lo uma terceira vez, e Nico percebeu que aquele era um costume dela, como se ela pudesse realmente ver algo por trás dos olhos das pessoas. Os olhos dela cintilaram levemente úmidos, e pareceram encher-se de... carinho. Nico não pôde olhar durante tempo o suficiente para confirmar isso, porque no momento seguinte Rachel enterrou sua cabeça no pescoço dele.
- Você é muito bom mesmo, Garoto dos Mortos. - murmurou ela em algum lugar atrás da orelha de Nico, enquanto ele retribuia o abraço - Eu juro por Apolo, pelo Estige e por Afrodite que você será o homem mais feliz de toda a Terra, e que o melhor de todos amores recíprocos te acontecerá. Juro.
Nico sentiu-a soltando-se dele e a apertou mais forte. Rachel pareceu um pouco desolada por isso, mas o abraçou também. Após o que pareceu alguns minutos, ambos ouviram o som das trombetas que anunciavam o jantar. Nico soltou Rachel e ela se empurrou delicadamente para fora dos braços dele. Ele sorria como um bobo, e Rachel passou uma mão no cabelo dele antes de se afastar novamente para trás.
- Acho que devíamos ir jantar. - ela disse, sorrindo de leve.
- Ah sim. - Nico finalmente percebeu o quanto sua cara de apaixonado devia parecer patética. Por um momento, ele teve a certeza de que Rachel sabia da verdade. Ela sabia qual era o campista que havia se apaixonado por ela, e tudo que ele esperava era que ela não estivesse mais sentindo-se tão culpada por isso. Endireitando-se como pôde, Nico respirou fundo e sorriu - Vamos lá.
É galera. Espero que tenham gostado. Se tiverem, comentem! Se não tiverem, comentem também! Diga o que você acha sobre um possível Nicachel e fiquem com os deuses. ;D
