Avisos da Autora

1º Essa fanfic é BL (Boys Love, yaoi). Se você não gosta, por favor não leia. Aos que gostam, bom proveito :D

2º Essa fanfic, em algum ponto, contem shotacon (relação entre dois meninos jovens). Se você não gosta, favor não leia. Aos que não ligam, apreciem.

3º Os capítulos postados aqui são sempre dois atrás dos já produzidos (Ex: estou postando o chap.1 e tenho até o 3 escrito). Faço isso para ter, pelo menos, uma garantia para o leitor de que a fanfic está em progresso. Se, por alguma infelicidade, a fanfic vier a ser cancelada, irei tirá-la do ar.

4º Para não ficar "poluindo" a fanfic com NAs, irei pedir já aqui: por favor, se você leu - ao menos - um capítulo inteiro, deixe uma review! O que ajuda nós escritores a continuarmos com uma fanfic são as suas reviews, vocês são nosso combustível! Ficarei extremamente agradecida com todas as reviews que receber. :)

5º Por fim... Todos os personagens que aparecem na história de Code Geass não me pertecem, eles são de todo o direito de seus criadores. Os demais personagens e o cenário são de minha autoria.

Boa leitura :)


A melodia do Vento

Capítulo 1: A crueldade do mundo

"Nunca vou me esquecer daquele doce sorriso dela. As palavras, a voz suave, o toque delicado... O amor que ela me deu."

O dia estava nublado com a ameaça constante de chover. Na capela da igreja estavam reunidos parentes e familiares da moça o qual falecera tão jovem. O esposo e, claro, seu filho estavam presentes também. A criança observava o caixão com uma expressão vazia, sem demonstrar absolutamente nenhum sentimento. O choro tomava conta do lugar, juntamente com os soluços que enchiam o ar.

"Sentia minha alma vazia. Ódio, dor, solidão, angustia, tristeza... Não sentia nada, apenas vazio. Um vazio tão grande que formava uma cratera escura dentro do coração; tão profunda que nem mesmo o maior dos precipícios poderia se comparar."

Finalmente o caixão saíra da igreja. O esposo e alguns parentes homens por parte da família dela o levaram. A criança vinha logo atrás juntamente com os outros parentes. O clima se mantinha pesado, mas a expressão do garoto sequer mudou. Foi uma longa caminhada até a cova...

"Lembro-me bem da vez em que um parente de nosso vizinho havia falecido. Disse a ela que o mundo era injusto, cruel... Ela passou a mão sobre meus cabelos, agachando-se e me dando um forte abraço. Sussurrou – com sua voz suave – em meus ouvidos:

- Suzaku... Nada acontece por um simples acaso. – Aquelas palavras assustaram-me profundamente. Ela prosseguiu: - Não diga que o mundo é injusto. Tudo que acontece tem um por que e você só o descobrirá muito depois do ocorrido. – Ela me abraçou novamente, beijando minha testa. Aquela frase ficou cravada em minha mente, como desenho em rocha."

Vários parentes cercaram a cova, vendo o caixão agora ser enterrado. Pai e filho agora estavam lado a lado, simplesmente olhando. O homem agachou-se, passando uma das mãos sobre os cabelos castanhos da criança, devagar. Soltou um soluço que, dura e inutilmente, tentou conter.

- Suzaku... Suzaku, eu... – Tentou dizer o homem. Olhou para a face da criança e viu lágrimas escorrendo por seu rosto, mas não o viu mudar a expressão ou emitir qualquer som. – Suzaku... – Arregalou os olhos, surpreso.

- Otto-san... – Começou ele. A voz normal, só que em tom menor; não soluçava, não mudava a expressão e nem dava sinal de que mudaria o tom de voz. Apenas chorava. As lágrimas cristalinas escorrendo pelo rosto. – Otto-san... A okaa-san me disse que eu não deveria, mas eu digo: o mundo é injusto. Injusto e cruel. – Apertou os punhos. Foi o único ato diferente que fez.

- Ah, Suzaku... – O homem abraçou forte o garoto. Este não reagiu, somente chorou. Chorou em silêncio, sem fazer qualquer alarme e, o mais impossível, sem mudar a expressão do rosto.

"Logo começou a chover e, com a chuva, veio o vento. O vento – invisível – batia em meu rosto, levantando meus cabelos. Em meio a todo aquele barulho de soluço e choro eu o ouvi; o ouvi cantar. Era melancólico, mas lindo. A melodia que o vento, discretamente, cantava ao passar pelos minúsculos orifícios que se escondiam naquele gigantesco terreno. Foi isso que me distraiu, que me fez – momentaneamente – perdoar o mundo, mas ele não foi capaz de levar embora aquele buraco negro que crescia cada vez mais em meu coração."

"Pergunto-me se alguém, em algum lugar, poderá fazer este buraco se fechar..."

- Suzaku! Vamos logo que o taxi já está aqui. – Chamou o homem de cabelos castanhos, parado na porta com duas malas a mão.

Suzaku – um menino de cabelos castanhos e olhos verdes – estava de pé em frente a lareira. Olhava-a com uma expressão vazia; expressão que não saia de seu rosto há uma semana já. Aquela lareira lhe trazia nostalgia... Saudade... Saudade de sua mãe. Toda aquela casa fazia isso, mas o que o incomodava realmente era o fato de que eles estavam se mudando.

- O mundo é injusto. – Sussurrou para si, sem qualquer alteração no tom de voz ou na expressão. – Não importa como, quando, onde, ele é. Okaa-san, aquelas palavras eram belas, mas... Mentirosas... – Fechou os olhos, suspirando.

- SU-ZA-KU vamos logo! Ou vou ter de te carregar? – Chamou novamente o homem, cansado de ficar com as malas nos braços.

O garoto pegou a mala que estava ao seu pé e foi em direção a porta. Parou lá e olhou em volta... Seria um adeus para tudo. Assim que entrasse no taxi, aquele lugar e tudo que havia passado lá – incluindo a própria existência de sua mãe – seriam somente lembrança.

- Suzaku... – Sussurrou o homem. – Eu sei que é difícil, mas precisamos ir. – Disse, melancólico.

- Eu sei. – O garoto pegou na fechadura. – É hora de "mudar". – Disse, fechando a porta e indo, com seu pai, para o taxi.

"Naquele dia, quando nos mudamos, foi como se eu tivesse – indiretamente – jogado terra nas minhas lembranças. Era tudo tão bom, tão feliz... Por que o mundo teve de tirá-la de mim? Por que o mundo não deixou que ela se mudasse conosco? Por isso eu repito, um milhão de vezes: o mundo é injusto. Queiram as pessoas - ou não - admitir isto."

"A viagem toda eu fiquei com a testa apoiada no vidro, vendo a paisagem passar. Dava-me uma nostalgia e, cada vez mais, aquele buraco crescia dentro de mim. Otto-san tentou, várias vezes, puxar conversa comigo; sem sucesso. Quando mais nos aproximávamos da nova cidade, mais angustiado eu ficava. Meus amigos, meus vizinhos, minha escola... Tudo que eu conhecia estava prestes a mudar e, sinceramente, não sei se o Otto-san vai ter força o suficiente para me ajudar nisso..."

- Chegamos! – Disse o pai de Suzaku feliz ao abrir a porta da nova casa. – E ai? O que achou?

- Hmmm... – Suzaku olhou em volta e viu caixas e mais caixas empilhadas. – Encaixotada eu diria. – Disse sarcástico sem demonstrar qualquer expressão.

- Suza, vamos! Deixa de desânimo e ajude o otto-san, sim? – Disse o homem, indo começar a tirar as coisas da caixa.

Suzaku apenas o imitou, tirando as coisas das caixas. Foram quase duas horas para desencaixotar um terço das coisas... E ainda faltava muito. Ficaram mais meia hora desencaixotando até que – ambos – caíram no chão, exaustos.

- Otto-san... Ainda vai demorar pra acabar? – Perguntou a criança, exaurida de qualquer força que poderia ter.

- Ah, nós podemos deixar pra desembalar alguma coisa amanhã, né? – O homem sorriu amarelo, tão cansado quanto o filho. – Quer algo pra comer?

- Seria bom... – Suzaku também sorriu forçado. Agarrou os joelhos e encostou o queixo neles, suspirando.

O pai o olhou melancólico. Levantou-se e dirigiu-se a cozinha, mas quando ia abrir a geladeira, a campainha toca. O homem foi até a sala e olhou para o filho, interrogativo. Teve sua expressão devolvida pela criança. A campainha tocou novamente, quebrando aquela corrente de olhares.

- Mas quem poderá ser? – Perguntou o homem, abrindo a porta devagar. – Pois não... Ora! – Espantou-se ao ver um casal na porta. – Charles, Marianne, quanto tempo! – Arregaçou a porta e tascou um abraço no amigo.

- Digo o mesmo, Genbu! Faz quantos anos? Mais de dez, não? – Perguntou o homem de longos cabelos claros com um sorriso que ia de um lado a outro do rosto.

- Bem mais do que isto! Como vão os dois?

- Melhor impossível. – Respondeu a moça de cabelos negros. – Né, Genbu, quer vir tomar um chá conosco? Eu fiz um daqueles bolos maravilhosos que você e sua esposa tanto amam!

- Etto... – O Homem coçou a cabeça. – Bem, se meu filho aceitar ir...

- E sua esposa? – Perguntou Charles, ainda sorridente.

- Erm, bem...

- Vamos. – Suzaku apareceu atrás do Pai. – Se você quer ir, vamos. – Sua expressão não mudara nem um pouco desde aquela hora.

- Ahn... Certo, então nós vamos! – Respondeu Genbu, sorriso amarelo no rosto, sem jeito.

Foi uma longa caminhada da casa nova de Suzaku até uma linda mansão de grades brancas, jardim enorme, maravilhoso e bem cuidado. Passaram os portões e adentraram no jardim; uma moça em avental branco os esperava perto das mesinhas.

- Sayuko, preparou o chá? – Perguntou Marianne a moça, sua empregada, que a respondeu positivamente. – Ótimo. Sentem-se vocês, rapazes, que eu vou guardar umas coisas lá dentro, sim? – Disse ela, indo com a empregada para dentro da mansão.

Os homens se sentaram – tirando Suzaku – e, no mesmo instante começaram a conversar. Suzaku os observava intrigado. Deduziu que deveria ser um bom amigo de seu pai e que não se viam há bastante tempo, mas não tinha mais qualquer informação além disso.

- Otto-san... – Começou Suzaku, puxando uma das mangas da blusa do Pai. – Desculpe atrapalhar a sua conversa, mas eu vou olhar o resto do jardim, okay?

- Claro filho! Fique a vontade. – Disse o Pai sorridente.

Suzaku se afastou deles, sua típica expressão de nada. Não tinha razões para fazer outra expressão, mesmo. Os homens o viram se afastar; Genbu soltou um suspiro, enterrando a face nas mãos.

- O que houve, Genbu? Aconteceu algo? Parece deprimido... – Perguntou Charles, preocupado com o amigo.

- Ela morreu Charles... Ela morreu. – Disse Genbu, segurando as lágrimas dentro de si.

- Quem? Ah... Ah! – A expressão de Charles mudou bruscamente de uma exclamação para a outra. – Como? Por quê? Quando?

- Uma semana atrás. Ela já estava doente e devido ao prolongamento da desta não resistiu. Charles, eu estou deslocado, mas ele... – Genbu o olhou com uma expressão melancólica.

- Ah... Não tem muito o que se fazer. É algo que só o tempo poderá enterrar.

- Se enterrar, Charles. Se. – Complementou o homem, enterrando novamente a face nas mãos.

Suzaku andava pelo enorme jardim olhando ao redor, sem muito interesse. Sabia que a conversa deles iria parar no assunto da morte de sua mãe e não queria ouvir sobre isto. Doía, doía muito e, toda vez que falavam nela, o buraco aumentava mais... Ele sentia-se sugado, pouco a pouco, por aquela escuridão. Viu uma árvore a qual fazia uma sombra tentadora e sentou-se embaixo dela, fechando os olhos.

- Tudo isto é um tédio. – Sussurrou, soltando um suspiro.

- É um tédio porque você deixa se tornar um tédio. – Disse uma voz de garoto, um garoto da idade de Suzaku.

- Huh? – Indagou Suzaku, abrindo os olhos devagar. As orbes verdes encontraram-se com outras arroxeadas que as encaravam de ponta-cabeça. Suzaku deu um pulo pra trás, gritando de susto. – Que-Quem é você?! – Indagou, agarrando-se ao tronco da árvore.

- Hm, prazer. – Disse o garoto de cabelos negros que iam até metade do rosto, face meio afeminada e gigantes olhos roxos. Estava usando roupas brancas e pendurava-se no galho da árvore de ponta-cabeça. Com certa dificuldade, virou-se e desceu da árvore. – Lelouch. Lelouch Lamperouge, filho mais velho de Charles Lamperouge. – Ele estendeu a mão para cumprimentar o garoto.

Suzaku arqueou uma sobrancelha. Olhou o garoto da cabeça aos pés e, depois, levantou-se, fazendo uma "reverência".

- Kururugi Suzaku. – Respondeu ele ao garoto. – Sou oriental e, por tradição, não uso esses cumprimentos.

- Hm... Okay, não faz mal. – O garoto sentou-se no chão e se encostou à árvore. – Você deve ser filho de um conhecido do meu pai, acertei? Vamos, sente-se, não vou ser fresco com você.

- Então você é fresco com os outros? – Indagou Suzaku, sentando-se ao lado do garoto, mas meio afastado.

- Se forem comigo, sim. Se não, não. – Respondeu Lelouch, olhando a copa da árvore. – Por que tudo é um tédio?

- Não te interessa. – Suzaku virou a cara.

- Calma, só quero ajudar. O que houve? Sua mãe brigou com você?

- Antes fosse. – Suzaku diminuiu o tom de voz. – O mundo foi injusto com ela.

- Você fala como se fosse algo de outro planeta. Menino mimado. – Brandiu Lelouch, fazendo bico.

- E o que você sabe? – Gritou Suzaku, irritado. – O que você entende? Você não sabe de nada, acabou de me conhecer! – Ele levantou-se, encarando o outro menino com raiva. – Se o mundo fosse justo como todos dizem que é a okaa-san estaria comigo! Ela estaria comigo! Você não entende essa dor, você tem a sua família contigo! O mimado aqui é você, não eu! – Ele bufava, o estresse quase no limite.

- Ela morreu, né? – Indagou Lelouch simplesmente.

- Morreu. – Suzaku sentou-se novamente. Agarrou os joelhos e ficou a olhar pra frente. – Por isso que eu disse... O mundo é injusto.

- O mundo todo foi injusto?

- Foi!

- Então eu fui injusto com ela?

- Hã? – Suzaku olhou-o com uma sobrancelha arqueada.

- Você disse que "o mundo" foi injusto. Isso me inclui, já que eu faço parte do mundo, não?

- Eu não disse isso!

- Mas insinuou.

Suzaku fechou a cara, empurrando-se com o raciocínio do menino. Em contra partida ele sorriu para a reação de Suzaku.

- Qual o seu problema? Por que veio me irritar? – Suzaku brandiu, irritando-se novamente.

- Não vim te irritar, vim te fazer companhia. Você parecia triste, então pensei que poderia te animar. – Lelouch olhou para o céu, as mãos apoiadas na grama.

- Só por isso?

- Só! – Lelouch sorriu, transbordando felicidade.

Suzaku ficou ali a olhar a expressão dele e, no fim, acabou sorrindo também.

"Eu pensei que demoraria anos e anos para que aquele buraco diminuísse, pelo menos um pouco. Mas..."

- Né, você vai morar aqui na cidade, não? – Perguntou Lelouch, aproximando-se de Suzaku.

- Sim. Acabamos de nos mudar e minha casa não é muito longe daqui.

- E como nossos pais são amigos, você pode vir aqui sempre, né?

- Ahn... Acho que posso vir. Acho.

- Então, feito! – Lelouch pegou uma das mãos de Suzaku. – Agora você tem um amigo! – Disse, sorrindo radiante.

Suzaku sorriu também. Era como se as palavras dele espantassem os medos que o cercavam. Era algo... Diferente. Sentia que aquela amizade seria uma das melhores que já tivera.

"Mas eu acho que esse buraco irá se fechar. Se fechar muito antes do que eu imaginava. Sim, acho que – com ele – isto é possível."

Continua...