Bom, antes de tudo, essa é a minha primeira Padackles, então ainda sou meio nova nisso (rsrs). Porém farei de tudo para dar o meu melhor, sempre contando com a ajuda da minha queridíssima e parceira: Alexys Creedente. Também uma grande escritora, e que está me dando muito apoio. Obrigada, meu pequeno Grilo Falante. =)

Obrigada a todos que estão me dando uma chance, de verdade. Prometo fazer de tudo para lhes proporcionar uma leitura agradável, afinal, vosso tempo está sendo gasto comigo, e me sinto no dever de honrar esse tempo.

Fic: Sophie

Estilo: PadAckles (AU)

Beta: Alexys Creedence.

Categoria: Sobrenatural

Gênero: Romance, Amizade, Angst, Drama, Lemon, Lime, Universo Alternativo.

Classificação: +18.

Aviso: Esta fic pode tratar de diversos assuntos polêmicos; como religião, conceitos diferentes sobre um mesmo tema, bebida, drogas e rebeldia. Em nenhum momento tive a intenção de incentivar algum ato irresponsável, ou formar opiniões. Todas as opiniões, filosofias e crenças aqui expostas, são parte das personalidades dos personagens, sendo que algumas delas não são divididas por todos igualmente.

Lembre-se: Você é responsável por suas próprias opiniões e atos.

Muito obrigada, e espero sinceramente que esta história vos agrade. Qualquer observação, ou dica, peço que coloque nos reviews. Respondo a todos.

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Duncanville, Texas:

Danneel Harris respirou fundo antes de abrir os olhos para encarar a própria imagem refletida no espelho, e uma lágrima solitária escorreu pelo rosto pálido, parando no queixo trêmulo, enquanto os olhos refletiam todo o medo e arrependimento que tomava cada vez mais intensamente seu coração.

O quanto a haviam avisado sobre o caráter duvidoso de Robert? A ruiva já perdera as contas. Porém, nunca imaginou que seu tão amado Wisdom estava envolvido em algo tão podre, tão repugnante, tão sujo, tão... Desumano. E agora Harris se via em uma situação na qual não conseguia encontrar uma única maneira de escapar.

Definitivamente, vendeu sua alma para o diabo.

Enxugou com cuidado a lágrima, com a ponta do indicador, para não estragar a delicada e amigável maquiagem. Prendeu o crachá falso com o nome de Elta Graulno jaleco branco, e colocou um sorriso em seu rosto, para ajudá-la a entrar no clima do disfarce.

Assim que saiu do banheiro, Danneel caminhou tranquilamente pelos corredores com piso de granito branco, e paredes na cor de um acolhedor azul-bebê, misturando-se aos outros enfermeiros que passavam por ali o tempo todo.

Uma enfermeira, de pele branca e grandes olhos castanhos, parou diante de Harris, como se quisesse puxar uma conversa nada mais que coloquial. A ruiva disfarçou, mas seu coração falhou uma batida ao se deparar com Genevieve Cortese, que, com um sorriso doce nos lábios e um quase sussurro angelical, disse:

– É bom que você faça seu trabalho direitinho, Harris. Não queremos deixar o grandalhão zangado, não é mesmo?...Especialmente você.

Danneel tremeu por dentro, e Genevieve percebeu isso muito bem, mas a ruiva conseguiu contornar a situação, devolvendo o mesmo sorriso sarcasticamente doce de Cortese.

– É claro que não, querida! – e completou, num tom que definia o ponto final daquela conversa: – Ao contrário do que pensa, não sou nenhuma incompetente.

– É bom mesmo! – foi o que a morena disse antes de se despedir calorosamente de Harris; como se fossem duas amigas de infância que não se viam há muito, muito tempo.

Depois de alguns segundos observando Cortese se afastar, outra morena parou ao seu lado e lhe entregou alguns papéis. Essa era mais baixa, a pele bronzeada, e em seu rosto transparecia uma imagem completamente profissional. Sandra McCoy não a encarou diretamente nos olhos por nem um único instante; não gostava daquilo tanto quanto ela, mas também não tinha escolha.

Com a voz séria, porém baixa, orientou sua cúmplice:

– Estes são os papéis que você vai apresentar na enfermaria. Já providenciei a troca de enfermeiras para que você entre no quarto 650 e leve a criança até o berçário. O resto é com você. E... Seja rápida.

Danneel ficou em silêncio, apenas pegou os papéis e assentiu com a cabeça, indo diretamente para o elevador que a levaria até a enfermaria do sexto andar. McCoy avistou Genevieve caminhando de maneira tranqüila enquanto empurrava a maca especial para bebês, interagindo com a criança, fazendo caretas engraçadas e cantarolando alguma cantiga de ninar que Sandra não conhecia, mas dava para ouvir um tom melodioso aparentemente cheio de boas intenções. Realmente uma cena linda... Para quem não sabia as verdadeiras intenções de Cortese.

A morena baixinha e bronzeada deu um discreto sorriso irônico, enquanto pensava com seus botões:

"É realmente uma profissional... Não sei de onde ela tira tanta frieza."

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A ruiva engoliu em seco antes de bater com cautela na porta do quarto 650, sentindo as mãos suarem pelo nervosismo. Tentou eliminar qualquer resquício de sentimento bom que ainda existia em seu coração, porque, afinal, sua vida dependia disso.

A porta se abriu lentamente, revelando um moreno de olhos claros que, naquele momento, estavam radiantes. Ele não era muito mais alto do que ela, uma vez que a moça estava usando salto alto. Harris sorriu gentilmente e observou a decepção nos olhos do homem quando viu a caminha hospitalar em suas mãos brancas, indicando que sua criança seria levada para o berçário.

– Ah... – o moreno começou meio sem jeito. – Mas já?

Danneel sentiu a garganta se rasgar quando engoliu um pouco de saliva, e, como não conseguia responder àquilo, apenas sacudiu a cabeça positivamente, de um jeito meio brincalhão, usando como motivação o que aconteceria com seu pescoço se não o fizesse. O homem então deu espaço para a ruiva passar, e a seguiu. Harris logo viu uma morena de cabelos cacheados ninando um bebê de pele cor-de-rosa nos braços. Quando notou a enfermeira parada lhe observando, engoliu em seco, direcionando um olhar saudoso para a criança.

– Será que ela não pode ficar mais um pouquinho? – perguntou a jovem mãe, trazendo o bebê para mais perto de si quando a ruiva se aproximou. – Por favor...

– São os procedimentos, senhora. Vai ver sua filha logo. Procurem descansar, você e seu marido. – Danneel respondeu de maneira profissional demais para a ocasião, porém, nem morta usaria os termos "papai" e "mamãe" para conversar com eles; não conseguiria ser tão cara-de-pau quanto Genevieve.

Victoria Vantoch teve um pouco de receio em entregar sua filha para aquela mulher, pois sentia que algo nela estava errado. Harris estava com os braços estendidos, esperando que a morena parasse de envolver tanto a criança em seus braços maternos, impedindo-a de pegar o bebê recém-nascido. O pai deu um sorriso sem graça e se direcionou para mais perto da esposa, apoiando os cotovelos na cama hospitalar e pegando gentilmente uma de suas mãos.

– Está tudo bem, querida. Entregue nossa Amanda para a moça. Logo vamos levá-la para casa, mas agora, infelizmente, é necessário que ela vá para o berçário... – ele dizia com a voz macia e gentil, e só assim Victoria relaxou os ombros tensionados.

Vantoch olhou uma última vez para o rosto adormecido da filha, e a entregou contra sua vontade para a enfermeira que esperava pacientemente. Danneel colocou a criança na caminha com cuidado, a arrastou lentamente para fora do quarto, e lançou um sorriso amigável para os pais da menina antes de fechar a porta.

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Sterling K. Brown entrou na sala de segurança da maternidade, onde o vigia branco e gordo tomava um gole generoso de café em sua caneca azul-marinho, onde estava escrito "I Love NY" dentro de um coração vermelho, enquanto olhava para as imagens das câmeras de segurança. Assim que viu o homem alto e negro vestido com um uniforme semelhante ao seu, recostado na parede, engasgou com o café pelo susto, recebendo em resposta uma risada de escárnio por parte de Brown.

– Parece que, se fosse alguém mal intencionado, você estaria morto há essa hora. – comentou o homem com muito bom humor enquanto observava o ruivo se recompor.

– Quem diabos é você? – perguntou o gordo observando o suposto vigia à sua frente.

– Ah, sou eu quem vai substituir você no turno de hoje. – respondeu Sterling com uma naturalidade fora do comum.

– Mas não me disseram nada sobre substituição hoje. – disse o homem de um jeito desconfiado.

– Bom, depois que sua esposa teve aquele derrame hoje à tarde, achei que quisesse vê-la.

– Minha esposa... O quê? Mas... Eu não tenho esposa. – o ruivo começou a se levantar de seu posto.

– Não? – Brown pareceu genuinamente surpreso enquanto se aproximava do outro. – Bem... Parece que mandaram o recado errado então. – e, neste momento, Sterling nocauteou o vigia com toda sua força, com o cotovelo.

O gordinho caiu no chão num baque surdo.

– É... Se bem que você tem cara de ser virgem mesmo. – ironizou o mais alto ao ver o ruivo inconsciente.

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O celular de Sandra vibrou por dentro do bolso de seu jaleco, e ela olhou para o identificador de chamadas. Respirou fundo, sabendo que finalmente chegara o momento de sair dali e ir para a próxima etapa do plano. McCoy atendeu o aparelho celular mantendo a postura com uma tranqüilidade que não sentia, de maneira alguma.

– Sim?

– Ligue para aquelas duas e diga para que comecem a se preparar para a saída, e depois vá ao encontro delas. Vou guiá-las pelo celular. – a voz masculina de Sterling disse com autoridade.

– Claro, pode deixar. – Sandra respondeu normalmente.

A morena desligou o celular e imediatamente mandou uma mensagem SMS para Harris e Cortese:

Fechem a cortina do berçário, escondam os bebês. Daqui a cinco minutos estarei aí.

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Quando Danneel estava chegando ao berçário com a menina, Genevieve apareceu na porta, apressando-a com um movimento de sua mão. A ruiva acelerou o passo e entrou no aposento, vendo a porta sendo fechada com pressa, e a cortina do grande vidro solta pela morena.

– Já? – Harris perguntou enquanto observava a outra.

– Já. – Cortese respondeu monossilabicamente enquanto lhe jogava uma mala de mão de tamanho médio, que estava com uma aparência cheia, devido ao tecido fofo que costuraram por dentro para manter o bebê confortável.

Danneel respirou fundo e colocou a criança com cuidado na mala, fazendo um "shhh" para manter a menina adormecida. Assim que terminou de fechar o zíper, observou Cortese fazer o mesmo com o bebê que retirara.

– Por que esse esquema todo para apenas dois bebês? – Harris perguntou realmente curiosa, pois aquilo não fazia sentido para ela.

– Porque é o máximo que conseguimos carregar. Ou você achava o quê? Que encheríamos as malas com três bebês cada? Não podemos levantar nenhuma suspeita. – a morena respondeu aborrecida, demonstrando sua impaciência com a ruiva à sua frente, enquanto fechava lentamente o zíper de sua mala para não acordar o recém-nascido.

– Perguntar não ofende. – foi o que Cortese obteve como resposta.

Genevieve apenas revirou os olhos e ficou em silêncio. Aquela era a parte mais perigosa do plano, e, apesar de já tê-lo feito outras vezes, nunca deixaria de sentir medo de ser pega, e ter plena consciência disso fez seu coração acelerar.

A porta se abriu de uma vez, e as duas se sobressaltaram. Sandra entrou normalmente, e os pulmões das outras comparsas liberaram o ar que lhes havia enchido. Felizmente, nenhuma das crianças acordou.

– Faz tanta pose, mas é tão amadora quanto essa patricinha aqui, McCoy. – Genevieve declarou num tom puramente irritado.

– Cala a boca, Cortese. Apenas contenha essa coisinha irritante enquanto estivermos saindo daqui. – foi o que Sandra respondeu no mesmo tom de aborrecimento enquanto tirava o jaleco branco, soltava os cabelos e se livrara dos insuportáveis óculos de grau.

Genevieve não respondeu, apenas se levantou e fez o mesmo. Os jalecos estavam abotoados, e assim não era possível notar as roupas costumeiras que estavam vestindo. Danneel não moveu nem um único músculo para acompanhar o procedimento de suas cúmplices, apenas abaixou a cabeça e respirou fundo, como se pensasse seriamente na possibilidade de jogar tudo para o alto e sair daquele berçário aos berros.

Talvez assim Deus poupasse sua alma, se Ele realmente existisse.

Ao ver que Harris não reagia, Cortese a puxou pelo braço, apertando-o com força. A ruiva soltou um gemido de dor e surpresa, olhando temerosa para a morena que bufava à sua frente.

– Quer estragar tudo, sua putinha songa monga?! Nosso tempo é curto, e precisamos sair daqui! – apesar de toda aquela pose intimidadora adotada pela outra, Danneel podia ver que a morena estava, na verdade, com medo.

E muito.

– Vim até aqui, não vim? E, não sei se esqueceu, mas parece que a minha buceta é a preferida das concubinas, não é? – a ruiva declarou num tom ousado.

Genevieve bufou de raiva, as narinas abriam e fechavam conforme sua respiração se tornava mais profunda, controlando a vontade que tinha de jogar a ruiva contra aquele grande vidro que separava o corredor do berçário e acabar com a raça dela ali mesmo. Ela olhava no fundo dos olhos de Harris, que a encarava de volta um pouco temerosa do que poderia acontecer, mas sabia que naquele momento a outra não faria nada.

Sandra separou as duas com o braço e puxou Cortese para longe de Danneel.

– Vocês duas podem resolver isso mais tarde. – e assim soltou a morena, depois direcionou seu rosto para a ruiva, e disse de maneira repreensiva: – Harris quer, por favor, andar logo com isso? Sterling não tem a vida toda para nos esperar.

Ela não respondeu, apenas começou a desabotoar seu jaleco, enquanto ouvia uma última frase relacionada àquele assunto, pela boca de Genevieve:

– Eu entendi sua indireta, Harris. E, se você não tem nojo de se deitar com ele... Então é muito pior do que eu.

Harris segurava o jaleco branco nas mãos, e ficou paralisada ao ouvir aquilo, mas logo voltou a se focar no que estava fazendo. Ainda teria outras oportunidades para discutir o assunto. Porém, não pôde deixar de negar a surpresa de ouvir aquilo da boca da cúmplice aparentemente mais fria dentre todos os outros.

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Todas estavam prontas. Sandra estava com o celular no ouvido, esperando Sterling atender; Genevieve e Danneel estavam com as mochilas nos ombros, onde estavam os bebês e seus jalecos, já que haviam usado as vestimentas para manter os recém-nascidos mais confortáveis ainda. Ambas viram o momento em que Brown atendeu, pois McCoy levantou os olhos e ficou muito atenta, abrindo a porta do berçário e caminhando naturalmente. Foi seguida de imediato pelas outras duas.

Sterling as conduziu para passarem despercebidas pelos seguranças; ele sabia que o procedimento não incluía revisar as bolsas, mas era melhor manter certa distância, para o caso de os bebês chorarem ou emitirem qualquer tipo de som. O negro fez isso através das imagens de segurança, de onde podia ver tudo. Depois que as moças saíssem do hospital, ele apagaria todos os registros daquele dia e limparia suas digitais.

E quanto ao vigia ruivo? Brown o amarrou e o amordaçou, para não correr o risco de o homem gritar ou sair em busca do restante da segurança do hospital. Eles definitivamente montaram um belo esquema, mas sabiam que ele não era perfeito, e isso não evitaria a falta dos bebês. Afinal, pais não se esquecem dos filhos. Sem contar que suas aparências seriam relatadas pelas vítimas e testemunhas, mas não estavam realmente preocupados, já que logo sairiam do país, e por um bom tempo. E quantos homens negros e mulheres ruivas e morenas existiam no mundo? Sem imagens era difícil acelerar o reconhecimento; até lá, já estariam bem longe dali.

Assim que as mulheres saíram pela porta principal do hospital, Sterling esboçou um sorriso malicioso.

Tudo havia saído exatamente como o planejado, e, agora, era só cobrir os rastros.

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As três cúmplices entraram em um Corolla 2001 de cor preta; um carro simples, discreto. Sandra entrou no lado do motorista, e as outras no banco de trás, cuidadosamente, com as malas. Danneel franziu o cenho no momento em que McCoy deu a partida no carro, e questionou:

– Não vamos esperar pelo Sterling?

Genevieve riu com gosto, e Sandra se virou, mandando, com autoridade, a morena calar a boca. Cortese apenas revirou os olhos, e McCoy respondeu um pouco irritada para a ruiva:

– Você se preocupa demais, Harris. – começou a morena. – A prioridade é levar os bebês para Wisdom; o resto do esquema não é tão importante. Por que acha que o chefão escolheu ele? Sterling é macaco velho nisso, hackeou diversos sistemas e até participou de roubos nos bancos da Europa. Tudo isso sozinho. Esse trabalho aqui é peixe pequeno para Ele.

– Só não entendo o porquê de ele estar participando disso, se poderia obter vantagens com algo muito melhor. – Danneel definitivamente não conhecia aquele ramo; questionava demais.

Sandra era a mais paciente, mas Genevieve estava querendo matá-la desde que Robert decidiu colocá-la no esquema.

– Cada um de nós aqui tem um motivo particular, patricinha. – Cortese iniciou antes que Sandra o fizesse. Enquanto a morena falava, McCoy saía com o carro do estacionamento. – Eu não sei como você se prendeu a isso, assim como também não sei o motivo de Sandra estar nessa, e tampouco vocês compreendem meus motivos. É inútil pensar o porquê do imbecil do Brown estar nessa também.

A ruiva não respondeu, pois pareceu se contentar com aquelas palavras. Após alguns quilômetros, no entanto, ela abriu o zíper de sua mala e observou a menininha dormindo tranquilamente, vestida em um macacãozinho rosa, onde estava bordado o nome Amanda em letras de mão e num tom magenta.

– Eu não a aconselharia a fazer isso. – Genevieve comentou olhando para Harris com uma estranha serenidade, talvez até compaixão. Danneel franziu o cenho com aquilo, mas não contestou.

– Apenas estou abrindo para ela respirar melhor. Deve estar abafado ali dentro. – a ruiva se justificou.

Cortese deu uma risada sarcástica com aquilo, e virou seu rosto para observar o movimento pela janela.

– Conta outra.

– Do que você está falando? – Danneel estava realmente intrigada com aquilo tudo.

– Estou falando que você só vai se apegar a essa coisinha aí dentro. Eu estou há um bom tempo aqui, e sei como é. Não gosto de você, Harris, nem um pouco mesmo, mas tenho que aconselhá-la em nome de nossos pescoços. Você é mulher, tem instinto materno e de difícil controle, quanto mais se preocupar com o bem-estar do bebê, mais vai se apegar, e mais difícil será de entregá-la depois. Tem que vê-la como uma mercadoria, uma entrega, um bagulho que você tem que traficar. São coisas, e não pessoas. Eu sei que é difícil, mas essa infelizmente é a realidade... A nossa realidade.

– Isso tudo é um monte de besteiras! – a ruiva se alterou mediante o discurso da morena.

– Ela está certa. – Sandra se pronunciou, arrancando um instante de silêncio da outra.

– O quê?! – Harris olhou para a morena baixinha que dirigia concentrada, e estava dividida entre a intriga e o choque. Mesmo estando de costas, dava para ver uma parte do olhar vazio da morena, e, de certa forma, era triste.

– Você entrou em outra realidade da vida, Danneel. – era a primeira vez que McCoy a chamava pelo nome. – Parece que ainda não percebeu do que Robert é capaz, não é? É melhor você realmente não pensar no que vai acontecer com as coisas que você entrega para ele. Sendo drogas, sendo bebês, tanto faz. Acredite em mim: você não vai gostar. É melhor se preocupar com o que pode acontecer consigo mesma, e não com eles.

– Sandra... – a ruiva retribuiu a liberdade de chamar pelo primeiro nome. – O que vai acontecer com esses bebês? – a voz de Danneel estava um pouco trêmula, já que não parava de olhar para a doce criança, que ergueu o bracinho e segurou seu indicador, já que a mão de Harris estava parcialmente para dentro da mala. – Me responde... Por favor?

– Eu disse: melhor não saber... Pense que ela vai para um lugar melhor.

– Como assim?! – Harris agora estava extremamente nervosa com aquela conversa, saíam lágrimas de seus olhos e ela sentia como se quisesse abrir a porta e se jogar do carro em movimento. – O que você quer dizer com isso?!

Sandra continuou em silêncio, mas Genevieve estava irritadíssima com aquilo. A situação estava insuportavelmente torturante, e decidiu por si mesma deixar a ruiva totalmente ciente, assim como ela mesma e McCoy.

– Vão virar dinheiro. – a morena começou, chamando a atenção de Danneel e arrancando um protesto de Sandra. –Muito dinheiro.

– Cortese, não!

– Ela precisa saber! – Genevieve respondeu para a outra morena num grito, e prosseguiu com a voz mais calma, talvez impassível, para Harris: – Algumas são vendidas para famílias ricas, e você não faz idéia do quanto alguns pagam para ter um filho. Muitos são ricos demais para ficarem numa fila de espera para adoção, se é que você me entende. Agora, nem todos pagam o mesmo preço que...

– Que o quê?! – Danneel perguntou ao ver a hesitação da outra em responder.

–... Que o mercado negro. – a ruiva arregalou os olhos com a resposta de Cortese. – Há uma escassez enorme de órgãos a serem doados, e órgãos de crianças valem muito mais que a droga mais cara, a jóia mais valiosa. Nós levamos os bebês, mas algumas crianças de sete, oito anos, são seqüestradas de escolas de tempo em tempo. Principalmente aquelas que voltam sozinhas para casa... Alguns pré-adolescentes, por encontros marcados pela internet... Por isso temos que fingir que não estamos vendo.

Uma súbita ânsia de vômito atingiu Harris, que colocou a mão na boca para impedir, e exigiu com uma autoridade fora do comum:

– Parem esse carro agora! – e logo em seguida apertou mais a mão em sua boca para impedir o vômito que já estava saindo pela garganta.

– Pega uma sacola para ela aí no porta-luvas, McCoy! A garota vai vomitar e não temos como parar o carro por aqui.

Sandra pegou várias sacolas emboladas e jogou para trás, sendo pegas pela outra morena, que tirou a mala com a pequena Amanda do colo da ruiva, e ajeitou algumas sacolas uma dentro da outra para não escapar o líquido, e entregou para a moça, já colocando perto de sua boca. Danneel segurou forte a sacola contra o rosto e não tentou conter nada.

Genevieve lhe lançou um olhar que há muito não direcionava para ninguém: piedade.

– É nojento, não é? Eu sei. Robert é um monstro, Harris, um tipo de monstro que até o próprio Diabo com certeza se recusará a receber no Inferno. E isso não é nada se comparado às outras coisas que ele faz; por isso todos têm tanto medo dele. Eu fui enganada, assim como você, e McCoy também foi. – Cortese precisou respirar fundo antes de continuar: – Ele nos fez acreditar que era um anjo, mas se revelou como um demônio. Um demônio que leva várias almas com ele para o Inferno... Porque nós, com certeza, vamos.

– Se duvidar ele vai vender as nossas em troca da dele. – Sandra debochou, e Genevieve riu de maneira irônica, mas sem discordar.

Parecia inapropriado aquele tipo de escárnio, mas todas ali já estavam acostumadas. Todas com exceção da doce ruiva que se recusava internamente a fazer parte daquilo. Ela rezou em pensamento, enquanto vomitava, para que Deus provasse sua existência e lhe desse uma chance de salvar pelo menos aqueles bebês, e que poupasse sua alma.

Danneel jamais pôde ter certeza se era a coincidência ou se Ele realmente ouviu suas preces, mas o Corolla passou por algumas taxinhas que as crianças levadas do carro anterior jogaram na estrada. Sandra xingou alto, mas não conseguiu evitar que o carro passasse por elas, furando os pneus direitos, dianteiro e traseiro.

– Malditos! – McCoy gritou dando dois socos no volante, com ambas as mãos.

– É nessas coisas que me apego para não ter pena das crianças. – Genevieve não conseguiu evitar o humor negro. – Oh, droga! O moleque cagou! Cara... Era só o que faltava!

– Estou vendo um posto logo ali. Talvez eles possam nos ajudar. – Danneel disse, observando o posto que estava relativamente longe para ir a pé com salto alto.

– Eu vou até lá. Pelo menos me livro desse cheiro de vômito misturado com bosta! – Sandra exclamou, saindo do carro.

– Espera! Eu vou com você! – Genevieve saiu dali com o bebê em um braço e a mochila no outro, e esta a morena jogou no matagal assim que saiu. – Tenho que trocar a fralda dessa coisinha, e parece ter um mercadinho ali. Deve ter fraldas lá.

Sandra lançou um olhar de repreensão para Cortese, e se aproximou dela com um sussurro nervoso:

– Você vai deixar a novata aqui sozinha? Enlouqueceu?!

– Alguém tem que ficar aqui e vigiar o carro enquanto vamos até lá. E precisamos comprar suprimentos para manter esses bebês até chegarmos.

A morena mais baixa apenas bufou, sem contestar em momento algum. Resmungou um "Vamos" para Genevieve, e andaram o mais rápido que podiam com aqueles saltos em direção ao posto.

A eventualidade é que McCoy conseguiu parar no acostamento antes que o carro não conseguisse mais andar, e assim evitavam chamar a atenção da polícia pelo carro estar atrapalhando o trânsito ali na estrada. Quanta sorte.

Harris tirou o recém-nascido de dentro da mala e a aconchegou em seus braços, pensando que àquela altura já haviam dado falta pelos bebês, e provavelmente já estavam em alguns noticiários. Porém, aquilo realmente não importava para ela no momento. Olhou para frente, e suas comparsas estavam cada vez mais longe, provavelmente demorariam um pouco para voltar. Mais ou menos uns 15 a 20 minutos para Sandra. Olhou novamente para a menina que dormia tranquilamente em seus braços, e o pensamento do que em breve aconteceria com ela espremeu seu coração até que o ar lhe faltasse. Havia uma oportunidade de salvar a menina, ali e agora, mas não conseguiria ir muito longe. E ainda havia o menino que Cortese levou para trocar a fralda. Como poderia fugir e deixar o pobrezinho para trás, sabendo que teria um destino tão cruel?

Mas, se não agisse logo, não conseguiria salvar nenhum dos dois.

Com uma determinação súbita que nasceu de algum canto misterioso em seu coração, Danneel tirou os saltos, segurou melhor a menina em seu braço esquerdo, e correu. Correu para a direção contrária à que as outras seguiram, correu para salvar aquela criança, correu para limpar sua própria consciência. Ela não sabia como conseguiria chegar á cidade daquele jeito.

... Mas sabia quem procurar para obter ajuda quando chegasse lá.

E isso, Harris tinha certeza, era algo que poderia fazer.