Enquanto andava, fumando um cigarro, escondido pelo véu da noite e pela grossa capa negra de lã, seus olhos esquadrinhavam a rua. Nenhuma alma viva. Nenhuma luz acesa. Nada. O blecaute fora bem arranjado.

Deu uma longa tragada em seu cigarro e continuou andando. Tinha certeza de que se fosse descoberto ali, de volta ao lugar que pertencia, tudo estaria acabado. E era exatamente aquilo o que ele queria.

Parou em frente uma casa simples. Apesar da escuridão, dava para enxergar o número quatro ao lado da porta. Respirou fundo e jogou o que restava de seu cigarro em cima do telhado da casa.

Claro, jamais um simples cigarro poderia causar o estrago que se anunciava ali. Mas, claro, aquilo não era um simples cigarro.

Em instantes, toda a casa era chamas. O brilho do fogo fez tornar visível o rosto do indivíduo que causara o incêndio. A boca dele desenhou um sorriso maligno e seus olhos verdes brilharam quando foi capaz de escutar os gritos dos ocupantes da casa.

Um homem, corpulento e de cabelos curtos muito negros, com um bigodinho escovado e alinhado, saiu gritando pela porta da frente, com a roupa chamuscada. Não notou a sombra que causara o desastre, pois estava perplexo.

- PETÚNIA!!! DUDA!!! – ele berrou, em desespero pela família, que não teve como escapar. Queria entrar e fazer alguma coisa, mas o pânico congelara suas pernas.

Em alguns segundos, toda a vizinhança tinha se alertado para o incêndio. Aflitos, alguns gritavam, outros abandonavam suas casas. Mas ninguém parecia notar o jovem culpado pela tragédia.

- ALGUÉM!! POR FAVOR, FAÇA ALGUMA COISA!!! ALGUÉM!!! – o desespero do pobre homem quase enterneceu o duro coração de Harry Potter. Quase.

O corpo de bombeiros havia sido acionado, mas tarde demais. Quando chegaram, nada havia no lugar da casa, além de cinzas e escombros.

Inconsolável, Válter Dursley chorava sobre sua própria obesidade. Os vizinhos já não sabiam o que fazer. Também, não havia o que fazer. Todos prestaram condolências. Os bombeiros avaliaram os estragos e, após "Sentirem Muito", foram embora.

Logo, novamente, só havia ele na rua. Ele e o algoz de sua família, ainda não notado. O dia começava a raiar.

Válter, ainda absorto em suas lágrimas, se questionava, de onde poderia ter começado aquele fogo. Como? Onde? Por quê?

- Enfim nos reencontramos, Dursley... – a voz sombria e grave de Harry, agora com vinte anos, ressonou nos ouvidos de Válter como um trovão em meio ao mais absoluto silêncio.

- Quem...? – ele virou-se assustado, e mais se espantou ao ver quem o encarava. – VOCÊ??? – vociferou, compreendendo o que acontecera. Levantou-se e, se esquecendo de quem o garoto, agora homem, era, avançou para cima dele. – VOU ARRANCAR SEUS OLHOS COM MINHAS PRÓPRIAS MÃOS!!!

Ainda sorrindo malevolamente, Harry nem se mexeu. A não ser para erguer a varinha e apontar para o peito de seu tio.

- Crucio. – a maldição fluiu da boca dele de maneira tão fácil e tranqüila que quem o conhecesse de antes, não o reconheceria.

O pobre homem se contorcia e gritava de dor, mas nada que pudesse tocar o frio coração de Potter.

- Isto – ele disse, brandamente, como se conversasse com uma criança – é por todos os anos de mentiras, maus tratos, indiferença e tudo o mais que você e sua mulher me fizeram passar.

Valter dava sinais de que iria sucumbir à dor e desmaiar. Harry interrompeu o feitiço antes que isso acontecesse.

- E isto... Bem... Isto é apenas por diversão. – seu sorriso se alargou. Valter, apavorado, tentou se erguer para impedir qualquer coisa que o jovem fizesse. Em vão. – Avada Kedavra.

Antes que pudesse soltar uma exclamação de puro terror, o feitiço atingiu o peito do pobre homem, que morreu antes mesmo de todo o seu corpo tocar o chão.

Satisfeito, Harry guardou a varinha dentro das vestes, tirou do bolso um novo cigarro e um isqueiro, acendeu e saiu andando, como se nada de mais tivesse acontecido.

- Como é bom voltar pra casa... – ele diz, de si para si, com um sorriso nos lábios.