Capitulo 1 – O Divórcio.

Nunca consegui entender como meu mundo todo pôde desabar em apenas um dia. Hoje de manhã, quando acordei, eu era casado com Gina Weasley. Gina, irmã do meu amigo e companheiro de luta. Gina que já havia lutado ao meu lado. Gina que eu vi crescer. Gina que estava esperando um filho. Hoje de manhã, quando eu acordei, acreditava que o mundo bruxo vivia um longo momento de paz após a segunda grande guerra bruxa, e agora não fazemos ideia do que está por vir, mas eu tenho um pressentimento de que não será nada bom.

Mas eu estou atropelando as coisas, vamos do começo. Meu nome é Harry Potter, mas isso você já deve saber, porque desde o dia em que nasci, não há ninguém no mundo mágico que não saiba quem eu sou. Há mais de 10 anos atrás, eu e vários grandes bruxos e bruxas lutamos contra Voldemort, e vencemos. Aquele-que-não-deve-ser-nomeado foi para nunca mais voltar. Infelizmente, devo ressaltar que a ideologia por trás da popularidade de Voldemort continua, e há ainda aqueles que defendem o sangue puro e a magia das trevas. Eles estão por aí, e meu trabalho, como auror é captura-los. Nós estamos mantendo estes bruxos das trevas sob controle, por enquanto.

Eu fiz o treinamento de auror após o fim da guerra bruxa, junto de meu amigo Rony. Hermione havia se casado com ele, e trabalhava no Ministério da Magia, no Departamento para Regulamentação e Controle de Criaturas Mágicas, onde promovia uma luta constante e já com algumas vitórias sobre os direitos dos Elfos Domésticos, Centauros, Duendes e Sereianos. Muito inteligente, Hermione conseguiu trazer a temática para a agenda política do mundo mágico e denúncias de maus tratos pareciam ser frequentes na imprensa.

Eu e Gina havíamos também nos casado, logo depois de Rony e Hermione, um casamento que já durava 5 anos. Eu amava Gina? De certa forma sim. Era minha companheira, uma mulher bonita e inteligente, que desejava e acreditava nas mesmas coisas que eu. Sempre achei que nosso casamento fosse um caminho natural, depois do nosso envolvimento em Hogwarts.

E ela pertencia a uma família a qual eu amava e queria fazer parte. Se eu já tinha sido alguma vez perdidamente apaixonado por ela? Bom talvez tenha havido alguma atração naqueles meses durante o sexto ano... depois da guerra isso havia se perdido. Sempre achei que minha vida tinha sido conturbada demais e que provavelmente era por isso que não sentia tanta paixão ou desejo por ninguém. Mas nós tínhamos um bom casamento, ao menos era o que eu pensava.

É claro, havia a questão dos filhos. Diferente dos meus melhores amigos que já tinham uma linda menininha de 4 anos e um rapazinho de 1 ano e meio, eu e Gina não tínhamos filhos. Nós tentamos, muito, mas nunca aconteceu; isto talvez tenha esfriado bastante a relação entre eu e Gina Weasley, agora Gina Potter. Porém, uma semana atrás, ela chegara com a notícia: estava grávida. Eu serei pai, eu pensei! Nunca tinha estado tão genuinamente feliz.

Hoje de manhã acordei, pensando em passar no Beco Diagonal antes do trabalho, já ver alguma coisa para o bebê que ia nascer daqui a 9 meses. Era uma surpresa para Gina, eu ia trazer uma roupinha para dar a ela de presente. Eu acreditava que ela deveria estar nas nuvens, pois sempre desejara engravidar. Tomei café sozinho antes de sair, Gina não estava em casa, ela jogava como artilheira em um time de quadribol da Inglaterra, e seus treinos muitas vezes eram de manhã cedo.

Cumprimentei o Tom no Caldeirão Furado quando entrei no Beco Diagonal, e fui diretamente a uma loja de roupas de criança que abrira há pouco tempo. Parei na vitrine olhando alguns itens expostos, quando vi uma familiar cabeleira ruiva dentro da loja observando os sapatinhos infantis. Era Gina. Por um momento fugaz eu sorri para mim mesmo, ela tivera a mesma ideia que eu?

Mas então, esse pensamento se desfez, e eu vi um homem aproximar-se dela e abraçá-la pela cintura. Sem querer acreditar que aquilo fosse consensual, eu empunhei a varina e me preparei para entrar na loja, ir em auxílio da minha esposa. Foi quando ela, apreensiva olhou para os lados para ver se estava sendo observada, e por obra do destino, não me viu do lado de fora, escondido atrás de um berço de madeira exposto na vitrine. Vi Gina relaxar nos braços daquele homem e se aproximar para beijá-lo rapidamente nos lábios.

Eu não entrei na loja. Eu gritei. Não fiz um escândalo. Não azarei o homem. Nada disso era muito próprio de mim. Só deixei meus ombros caírem com o peso daquela decepção, sem querer acreditar no que meus olhos viam. Tínhamos um bom casamento, não tínhamos? Eu pensei desesperado. Se não, o que fizemos destes últimos anos? E esse filho que ia nascer? Será que Gina não pensara nele?

Foi nesse momento que os olhos dela cruzaram com os meus e ela me viu ali. Seu rosto exibiu uma profunda expressão de choque, e ela se soltou rapidamente do homem. Mas ela sabia que eu tinha visto, ela era inteligente demais para imaginar o contrário. Não foi em minha direção, ela sabia que eu detestaria tanta exposição da nossa vida pessoal em público. Jornalistas poderiam estar por perto e aquilo era um prato cheio: "Harry Potter é traído", "Sr. e Sra. Potter discutem em público", "Gina Potter é pega em flagrante pelo Menino-que-sobreviveu". Gina apenas olhou para mim, enquanto eu me afastava e ia embora a passos largos do beco diagonal.

Se alguém falou comigo no caminho eu não ouvi. Não entendia como aquilo estava acontecendo comigo. Quando dei por mim já estava no Ministério da Magia, e entrei no Departamento de Aurores sem dar bom dia a ninguém, sem nem conseguir me lembrar de como cheguei lá. Foi dada uma tarefa pelo chefe do departamento, eu deveria investigar um acontecimento estranho em um vilarejo trouxa ao sul de Londres. Aquilo era o que eu precisava. Pensar em outra coisa.

- Weasley vai com você. – disse o chefe.

- Weasley? – eu questionei abobado, já focado em minha tarefa.

Foi quando Rony veio na minha direção, com aquela mesma cabeleira ruiva, aquele mesmo tom que vi de manhã no Beco Diagonal, que o significado do que tinha acontecido pesou sobre meus ombros. Muito mais do que casado com Gina, eu era casado com a família dela inteira. Eu tinha seus pais como meus pais, seus irmãos como meus irmãos. E eu me lembrei daquela primeira vez, com doze anos, que cheguei pela primeira vez na Toca, fugindo em um carro voador. Aquele havia sido o começo, será que agora chegávamos ao fim?

- Você está bem cara? – questionou Rony, colocando uma mão sobre meu ombro.

- Estou. – eu disse brevemente. Mas era mentira, e eu e ele sabíamos.

Nós seguimos o caminho, fizemos boa parte de trem, do jeito trouxa, para não levantar suspeitas conforme andávamos. Rony usou um feitiço para o cabelo ficar castanho e eu um chapéu, para esconder a cicatriz. Durante a viagem, Rony falou sobre a missão. Uma chuva fina e insistia em cair sobre o vilarejo, mesmo que em Londres estivesse sol de manhã; e quando chegamos percebemos logo que havia poucas pessoas ali. Muitas das casas pareciam ter sido abandonadas. Os poucos habitantes que ficaram, estavam trancados nas casas, sem disposição para conversas com estranhos.

Depois de andar uma hora dentro da pequenina cidade tentando encontrar alguém que se dispusesse a nos contar o ocorrido, comecei a ouvir um choro baixo, que parecia com o de uma criança. Rony olhou para mim, fazendo sinal de que também ouvira. Nos deixamos guiar pelo som e vimos de longe uma pequena menininha sentada na chuva. Do lado dela havia o corpo de uma mulher, a morte fora causada por um corte na garganta.

- Não foi um Avada Kedavra. – disse Rony, ecoando meus pensamentos. – Não me parece um assassinato bruxo.

- Ou foi feito para não parecer um assassinato bruxo. – eu apontei. – Por outro lado, eu diria que a mágica envolvida é muito clara.

- Sim, a chuva fina e o clima de medo sugere a presença de dementadores nas proximidades, o que pode ser a causa de muitas dos habitantes terem deixado o vilarejo. Se há dementadores, dificilmente o assassino seria um trouxa. – Rony argumentou.

Nos aproximamos da menina com calma, procurando não assusta-la. Ao chegar perto percebemos que a garotinha talvez tivesse 9 ou 10 anos. Tinha a pele cor de chocolate e lindos cabelos caindo nos ombros. A mulher morta no chão era muito parecida com ela, e a empatia por aquela criança me invadiu, aquela era sua mãe.

- Olá, meu nome é Harry e esse é meu amigo Rony. – eu disse me abaixando, Rony fez o mesmo. – Nós estamos aqui para te ajudar.

A menina nos olhou em dúvida.

- Qual é o seu nome? – perguntou Rony.

- Você não quer me ajudar. – disse ela, na defensiva. Ela falava inglês com sotaque, era estrangeira, certamente. – Ninguém quer.

Agora que ela dizia, era realmente estranho que os habitantes da cidade não tivessem ido em auxílio de uma criança cuja mãe fora assassinada.

- Porque nenhuma das pessoas que moram aqui te ajudou? – questionou Rony. Depois de quase 20 anos de amizade, trabalhávamos muito bem juntos, porque pensávamos juntos.

- Eu sou amaldiçoada. – a menina parecia extremamente infeliz.

Rony sorriu.

- Você não é amaldiçoada. – ele disse.

- Você não acredita em mim? – disse a menininha. – Porque acha que está chovendo assim? Há meses que a chuva não para.

- Você está fazendo chover? – eu disse, pausadamente.

- Não. Eles estão. – ela disse, impaciente.

- Quem são eles? – Rony questionou com calma.

- Você não vai acreditar... ninguém mais consegue ver. – a menina respondeu, tristemente.

- São seres grandes, com capas pretas, e quando eles aparecem a felicidade some, todas as suas memórias boas te abandonam. – eu adivinhei.

A menina tinha no rosto uma expressão surpresa.

- Você também vê?

- Sim, nós dois vemos. Existem muitas pessoas que veem. – eu disse. – Nós acreditamos em você.

- Eles são reais, são chamados dementadores. – contou Rony. – Você sabe porque eles estão aqui?

- Eles sempre vêm atrás de mim. Desde que eu era pequena, eu e minha mãe nos mudamos de vilarejo em vilarejo. Quando chegamos em um lugar novo, durante alguns meses parece que está tudo bem, e então eles começam a chegar. As pessoas começam a comentar e então homens estranhos começam a aparecer procurando por nós, então nós fugimos. Não importa para onde vamos, eles sempre voltam a aparecer. E depois deles, aparecem os homens nos procurando. Desta vez, não deu tempo de fugirmos, os homens nos encontraram. – ela olhou para mãe morta no chão, estes homens tinham matado a mãe dela.

Eu pensava rapidamente. Certo, o que sabíamos? Os dementadores perseguiam a garota, o que era um comportamento estranho, até mesmo para eles. Certamente um horror muito grande cercava essa menininha para que ela fosse tão irresistível aos dementadores. E havia bruxos, eu não sabia o porquê, que estavam muito interessados na menina; quando a névoa fria de desespero e pânico gerada pelos dementadores denunciava a presença da menina em um determinado local, estes homens dos quais ela falou vinham procura-la. Me admirava que elas tivessem conseguido fugir por tantos anos, a mãe não poderia ser trouxa...

- Sua mãe. – eu disse. – Você já tinha visto ela fazer algo diferente, talvez, mágico?

A menina franziu a testa.

- Ela tinha algo guardado no bolso do casaco. Era dizia que era um amuleto, que podia dar sorte, mas nunca me deixou ver. Ela sempre segurava com força este amuleto para conseguirmos fugir. Desta vez, não funcionou... – as lágrimas recomeçaram a cair em seu rosto pequenino.

Rony tocou a mãe da menina com suavidade, abrindo delicadamente o casaco puído que ela usava. Lá, como esperado, estava uma varinha.

- Uma bruxa. – Rony disse.

- Não fale da minha mãe desse jeito. – a criança chorou, irritada.

- Não, está tudo bem. – Rony disse com calma. – Ser bruxo é uma coisa boa.

A menina olhou para ele enquanto ele tirava do próprio bolso a sua varinha. Rony fez um feitiço do patrono, e o cachorro prateado saiu de sua varinha, saltitando em volta da menina que sorriu e abaixou-se para acaricia-lo, maravilhada.

- Vem, vamos tirar você daqui. – eu disse, estendendo a mão para ela.

Ela olhou para minha mão e depois para a mãe, relutante em abandonar o corpo. Nós levamos a mãe para o interior da casinha que as duas moravam no vilarejo e transfiguramos a mesinha de jantar em uma redoma de vidro para proteger o corpo. Lançamos todos os feitiços de proteção ao redor da casa. Contamos a menininha que nenhuma pessoa indesejada poderia sequer ver a casa e que o corpo de sua mãe estava seguro ali.

- Vai nos contar seu nome? – eu perguntei.

A menina me olhou, o rosto triste ao se afastar da casa.

- Anna.

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A viagem de trem de volta a Londres foi tranquila. Rony comprou um bolinho para Anna, que estava com muita fome. Foi só quando me sentei que lembrei de novo dos acontecimentos daquela manhã, lembrei de novo de Gina. Parecia que tinha sido há muito tempo atrás, os acontecimentos no vilarejo desviaram totalmente meus pensamentos.

Ao chegar ao ministério, Anna foi atendida por um medibruxo para possíveis traumas, já sob a responsabilidade do Departamento de Proteção às Crianças e aos Adolescentes Mágicos, que no pós guerra atendia muitos bruxos e bruxas órfãos. Na realidade, agora o ministério detinha a guarda da menina, e se empenharia na busca de outros possíveis familiares. Nós pedimos uma reunião de urgência junto aos aurores, na qual eu e Rony contamos todo o ocorrido.

- Não estou gostando nada disso – disse Shacklebolt.

Todos os aurores mais importantes tinham sido convocados e estavam ali reunidos.

- Como é que nunca soubemos dessas atividades? – disse uma jovem auror, que havia se formado junto comigo e com Rony, era uma menina bem legal. – Potter disse que a menina vem de vilarejo em vilarejo desde criança...

- A menina é estrangeira. – Disse Rony. – O sotaque dela, ficou muito claro. Não pode ser britânica.

- Será que é norte americana? – questionou Dawlish, um dos aurores mais antigos do grupo que ali se reunia. - Talvez ela e a mãe tenham atravessado o Atlântico em fuga...

- Acredito que não, não me parece ser esse o sotaque. – eu pensei sobre o que ele tinha dito, certamente ela não era americana, era algo diferente, eu não conseguia identificar o que.

- Nós precisamos falar com essa menina. – apontou Elizabeth Smith, uma outra auror brilhante que se formara com louvor poucos meses antes de Voldemort tomar o poder no ministério. – Precisamos saber de onde ela veio, se ela sabe sua nacionalidade, por quais vilarejos ela passou, saber qualquer coisa que nos permita investigar e nos dar uma pista de porque essa menina está sendo perseguida e quem a está perseguindo. Estou muito preocupada porque parece ser uma questão que foge a alçada no Ministério da Magia e dos aurores britânicos... a menina está sendo perseguida em vários locais do mundo, será necessária uma cooperação internacional para podermos compreender o que está havendo.

- Sem dúvida. Ficou claro que o sr. Potter e o sr. Weasley não puderam descobrir mais porque precisavam trazer logo a menina em segurança e nos alertar do acontecido. – Shacklebot disse com eficiência, ele agora era chefe do departamento de aurores. – Srta. Smith, você vai liderar uma nova expedição ao vilarejo para investigações, pode escolher dois parceiros. Observem bem a casa e o copo da mãe, falem com os vizinhos, descubram qualquer coisa que possa nos ajudar.

- Sim, senhor. – ela disse, escolheu seus companheiros e saiu imediatamente para planejar a atividade.

- Dawlish, descubra de onde é a mãe e por quais lugares do mundo ela passou. – ele continuou suas ordens. – Investigue o fabricante da varinha, essa pode ser uma boa forma de descobrir. Além disso, ative seus contatos com aurores de outros lugares do mundo para descobrir onde houve atividades semelhantes, eu vou fazer o mesmo. Aliás, todos os aqui presentes devem se engajar nessa tarefa.

Dawlish assentiu com a cabeça e saiu.

- Potter e Weasley. Falem com a menina, ela provavelmente já estabeleceu um vínculo de confiança com vocês. Qualquer informação ajuda. – Shacklebot disse. – Ela já deve estar no abrigo a essa altura, eu vou pedir uma autorização do Ministro, amanhã pela manhã vocês já devem poder entrar em contato.

Rony e eu acatamos a tarefa, e nos retiramos da sala.

Cheguei em casa à noite cansado e preocupado, sem querer enfrentar o problema com Gina. Mas minha esposa queria conversar, colocar tudo às claras. Me esperava sentada no sofá e ergueu-se assim que eu passei pela porta.

- Precisamos conversar, Harry.

- Gina, eu tive um dia difícil... – eu comecei.

- Não podemos deixar isso para depois. – ela me interrompeu. – Eu sei que você me viu de manhã. Aquele é...

- Não estou nenhum pouco interessado em saber quem é o seu amante, Gina. – foi minha vez de interromper.

- Elliot e eu nos conhecemos há alguns meses. – ela me ignorou. – Não foi nada planejado, nós nos apaixonamos...

- Bom pra você. – eu disse, com frieza. – Talvez você tenha esquecido de um pequeno detalhe: eu sou o seu marido. Depois de tudo que passamos juntos, Gina, você não acha que eu merecia ao menos a verdade? Que eu merecia saber de outro jeito que não fosse esse?

- Me desculpe, Harry. Eu sinto muito, de verdade. – ela pediu. Lágrimas já caiam pelo seu rosto. – Eu estava confusa... eu não queria destruir nosso casamento assim.

- Você já destruiu. – Eu cortei. Falei sobre a única coisa que importava. – O filho?

Gina olhou para mim, quase com pena. O jeito que ela me olhou me deu a resposta. Ela, no entanto, disse mesmo assim.

- É dele.

- Você tem certeza? – eu disse, minha voz era quase um sussurro. Talvez de todas as coisas, essa era a que mais doía ser tirada de mim. Eu sempre quis uma família, sempre.

- Sim, fiz todos os testes com uma curandeira. – ela afirmou.

Senti meus olhos encherem pela primeira vez. Mas não deixei que as lágrimas caíssem. Quando acordei de manhã eu era casado, não era perfeito, mas era um casamento razoavelmente feliz. Quando eu acordei de manhã, eu ia ser pai, o que eu mais queria na vida. Quando eu acordei de manhã, as coisas estavam sob controle e o mundo bruxo parecia livre de maiores problemas; meu pressentimento é que agora uma névoa de trevas se aproximava de nós com mais rapidez do que meus colegas aurores poderiam supor. Quando abri a boca, aqueles pensamentos entalados na garganta, eu fui o mais prático que pude:

- Quero você fora daqui.

Nós morávamos em Godric's Hollow, eu insistira ao máximo para que fossemos morar lá. Gina achava mórbido, pois meus pais haviam morrido ali. Mas era onde eu pertencia, o local onde meus pais estavam enterrados. A minha casa era próxima à casa que eles tinham escolhido para me criar, que permanecia intocada, como um santuário aos Potter. Gina arrumou as coisas dela rapidamente para ir embora.

- Amanhã eu darei início ao divórcio. – eu informei, secamente.

Gina apenas assentiu, e se foi.