CAPÍTULO UM

Aquilo era a última coisa que Bella estava esperando. Ela fitou a advogada durante vários segundos, o cérebro girando, o coração batendo forte e acelerado.

— Está querendo dizer que ele não vai aceitar? — perguntou.

A advogada a encarou com um olhar austero.

— Seu marido se recusa terminantemente a assinar ou até mesmo a aceitar os documentos para formalizar o divórcio. Está inflexível. Insiste em primeiro ter um

encontro com você.

Bella mordeu o lábio inferior. Tinha a intenção de evitar qualquer contato com Edward Anthony Cullen na conferência dele em Sydney. Não imaginava que acontecesse desse modo. Cinco anos haviam se passado. Um divórcio depois de tanto tempo de separação não era apenas uma questão de burocracia? Ao deixar tudo nas mãos da advogada, pretendia tornar as coisas mais simples para se mudar.

— A menos que tenha razões específicas para não se encontrar com o Sr. Cullen, sugiro que acabe logo com isso — Ângela a aconselhou. — Pode ser que ele queira terminar as coisas de modo mais pessoal, em vez de formalmente pelo sistema legal. Afinal, ele não poderá impedir o divórcio. Mas pode lançar mão de artifícios para retardá-lo. O que significaria mais custas judiciais.

Bella sentiu uma onda familiar de pânico ao pensar em mais contas para pagar. Um processo legal muito longo a afundaria. Mas por que Edward desejava vê-la depois de todo aquele tempo? As circunstâncias que terminaram o fim da relação dos dois não permitiam um encontro para uma xícara de café amigável ou uma conversa para recordar os velhos tempos. Respirando fundo, se deparou com o olhar especulativo da advogada.

— Bem, acho que um encontro não vai causar mal algum.

— Encare isso como um término — orientou Ângela, enquanto se erguia da cadeira, sinalizando que a conversa estava encerrada.

Término pensou Bella aborrecida ao deixar o escritório da advogada pouco tempo depois. Era por isso que queria agilizar os procedimentos do divórcio. Estava mais que na hora de deixar o passado para trás. Devia isso a si mesma para poder abraçar a vida outra vez.

O telefone estava tocando quando ela abriu a porta do seu apartamento.

Largando a bolsa e as chaves sobre o sofá, ergueu o fone do gancho.

— Alô?

— Isabella.

Com as mãos repentinamente úmidas, tentou reprimir a onda de emoção que a assaltou, assim que ouviu o tom suave da voz de Edward. Oh, Deus, se era assim que se sentia apenas em ouvi-lo como poderia enfrentar um encontro? Minúsculas gotas de suor brotaram sobre seu lábio superior. O coração batia descompassado e a respiração tomou-se escassa e irregular.

— Isabella — repetiu ele. O tom aveludado daquela voz grave fez todos os pelos dela se arrepiarem sob as pesadas camadas de roupas de inverno. Seu sangue começou a

correr mais rápido nas veias.

Engolindo em seco, fechou os olhos e conseguiu gaguejar o nome dele.

— Edward... Eu... Ahn... Ia ligar para você.

— Conversou com sua advogada?

— Sim, mas...

— Então, já sabe que não admitirei um "não" como resposta. Sem encontro, pode esquecer a história de divórcio.

— Acha que pode me tratar como uma marionete? Pois muito bem, vá se danar Edward. Eu não sou...

— Cara a cara — disse ele no mesmo tom indomável. — Não creio que haja outro modo melhor para se negociar.

Bella sentiu minúsculos arrepios perpassarem-lhe a espinha ao ouvir aquelas palavras.

— Pensei que estivesse aqui para fazer conferências, não para se encontrar com sua ex-mulher — contra-atacou ela, tentando emprestar um tom frio à voz, mas falhando inexoravelmente.

Bella olhou na direção de onde deixara o jornal que trazia a notícia da chegada de Edward. Sentia como se uma estaca atravessasse seu coração toda vez que olhava

para aquelas belas feições, que sorriam como se tudo estivesse bem em seu mundo.

— É verdade. Passarei os próximos três meses na Austrália, dissertando e trabalhando em prol da obra assistencial que iniciei na Itália. Não era a primeira vez que Bella lia sobre a obra assistencial chamada FACE — Fundação para Reconstrução Facial e Craniana, que angariava milhões de dólares para a cirurgia de pacientes com danos faciais graves.

Através do site de Edward, ela havia acompanhado o progresso de alguns desses casos. Ele operava verdadeiros milagres em seus pacientes. Entretanto, milagres pareciam acontecer somente para outras pessoas, lembrou-se amarga. Seu breve casamento com o famoso cirurgião pelo menos lhe ensinara isso.

— Mas devo confessar que acho muito estranho você não esperar que eu quisesse vê-la pessoalmente — continuou ele.

— Não acho necessário, dadas às circunstâncias. Não temos nada a dizer um ao outro. Acho que já conversamos tudo que tínhamos para conversar na última vez em

que nos encontramos.

E como, pensou Bella, recordando as palavras amargas que ela lhe dissera. Palavras duras que não conseguiram aliviar a dor da sua perda e o ressenti mento pela traição do marido. Edward se mostrara tão frio, tão distante e desinteressado com aquele seu jeito de médico, fazendo-a sentir-se imatura, descontrolada e indigna.

— Discordo, Isabella. A última vez que nos encontramos você falou o tempo todo, se bem me recordo. Desta vez eu gostaria de falar.

Os dedos de Bella se apertaram ao redor do telefone, o coração aos saltos dentro do tórax.

— Ouça, estamos separados há cinco...

— Sei muito bem há quanto tempo estamos separados — interrompeu ele. — Ou afastados, já que não houve uma divisão de bens formal entre nós. Essa é uma das

razões para minha vinda à Austrália.

Isabella sentiu o estômago se agitar.

— Pensei que estivesse aqui para promover sua caridade... Você sabe... Para elevá-la a nível mundial.

— É verdade, mas não pretendo passar três meses apenas dissertando. Planejo ter alguns dias de folga, durante a minha permanência aqui. E, é claro, passar algum

tempo a seu lado.

— Por quê? — A palavra continha uma nota de sus peita.

— Ainda estamos casados legalmente.

Bella rangeu os dentes.

— Então me deixe adivinhar. Sua amante atual não quis acompanhá-lo durante todo esse tempo, logo está procurando uma substituta para preencher esses três meses.

Esqueça Edward. Não estou disponível.

— Está saindo com alguém atualmente?

Bella se irritou com a pergunta. Como aquele homem podia pensar que ela seria capaz de seguir a vida normal mente, após a morte da filha deles, como ele fizera?

— Por que quer saber?

— Não gostaria de invadir o território de outra pessoa. Embora haja meios para se negociar com tais obstáculos, é claro.

— Sim, nós dois sabemos como isso não foi empeci lho para você no passado. Ouvi rumores sobre seu envolvimento com uma mulher casada uns dois anos atrás.

— Ela não era minha amante, Isabella. A imprensa sempre alardeia qualquer coisa que Jasper e eu fazemos. Você sabe disso. Eu a adverti quando nos conhecemos.

Bella era obrigada a concordar que Edward fizera o possível tentando prepará-la para a exposição a que seria submetida, como namorada de um dos irmãos Cullen. Ambos, como filhos do renomado homem de negócios italiano, Anthony Cullen, eram alvos constantes do assédio da mídia. Todas as mulheres para quem olhavam eram fotografadas. Todos os restaurantes em que jantavam eram avaliados e todos os movimentos que faziam eram seguidos, não apenas pela lente de uma câmera, mas por centenas delas. Bella achava aquilo inoportuno e terrificante. Tendo nascido e crescido no campo, não estava acostumada a chamar atenção de ninguém, quanto mais da mídia internacional. Nascera e crescera em uma pacata cidade rural em Outback, Nova Gales do Sul. Não havia brilho e glamour em seu dia a dia, nem tampouco no de seus irmãos mais novos. O mesmo acontecia com a sua vida atual como cabeleireira em um pequeno salão no subúrbio da cidade. Antônio estava acostumado a lidar com a fama desde criança.

Essa fora uma das diferenças cruciais e o grande motivo de discórdia entre os dois. Não eram do mesmo nível social e os pais dele fizeram questão de deixar isso bem claro assim que a conheceram. Pessoas com tamanha riqueza não consideravam uma cabeleireira australiana, de vinte e três anos, um par à altura do brilhante e talentoso filho.

— Estou hospedado no hotel Hammond Tower — A voz de Edward dissipou lhe os pensamentos. — Na suíte de cobertura.

— É claro — murmurou Bella num tom cínico.

— Não esperava que eu comprasse uma casa para ficar por um período tão breve de tempo, não é?

— Claro que não — respondeu ela, desejando não transparecer tanto a sua amargura em relação a ele. — Acho uma cobertura um pouco de exagero para alguém

que preside obras assistenciais. Pelo menos é o que penso.

-— As obras assistenciais vão indo muito bem sem que eu precise recorrer a um banco de praça para dormir. Mas, claro, é o lugar onde você gostaria de me ver, não é?

— Não gostaria de vê-lo em lugar algum — respondeu Bella enérgica.

— Não lhe darei escolha. Temos assuntos a discutir e gostaria de privacidade. Pode ser em seu apartamento ou no meu. Para mim tanto faz.

Mas para Bella fazia uma enorme diferença. Não queria Edward em seu minúsculo, mas asseado, apartamento. Já era bastante complicado conviver com as recordações. A lembrança do seu toque, dos seus beijos, do calor do seu corpo quando faziam amor, apesar dos anos, parecia não abrandar. Só de ouvi-lo, seu corpo reagia como antes. Quanto mais vê-lo pessoalmente, inspirar o mesmo ar que ele, até tocá-lo, quem sabe...

— Estou falando sério, Isabella —reafirmou com ênfase de aço. — Posso ir ao seu apartamento dentro de dez ou quinze minutos, ou você vem aqui. Fica ao seu critério.

Bella contraiu os lábios, enquanto considerava suas opções. No apartamento dela seria muito íntimo. Mas encontrá-lo no hotel seria muito público. E se a imprensa estivesse espreitando? Um flash dos dois juntos causaria todo o tipo de especulação, coisa que ela felizmente conseguira evitar nos últimos cinco anos. Por fim, decidiu que o seu apartamento não estava preparado para a presença perturbadora do ex-marido. Não queria olhar para o sofá alguns dias mais tarde e lembrar-se das coxas longas e musculosas de Edward estiradas lá e tampouco beber na mesma xícara de café em que os lábios dele haviam tocado.

— Irei até aí — disse, exalando um pesado suspiro de resignação.

— Vou esperá-la no piano-bar. Quer que eu mande um carro buscá-la?

Bella quase havia esquecido o quanto ele era rico. Podia apostar que seu carro era uma Ferrari último tipo ou uma limusine com chofer uniformizado. O pensamento sobre uma limusine macia e brilhosa vindo buscá-la era quase cômico, dado o estado de seu veículo atual. Tinha que lutar para fazer o motor ligar a cada manhã e passar pela mesma rotina ao término do dia.

— Não — afirmou por fim, com um vestígio de orgulho. — Posso chegar aí com meus próprios meios.

— Ótimo. Podemos marcar para daqui a uma hora?

Isabella desligou o telefone, após resmungar uma resposta. Só de pensar em rever Edward seu estômago começou a se agitar. As palmas das mãos suavam de apreensão pelo que ele havia dito. Céus, o que mais a aguardava! Se ele não queria o divórcio, então o que estaria pretendendo? Não havia como negar. O casamento deles morrera, juntamente com o motivo que o destruíra. Uma onda gigantesca de aflição a invadiu, enquanto pensava em sua filhinha morta. A menina estaria concluindo o jardim de infância agora, teria uns cinco anos e sem dúvida seria tão bela quanto um botão de rosa. Talvez tivesse olhos castanhos escuros e cabelos escuros, brilhantes e ligeiramente ondulados como os do pai.

Desejou saber se ele pensava no bebê. Se despertaria no meio da noite, imaginando o seu choro? Seus braços será que ansiariam por segurá-la, como os dela ansiavam diariamente? Olharia para a última fotografia tirada na suíte de parto e sentiria uma dor insuportável queimando lhe o tórax, por aqueles olhinhos jamais se abrirem para olhar a sua face? Provavelmente não, pensou amarga, enquanto vasculhava o guarda-roupa à procura de algo para usar. Retirando um vestido preto, sustentou-o no ar para inspecioná-lo. Tinha uns três ou quatro anos e estava muito folgado em seu corpo. Mas o que importava? Não desejava impressioná-lo. Isso era trabalho para as supermodelos e socialites da Europa com quem ele estava acostumado a sair.