Insatisfatório

Eu sempre quero mais que ontem
Eu sempre quero mais que hoje
Eu sempre quero mais do que eu posso ter
(Capital Inicial - Mais)

Poderia ser loiro, lindo, gostoso, inteligente, esperto… enfim, poderia ser perfeito – e o espelho sempre concordava com isso –, mas nada nunca estava perfeito. Sempre faltava alguma coisa, fosse um objeto, uma conquista, uma realização.

Quando era criança, sempre queria mais um unicórnio, um pavão, um doce, um brinquedo novo. Na puberdade, a única coisa que faltava para ser realmente feliz era ser melhor que todos e ser reconhecido por isso (e pisar na cara do Potter, mas quando finalmente fez isso a situação era outra). Na sua fase "pré-adulta", como chamava a época em que estava no seu sexto ano, matar Dumbledore e livrar sua família era sinônimo de êxtase total.

Quando virou adulto de fato, tudo estava neutro: nem feliz nem triste. Arranjou um emprego para ajudar os pais e, quando teve estabilidade o suficiente, decidiu se mudar, mesmo que fosse para a casa ao lado. Claro que não era nenhuma mansão, mas bastava para ele. Mas foi ir a uma festa e ficar trêbado para que o sentimento de "quero mais" voltasse à tona.

Tá que a sardenta – ou seria sarnenta? – não era de se jogar fora, apesar de tudo. Podia não ser esbelta como os sangues-puros de classe são, mas aquela bunda... Oh, Merlin. Mas aquela bunda, quer dizer, aquele sentimento de insatisfação se impregnara no homem a tal ponto de fazê-lo procurá-la de novo. E de novo. E mais uma vez. E novamente. Algo lhe dizia que a felicidade pulsava em suas veias quando estava com a ruiva bunduda, ops, com a ruiva imunda.

Antes que reparasse, estava mais envolvido do que nunca estivera. Do que nunca imaginara. Do que nunca quisera. E, assim que reparou, a ruiva estava alojada em sua bela casinha, espalhando suas coisas pela sala e até com a escova de dentes colada à sua. Mas acordou para a realidade de fato quando levou o primeiro soco do primeiro irmão-coelho.

Durante o inferno que se seguiu, tudo o que queria era paz. Muita paz e silêncio, bem longe de ambas as famílias fazendo burburinhos lotados de veneno em seus ouvidos. Coisa que só foi conseguir no dia do... temido, cruel e diabólico casamento. Mas até que depois da horrorosa cerimônia, nenhuma fobia, quer dizer, nenhum pandemônio se alastrou novamente.

O relacionamento dos dois teve muitos altos e baixos, mas, no final, sempre conseguiam. E ele não era puro ectasy, mas também não estava neutro. Tinha dias em que estava feliz, outros em que estava indiferente. Até que o desejo de ter um rebento urrou mais alto. Precisava de um filho. Ou filha. Mas a preferência era um menino.

Infernizou a vida da mulher até que ela também descobriu que queria uma parte sua no mundo. Naquela tarde, noite, madrugada e manhã, todos os cômodos da casa foram rebatizados. A maior felicidade do universo inteiro só arrebatou-lhe o corpo quando acalentou pela primeira vez outro corpo, bem menor e mais nojento que o seu. Foi naquele exato segundo, em que se descobriu pai – mesmo que tivesse agüentado intermináveis nove meses a ruiva com os hormônios surtados –, que sua vida pareceu ter sentido. Tudo tinha valido a pena, afinal.

Mas foi passar algumas semanas que sua vida era um inferno novamente. A casa sempre desarrumada, noites em claro, o feitiço de desligar o filho sem efeito e, principalmente, os longos exatos cinco anos que se seguiram sem transar com a própria mulher.

Mais rebentos foram feitos, mesmo que sem querer. E nada foi igual a antes. Amava os três filhotes – todos loiros, e seu maior orgulho –, mas o desejo de algo mais ainda o consumia.

Recriminava-se por pensar assim, mas nada era realmente perfeito. Só via os dois primeiros filhos durante três meses e nos feriados e Natal, a relação com a ruiva não era a mesma e a caçula logo, logo o abandonaria e iria para Hogwarts também. Ele mesmo andava meio mal-humorado.

O tempo passava. Só coisas momentâneas o faziam feliz, como o casamento do mais velho; a nora podia ser sangue-ruim (e isso lhe causou bastante infelicidade ao saber), mas era a felicidade do filho que importava no fundo. A bunda da ruiva tinha caído há tempos, e gorduras foram se acumulando em lugares nada agradáveis. E ele? Continuava o mesmo gostosão sexy, apesar da ruiva rir escandalosamente quando ele o dizia.

Até no leito de morte, com toda a família reunida e chorosa à sua volta, não estava satisfeito. Queria voltar no tempo, aproveitar mais a vida. Achava mais importante a ruiva continuar a gostosa que ele conhecera, mas soava mais poético falar aquilo para os netos, que fungavam no cobertor.

Muito menos atingiu a felicidade quando seu corpo foi enterrado e sua alma – ou seria fantasma? – deixada para trás naquele quarto escuro. Tudo o que queria naquele momento era pregar um puta susto nos filhos, para ensiná-los a nunca brincar de pique-esconde perto do preciosíssimo vaso élfico de sua finada mãe.


N/A: Bronze no V chall Draco e Ginny do 6V, he. Mas enfim, beijos para todos os DGs ;)