Abri meus olhos sem vontade nenhuma.

Dia dos namorados.

Só de pensar que hoje, ele iria se encontrar com Marlene novamente, meu peito doía.

Eu já tinha desistido de acreditar que ainda teria alguma chance de estar com Sirius. Ele estava com Marlene há bastante tempo e ela o fazia feliz. Todas as vezes em que ele voltava de algum encontro, chegava perto de mim completamente radiante, roubando a minha felicidade com aquele sorriso.

Uma lágrima desceu dos meus olhos.

"Holly!" Puxei o cobertor para que cobrisse meu rosto assim que ouvi a voz de Lily.

Hoje Lily passaria o primeiro dia dos namorados com James e só de saber que Jay estava lá em baixo, provavelmente, já esperando por ela, eu sorri. Meu amigo deveria estar ansioso como se esse fosse o primeiro encontro dele. Deixei meu sorriso no rosto e tirei o cobertor do meu rosto, após secar as lágrimas que haviam teimado em cair.

"Bom dia Lils, como está nessa linda manhã de Domingo em que eu poderia estar dormindo, mas fui despertada por uma moça e não por um príncipe?" Sorri abertamente, esperando que ela não percebesse que eu havia chorado, enquanto me sentava.

Ela, que estava sorrindo como eu, ficou extremamente séria e veio até mim, sentando-se na cama e simplesmente me abraçando. Me reconfortando e sendo a melhor amiga do mundo e adivinhando como eu estava, como sempre.

"Está com a voz embargada e o rosto inchado. Ou bebeu alguma coisa bem forte ontem depois de virmos para a cama, ou está triste e tentando esconder isso de mim." Disse, enquanto tirava os braços que estavam ao meu redor.

"Só você me conhece desse jeito, né?" Sorri, enquanto a minha voz embargava ainda mais e meus olhos se enchiam de lágrimas novamente. Escondi meu rosto em seus cabelos.

"Holly. Eu estou aqui, ok? Sempre estarei." Falou, enquanto me abraçava mais forte e eu chorava ainda mais. Senti meus olhos queimarem de tantas lágrimas estarem caindo ao mesmo tempo.

"Por quê? Por que eu sofro tanto por aquele idiota? Ele está lá, feliz com Marlene enquanto eu fico aqui, chorando, como se eu fosse uma solteirona abandonada de quarenta anos!" Disse-lhe, enquanto me sentava, rindo fracamente da minha piada e secando as minhas lágrimas.

"Holly! Pare com isso!" Lily me deu um tapa de leve no braço, com um leve sorriso no rosto.

"Mas eu vou mesmo acabar como uma solteirona velha e feia de quarenta anos!" Disse, rindo abertamente.

"Holly, deixe de besteira! Sabe que é linda, poderosa e pode tudo o que quiser e…" Interrompi Lily, dizendo:

"Não quero discurso motivador, ok? Além disso, não posso ter ele! Não posso por que ele não quer me ter por perto..." Abaixei meu olhar para minhas mãos, que pareciam muito mais interessantes do que o olhar reprovador que Lily estava me lançando.

"Ele é seu amigo! Se te quisesse longe, nem falaria com você!" disse num tom doce de reprovação.

"Mas parece que ele brincou tanto com os meus sentimentos... Ficamos juntos algumas vezes e, você sabe que gosto dele já há algum tempo… Ou muito tempo, sei lá… Mas quando decidi dizer-lhe que o queria pra sempre... Simplesmente..." Então, no meio da minha melancolia, percebi uma coisa e exclamei: "Lily?"

"Sim?"

"Porque eu estou aqui, falando com você?" Repreendi a minha amiga, lançando-lhe um olhar reprovador.

"Como assim?" ela perguntou, confusa.

"Por que não está lá embaixo, com James?"

"Bom, acho que vou cancelar o nosso encontro..." ela disse, com bastante certeza na sua voz.

"E eu poderia saber o motivo?" Indaguei, com os olhos arregalhados ao tamanho de uma goles.

"Você precisa mais de mim agora e eu vou ficar aqui!"Disse, convicta.

...

Se meu cérebro pensasse alto, estaria xingando Lily da cabeça a sombra, nesse instante.

"Como é que é?" Perguntei.

"Vou ficar aqui hoje. Com você." Repetiu.

"No dia dos namorados? Comigo? Num quarto?"

"É!" Confirmou.

Me senti bem por ela querer passar um tempo comigo… Mas hoje?

"Mas, hoje? Não mesmo! Você vai descer agora, encontrar o Jay, lascar um beijão na boca daquele pedaço de mau caminho e ir com ele pra onde quer que ele te leve! Está louca?" Eu me levantei num salto, indignada. "Quer que eu morra hoje? James me mataria se você desistisse de ir hoje por minha causa!"

"Não, na verdade acho que ele entenderia bem…" Interrompi ela novamente, revirando os olhos.

"Evans!" Coloquei as mãos na cintura. "Você vai hoje e não se fala mais nisso, ouviu?" Levantei Lily, puxando-a pelos braços e empurrando-a até a porta do banheiro, dizendo "Me faça um favor e vá! Se vista lindamente, coloque o perfume que ele te deu, deixe seus cabelos lindos e desça! Estarei te esperando lá em baixo!"

Assim, praticamente joguei Lily dentro do banheiro e, sem esperar uma resposta ou qualquer reação, fechei a porta, me vestindo rapidamente e descendo as escadas do dormitório feminino, certa de que iria encontrar um James ansioso no Salão Comunal.

E encontrei! Das escadas eu logo vi. Ele estava sentado no sofá do Salão Comunal, realmente parecendo que nunca tinha ido a um encontro na vida! Terminei de descer as escadas e sentei-me ao seu lado.

"Ela está linda!"Falei, mesmo sem ter visto a minha amiga ainda, eu sabia que ela iria seguir os meus maravilhosos conselhos e aparecer pra James com o melhor visual do mundo!

"Bom dia pra você também." Disse, me olhando, depois seus olhos foram para seus pés. Nervoso.

"Ela está linda." Afirmei novamente, esperando que ele falasse algo a mais.

Ele levantou seus olhos quase indignados para mim e afirmou:

"Ela é linda."

Senti novamente um aperto forte no peito. Como eu desejava que essas palavras saíssem da boca de outro homem, dirigidas a mim... Mas mantive o sorriso, e percebi seu olhar mudar de direção, pois, assim que ele pronunciou aquelas palavras, ouvimos o som de alguém descendo as mesmas escadas que andei a pouco. Só podia ser Lily, então abri ainda mais o meu sorriso.

Lily estava linda! Usava uma calça quase branca e uma camisa num tom bem claro de rosa, além do seu sobretudo azul e um cachecol lindo! Seu cabelo estava um pouco bagunçado e com alguns fios presos pra trás. Quase a repreendi por isso, mas antes de falar qualquer coisa, virei-me para James e ele estava deslumbrado.

Ela estava perfeita para ele, era isso o que importava.

Lily o abraçou e eles trocaram algumas palavras. Preferi virar o rosto, pois esse momento era só deles. Mas foi só eu desviar a minha atenção dos meus melhores amigos que voltei a pensar em Sirius, que já deveria estar se arrumando para o seu encontro. Colocando a sua melhor roupa e se olhando no espelho, não por mim.

"Sim, se..." James respondeu algo para Lils, segurando a sua mão, chamando a minha atenção para o quão fofos eles eram. Meu sorriso voltou a superfície quando vi os olhos deles brilharem enquanto trocavam um olhar significativo. Não sei se esses dois percebiam quando se olhavam assim, era algo de segundos, e eu os achava mais lindos ainda quando percebia algo assim entre eles. Não sei como não vi isso antes, como não percebi isso antes! Eles nasceram para morrer juntos e com vários netinhos na varanda, brincando. Não ao mesmo tempo! Coitados dos netos deles se fosse assim!

Eu não sei como apoiava Lils quando ela dizia que James era ridículo, trasgo, idiota e qualquer palavrão a mais que ela quisesse acrescentar a lista. Ele realmente amava a minha amiga.

Não sei o motivo, mas Lily lançou-lhe um daqueles olhares que dão medo e James continuou a falar:

"Quero dizer, tudo bem, Lils." Então se virou para mim. "Holly, você vai hoje?"

Fiz uma careta, lembrando de Sirius novamente e respondi, controlando ao máximo a minha voz, para que não saísse embargada ou algo do tipo.

"Para quê? Para ficar vendo os casais?" Dei um sorriso fraco "Não, obrigada, estou bem aqui na minha solidão."

Ele sorriu, se desculpando. Rolei os olhos.

"Não se preocupe, James..." Afirmei, olhando em seus olhos. "A culpa não é sua." E desviei o olhar, esperando não chorar, ainda sorrindo, para que ambos não se preocupassem comigo, afinal, esse era o dia deles.

Senti Lily me abraçar e murmurar no meu ouvido um 'Obrigada.' Abracei-a de volta e disse, no mesmo tom de voz, para James não ouvir:

"Hoje é só com você, me larga e vai logo!"

Ela me soltou e andou até James, que a abraçou carinhosamente pela cintura e a levou para fora do salão. Acenamos em despedida e eu subi para tomar um banho e, depois, comer um bom café da manhã.

Entrei naquele imenso salão no meu primeiro dia dos namorados sem um encontro marcado para mais tarde desde que entrei em Hogwarts. Percebi alguns garotos com os olhos em cima de mim assim que entrei. Claro, se fosse no ano passado, eu até sorriria para os garotos e acenaria, esperando um deles vir falar comigo – o que, certamente, aconteceria – mas não conseguia sorrir por mim, quanto mais pelos outros.

Sentei-me no lugar de sempre, desta vez, sozinha, e comecei a encher o meu prato com o que iria comer hoje: chocolate, biscoitos recheados com chocolate, leite achocolatado, bolinhos de chocolate cobertos com calda de chocolate... Todos em formatos de corações, graças ao dia de hoje, claro…

Coloquei também algumas frutas em um outro prato - afinal, o que é uma refeição sem umas boas frutas nutritivas e saudáveis? -, morangos, uvas, uma maçã que cortei em pedaços. Todas cobertas por chocolate. Mas isso é detalhe.

Olhei para os dois pratos cheios, enquanto meu estômago roncava, e senti a minha nuca queimar, como se alguém estivesse me fuzilando com o olhar. Virei-me e vi duas meninas da Sonserina, Anny e Louis, do quinto ano. Se essas duas tinham um status social, esse era: fofoqueiras. E elas estavam fazendo o óbvio, mas o que me incomodou foi que elas estavam olhando para mim.

Anny era pequena e loira, mas com olhos grandes que ardiam de prazer com quaisquer informações sobre a vida alheia. Louis era mais alta e tinha uma pose esnobe, como uma típica sonserina. Cabelos curtos, quase brancos e muito lisos, além de uma pele clara, praticamente albina. As duas estavam tão absorvidas pelas fofocas que nem se preocuparam com o volume em que suas vozes saíam, além de não terem me notado olhando para ambas.

"...E eu ouvi que ela está encalhada esse ano pela primeira vez!" Louis revirou os olhos enquanto Anny falava. "Deve ser por isso que está comendo tanto! Não tem pra quem dar esse ano! E tem também aquele gato do ex dela que terminou tudo, soube?" Ambas riram quando a outra afirmou o fato.

"Ele provavelmente estava com ela só por ser fácil de leva-la para a cama. Ela tem essa fama, sabe?"

Nesse momento, algumas cabeças, desconhecidas e conhecidas por mim, viraram, curiosas, para ver o que estava acontecendo, revezando os olhares entre elas e a mim.

"Louis, eu ouvi que ela não recebeu nenhum convite esse ano para o dia dos namorados!" Louis arfou, com a mão na boca, com a mais nova fofoca, rindo.

Uma mentira, claro. Eu havia recebido alguns pedidos para o dia de hoje, mas recusei todos e não considerei nenhum. Na verdade, não sei nem porque havia saído da minha cama hoje.

"Será..." Anny continuou "...Que ela vai encontrar alguém hoje? Tipo, quem sairia com ela?" Louis concordou com um 'Yeah!' e Anny prosseguiu: "Ela é tão rodada que deve estar saindo com pessoas de fora, já que todos aqui já enjoaram de sair com ela!"

Sem perder a minha paciência e sem vontade de criar confusão... Na verdade, sem vontade de fazer nada, apenas virei o meu rosto para o meu prato... pratos... Comendo um bicoito e respirando fundo.

Mais gritinhos e risadinhas daquelas duas chegaram a mim e, com todos os ruídos possíveis para não ouvir aquelas fofoqueiras, peguei uma das bandejas de comida na mesa que estava vazia, coloquei os meus pratos e o meu achocolatado ali, me levantando com um sorriso no rosto e saindo de lá com passos firmes, que se estenderam até o Salão Comunal da minha Casa.

No caminho, passei por Remus e mais alguém que não reconheci. Na verdade, nem olhei, só soube que era Moony porque ele gritou um 'Bom dia' pra mim. Não respondi para não começar a chorar ali, no meio do corredor.

Entrei no Salão Comunal, preparada para subir as escadas rapidamente, tentando ignorar se estavam falando ou olhando para mim.

Para a minha feliz surpresa o lugar estava vazio.

Sentei-me numa poltrona próxima a lareira, a que Lily sempre sentava e que James nunca deixava ninguém chegar perto, coloquei a bandeja que segurava em cima da mesinha a frente e me encolhi o máximo que pude, apoiando meus braços em meus joelhos.

Uma lágrima desceu pelo meu rosto, depois outra e outra. Abaixei a cabeça e deixei-me chorar por algum tempo...

"Holly?"

Me assustei com a voz de Paul.

"Mas como você entrou aqui?" Exclamei, assustada.

"Pelo quadro... Tem outra entrada?"

"Bom, na verdade sim, eu entrei aqui escondida com Sirius uma vez pelo..." Me calei, sentindo minha voz mudar novamente quando mencionado o motivo de todo o meu choro nessas ultimas semanas.

Paul atravessou o salão e sentou-se com as pernas cruzadas no chão, ao lado da mesa onde estava a bandeja e levantou uma sobrancelha.

"Isso é o seu café da manhã?" Perguntou.

"Acho que é... Agora que eu vi, não faz muito sentido eu me encher de chocolate até o cérebro só pra não pensar em um homem."

"Mas se quiser ajuda..." Paul pegou o achocolatado e engoliu metade em uma golada só! "Acho que posso te ajudar com a parte da comida, sabe?" Terminou o meu achocolatado e avançou para os bolinhos.

"Hey!" Exclamei, dessa vez, indignada. Era a minha comida! "Você não come desde quando? Idade Média?" Ironizei, enquanto me sentava direito, pegando o prato com as frutas, monopolizando-o. Paul esticou o corpo para pegar alguma fruta e eu praticamente abracei o prato no meu colo, dizendo "Meus e você não toca nesses!" Ele deu de ombros e tirou mais um pedaço do bolinho que estava na sua outra mão. Guloso.

"Ainda não tomei café." Disse-me com o rosto sujo de chocolate e cuspindo farelos de bolinhos pelo chão.

"Por quê?"

"É que... Eu vi alguém que não queria ver."

"Então você fugiu, como um bom grifinório que é, claro!" Sorri.

"A culpa não é minha!"

"Me conta o que tanto te aflige, ó, senhor corajoso!" Exclamei, colocando uma mão na testa, como uma boa moça do século passado trouxa, sabe? Aquelas cheias de vestimentas estranhas e chapéus gigantes... E dizem que bruxos se vestem de um jeito estranho. Hunf!

"Tem essa garota..." Ele começou, mas logo o interrompi.

"Garota?" Dei um sorriso. "Agora que James Potter está fora do ar, você resolveu tomar o posto dele?" Pisquei um olho enquanto ria da vermelhidão que tomava conta do seu rosto.

"Não! Não é isso... É que ela me chamou para ir para Hogsmeade hoje... E eu recusei..."

"E é só por isso que você está fugindo da garota?" Perguntei, rindo, enquanto comia umas frutas.

"Você não entende, Holly!" ele quase gritou num tom desesperado "Ela está me perseguindo há dias! Quando viro um corredor, ela está lá, piscando seus olhos pra mim e dizendo que quer falar comigo, mesmo eu recusando o seu convite... Eu estou realmente assustado!"

Eu ri mais ainda, divertida com o constrangimento do meu amigo. Ele continuou:

"Então... Por que você não foi comer no salão principal?"

"Ah, também tinham pessoas indesejáveis perto de mim. Não queria ficar lá, ouvindo fofocas e gritinhos histéricos!" Expliquei, levantando-me da poltrona, colocando o prato, agora vazio, em cima da bandeja. Não precisei me preocupar se estava desperdiçando alguma coisa, pois Paul já tinha comido tudo.

"Onde você vai?" Indagou Paul.

"Para a minha cama, passar o dia numa depressão de encalhada em pleno dia dos namorados." Comentei, já subindo as escadas.

"Ok, pare aí mesmo" Freei meus passos e virei-me, curiosa. "Vamos sair, aqui você não fica hoje!" Esticou a mão, com um sorriso no rosto, esperando que eu aceitasse o seu pedido.

Franzi o cenho. Eu já tinha lido muitos livros em que o casal finge estar junto e no final, eles sempre se apaixonam.

Paul não poderia fazer isso comigo! Ele é o meu amigo!

"Paul... Desculpe, mas acho que não quero sair, além do mais, o dia está horrível e..." Ele me interrompeu.

"Isso não é um encontro, Hall" Comentou, divertido com a minha desculpa. Colocou as mãos no bolso, despreocupado. "Vamos só caminhar, conversar... Como sempre!" Se virou, começou a andar em direção ao quadro, riu e se virou, completando: "Além do mais, você não faz o meu tipo." Falou, num tom provocativo e continuou a andar, sabendo que assim, eu iria atrás dele, curiosa.

"Como?" Me indignei. "Eu sou o tipo de todos os garotos dessa escola!"

"Tudo bem, pense no que quiser então, Hall!"

"Ah, é? Posso saber qual o seu tipo então, Collins?" Ele suspirou.

"Prefiro as morenas..." Falou, num tom mais calmo.

"Ok, então! Eu acatarei essa rejeição!" Fazendo uma voz mais fina, fingi um choro infantil. Paul riu e me empurrou de leve, para que pudéssemos sair logo daquela sala.

Assim que saímos, meu humor caiu novamente. Só havia um lugar por perto em que se poderia passear e era justamente onde eu não queria ir.

"Não se preocupe, só vamos nos jardins do castelo, Holly." Franzi o cenho com aquelas palavras.

"Como sabia?" Perguntei a Paul.

"Sabia o que? Que não quer ir a Hogsmeade hoje? Você é muito transparente, deixa os seus sentimentos bem amostra!" Franzi ainda mais o cenho, Paul viu e me tranquilizou, dizendo: "Isso é uma qualidade, não se sinta ofendida! Além disso, eu sou seu amigo há quanto tempo? Faça as contas, eu te conheço!"

"Ok, agora que o discurso moralista otimista já terminou, que tal sairmos desses corredores fechados? Está um belo dia lá fora!" Me animei.

"Mas não havia sido você quem me disse agora a pouco que o dia estava horrível e..." Interrompi o garoto, que estava sendo irônico, na minha frente.

"Cala a boca e anda, Collins!"

O caminho para os jardins de Hogwats era um pouco longo – considerando que estávamos num castelo – mas Paul sabia me distrair e ele era o único que havia vivido a dor de estar sozinha comigo. Quando fiquei louca de ciúmes por Sirius e estava em prantos, sozinha em um canto qualquer de Hogwarts, foi ele quem me achou e me consolou. Foi ele quem, inclusive, me ajudou.

Lembrei-me do dia em que me escondi na Sala Precisa. Um lugar que eu achava ser um mito, mas que, ao realmente precisar, simplesmente achei. E entrei. A dor daquele dia chegou em mim novamente, enquanto me lembrava:

'Sirius está namorando? Não!' Eu negava, enquanto lágrimas caiam dos meus olhos. Eu estava correndo, no meio da noite, pelos corredores vazios e escuros da escola, sem me preocupar se iria ser pega ou não.

Quando não consegui mais correr, depois de horas dando voltas pelo castelo. Me encolhi numa parede, sentando-me e chorando, querendo sumir ou afundar em qualquer buraco que aparecesse, para nunca mais voltar. Foi quando ouvi um barulho, como se um móvel estivesse sendo mudado de lugar.

Abri meus olhos doloridos por chorar para ver o que era. Não consegui ver muita coisa com uma iluminação tão baixa. Eu poderia estar soluçando alto, revelando que estava ali para quem quisesse, mas queria saber se tinha alguém ali.

'Humano revelio.' disse, com a minha varinha apontada para o breu. Nada aconteceu. Meus batimentos aceleraram. Se não era uma pessoa, o que seria?

'Lumus.' Disse, mais convicta. E arregalei os olhos, já em pé, enquanto o barulho continuava e uma porta terminava de se formar na parede a minha frente e eu não fazia a mínima idéia do que era aquilo.

Dei um passo a frente enquanto mais detalhes se formavam na porta, que foi muito bem desenhada por quem quer que fosse. Engoli seco, olhando para os lados, vendo se vinha alguém.

Respirando fundo, abri a porta e franzi o cenho. Naquela porta estranha, havia uma copia exata do meu quarto. Não do meu quarto de Hogwarts, o dormitório. Mas do meu quarto na minha casa. Estava realmente igual a como estava quando deixei minha casa, no ultimo verão. As cortinas rosadas, a parede azul, enfeitada com nuvens branquinhas e bonequinhos voando em suas vassouras, enfeitiçados para que parecessem estar voando pela minha parede, toda arquitetada por mim e Lily, o armário de madeira e a mesa de estudos combinando, as grandes estantes de livros que iam do chão ao teto. A cama recém feita e todos os meus bichinhos de pelúcia, arrumados como eu gostava, ou seja, espalhados pelo chão, completamente bagunçados. Fotos trouxas minhas e de Lily e fotos enfeitiçadas minhas e da minha familia. Uma do meu irmão me abraçando, a maior de todas, me chamou a atenção. Eu sorri levemente.

'Era o meu quarto?' Me perguntei, confusa.

Ouvi mais um barulho e me virei para a porta, ela estava se transformando na porta do meu quarto. Então me senti protegida, acolhida. Eu poderia estar em Hogwarts mas estava no meu quarto, protegida de qualquer coisa. Era tudo o que eu precisava.

E foi como se algo gritasse em minha mente quando me toquei que eu estava na Sala Precisa. Minha boca foi ao chão quando entendi e eu sorri, completamente contente por ter encontrado o mito de Hogwarts.

Andei até a minha cama e sentei-me. Até o teto estava igual e isso me impressionou.

Então pensei: 'Eu queria tanto sumir, desaparecer que… Acho que, a Sala me deu exatamente isso, um lugar em que eu e sentisse tão protegida que nunca mais quisesse sair.' Respirei fundo, mais aliviada por estar num lugar conhecido.

Me cobri com os meus lençóis e fechei os olhos, esperando dormir calma e tranquilamente. Mas não foi isso o que aconteceu.

O meu quarto... A Sala começou a mudar e meu coração começou a acelerar novamente, inquieto e incerto do que estava por acontecer.

A porta se transformou na primeira que vi, antes de virar a porta do meu quarto e, de lá, entrou calmamente, Paul.

"Holly?"

"Mas o que você está fazendo aqui?"

"Eu queria ficar um pouco sozinho... Mas pelo visto não vai dar, certo?" Disse, sorrindo.

E foi ali mesmo, no meu quarto, que começamos a conversar e eu lhe contei tudo, tudo mesmo, sobre o que já havia acontecido entre Sirius e eu, contei também que eu nunca havia ido para a Sala Precisa antes e foi uma surpresa ao saber que ele já havia encontrado a mesma há dois anos e, frequentemente ia lá, para pensar ou para, simplesmente, ficar sozinho.

Foi ali mesmo, no meio da noite, na Sala Precisa, que eu pedi a ele para que fingisse ser meu namorado. Ele relutou muito, disse que éramos amigos há tanto tempo que isso seria completamente estranho. Pensando nisso agora, foi realmente estranho, mas não ruim, ficar com Paul.

"Ta pensando em que?" Ele me perguntou, enquanto passeávamos pela grama verde do jardim do castelo.

"Na Sala Precisa." Disse, olhando pro nada.

"Quer ir lá?" Ele ofereceu.

"Não. Por mais que adore, nunca muda, é sempre o meu quarto..."

"É o lugar em que mais se sente protegida, lembra? Por isso a Sala só cria o seu quarto."

"Hoje não." Finalizei olhando as flores, sem humor nenhum.

"Ok." Parou e andou um pouco mais rápido do que eu, para que pudesse ficar na minha frente, então, virou-se e, me segurando pelos ombros, disse, me olhando nos olhos. "E como eu faço pra te fazer feliz hoje?"

Sorri fracamente.

"Não precisa se preocupar Paul, vamos só andar e conversar, como você sugeriu." Olhei para o sol, que parecia bem mais interessante do que os olhos reprovadores de Paul nesse momento.

"Holly" Disse, parecendo Lily quando dizia que não era para eu me acabar nos doces. "Se vamos conversar, então converse! Você percebeu que ficou pensativa o caminho todo? Percebeu que estamos no meio do jardim e as únicas palavras que trocamos foram essas?" Olhei pra baixo, triste.

Paul, sem dizer mais nada, me abraçou. Ficamos assim por alguns minutos enquanto eu, novamente, chorava.

"Shhh, está tudo bem Holly." Me apertou levemente no seu abraço. "Desculpe por te fazer chorar de novo." Aquelas palavras reconfortantes só me fizeram pensar que tinha muita gente que se importava comigo, mas que, mesmo assim, eu só conseguia pensar nele. Chorei mais.

Paul me puxou para que pudéssemos nos sentar no banco mais próximo e, assim que o fizemos, comecei a me acalmar.

"Desculpe." Murmurei, baixinho. "Estou estragando o seu dia."

"Não é sua culpa chorar. Pode ficar relaxada."

"Paul…"

"Sim?"

"Por que eu não sou como Lily e acho o homem da minha vida logo?" Perguntei, enquanto sentava-me direito e secava as lágrimas do meu rosto.

Eu estava fazendo isso muito hoje.

"Ah, você já encontrou, só que Sir... ele é muito tapado pra ter te percebido ainda." Disse-me.

"Não sei, não..." Paul levantou uma sobrancelha, me incitando a continuar. "Acho que tá na hora de eu desistir dele, sabe? Não é como se hoje ou amanhã ele fosse perceber que me ama ou algo assim." Levantei o rosto, mais confiante em mim mesma. "E quer saber?" Levantei.

"O quê?"

"Não preciso dele pra sobreviver! Hoje é um dia comum e estou só passeando com o meu amigo, Paul, pelos jardins!" Acenei com a cabeça, enquanto aquela frase entrava no meu cérebro e eu sorria abertamente.

"Você é meio bipolar, certo?"

...

"O que é isso?"

"Bipolar?" Paul riu.

"É, o que é bitolar?"

"Não, Hall, bi-po-lar!"

"Ok, Collins, mas o que é bi-po-lar?" Perguntei, ironizando as sílabas destacadas.

"Você!" Ele exclamou, enquanto se levantava do banco, rindo.

"Tá me chamando de louca?" Estreitei os olhos.

"Não. Claro que não!" ele riu.

"Você é tão estranho, Paul!" Constatei a verdade.

"E como você acha que viramos amigos? Somos iguais!" Rimos juntos.

"Ok, então vamos andar e, realmente, conversar!" Estiquei o meu braço e, enquanto ele laçava o dele ao meu, sorrimos um para o outro.

Andamos por cerca de meia hora e fizemos duzentas coisas diferentes: Visitamos Hagrid – o que quase me rendeu uma bela dor de barriga, pois, se Paul não me mandasse não comer os (pode chamar aquilo de biscoitos?)biscoitos de Hagrid, eu estaria internada num banheiro agora!

Fomos até a beirada do lago – Onde vimos um sereiano chegar a superficie, coisa que aqueles chatos nunca faziam…

Voltamos, ao meio dia, para a cozinha, onde pegamos uma cesta e colocamos todas as porcarias, doces e coisas gostosas que os elfos fofos que trabalhavam na hora nos ofereceram.

Mas, mesmo com muita comida, Paul insistiu em ir no Dormitório dele, voltando com Sapos de Chocolate, uma caixinha de Feijõezinhos de Todos os Sabores e uma toalha de piquenique nas mãos.

Assim, voltamos ao jardim, com uma toalha e a cesta nas mãos.

"Ok, agora prova esse!" Paul fechou os olhos e eu coloquei um feijãozinho na boca dele.

"Caramelo!" Constatou. "Agora você." Disse. Fechei os olhos e ouvi o barulho do plástico, enquanto ele tirava um feijãozinho para eu esperimentar.

Ao colocar aquele feijãozinho inocente na boca, quase senti a morte chegar perto de mim! Era o troço mais nojento que já havia comido!

"Merlin! Isso tem gosto de vômito!" Eu quase gritei enquanto cuspia o doce da minha boca, ainda com aquele sabor detestável nela. Peguei o primeiro doce que vi e coloquei logo na boca, esperando tirar aquele gosto horrendo da minha memória. Enquanto eu sofria, Paul ria loucamente.

"Por que eu sempre fico com os nojentos e ruins?" Indaguei.

"Não sei, talvez porque eu conheça todos os doces dessa caixa e saiba quais estou te dando, propositalmente…" Disse-me Paul, fazendo-se de desentendido.

"O QUÊ?" Ao perceber que minha raiva era verdadeira, o garoto, agora com medo, levantou-se rapidamente e correu para longe de mim, que logo o segui.

Paul nunca foi bom em fugir, ele sempre olha pra trás e perde o foco da corrida, assim, cheguei nele rapidinho e pulei nas suas costas, visando derruba-lo. O que não aconteceu, afinal, ele é um homem, bem mais forte do que eu, ou seja, fiquei pendurada nas costas do meu amigo, enquanto riamos ainda mais do acontecimento.

"Por favor, não me mate!" Riu Paul.

"Ah, mas o senhor merece uma punição pelo que fez, seu mau!" Eu falei, ainda nas costas dele.

"Mas você, com todo o seu peso…" Bati na cabeça dele. "…Poder! Eu quis dizer poder!" Disse, sorrindo. "Holly, poderosa Holly, mas estar carregando a vossa digníssima realeza já não é castigo o bastante para um simples plebeu como eu?" Divertiu-se.

"Oh, querido Paul, mas você não é um plebeu." Eu disse, séria.

"Então eu sou o que? Burro de carga?" Perguntou, com o cenho franzido.

"Não! Você agora é o meu lindo unicórnio invisível!"

Paul revirou os olhos.

"Unicórnios invisíveis não exis-"

"Tá louco, garoto! Agora vai estragar os meus sonhos?" Bati nas suas costas. "Aliás, eles existem sim. Faltou essa aula, foi?"

"Não, é só que… Eu nunca vi um invisível, então…"

"Paul!" Interrompi o meu amigo, indignada.

"O quê?"

"Não é porque nunca viu, que este algo não exista!"

"Bom…"

"Já viu a chuva?"

"Já." Respondeu-me prontamente.

"Então sabe que ela existe." Continuei. "Já viu um Bicho-Papão?"

"Sim, mas ele é visí…" Respondeu novamente, tentando justificar-se.

"Então sabe que ele existe, certo?" Interrompi novamente.

"Sim, Holly, é que…"

"Já viu o amor?" Indaguei, mais séria.

E então ele parou de tentar argumentar. Respirou fundo enquanto andava e, mesmo sem poder ver a sua expressão, pude entender que ele estava com uma expressão completamente séria também.

"Nunca vi." Respondeu, novamente.

"Significa que ele não existe, então?"

"Não…" Disse, imerso a pensamentos que eu não queria perguntar quais eram.

"Eu sei que tem unicórnios invisíveis por aí… Não entendo como não acredita! Na minha varinha tem um fio de rabo de unicórnio!

"Mas é de um unicórnio visível! Que existe e…" Sorri abertamente.

"Ok, senhor Trouxa, vamos parar com isso! Daqui a pouco me dirá que não existe esse negocio que os Trouxas dizem, a engravidade!" Ele riu alto. "Eu acredito nisso, mesmo nunca tendo visto e nem ria de mim porque…" Paul, que estava andando de volta para a nossa toalha de piquenique, sorridente e serelepe como eu, parou brutalmente, como se algo o impedisse de andar. E, posso garantir, o que não o impedia de andar não era eu, que estava nas suas costas!

"Paul, o que foi?" Peguntei, tentando olhar nos seus olhos, sem conseguir. "Paul?" Quando consegui um campo de visão do seu rosto, o que foi bem difícil, estando nas costas dele, percebi que ele estava olhando para a sua frente, num ponto fixo.

Segui o seu olhar e levantei uma sobrancelha. Uma das garotas da Sonserina, Louis, uma das fofoqueiras do café da manhã, estava há não mais que trinta passos de onde estavamos. Franzi o cenho.

Por que ela e Paul estavam trocando olhares estranhos?

Sem entender nada, fiquei apenas revezando o meu olhar entre os dois, esperando que algo acontecesse. E aconteceu.

Paul engoliu em seco e olhou para os lados. Ele parecia querer achar uma escapatória para aquela situação. Uma situação que eu não estava entendendo… Além disso, aconteceu mais uma coisa, algo que eu também fiquei sem entender: A menina ficou com os olhos cheios de lágrimas e deu um passo incerto pra trás, antes de começar a correr e, em poucos segundos, a sumir do nosso campo de vista.

Paul olhou para baixo.

"Cara…" Desci das suas costas e, assim que pisei no chão, percebi duas coisas, a primeira era que estavamos do lado da toalha de piquenique e a segunda foi que entendi o que tinha acontecido. É o seguinte: Paul gostava daquela garota e ela viu nós dois ali, felizes como um casal que 'já fomos', ao lado de uma linda e açucarada cesta de piquenique…

"Paul… Desculpa. Não era pra eu ter pulado nas suas costas… Eu entendi que gosta dela e que não queria que ela tivesse te vist-"

"Mas do que é que você está falando?" Exclamou ele, piscando os olhos, confuso e perdido no meu raciocínio.

"Eu estou falando do fato de você gostar daquela sonserina albina não te faz menos meu amigo, ok?" disse, segunrando seus ombros. "Você tem o meu apoio!" Fortaleci o meu ponto.

"Louca!" Ele exclamou.

"Quem? Ela?"

"Não! Você! Esqueceu que foi hoje mesmo que eu disse que prefiro morenas?"

"Oh, eu ouvi. Mas sei que não conseguimos escolher a quem amamos! Acredite, eu sempre quis me casar com um loiro de olhos azuis! Conheci Sirius e BUM!" Exclamei alto, levantando os meus braços. "Todos os meus conceitos se foram!" Abracei Paul rapidamente e olhei em seus olhos, segurando o seu rosto dramaticamente. "O que quero dizer é: Se quer ficar com ela, tem o meu completo apoio!"

"Holly…"

"O que? Eu estou certa?" Sorri. "Vai atrás dela?" Dei pulinhos de alegria onde estava. Eu estava certa! "Por mais que eu não goste daquela fofoqueira, apoio você onde quer que vá e…"

"Holly, cala a boca!" Paul disse, sorrindo. "Você, as vezes, faz juz ao seu cabelo!"

Fiz biquinho e perguntei: "O que eu errei dessa vez?"

"Aquela é a menina que eu estava fugindo hoje, pela manhã…"

Click!

"NOSSA! QUE BOM! IMAGINA VOCÊ COM AQUELA VACA LOUCA?" Eu gritei, abraçando o meu amigo. Ele estava a salvo daquela cobra verde! "Era ela, a fofoqueira dessa manhã! Ela e uma outra da mesma laia!" Acenei com a cabeça, sorridente. "Aquela gente não presta, Paul! Fez bem em recusar aquela maluca!" Disse, enquanto me sentava para continuarmos o nosso jogo com os Feijõezinhos de Todos os Sabores. "Senta aqui!" Puxei ele pela mão.

"Holly, você é muito esquisita!" Paul sorriu pra mim, já sentado.

"Desculpa por isso, mas sabe como é, né? Nós somos iguais!" Pisquei um olho e ele riu.

Continuamos a brincar com os Feijões até eles acabarem, então comemos os Sapos e conversamos mais. Não sei como conseguiamos arrumar tantos assuntos -e espaço no estômago!-, conviviamos a anos e nunca enjoavamos de conversar, por mais que ficassemos horas falando besteira. Era assim ser amiga de Paul. O cara que parecia ser o mais reservado da escola, mas que, na verdade, era um arrebentador de corações sonserinos e meu amigo.

"Holly…" Disse Paul, enquanto caminhavamos, ao fim daquele dia, para o Salão Principal, para jantarmos.

"Sim?"

gravidade, senhorita!" Ele riu e eu franzi o cenho.

"Anh?" Ele gargalhou alto dessa vez.

"Lembra da sua engravidade?"

"Sim, é aquele negocio Trouxa que prende a gente no chão e…"
gravidade, Holly!"

"Oh…" Sorri fracamente enquanto Paul abria um sorriso escancarado, rindo da minha miséria intelectual.

Devidamente tomada banho, com os dentes escovados, cabelos penteados e com o meu pijama posto, deitei-me-me na cama, pronta para esperar por Lils. Já eram sete e meia.

O meu dia com Paul foi o melhor dia dos namorados que eu já tive, pois não tive que sair com algum cara e ficar nos amassos com ele e nem tive que me preocupar com presentes. Simplesmente passei um dia maravilhoso com o meu maravilhoso e confiável amigo, conversando, rindo e me surpreendendo com uma coisa que não sabia sobre ele. Seu talento para heartbreaker.

Ouvi a porta bater e me levantei rapidamente, assustando a menina que estava na porta, entrando quase que silenciosamente.

"Achei que estivesse dormindo!" Lily exclamou, sussurrando.

"Ah não!" Disse-lhe, no mesmo tom de voz. "Eu estava esperando por você!"

"Oh!" Ela ainda estava falando baixinho. "Quer saber de tudo ou posso simplificar? É que quero tomar um banho logo e…"

"Lily!" Murmurei. "Por que estamos falando tão baixo?"

"Eu não sei." Ela respondeu, agora normalmente. "Mas vou tomar um banho, voltar daqui cinco minutos e te contar tudo, ok?"

"Ok, não tenho muitas alternativas, certo?" Revirei os olhos, sorrindo.

Lils entrou no banheiro e eu sorri. Ela não havia perguntado como foi o meu dia propositalmente, provavelmente pensando que eu iria cair em prantos ou algo assim. Eu poderia simplesmente dizer pra ela que o meu dia não foi nem um pouco ruim, mas decidi só contra a ela se ela perguntasse.

Lily foi obrigada a me contar tudo o que houve durante o seu dia com James. Ela se surpreendeu silenciosamente com o fato de eu não ter reagido negativamente quando ela me contou que encontrou Sirius e Marlene. O meu dia havia sido perfeito, por que eu iria me deprimir justo agora?

"Nossa, você realmente gostou desse James que eu te dei!" Ri, enquanto ela me dava lingua, abraçada a pelúcia que lhe dei ainda essa semana, em homenagem ao meu amigo, Jay, o cervinho!

"Cala a boca, Hall! Vai dormir!" Disse, puxando as cobertas. Fiz o mesmo e esperei o sono chegar…

Esperei… Esperei mais… Esperei novamente… Me virei de um lado para o outro e tirei as cobertas de cima de mim, após minutos deitada. Já estava impaciente.

'Insônia novamente?' Pensei comigo mesma. Eu era a pessoa que dormia mais fácilmente no mundo inteiro! Quando deitava na cama, puf, dormia… Fazendo as tarefas, puf, dormia… Nas aulas, em quase todas, olha a Holly dormindo!

Mas agora, desde que comecei a pensar demais antes de dormir, não venho conseguido nem dormir nas aulas! Eu só penso demais em uma coisa. Sirius. Mas isso não era motivo pra eu não dormir nessa noite específica! Eu tive um bom dia! Eu tinha que conseguir dormir!

Rolei na cama… Esperei… Respirei fundo, limpando a minha mente de quaisquer pensamentos que pudessem me atingir… E esperei mais…

Nada.

Resolvi me render ao não-sono e vesti o meu roupão, descendo as escadas do Dormitório Feminino e chegando no meio de uma conversa entre Marotos…

"Holly, é claro!" James exclamou.

A conversa era sobre mim?

"Quem me chamou?" Perguntei, entrando na conversa e terminando de descer as escadas.

Com isso, vi espressões congelarem, especialmente a de Sirius, que ficou completamente chocado ao me ver, como se eu fosse um fantasma… Eu estava tão feia assim?

Tudo bem, eu estava com um roupão da Gryfinória e meus cabelos presos num coque alto, mas estava tão feio a ponto de Remus transformar seus olhos em duas goles, Sirius congelar e James tremer rapidamente? – Não falo de Peter por que estava com a sua típica cara fofa de quem não estava entendendo nada…

"Sirius me perguntou quem era a miha melhor amiga." Afirmou James. Ele estava mentindo, conheço o meu melhor amigo, mas eu estava com preguiça demais pra pressionar quem quer que fosse. Descruzei os braços enquanto murmurava um rapido 'Ah'.

"Estão fazendo o que aqui?" Perguntei, enquanto ia em sua direção.

"Nada" James bocejou e passou as mãos pelos cabelos, deixando-o completamente descabelado, mas não mais do que já era, claro! Continuou. " Só passando tempo… E você?" Indagou.

James sabia do meu problema com o sono nos ultumos meses, mas ainda assim, o respondi. "Terminei de interrogar Lily sobre hoje e ela foi dormir, mas ainda estou sem sono…"

"Por quê?" Sirius chamou a minha atenção, me interrompendo e me fazendo perceber o quando ele estava encantador hoje. Engoli em seco antes de responder.

"Não sei, só não consigo dormir." Tentei ao máximo não olhar nos seus olhos, então virei-me rapidamente para James, olhando em seus olhos e pedindo, quase rindo. "Canta para mim, James?"

"Anh?" Ele ficou confuso e todos, menos ele, rimos em conjunto.

"Repete, Holly, ele se perdeu no momento em que você falou 'Lily'" Disse Remus, provocante.

"Ha, ha, ha, como você é engraçado!" James comentou, sarcasticamente, depois continuou. "Só não entendi o porquê de Holly requerir minhas habilidades vocais…"

Eu ia responder algo, mas me distrai com a voz de Lily, que vinha descendo as escadas, ao nosso encontro.

"Porque você canta bem, Jay…" Disse ela, enquanto andava até nós.

"Lily!" James pulou do sofá, indo até a sua namorada.

"Legal sua almofada, Ruivinha!" Provocante, Sirius exclamou para lily, que segurava o meu presente. O cervo de pelúcia.

Corada, ela respondeu que lhe dei de presente e me perguntou o motivo de eu ter descido.

"Pensei que você já tivesse dormido, aí desci..." Mas ela não me deixou concluir a frase, completando:

"E eu tinha!" Disse, sentando-se no braço de sua poltrona, apoiada em James. "Mas aí acordei com o barulho da porta fechando e vi sua cama vazia, então vim ver aonde você tinha ido…" Ela disse, sonolenta. E então exclamou. "Está com insônia de novo?" Perguntou.

Antes qu eu pudesse dizer alguma coisa, Sirius disse bem alto:

"Espera aí! Por que de novo?" Revirei os olhos.

"Quando uma coisa aconteceu antes e acontece mais uma vez, dizemos que aconteceu de novo, Sirius." Expliquei, bem devagar, como se estivesse falando com uma criança de cinco anos, me divertindo.

"Então você não tem conseguido dormir?" Ele perguntou, se preocupando comigo. Mas claro, como amigo.

Minha atenção estava apenas voltada para ele, involuntariamente, mas ainda assim, ouvi ao fundo, os outros marotos rindo.

Dei de ombros, respondendo, olhando em seus olhos. Um pouco perdida no meu raciocínio.

"Às vezes, sim..." O que foi que eu disse mesmo? Aquela frase tinha algma coerência? Me recumpus rapidamente e mudei de assunto. "Mas agora que Lils está acordada!" Levantei-me rapidamente e fui na direção do casal do ano, dizendo: "Eu tenho o que fazer..." Puxei a minha amiga pelo braço, mas James a apertou junto ao seu corpo. "James, solta a namorada, nós duas precisamos comer chocolate e rir de como você é tapado..." Sorri, olhando para Lily, pedindo para que ela viesse comigo.

James arfou teatralmente.

"Você realmente faz isso, Lils?" Ele perguntou, falsamente indignado.

"Quando eu preciso... Deixe-me ir, tenho alguém para colocar para dormir..." Riu Lily e se deixou levar pelo meu braço, não antes de trocar um selinho com o namorado.

Subi as escadas correndo, com Lily no meu encalço e fechei rapidamente a porta. Ela murmurou 'Lumus' e sua varinha iluminou parcialmente o quarto. Não queríamos acordar as outras meninas.

"O que foi?" Lily me perguntou arfante.

"Só não queria ficar mais lá, ok? E não ia subir dizendo: Hey gente, não quero mais ficar perto de Six, to saindo!" Fiz uma voz fina e ajeitei o meu cabelo, que havia bagunçado todo enquanto eu e Lils corríamos até o quarto.

"Ok... Mas eu já te contei tudo o que aconteceu comigo hoje, então vem Lolly! Vamos dormir!"

"Só o meu pai pode me chamar assim! Trate de parar com isso!" Disse, sorrindo.

Deitei-me na cama e Lily me cobriu.

"Boa noite, Holly." Sussurrou, me dando um beijo na testa, realmente me pondo pra dormir!

"Boa noite mamãe Lily!" Falei, com uma voz infantil e provocante. "Vai brincar com o papai James agora?"

"Holly!" Fui repreendida e ri da vermelhidão que tomava o rosto dela. Ela andou até a sua cama e disse-me "Boa noite!" logo apos murmurando 'Nox' fazendo a luz que vinha da sua varinha se apagar.

"Boa noite."