Cap Único - Sobre tardes geladas e beijos.
- Mais que bosta de dragão – ela exclamou baixinho, lançando um olhar mortal ao seu relógio – Estou atrasada – completou, levantando-se da poltrona em que estava em um salto, e jogando seu livro de poções de qualquer jeito dentro de sua mochica, enquanto tentava dar um jeito nos cabelos ruivos, que no momento pareciam mais uma vassoura depois do pequeno cochilo no Salão Comunal.
Jogou a mochila nas costas e saiu correndo, passando pela Mulher Gorda em um flash e indo em direção as masmorras do castelo, correndo o mais rápido que suas pernas lhe permitiram, chegando ao seu destino exatos quatro minutos depois, apenas para constatar que estava vinte e sete minutos atrasada para a aula dupla que teria naquele horário, que por coincidência era ministrada por seu mais odiado professor em toda a escola.
- Droga, droga, droga – ela bufou repetidamente, dessa vez nervosa consigo mesma – Porque eu não consigo nunca chegar na hora? Aquele monstrengo não vai me deixar entrar agora, e duvido que eu consiga entrar na sala sem ele me ver. Droga, já estou até vendo a detenção que eu vou receber por ter matado aula. Já não me bastava a que a MacGonagall me deu ontem por causa daqueles dois trasgos idiotas?
- Falando sozinha pelos corredores? Ficou maluca de vez, Potter?
Lily levou um baita susto ao ouvir a voz aveludada perto de si e soltando um gritinho agudo deixou sua mochila cair, aberta, no chão, espatifando completamente seu tinteiro e sujando alguns dos livros que ela carregava, assim como alguns pergaminhos com suas anotações importantes das aulas.
- Eu não estava falando sozinha, Malfoy – ela retrucou quando se recuperou do susto, deixando um sorriso brilhante surgir em seus lábios. O menino também sorriu, e abaixou-as para ajudar a garota a recolher seu material que se espalhara pelo chão frio de pedra, e com um simples floreio de sua varinha, fez com que as manchas escuras de tinta sumissem dos livros da ruiva.
– O que você faz por aqui? – ele perguntou, quando colocou o ultimo livro da menina dentro da mochila e entregado para a ruiva, que apenas o olhava agradecida – Não deveria estar em alguma aula?
- Na verdade, sim. Deveria estar em uma aula dupla de poções que começou a mais de meia hora – ela respondeu, lançando um olhar raivoso para a porta fechada da sala – Mais, graças e você, devo acrescentar, eu estou muito atrasada e totalmente ferrada – completou.
- Graças a mim? – ele repetiu com seu tão característico tom sarcástico.
- É, graças a você, Malfoy – ela repetiu convicta – Se você e o trasgo do meu irmão não estivessem duelando pelos corredores como duas crianças mimadas ontem de manhã, eu não teria que ter azarado vocês dois, e com isso a Professora MacGonagall certamente não teria me visto lançar feitiços pelos corredores e não teria me dado aquela detenção. Assim, eu não teria ido dormir tarde e com certeza não teria cochilado no Salão Comunal enquanto deveria estar terminando minhas tarefas, e por fim eu não teria chego atrasada pra aula de poções – ela completou, quase que em um fôlego só.
Scorpius gargalhou gostosamente com as palavras e a expressão da garota, sua risada seca e fria, como sempre, deixando suas feições um pouco mais serena e muito mais bonitas, na opinião da ruiva.
- Culpe o idiota que você chama de irmão, Lil – ele respondeu, quando parou de rir, ao sentir o olhar mortal que a ruiva dirigia a ele – Ele que começou tudo. Eu estava quietinho no meu canto e ele veio me provocar… Aquele panaca!
A garota o encarou desafiadora, franzindo levemente a testa e lançando a ele um olhar totalmente gélido, um gesto bem característico das mulheres de sua família, fazendo o sorrisinho presunçoso dos lábios do loiro ir morrendo aos poucos, para seu substituído por um olhar desafiador.
- Você e o James não tem jeito mesmo – ela falou, revirando os olhos veementemente – Parecem duas crianças mimadas e bobas que não conseguem nem respirar o mesmo ar por mais de cinco minutos sem começar a se azararem pelos corredores.
- Auch, assim você realmente me magoa, ruiva – ele falou, colocando no rosto sua melhor expressão de cachorrinho abandonado que caiu do caminhão de mudança que ele conseguiu, o que não foi o suficiente para amolecer a ruiva.
- O que eu posso fazer se isso é realmente verdade? – ela continuou, agora um pouco mais divertida com toda a situação – Vocês dois parecem realmente duas crianças, discutindo pelos corredores por qualquer besteira. Qual foi o motivo da briga de ontem, afinal? – ela perguntou seriamente - James pegou suas figurinhas raras de sapos de chocolate e não quis devolver? Ou foi você que pegou as dele? – ela completou sorrindo marotamente.
- Vou simplesmente ignorar esse seu comentário totalmente desnecessário, Lil – retrucou o loiro, revirando os olhos e dando de ombros, sem querer responder a pergunta da ruiva – Você não quer dar uma volta por ai – ele falou displicente antes que ela pudesse falar mais alguma coisa – Você já perdeu sua aula de poções mesmo.
- Tudo bem – ela concordou, começando a caminhar lentamente ao lado do loiro pelos corredores desertos do castelo – E você? – ela falou de supetão – Não deveria estar em uma aula muito importante agora? – ela perguntou, tentando cortar o silencio incomodo que se instalara entre eles.
- Nenhuma aula importante hoje, ruiva. Tenho a tarde toda livre pra você – ele respondeu com um sorrisinho maroto nos lábios, guiando a ruiva em direção aos portões principais do castelo que os levariam aos jardins da propriedade, que graças a época do ano, estavam completamente congelados.
Os dois fizeram quase todo o caminho em total silêncio que apenas foi quebrado pelo loiro, quando os dois estavam descendo calmamente as escadas do portão principal.
- Sendo totalmente sincero com você, Lil, às vezes tenho muita dificuldade em aceitar que James é realmente seu irmão – falou, soltando um suspiro completamente frustrado, fazendo a ruiva soltar um risinho divertido – Mesmo que eu e Alvo não sejamos os melhores amigos do mundo inteiro, nos damos muito bem, levando em conta que somos de casas diferentes. Mais nós dois conseguimos manter uma conversa civilizada, conseguimos fazer trabalhos juntos e essas coisas – continuou, fazendo uma careta cômica – Já aquele panaca quatro olhos…
- Scor – resmungou a ruiva, o censurando fazendo com que uma fina ruguinha aparecesse em sua testa por baixo da franjinha ruiva – Não fale assim do James, eu adoro você, mas ele é meu irmão. E ela não é um panaca – concluiu.
- Nem adianta defender ele, Lil – o loiro continuou falando, mesmo recebendo mais um olhar gélido da ruiva – Ele é realmente um panaca de marca maior e nem mesmo você pode ou vai conseguiu negar isso!
- Ah, é melhor deixar isso pra lá – ela resmungou derrotada e frustrada, dando de ombros – É realmente inútil discutir sobre esse assunto com você.
- Viu, ruiva, você concorda comigo – ele falou, sorrindo ainda mais.
- Eu não concordo com você, Scor – ela respondeu, seria – Mais como eu disse, é inútil discutir esse assunto com você. Assim como é impossível discutir com o meu irmão também. E o mais incrível é que eu consigo ver o quanto vocês dois são parecidos e como poderiam se dar bem se parassem com essas briguinhas bobas – ela completou sorrindo – Mas vocês são assim: quando enfiam alguma coisa nessas suas cabeças ocas ninguém consegue tirar!
O loiro apenas revirou os olhos mais uma vez, descrente, enquanto balbuciava alguma coisa que lembrava vagamente um 'eu não tenho uma cabeça oca' ou 'eu não sou nem um pouco parecido com aquele idiota quatro olhos' que foi completamente ignorado pela ruiva, ao mesmo tempo em que segurava a mão da ruiva na sua, entrelaçando seus dedos aos da menina carinhosamente, em um gesto tão natural, como se eles fizessem isso a todo o momento.
Lily estremeceu levemente com o toque do loiro, tão levemente que nem mesmo o garoto percebeu.
- Sabe, às vezes tenho a nítida impressão de que você só anda comigo para irritar ainda mais o meu irmão – ela falou, tentando evitar que suas bochechas ficassem vermelhas e fazendo o seu melhor para soar divertida, mais falhando miseravelmente nas duas tarefas.
- Deixa de ser tapada, Lil – ele respondeu, parecendo não achar nenhuma graça no que a ruiva tinha dito, e continuou a olhando totalmente serio – Eu ando com você porque eu gosto de você! Isso não tem nada a ver com o babaca do seu irmão!
Lily sentiu seu rosto esquentar ainda mais e sabia que suas bochechas deveriam estar mais vermelhas que seus cabelos ruivos naquele momento, e em seguida sentiu-se extremamente infantil e idiota. É claro que o loiro gostava dela, afinal, eram amigos há quatro anos, desde que ela entrara em Hogwarts e esbarrara com ele em um corredor vazio, ainda na primeira semana de aula, e contrariando todas as expectativas os dois se tornaram grandes amigos.
- Sinto-me honrada com as suas palavras, meu caro – ela retrucou, tentando parecer o mais indiferente possível com a situação – Não é todo dia que um Malfoy demonstra seu apreço por alguém. Ainda mais por uma Grifinória.
- Muito engraçadinha você, ehin, Potter. Estou aqui não me aguentando de tanto rir – ele resmungou, revirando os olhos, em um ato tão característico dele.
- Porque você revira tantos os olhos, Scor? – ela perguntou curiosa, mais ainda sorrindo, e ignorando a ultima fala do loiro.
- Para demonstrar minha total indiferença com determinado assunto abordado – ele respondeu com um sorrisinho sarcástico brincando entre seus lábios.
Dessa vez quem não pode deixar de revirar os olhos foi Lily, no exato momento em que se sentavam nos jardins, a ruiva apoiada em um tronco de uma arvore e ele na sua frente, os dois ignorando a grossa camada de neve que já se instalava ali.
- Sabe Lil? – o loiro começou suavemente, fazendo a ruiva sorrir instintivamente.
Adorava o modo doce e delicado com que ele pronunciava seu apelido. E ultimamente vinha reparando que ele era o único a usá-lo, já que a maioria das pessoas a chamavam de Lily ou mesmo de Lils.
- Hum – ela conseguiu balbuciar baixinho, desconcertada com o olhar carinhoso que recebia do loiro.
- Eu esta aqui pensando em perguntar pra você, sabe, se você talvez não quisesse passar o Natal comigo, sabe, aqui no castelo – ele falou, sem conseguir olhar diretamente nos olhos da ruiva e corando gradativamente a cada palavra que dizia, enquanto sua voz e sua coragem iam diminuindo aos pouquinhos.
- Você não vai passar o Natal em casa com os seus pais, Scor? – ela perguntou de supetão, também corando, não tanto pela curiosidade, mas sem saber o que responder.
- Esse ano não – ele respondeu, tentando parecer o mais natural possível – Meus pais vão passar as festas em algum lugar da America do Norte, se não me engano – ele completou, parecendo indiferente – Vão sair em uma espécie de segunda ou décima segunda lua de mel – falou divertido.
- Há, entendi – ela resmungou, para depois soltar um longo suspiro de frustração – Eu prometi ao meu pai que iria para casa esse ano, Scor – ela respondeu finalmente – Todos combinaram de passar a noite de Natal na Toca dessa vez. Faz tempo que não conseguimos reunir todos os cabeças de fogo assim. Todos os meus tios vem, e até mesmo Teddy e Vick conseguiram uma folga e vão vir esse ano – ela completou, sorrindo fraquinho – Sinto muito.
- Tudo bem, Lil, sem problemas – ele respondeu, tentando esconder o evidente desapontamento em suas palavras.
Um novo silêncio incomodo tomou conta dos dois por um longo tempo. Lily estava realmente desapontada por já ter prometido ao pai que iria pra casa para passar o Natal com a família na Toca esse ano, queria tanto poder ficar no castelo e comemorar o feriado com o loiro. Enquanto Scorpius se amaldiçoava internamente por sequer ter cogitado a remota possibilidade de ela querer ficar ali no castelo com ele, ao invés de ir para casa e se divertir com a família durante o feriado. Ele sabia muito bem o quanto a ruiva era ligada aos familiares, principalmente ao pai e sabia o quanto ela sentia falta deles enquanto estava na escola.
- Scor – ela chamou baixinho alguns minutos depois, quebrando o silencio, mas ainda encarando o próprio colo, fazendo com que o loiro voltasse de seu torpor momentâneo – Porque você não vai passar o Natal comigo? – ela falou com a voz baixinha e ligeiramente insegura – Sabe, você poderia ficar na minha casa e ir com a gente para a Toca. Seria muito legal – ela completou sorrindo fraquinho.
- Desculpa, Lil, mais eu não acho que seja realmente uma boa ideia – ele falou na mesma hora, sem nem mesmo pensar – Não que eu não gostaria de passar o Natal com você na sua casa e tudo o mais – ele completou rapidamente, vendo a expressão desapontada da ruiva – Eu realmente ia gostar, mais eu sou um Malfoy, lembra? Acho que ninguém na sua família iria gostar de passar uma data tão importando como essa comigo.
- Acho que ninguém lá em casa iria realmente se importar com isso, Scor – ela falou mais firme e decidida, agora voltando a encará-lo – Afinal, você é o meu melhor amigo, não importa quem sejam seus pais ou o maldito sobrenome que você tenha – continuou ela, totalmente firme em sua decisão agora – Tenho certeza de que se eu falar com o meu pai, ele não vai ver problema nenhum, e até vai gostar de ter você passando o Natal lá em casa, ele odeia essa rivalidade idiota entre você e o meu irmão, e vive dizendo que o James tem que parar com isso - ela continuou falando, agora fazendo um biquinho infantil – Você sabe que mesmo ele não te conhecendo realmente, meu pai gosta de você, não é?
- Ainda sim, eu não acho isso é uma boa ideia, Lil – ele falou novamente, ainda relutante – Não acho que a ideia de Harry Potter passar o feriado natalino com o filho de Draco Malfoy vai agradá-lo. Tenho certeza que ele só diz gostar de mim para te agradar, já que você é a princesinha do papai. E tudo bem ele não apoiar a minha rixa com o seu irmão, mais isso não significa que ele seja meu fã numero #1 – ele continuou, e viu Lily revirar os olhos novamente – Além do mais, ruiva, os Weasley odeiam os Malfoy tanto quanto os Malfoy odeiam os Weasley.
- Scor, você se lembra que eu também sou uma Weasley, não é? – Lily perguntou, aumentando o biquinho e fazendo uma carinha de dar dá em qualquer um – E nem por isso você me odeia, não é mesmo?
O loiro apenas negou com a cabeça, sem conseguir arquitetar nenhum argumento, com certeza qualquer coisa que ele falasse naquele momento a ruivinha a sua frente iria ter uma resposta pronta e afiada para devolver.
- Então, sendo que você é um Malfoy e não me odeia, mesmo eu sendo uma Weasley. E que eu, uma Weasley, não odeio você, um Malfoy, percebo que podemos deixar alguns preconceitos do passado para trás – ela continuou, ainda com a expressão de cachorrinho sem dono – E tendo certeza absoluta que o grande Harry Potter vai ser o primeiro a concordar com isso, já que ele realmente odeia toda essa birrinha entre as nossas famílias.
- Ainda não consigo considerar isso uma boa ideia, ruiva – Scorpius falou, mais dessa vez sem nenhuma convicção que tinha anteriormente – Eu até concordo com isso de deixar os preconceitos para trás, mais realmente não estou querendo arrumar nenhum tipo de briga na sua família, ainda mais no Natal. Eu sei que seu pai é um cara legal e também está disposto a deixar isso pra trás, mais não tenho certeza se toda a sua família pensa assim.
- Você não vai arrumar nenhuma briga na minha família, Scor – ela retrucou, com a voz fininha e o biquinho ainda presente – Você é meu amigo, eles vão respeitar isso – ela completou – E posso apostar que Al também acharia legal se você fosse pra lá.
O loiro estava começando a achar cada vez mais impossível recusar qualquer coisa que fosse para a ruiva. Não conseguia encontrar mais nenhuma desculpa minimamente aceitável para dar para ela, ainda mais quando ainda podia vê-la fazendo aquele biquinho que ele achava tão fofo, e com aquela carinha de cachorro pidão a qual ele nunca, nunca mesmo, conseguia resistir.
- Por favorzinho, Scor – ela pediu novamente, e o loiro bufou em frustração, agora que ela estava usando as palavras no diminutivo, era como se ela se preparasse para dar seu golpe final – por mim – ela completou, e lá estava ele, o ultimo golpe, fazendo com que toda resistência do loiro fossem por água abaixo.
Scorpius sorriu por um instante e suspirou totalmente derrotado, afinal, desde que aquela discussão começara, ele sabia que nunca iria conseguir vencê-la. Era conhecimento geral na escola que ele, Scorpius Malfoy, era um fraco e nunca, nunca, conseguia negar nada a Lily Potter, nada mesmo.
- Tudo bem, ruiva, tudo bem, você venceu – ele concordou, soltando um muxoxo incrédulo e sentindo-se completamente tolo – Mais só se seu pai realmente concordar com a minha maravilhosa visita – ele completou, frisando muito bom a sua condição – E só porque você fez essa cara de cachorro abandonada na mudança em dia de chuva.
- Aha! Eu sabia que você não ia conseguir resistir por muito tempo ao meu super charme – ela respondeu sorrindo e se jogando em cima dele, apertando-o firmemente em um abraço meio desajeitado.
- Calminha ai, ruiva! Você está querendo me matar? – ele perguntou risonho, quando sentiu-se ser abraçado por ela, e se desequilibrando levemente, acabou caindo, deitado na neve com o corpo da ruiva por cima do seu – Ah, olha só que maravilha que você fez comigo, ruiva. Olha o meu cabelo! Agora ele está todo bagunçado e cheio de neve!
- Ah, mil desculpas, Scor – ela falou, com um tom totalmente malicioso na voz, acentuado pelo sorriso maroto presente em seus lábios – Esqueci que não se pode sem respirar mais profundamente perto desse seu cabelo oxigenado.
- Ei, garota, muito mais respeito com o meu lindo cabelo loiro, que por sinal é totalmente natural, ouviu – ele retrucou, totalmente ofendido – Você não iria gostar se eu começasse a falar mal desse seu cabelo ai, não é?
- O que tem o meu cabelo, Scor? – ele retrucou, ainda sorrindo marotamente, nem um pouco abalada com a tentativa de provocação do loiro.
Foi somente nesse instante, quando Scorpius foi olhar mais atentamente para o cabelo da ruiva, tentando implicar com ela, que ele viu a situação em que estavam. Ele ainda estava estirado no chão, sobre a grossa camada de neve, com Lily caída sobre seu corpo, os braços dela apoiados em seu peito, para que ela pudesse ficar levemente erguida e encara-lo. Os cabelos compridos e ruivos da menina, caindo sobre seu rosto, em um contraste perfeito com os seus próprios cabelos platinados. E sem que pudesse se refrear, sentiu-se corar ligeiramente, desconfortável com a proximidade entre eles.
- Scor? – ela chamou suavemente, ainda sorrindo largamente – Você está se sentindo bem?
- Hã? – foi tudo que ele conseguiu respondeu para a ruiva, saindo lentamente do transe momentâneo em que se encontrava – Ah, eu, hum, estou bem, muito bem, está tudo bem sim – ele respondeu, se atrapalhando ligeiramente com as próprias palavras.
- Não é o que parece, Scor – ela falou, sorrindo ainda mais e passando os dedos gentilmente pelos cabelos dele, tirando-os de cima dos olhos quase acinzentados do loiro – Você está com uma cara bem engraçada, pra falar a verdade.
Scorpius se arrepiou levemente e tinha plena certeza de que o arrepio nada tinha a ver com o fato de estar fazendo um vendo frio nos jardins ou mesmo o fato de ele estar deitado sobre a neve, mais sim com o toque delicado da mão da ruiva, afastando seus cabelos dos olhos tão delicadamente, para depois ficar carinhosamente depositado sobre sua bochecha esquerda, que parecia estar pegando fogo naquele momento.
Fechou os olhos por alguns segundos querendo guardar aquela sensação, aquele toque macio dos dedos da ruiva sobre a sua pele para sempre. Mais quando voltou a abrir os olhos, lentamente, respirando com dificuldades ficou ainda mais desconcertado. Seu olhar foi direto para os olhos caramelos da garota, que o observavam atentamente. Ela ainda sorria, mais agora um sorriso menos maroto e mais doce, o que fez com que mais uma onde de arrepios perpassassem por todo o seu corpo.
- Hey, Scor – ela falou preguiçosamente, ainda sorrindo, tentando chamar a atenção do loiro – Você ainda está com aquela cara esquisita que eu falei.
Mais o loiro não ouviu nenhuma palavra sequer que a ruiva falou, apenas tirou uma de suas mãos que estava repousada delicadamente na cintura fina da ruiva para leva-la até a nuca da menina, aproximando lentamente seu rosto do dela, quase fazendo com que seus narizes se tocassem.
Lily ficou momentaneamente congelada com o gesto do loiro, mais quando ele fez um delicado carinho em sua nuca, por baixo dos longos cabelos ruivos, ela voltou a sorrir delicadamente. Aquele sorriso doce que ele sabia que somente ela tinha. Aquele sorriso que ele adorava. Aquele sorriso com que ele sempre sonhava.
Tomando isso como um sinal de aprovação por parte da ruiva para que ele continuasse, Scorpius trouxe o rosto dela ainda mais para perto, sentindo seus narizes se tocarem levemente, para depois sentir pela primeira vez o turbilhão de sensações maravilhosas que o toque dos lábios da ruiva nos seus lhe causava.
No começo, foi apenas um leve encostar de lábios inocente entre os dois, depois virou um demorado selinho, mais assim que ele sentiu a garota sorrir por entre seus lábios, ele trouxe o lábio inferior da ruiva entre os seus, e dando uma leve mordidinha, para depois aprofundar o beijo.
Foi um beijo doce e carinhoso, que fez com que ambos logo ficassem sem fôlego e com os corações disparados. E quando, algum tempo depois, eles se afastaram lentamente, puderam ver o mesmo sorrisinho bobo e sonhador estampado em seus rostos.
Lily foi a primeira e cair em si e perceber o que os dois tinham acabado de fazer, e corando absurdamente ela escondeu o rosto na curva do pescoço do loiro, deixando escapar um longo suspiro, que fez com que o garoto se arrepiasse novamente.
- Lil? – ele chamou baixinho, deixando seus dedos correrem delicadamente pela extensão de seus longos cabelos ruivos, mais não conseguiu dizer nada, apenas enterrou ainda mais seu rosto ali – Hey Lil – ele tentou novamente, no que ela finalmente levantou o rosto e voltou a encará-lo, com as bochechas mais vermelhas que seus cabelos – Você fica lindo corada desse jeito – ele completou, dirigindo sua mãos para o rosto da menina, e deslizando a pontinha de seu indicador por todo o rosto dela, parando em seus lábios, mais vermelhos do que de costume.
- Para com isso, Scor – ela resmungou manhosamente – Você consegue me deixar com ainda mais vergonha do que eu já estou.
- E por que você está tão envergonhada, Lil?
- Ah, eu realmente não sei, eu só estou, Scor – ela respondeu corando ainda mais, se é que isso era humanamente possível – É que você é meu melhor amigo, sabe. E, também, eu nunca, nunca tinha beijado ninguém antes, sabe – ela completou a voz diminuindo a cada palavra proferida.
- Nunca? – ele repetiu, ainda mais sorridente do que antes.
- Nunca – ela concordou.
- Que bom – ele deixou escapar, junto com um suspiro de alivio.
- Que bom? – agora foi a vez de ela repetir, como se fosse um papagaio, parecendo indignada com as palavras do loiro.
- É, pra mim, pelo menos – ele respondeu, mais para ele mesmo do que para a ruiva – Sabe, Lil, eu, hum, realmente gosto de você, gosto mesmo, sabe. Não como uma amiga sabe – ele falou se enrolando levemente – Não, como uma amiga também, você é minha melhor amiga – ele tentou se corrigir rapidamente – O que eu quero dizer, é que eu estou apaixonado por você, ruiva – ele terminou, corando violentamente e ficando muito sem graça.
- Agora é você quem está corando absurdamente, Malfoy – a ruiva falou, brincando com os cabelos loiros dele displicentemente.
- Lil, você não está me ajudando em nada – ele resmungou, soando quase desesperado.
- Talvez isso te ajude então, Malfoy – ela respondeu, sorrindo marotamente, sem mais nenhum vestígio de embaraço em seu rosto, para depois voltar a colar seus lábios nos do loiro, em um beijo carinhoso.
- É, isso me ajuda mesmo, Potter – ele concordou, sorrindo como se fosse uma criança no dia de Natal, depois que se separou da ruiva – Mais só um pouco – ele completou, erguendo uma das sobrancelhas maliciosamente.
- Só um pouco? – ela repetiu descrente.
- É só um pouquinho, Lil, bem pouquinho mesmo – ele concordou sorrindo ainda mais, olhando diretamente para as orbes castanhas da menina – Mais isso aqui ajuda bastante – ele completou rindo, e com um gesto rápido e delicado, agora era ele quem estava por cima da ruiva, seus corpos ainda mais colados, para depois voltar a beijá-la, dessa vez mais intenso, mais forte, mais apaixonante.
- Eu também gosto de você, Scor, não só como um amigo. Eu estou apaixonada por você – ela falou sorrindo, imitando as palavras do loiro, seus lábios a milímetros de distancia – Completamente – ela falou baixinho, como se fosse um segredo.
- Isso é bom – ele respondeu sorrindo ainda mais – Pelo menos não sou o único louco por aqui.
Lily sorriu no que para ela pareceu ter sido a milésima vez naquela tarde gelada de inverno, para depois ter seu sorriso roubado pelos lábios quentes do loiro. Com certeza isso era infinitamente melhor do que ter que aturar aquele aguado do seu professor de poções, dizendo-lhe que ela não tinha talento para a nobre arte do preparo de poções.
