Escrito originalmente para o 30cookies do LJ (link no perfil).
Set: Outono - Tema 27: Sanidade
Death Note e personagens e whatever © Ohba e Obata
Espelho
A sede vazia quase brilhava pelo sol artificial das lâmpadas fluorescentes. Havia mandado todos os agentes para qualquer outro lugar, do qual agora não lembrava. Precisava estar sozinho por duas horas, antes de efetivamente agir. Só naquele dia, naquele 27 de janeiro sem qualquer propósito.
Duas horas para deixar de hesitar. Duas horas para apagar aquele pensamento que ficou por minutos em sua mente. Só porque ele estava lá. De tantos outros, logo ele.
Do outro lado do espelho.
Às suas costas estendia-se o quintal gramado da Wammy's, seus pés entre folhas amareladas que não se mexiam com o vento – aquele mesmo vento que embaraçava o cabelo sobre a face. Sem expressão, sem idade. Só um sussurro.
"Eu sei quem me matou."
Aquilo vencia qualquer uma das noções lógicas com as quais estava acostumado a lidar. O via, o ouvia, e aquele pensamento dançava alucinadamente em seu cérebro.
"Eu sei quem me matou."
Parou em frente ao espelho, retendo o olhar vazio. Seu rosto não era mais decorado pela cicatriz, nem havia nada em suas mãos. Era só ele, sem as marcas reais de ser ele mesmo. A calça jeans de criança, os pés descalços. E repetia, entre pausas nas quais não respirava.
"Eu sei quem me matou."
Se pudesse ver seu próprio reflexo ao invés de vê-lo, Near duvidaria que seus olhos pudessem expressar tanto medo. Pavor em pupilas dilatadas. Se pudesse ver-se, talvez saísse correndo. Mas, pelo contrário, só o via.
"Eu sei quem me matou."
Aquilo não era real.
"Eu sei quem me matou."
Sem tocar na superfície plana do vidro, encarando olhos que não estavam ali, venceu o pensamento em tela cheia dentro de sua mente. Sem sorrisos, sem cinismo, só palavras.
"Mas você sabe que não está aqui, não é? Mello?"
Em segundos, a voz conhecida se calou, os olhos focaram-se em algum lugar da parede branca. Virou as costas. Desapareceu.
E Near podia ver seu reflexo outra vez. Como fazia sempre, como fazia segundos antes.
Porque Mello não estava lá. Era só um espelho e Mello estava morto.
Near sabia quem o havia matado.
E só ele entendia a importância de não ter cedido ao impulso de quebrar o espelho.
Fim
N/A: thanks ao Code, por ter lido e não entendido o timeline e me fazer desenhar whatafuck is going on, além de rescrever uma coisa aqui e outra ali.
Detesto escrever com o Near. Sei lá, ele é tão seco. Mas achei perfeito pro papel de luta contra a perda de controle e tal. Enfim, deu o que deu, num lapso de criatividade.
Agora faltam só 29 ficlets.
© Yuka, escrito em 12 de fevereiro de 2008
