Por Leona-EBM
Noites de Insônia
Parte I
O tiro acertou em cheio a testa daquele zumbi que num último lampejo de força conseguiu desferir sua espada contra o tronco magro de Shito. Agora o cadáver que não deveria estar naquele planeta estava sendo enviado para os céus pela espada de Akatsuki. Num canto afastado estava Michiru, escondida atrás de uma rocha, ajeitando seus grandes óculos.
- Podemos ir para casa, parceira! – falou Akatsuki, passando a mão por seus cabelos prateados.
Shito sangrava bastante, mas nada que fosse grave para um zumbi. Em pouco tempo já estava andando ao lado daqueles dois personagens falantes que viviam lhe perseguindo. Sua vida era assim, sempre rodeada de pessoas estranhas e com uma personalidade bastante expansiva.
O vento tépido daquela noite de verão estava um tanto incômodo para os rapazes que suavam pelo exercício refém feito. Akatsuki reclamava baixinho que aquele zumbi não havia lhe dando muito dinheiro, sendo que ele ainda tinha que dividir em dois, pois tinha Shito também.
Em poucos minutos chegaram ao dormitório. Quando entraram no lar doce lar, já começaram a sentir o cheiro de alguma coisa queimando e assim trataram de correr para a cozinha, onde encontraram uma panela fervendo. Michiru correu até o fogão e desligou o gás.
- O que aconteceu aqui? – indagou a garota de grandes óculos redondos.
Logo Koyomi apareceu tentando se explicar. Quando viu que a situação não era nada grave, Shito acabou se afastando com um suspiro pesado, ele foi diretamente para o banheiro, almejando limpar o cheiro daquele sangue nojento que estava impregnado nas suas vestes e nos cabelos cor de ébano. Ele mal tirou suas roupas e já estava na companhia de seu parceiro.
- Não conseguimos nada de importante hoje, eu pensei que Michiru poderia achar mais zumbis com aqueles olhos, mas nos enganamos. – falou com agastamento, enquanto retirava suas roupas, todavia parou suas ações ao ver que Shito não se despia mais. – O que houve? Tem vergonha de mostrar esse corpo magrela para mim? – indagou risonho, enquanto caminhava para a cabine.
- Como se você tive atributos interessantes! Não passa de um lixo ambulante. – resmungou o moreno, entrando na sua cabine, girando a torneira para sentir as gotas mornas começarem a resvalar por sua pele límpida. Seu banho seria sossegado se não tivesse um acompanhante tão explosivo ao seu lado, logo a porta da sua cabine se abriu.
- Quem é lixo!? – indagou num grito.
- Saia daqui, idiota! – gritou, virando um soco contra o rosto do intruso.
Akatsuki não deixou aquilo sair barato, ele empurrou Shito para dentro da cabine com um chute que havia dado contra seu estômago. O que se iniciou a seguir foi uma briga infrutífera, mas que parecia satisfazer a ambos. Em um momento de sorte e rapidez, Akatsuki prendeu os braços de Shito contra o azulejo frio e o olhou num tom de superioridade.
- Parece que seu corpinho que tanto se gaba não consegue nem resistir aos meus golpes. Você é um idiota mesmo! – zombou.
- Tire essas mãos nojentas de cima de mim, seu inútil, verme! Morra! – gritava, enquanto chutava as canelas do menor.
Akatsuki ria alto, fingindo que aqueles chutes nem lhe machucavam, apesar de desejar mentalmente que tivesse sacos de gelo naquele dormitório para colocar nas mesmas depois ou ficaria todo inchado. Por um momento eles pararam completamente com suas ações ao verem em qual situação estavam.
Ambos ofegantes, vermelhos, pelados, na mesma cabine do banheiro, de frente para o outro, ou melhor, dizendo com Akatsuki prendendo o corpo de Shito na parede.
- Akatsuki, saia daqui! – falou num tom mais baixo, pois a sua voz mesmo falhou ao se deparar naquela situação.
O menor arregalou os grandes olhos dourados e se afastou, olhando discretamente para o corpo à frente, sentindo um arrepio contínuo deslizar por seus membros, erguendo os seus cabelos dos braços e das pernas. Shito o chutou literalmente para fora da cabine e fechou a porta, voltando a se encostar à parede.
Um minuto de silêncio e a ducha ao lado foi ligada, agora os dois estavam tomando banho em silêncio. Geralmente eles conversavam sobre alguma coisa, mas estavam um pouco estarrecidos com o que havia acontecido.
Shito foi o primeiro a sair e tratou de se enxugar rapidamente e sair logo do banheiro, ele não queria encarar o outro, mesmo que aquela situação não quisesse lhe dizer nada, aquilo havia lhe atingido em certo ponto. Quando chegou ao seu quarto, tratou de ajeitar algumas coisas e dormir.
Enquanto Shito dormia. No quarto de Akatsuki a situação era diferente, o menor estava olhando para a sua mão direita que pertencia ao outro, analisando os dedos brancos e longos com atenção, lembrando-se do corpo que havia prensado contra a parede. Inconscientemente voltou a se arrepiar, enquanto fechava suas pálpebras.
- "Maldição! Por que isso me abalou tanto? Aquele maldito!!" – pensava com irritação, tentando se ajeitar na cama para dormir.
E naquela noite de lua minguante nenhum dos dois conseguiu dormir direito. Logo o sol voltou a reinar pelos céus azulados e na grande mesa de madeira, todos os inquilinos do dormitório estavam sentados, comendo um pouco de pão e leite.
Shito estava de um lado e Akatsuki a sua frente, ambos em um silêncio absoluto. No caso de Shito isso era normal, mas Chika Akatsuki era uma verdadeira matraca hiper falante que não deixava ninguém em paz. Todavia para não deixar o clima tão pesado, aos poucos ele começou a interagir com os demais, evitando ao máximo falar com seu parceiro.
E nesse ritmo eles foram para a Zombie Loan, onde acabaram por pegar alguns serviços medíocres que lhe rendiam pouco dinheiro. Eles corriam riscos demais, se feriam, aumentavam suas dívidas ao serem curados e no final do dia estavam naquele dormitório caindo aos pedaços. Isso não era vida. Não era o que nenhum deles desejava, mas não tinha jeito. Se eles quisessem realmente viver, eles teriam que provar a todos daquele universo que estavam aptos a isso.
O clima tenso da noite anterior estava presente no banheiro. Akatsuki foi o primeiro a entrar na ducha, tomando um banho relaxante enquanto se lembrava dos flashs da noite anterior.
- "Por que estou pensando nisso ainda? Aquele idiota não devia ficar me provocando daquele jeito!" – pensava novamente, com a mesma irritação, enquanto lavava os cabelos coloridos.
O som da porta rangendo anunciava que alguém estava entrando. Akatsuki endureceu seus músculos ligeiramente enquanto ouvia Shito começar a se arrumar. Quando a ducha ao lado foi ligada, Akatsuki ficou mais calmo.
- Um dia nada produtivo hoje, não é? – indagou o menor, tentando puxar assunto, junto a um sorriso amarelo.
- Apenas lixos.
Akatsuki começou a conversar normalmente com seu parceiro, que no fundo de seu âmago considerava seu amigo, apesar de Shito sempre lhe dizer que eram apenas parceiros de um destino comum e que não deveria esperar nada dele.
A dupla saiu ao mesmo tempo de suas cabines com uma toalha enrolada no quadril. Shito evitava olhar para o seu lado, não sabia se sua impassibilidade facial seria quebrada ao encarar o outro, portanto se manteve com a cabeça baixa, procurando seus pertences.
Quando o menor começou a se vestir na sua frente, Shito virou ainda mais seu rosto, vendo apenas a sombra do menor contra a parede. Aos poucos Shito foi se vestindo, primeiramente colocou a cueca por cima da toalha e depois tratou de colocar sua comprida camiseta.
- Está com vergonha de mim, Shito?
- Por que não vai procurar o que fazer?
- Por que está tão irritadinho esses dias?
- Isso não é da sua conta.
- Claro que é. Nós somos amigos! E tente me chamar pelo meu primeiro nome uma vez sequer.
- Não somos amigos. – falou, virando seu rosto, encarando o menor. – No máximo um parceiro nesse destino miserável, mas tudo acabará quando pagarmos essa dívida. Não pense que somos amigos, Akatsuki.
- Você anda saindo muito esses dias. Onde está indo?
- Eu já falei que não é da sua conta.
- Não se esqueça que está com a minha mão, e eu quero saber onde está indo com ela.
- Lixo.
- Idiota!
- Desprezível!
- Inútil, infeliz, estúpido! – gritou, chutando o banco de madeira contra o moreno, lançando o objeto contra o seu joelho.
A dor da pancada foi forte e Shito foi pego desprevenido, ajoelhando-se logo a frente. Ele estava com um pouco de dor em seu corpo, pois era obrigado a visitar seu odioso mentor todas as tardes para um treinamento de rotina. Na verdade só servia para regular a taxa diária de sadismo daquele chinês que o dominava.
Shito era um cadáver há mais de 150 anos, ele havia nascido daquele jeito e desde então lutava para sua sobrevivência a cada dia, sendo que o mesmo pertencia à famosa máfia chinesa, que governava o submundo há anos. Sendo assim, nunca teria sua liberdade completa, talvez nunca deixasse de ser um zumbi, apenas estava procurando alguma forma de viver em paz.
Os treinos diários com Touhou estavam fazendo seu corpo ficar cada vez mais cansados, pois o chinês era demasiado forte e tinha uma técnica de selo muito poderosa que atingia o seu corpo vulnerável com facilidade. Não era fácil enfrentá-lo todas as tardes e sabia que caso não aparecesse, ele ia persegui-lo nos dormitórios.
- Parece que você está muito sensível! – Akatsuki comentou com um sorriso agradável. – Que patético, você é tão fraco!
- Cala a boca! – gritou, jogando o banco de madeira contra o menor, todavia este desviou com facilidade, colocando as mãos na cintura, enquanto ria baixinho.
- Fracote!
Shito correu até ele, empurrando-o contra a parede para então começar a golpeá-lo, mas antes que seu plano fosse executado, Shito já se encontrava estatelado no chão com uma rasteira que Akatsuki havia lhe passado e quando isso aconteceu, ele deixou suas coxas amostras para o menor que agora via algumas marcas estranhas na sua pele.
- O que é isso? – indagou curioso, fazendo a mão de tocar no moreno.
Num impulso Shito se levantou e puxou a calça que estava no armário, vestindo-a rapidamente, saindo descalço do banheiro, ignorando os chamados irritantes daquele que lhe vinha perseguindo pelo corredor.
- Vamos, vamos! Conte-me que marcas são essas, Shito!
- Vá cuidar da sua vida!
- Não seja medroso, deixe-me ver.
Shito entrou no seu quarto, recebendo o sossego de seu cômodo, todavia a insistência de Akatsuki passou dos limites quando ele invadiu seu quarto.
- Essas marcas foram feitas hoje. Aliás, onde você foi hoje à tarde? Não me diga que está caçando zumbis sozinho para ter mais dinheiro! – comentou com frieza.
- Isso não é da sua conta. Agora saia do meu quarto. – gritou, apontando para a porta, exibindo um cenho franzido e os caninos raivosos a mostra.
- Claro que é da minha conta. Eu quero saber quando meu parceiro está me deixando para trás.
- Eu não sou nada seu! Não te devo satisfações.
- Estúpido! Infelizmente nós temos que ficar juntos. Você acha que eu goste de andar com uma mala sem alça como você? Ninguém aqui gosta de você, Shito. Você só vive sozinho pelos cantos! – falava com irritação, erguendo seu tom de voz a cada instante. – O único que te suporta sou eu, e mais, as pessoas só se aproximam de você por minha causa, porque você é um chato, desinteressante e egoísta que acha que sabe tudo!
- Não encha tanta a boca para falar seu verme. – vociferou baixinho.
- Você só sabe falar, mas não tem nada, absolutamente nada. Não tem família, amigos e ninguém na sua vida. Você mora no mesmo dormitório sujo que eu, come o mesmo que eu e ainda sim se acha superior!
Aquelas palavras pareceram atingir Shito. Não que fossem palavras diferentes, como se Akatsuki não vivesse dizendo o quanto ele era descartável, não era esse o problema, mas justamente naquele dia, Shito estava mais sensível. Touhou havia lhe aplicado um treinamento muito forte, tanto físico quanto mental, onde dizia o quão desprezível e monstruoso ele era para viver no mundo dos humanos.
Realmente não tinha amigos. Família. Ninguém.
- Tem razão. – Shito falou num tom baixo, inclinando sua cabeça para que Akatsuki não visse sua expressão.
- Você também é um merda e... – Akatsuki interrompeu seu falatório ao ouvir aquele baixo sussurro. – O que disse? Que eu tenho razão? – indagou com incredulidade, enquanto enfiava o dedo indicador na sua orelha, tentando limpar qualquer sujeira.
- Agora saia do meu quarto. – pediu, enquanto abria a porta.
- Você disse que eu tenho razão? Eu ouvi bem? – indagou risonho.
- Sim, eu disse. Agora saia, por favor.
- Está pedindo com educação? – indagou ainda mais surpreso. – Está com tanto medo de mim que perdeu a sanidade!?
Shito nada disse, ficando quieto perante a porta. Akatsuki foi saindo aos poucos, com passos lentos, achando aquele clima demasiado pesado e estranho. Geralmente eles acabavam brincando até seus corpos reclamarem de dor, mas dessa vez era diferente. Parecia que alguma coisa estava se quebrando naquele momento, algum laço invisível estava se rompendo à medida que ele pisava para fora do quarto.
- Shito... – o chamou com uma voz baixa, quando colocou seus dois pés no corredor. Ele precisava olhar mais uma vez para aqueles orbes vermelhos antes de partir, todavia o que recebeu foi à porta de madeira bater nas suas costas assim que Shito teve a oportunidade.
Shito ficou encostado à porta de madeira, segurando a maçaneta, mas quando ouviu os passos do menor se afastando, o seu coração começou a ficar mais aliviado. Ele caminhou até sua penteadeira e pegou um pequeno boneco de madeira que fazia parte de sua coleção, observando-o com atenção.
- Só velharia... Assim como meu corpo podre, minha vida ingrata e solitária. – comentava para ele mesmo com tristeza. – Sem amor, sem nada. – dizendo isso, ele voltou para a sua cama, onde seu corpo suplicava por descanso e aquela foi outra noite mal dormida.
Na manhã do dia seguinte, lá estavam todos sentados a grande mesa, comendo e conversando. Era um dia quente de sábado e eles estavam de folga, planejando algum passeio para aquela tarde.
Num canto, Akatsuki olhava de soslaio para seu parceiro, vendo as grandes olheiras roxeadas que estavam naquele rosto alvo. Sentia-se responsável por aquilo de alguma forma e no fundo queria conversar com seriedade com Shito, mas não tinha espaço, pois a todo tempo Michiru vinha para lhe atazanar a vida.
Após muita conversa e a louça do café da manhã lavada, todos decidiram que seria um dia grandioso para irem fazer um passeio nas fontes de água termais que já haviam visitado no mês passado graças a presidente. Agora só precisavam pensar no transporte, sendo que ninguém ali sabia dirigir.
- Podemos contratar alguém. – falou Michiru. – Vocês conhecem alguém?
- Eu conheço! – falou Koyomi com entusiasmo, trazendo grandes suspeitas de quem seria esse motorista e se realmente seria alguém competente.
Michiru se aproximou de sua amiga que já estava toda empolgada com a viagem e lhe indagou sobre o tal amigo que poderia levá-los junto de Akatsuki. No final das contas, acabaram por ligar para o tal motorista que aceitou levá-los por uma baixa quantia. Agora só precisavam fazer as malas e partirem para o descanso.
Akatsuki estava no seu quarto, cantarolando, rindo consigo mesmo, enquanto preparava sua mala. No corredor, Michiru estava passando com uma bolsa larga e pesada.
- Já está pronto, Chika? – indagou Michiru com um sorriso de orelha a orelha. – Eu estou tão ansiosa para essa viagem. Vai ser tão divertido!
- Eu já estou terminando. Todos já colocaram as malas na Van?
- O Shito disse que não vai. – falou com tristeza, enquanto mexia nos cabelos lisos e curtos.
Akatsuki ficou um tempo sem reação.
- Como assim ele não vai!? – indagou num grito. – Onde ele pensa que vai ficar? E se aparecer um zumbi? Ele tem que ir!
Michiru tampou os ouvidos com as duas mãos, diante daquela gritaria cheia de indagações. Akatsuki saiu do quarto com passos pesados, parando na frente da grande porta de madeira, entrando sem um único aviso, encontrando o motivo de sua raiva parado, diante de um grande espelho, com o tronco desnudo.
- Por que não vai conosco!?!? – indagou num grito, quando a porta se fechou num estrondo.
- Não sabe bater, idiota!? Saia do meu quarto. – falou, saindo da frente do espelho, caminhando até sua cama, ficando de costas para o outro.
- Olhe para mim quando falo com você, seu merda!
- Se não sair desse quarto agora, eu vou te matar.
- Então pode vim, idiota! – gritou, avançando até o moreno, empurrando-o contra a parede.
Shito ainda estava debilidade por causa da noite anterior, quando sentiu suas costas baterem contra a parede, ele acabou por cair sentado no chão, frustrando-se com sua fraqueza. Akatsuki ia avançar para chutá-lo, mas parou ao ver novas marcas de vergões no tronco do outro.
- Mais marcas... o que é isso?
- Não é da sua conta! – vociferou.
- Vá logo fazer suas malas ou eu vou te enfiar naquela Van desse jeito!
- Eu não vou!
- Por quê!?
- Porque não quero!
- Fale o motivo, seu merda!
- Não é da sua conta.
- Diga! Diga! – gritava, avançando contra o moreno, que já estava de pé, pronto para mais um ataque.
- Eu vou te matar!
E novamente eles voltaram a se atacar, caindo no chão do quarto, rolando de um lado para o outro, golpeando ao outro com violência e raiva. Até que Akatsuki parou sentado em cima do abdômen do moreno, esticando o braço para socá-lo na face.
- Por que está fugindo!? – indagou num grito, golpeando a face alva.
- Sai... sai de cima!
- Diga! – pediu, dando outro soco. – Fala logo o que você anda fazendo!
Shito estava ficando tanto com aquele ataque raivoso e para evitar receber outro soco que com certeza o levaria a inconsciência, ele moveu seus lábios, dizendo baixinho.
- Eu não posso...
- Ah? O que!? Como assim não pode?
- Não posso. Satisfeito? Agora sai de cima de mim!
- Por que não pode? Quem está te impedindo? – indagou com mais calma.
- Não te interessa!
- Se voltar a falar isso, eu juro que vou te bater tanto, que ninguém mais vai te reconhecer.
- Akatsuki, eu não posso sair livremente, pois sou um capacho de alguém. – confessou num tom baixo e mórbido.
O menor pareceu sossegar diante daquelas palavras e aquele olhar entristecido do moreno, ele olhou para o rosto ensangüentado de Shito e se arrependeu do que estava fazendo. Logo voltou a olhar para seu tronco que estava todo ferido. Agora podia entender o motivo do outro estar tão fraco e debilitado.
- Um capacho? Quem manda em você, então?
- Uma pessoa. Não quero dizer quem é.
- Então é por isso que sempre sai nas tardes?
Shito apenas balançou a cabeça positivamente.
- E o que acontecerá se você viajar conosco?
- Você pode imaginar só de ver meu corpo. – falou.
- Essa pessoa... o que ela quer de você? Por que você a obedece?
- Acho que já falei demais, contente-se com isso. Agora saia de cima de mim, Akatsuki.
- Mas...
- Saia logo!
- Ela te fez isso?
- Acho que isso é óbvio. Eu não vou falar duas vezes!
Akatsuki saiu lentamente, sentando-se no assoalho de madeira, olhando sem nenhuma discrição para as cicatrizes que estavam naquele corpo, sentindo-se internamente mal por não ter visto isso anteriormente. Se ele fosse mais atento, podia notar que Shito era uma pessoa sempre muito preocupada e sempre sumia para aparecer entristecido e cansado.
- E você não vai me contar nada?
- Não!
- Eu posso... te ajudar?
- Ajudar? Não se envolva nos meus problemas. Afinal, eu realmente não tenho amigos.
- Hei, você que sempre diz isso, mas não é verdade. Eu sou seu amigo, eu pelo menos tento ser.
- Vá viajar, você está atrasado.
Akatsuki argumentou, mas logo desistiu ao ver que não tinha como fazê-lo mudar de idéia. O menor foi se afastando, deixando Shito sozinho naquele chão empoeirado, sentindo seu coração acelerar ao cruzar com os lábios levemente trêmulos do moreno. Nunca pensou que Shito pudesse transmitir tantas emoções, aquilo lhe deixou abalado.
Minutos mais tarde o dormitório estava completamente vazio, não havia uma única pessoa ali, tirando Shito. O moreno ficou jogado no colchão da sua cama por um tempo, até que finalmente adormeceu. Agora podia recuperar as duas noites mal dormidas.
E assim aquele final de semana começou a passar. Na pousada, a turma toda estava reunida e se divertia, todavia tudo que era bom durava pouco, sendo que no domingo a tarde eles já estavam com as malas no porta-malas do carro que já se dirigia para a cidade.
- Hei, vamos comer alguma coisa naquele restaurante? – indagou Koyami.
- Eu acho uma boa idéia. Olhe, tem uma promoção hoje! – falou Michiru.
A Van parou a poucas quadras do dormitório, ficando no estacionamento de um restaurante que sempre fazia grandes promoções e chamava a atenção dos esfomeados e mão de vacas como o pessoal da Zombie Loan.
Akatsuki olhou para o céu alaranjado e sentiu um certo pesar. No final acabou se despedindo dos demais e voltou para o dormitório, com as mãos no bolso e a cabeça baixa. Ele não estava conseguindo agir normalmente desde que teve aquela conversa atrapalhada com Shito. E mais, sua mão estava um pouco mole desde que viajou, ele precisava ficar próximo ao outro para que ele não apodrecesse e caísse.
Quando chegou no prédio do dormitório, Akatsuki sentiu uma angústia inexplicável, ele começou a andar em passo acelerado pelos corredores e quando chegou na frente da porta de Shito, ele fez a menção de abri-la, mas parou quando ouviu a voz de outra pessoa. Ele se ajoelhou no chão e começou a espiar pela fechadura. O seu olho se arregalou com a cena a frente.
No quarto, Shito estava deitado de bruços na cama completamente desnudo e em cima dele havia um homem com traços chineses que estava vestindo apenas uma camisa. Isso era uma cena chocante e Akatsuki teve que se segurar quando o grito de Shito invadiu chegou aos seus ouvidos.
- "Eles estão... estão... fazendo... sexo?" – indagou em pensamento, não conseguindo cogitar aquela situação. – "O que aquele homem está fazendo com os dedos. Aquele símbolo... aquele símbolo que ele fez com os dedos serve para repelir demônios, eu já vi sobre isso num livro de magia".
Outro gemido desesperado de Shito acordou Akatsuki para o mundo. Aquele homem violava seu corpo de uma forma tão constrangedora, também o machucava com aquele símbolo vermelho que lhe cortava o corpo.
- "O que eu faço!? Será que é esse homem... que controla o Shito? Eles são... são... namorados?" – pensava, desesperando-se para obter alguma resposta.
Akatsuki acalmou sua respiração e forçou seus ouvidos para ouvir o que eles estavam falando.
No quarto, Shito estava com as mãos amarradas por um par de algemas enquanto suas pernas estavam bem abertas e flexionadas para que o homem a frente fazer o que desejava com o seu corpo. Touhou lhe sorria e acariciava suas coxas, enquanto movia seu quadril para frente e para trás, penetrando-o até que seu gozo chegasse para aliviá-lo.
- Quem mandou me desobedecer? Eu falei que você não podia viajar com aqueles lixos. – falava com um belo sorriso nos lábios. – Ou você acha que eles são seus amigos? Que grande amigos que eles são, não é mesmo? Acabam saindo sem se importarem com você.
- Ah... pare... por favor. – pediu num gemido baixo, não agüentando mais aquela situação. Seus olhos encheram-se de lágrimas pela dor e humilhação que sentia. Todavia não era a primeira vez que Touhou lhe fazia aquilo, mas não era por esse motivo que estava acostumado a esse tratamento.
- Você é um monstro muito atraente, Shito. Sorte a sua, pois assim eu posso ser gentil com você! – ria baixinho, enquanto soltava as algemas do moreno que continuou com os braços erguidos no alto de sua cabeça. – Eu recebi uma mensagem avisando que aqueles cadáveres estão voltando para o prédio. Eu vou indo agora, passe amanhã no meu escritório para terminarmos.
No corredor, Akatsuki se afastava lentamente da porta, horrorizado com tudo que estava acontecendo. Ele saiu correndo, tentando não fazer barulho, quando aquele chinês terminou de se vestir e começou a caminhar até a saída. Alguns minutos se passaram e a Van parou na frente do prédio, trazendo a alegria para o local.
Akatsuki estava no seu quarto, com a mão direita na sua boca, como se estivesse segurando-se para não contar nenhum segredo. Os olhos dourados continuavam arregalados, junto ao coração acelerado.
- "Aquilo foi... cruel". – Pensou, fechando os olhos de repente, lembrando-se de ter visto uma lágrima escorrer de um olho de Shito. Ele nunca havia visto o outro chorar, em nenhuma circunstância.
Akatsuki ficou um tempo trancado, mas logo saiu, indo para a grande sala que havia no centro daquele prédio. Naquele lugar todos sempre se reuniam para conversar, pois era bastante agradável, além de ter uma lareira, que por hora estava inutilizada por causa do verão.
Todos estavam conversando, rindo e comentando sobre a viagem. Shito estava sentado num dos sofás, ouvindo a conversa dos demais, algumas vezes comentava alguma coisa. Sua expressão continua a mesma, parecia que havia acabado de acordar.
Quando Akatsuki viu aquele sorriso nos lábios do moreno, todo o seu corpo pareceu reagir. Agora se perguntava quantas vezes Shito estava lhe exibindo aquele sorriso falso, enquanto seu corpo ardia em brasa por machucados causados por aquele homem. Chika sentou-se ao seu lado, encarando-o de soslaio em silêncio.
- O que está olhando? – indagou Shito de repente.
- O que estava fazendo?
- Como? – indagou sem entender a pergunta.
- O que estava fazendo nesse final de semana? – Akatsuki reformulou sua pergunta, pois não queria fazer o outro falar sobre aquela cena naquele momento.
- Nada demais. – disse, voltando sua atenção para Michiru que estava contando alguma coisa engraçada.
As horas passaram, logo todos foram para seus quartos descansarem. Shito abriu a porta de madeira e encontrou seu parceiro jogado na sua cama, olhando com desinteresse para o teto que parecia que ia cair aos pedaços.
- O que está fazendo aqui? Vá para o seu quarto, Akatsuki.
- "Como eu posso abordá-lo? Como posso conversar com ele sobre aquilo naturalmente? Droga! Não é possível falar naturalmente sobre aquilo mesmo que eu queira!" – pensava, enquanto suava frio.
- Eu já disse para...
- Eu já ouvi, mas eu quero conversar com você.
Shito cruzou os braços com agastamento e caminhou até sua cama, sentando-se na sua beirada, enquanto encarava o garoto de cabelos prateados.
- O que foi agora? Sobre o que quer falar?
- Bom... Shito... eu queria que soubesse que eu sou seu amigo.
O moreno revirou os olhos e então bufou.
- Eu estou cansado. Agora não tenho tempo para isso, deixe-me dormir.
- "Eu imagino que esteja com dor". – pensou com desagrado, sentando-se lentamente na cama. Ele esticou o seu braço e tocou no ombro de Shito, que inevitavelmente soltou um baixo gemido, afastando-se. – O que houve? – indagou Akatsuki, fingindo surpresa.
- Nada, apenas ralei meu braço.
- Oh! Mesmo? Como fez isso?
- Não é da sua conta. Akatsuki, ultimamente você está me tirando do sério.
- Porque eu... me importo... com você, apesar... de você não acreditar nisso. – confessou, num tom baixo e dificultoso.
Shito ficou surpreso, suas pálpebras ficaram bem abertas, mas logo voltou ao olhar mórbido de sempre, trazendo a certeza para Akatsuki que suas palavras até surgiam efeito, mas por causa da convivência de Shito com aquele homem, ele sempre negava qualquer tipo de afetividade.
- Pode confiar em mim, Shito.
- E por que eu faria isso? Akatsuki, não se preocupe com os meus problemas, apenas tente viver como desejar e volte a ser humano.
- É o que eu vou fazer, mas eu preciso continuar com meus laços de amizade, eu não posso pensar somente em mim. – disse, voltando a tocar no ombro de Shito, mas com maior suavidade para não machucá-lo.
Shito ficou com as pálpebras fechadas. Ele não conseguia olhar para seu parceiro no estado que estava. Ele desejava tomar um banho para tirar o cheiro de Touhou do seu corpo, também queria cuidar de suas feridas e depois descansar. A presença de Akatsuki lhe deixava desconfortável e isso não vinha de agora, pois há meses o garoto estava se aproximando dele, desarmando-o, dizendo todos os dias que eram amigos, isso amoleceu seu coração.
Akatsuki foi se aproximando, sentindo seu coração bater ainda mais forte, ele tocou numa mecha cor de ébano, sentindo sua textura tão delicada e macia, logo deixou seu dedo resvalar até o queixo fino e pontudo. Aos poucos foi se aproximando, sentindo suas bochechas queimarem como se estivessem em brasa, e assim foi até que seus lábios se encostaram suavemente.
Shito abriu um pouco suas pálpebras para encarar aquele rosto rubro. Akatsuki abriu seus lábios lentamente e num impulso levou a mão até a nuca de Shito, puxando seu rosto contra o dele, inserindo sua língua lentamente naquela boca quente e trêmula, buscando a língua dormente de Shito.
O cheiro de Shito, o seu gemido baixo, tudo aquilo aumentou a certeza que estava perdidamente apaixonado por seu parceiro. Akatsuki sentiu seu membro repuxar por dentro da calça, parecia que ele reagia bem quando estava na presença do outro, ainda mais naquela proximidade tão quente e sensual. Akatsuki moveu a cabeça para um lado, buscando um beijo de outro ângulo, ficando mais afoito, movendo-se com velocidade e um pouco de inexperiência. Tudo que queria era aquela boca.
A sensação era muito gostosa e sem perceber havia derrubado o corpo magro na cama e já estava por cima do dele, voltando a devorar aqueles lábios aos quais mordia e chupava com afobação, como se Shito pudesse fugir. E quanto ao moreno, este estava estarrecido com o que estava acontecendo, ele só conseguia mover sua língua de encontro ao outro.
Apesar de fingirem se odiarem, de falarem que não se importavam com o outro e viverem brigando, os dois apenas estavam caminhando para suas desgraças. Desde o início simpatizaram-se, mas ao ver que estavam começando a ter sentimentos errôneos com relação ao outro, o sentimento de repelir o outro foi criado. Apenas uma grande muralha para esconder os verdadeiros sentimentos.
- Shito... – sussurrou o seu nome num gemido lânguido, carregado de prazer, enquanto descia seus lábios até o pescoço, escondendo-se na sua curva para beijá-lo e chupá-lo com maior prazer.
- Akatsuki... pare. – pediu num baixo sussurro.
Aquele pedido foi diferente de qualquer pedido que Shito já havia feito. Parecia que o instigava a continuar com o que fazia, e ele não pararia tão cedo. Logo voltou a sugar aqueles lábios rosados e inseriu sua língua novamente, movimentando-a num beijo gostoso e bem molhado, fazendo um barulho alto. Akatsuki puxou a mão de Shito e a colocou no meio de suas pernas para que ele sentisse o quanto estava excitado.
Shito não conseguiu deixar de se mostrar surpreso, mas não disse nada, e também não poderia, pois aquela boca lhe devorava com tanta firmeza que só conseguia gemer como um garotinho indefeso. Os dedos de Shito acariciaram o volume por cima do jeans, sentindo vontade de agarrar aquele membro, mas apenas o acariciava.
Akatsuki começou a abrir a camisa de Shito com os dedos e com isso todo aquele clima foi interrompido por um tapa violento que ele acabou levando. O baque foi tão forte, que Akatsuki caiu deitado no chão e nesse momento Shito se recuperou daquele ataque, respirando com dificuldade, enquanto voltava a fechar sua camisa.
- Por que fez isso, idiota!? – indagou num grito frustrado.
- O que pensa que estava fazendo!?
- Não venha dar uma de santinho! Você sabe o que nós dois estávamos fazendo!
- Saia daqui!
- O que foi? Eu não sou bom o suficiente? – indagou com irritação e constrangimento, erguendo-se num único pulo, segurando-se para não socá-lo.
- Não, não é! Agora saia daqui!
- Então quem seria bom o suficiente? Hein!? – perguntou mais uma vez, avançando no moreno que não conseguiu se esquivar. Agora Akatsuki segurava a gola de sua camisa, obrigando que o moreno lhe encarasse.
- Saia daqui agora. – disse num tom baixo e mortal.
- Será que aquele homem era suficiente para você? – indagou, num meio sorriso de deboche.
A expressão de Shito foi de dar pena. Ele ficou tão paralisado diante daquelas palavras que se esqueceu completamente como falar. Parecia que havia esquecido qual era o seu idioma. Seus olhos estavam bem abertos, juntamente com sua boca que tremia.
- O gato mordeu sua língua? Eu vi o que vocês dois estavam fazendo hoje à tarde. – continuou a comentar no mesmo tom. – Você estava gemendo bastante, sabia? Eu ouvi do corredor.
- Você... viu?
- Sim, eu vi. Aquele é o seu homem, Shito? Eu não sabia que você gostava desse tipo de coisa. E que coisa sádica, hein! – zombou quando falou a última frase. – Se quiser, eu posso te amarrar na cama também.
A resposta de Shito foi um soco certeiro contra o rosto de Akatsuki que cambaleou alguns centímetros para trás.
- Você me dá pena. – disse, saindo do quarto, batendo a porta com toda a força que podia, fazendo a estrutura de pedra estremecer.
No quarto, Shito ficou desmoralizado com o que havia acontecido. Ele deixou seu tronco cair na cama, enquanto tocava nos lábios vermelhos.
OoO
Continua...
Eu assisti esse anime ontem e dormi com muitas cenas yaoi na minha cabeça e não resisti. Em um único dia concluí esse conto, e gostaria que vocês dissessem o que acharam, apesar de acreditar que não exista muitas pessoas que conheçam esse anime. Adoro o Shito, ele é aquele personagem que faz você suspirar e acho que o Akatsuki poderia tirar uma casquinha dele, não é mesmo?
Próximo e último capítulo terá lemon!
Comentários são bem-vindos. O que acharam? Comentem!
13/8/2009
Por Leona-EBM
