Minha primeira fic J/L, se houver alguma coisa (característica, nome mudado e etc) que não bate com os personagens (do jeito que eu sou avoada sempre deixo passar alguma coisa) não hesitem em puxar minha orelha.

Espero realmente que vocês gostem. Boa leitura.


CAPÍTULO UM

Sentada na área de recepção das indústrias Windy City, Lily Evans agarrava o braço estofado da cadeira e suspirava o mais discretamente possível.

Respire, dizia para si própria. Inspire... Expire...

A dor pesada da contração começava a ceder quando a secretária retornou por uma das três portas em frente. A identificação na mesa da mulher era Britney.

O nome lhe caía muito bem. Era jovem, atraente, magra como uma modelo e elegante num terninho preto, com uma blusa de seda bem arrojada e um par de saltos arrasadores. Ao contrário disso, Lily sentia-se deselegante na sua bata de grávida em tom pastel e sandálias baixas confortá veis adequadas a seus pés inchados.

— Sinto muito, mas o Sr. Potter está ocupado e não pode atendê-la — disse Britney, esforçando-se com um sorriso tão sincero quanto o de um tubarão. — Sugiro que você marque hora antes de vir na próxima vez.

Por quê? Para ele se ausentar quando eu chegasse aqui? De maneira nenhuma. Lily vinha tentando encontrar James Potter há meses. Pôs a mão na barriga. Aproxima damente nove meses. A única correspondência que recebe ra, se pode ser chamado assim, foi uma carta do seu advo gado declarando que o Sr. Potter não aceitava sua alegação de paternidade. De fato, sequer admitia conhecê-la. Considerava a alegação uma extorsão e a processaria por danos se ela continuasse insistindo.

Mais do que insultada e magoada pela maneira como a tratou, Lily estava humilhada. Se não queria desempe nhar o papel de pai, tudo bem.

Mas dizer que eles nunca se conheceram, bem, para isto não havia defesa, jurídica ou não. Ela jamais imaginou que James Potter pudesse ser um homem tão cruel e sem coração. Nem que fosse tão lento, mas esse parecia ser o caso, pois demonstrava não tomar conhecimento de que bastava uma amostra de DNA para confirmar que Lily estava dizendo a verdade. Ela tinha esperanças, aparentemente vãs, que pudesse evitar este tipo de bai xeza.

Levantando-se sem jeito, ela sorriu de volta para a jo vem, de forma igualmente insincera.

— Tudo bem. Por favor, marque para mim o mais cedo possível.

— Deixe-me checar a agenda dele e ver quando será possível — disse Britney.

Lily não via sentido em discutir com a secretária. Ela mesma lidaria com o empresário ardiloso. E ia fazê-lo ago ra mesmo. Enquanto Britney foi para trás da mesa, Lily se encaminhou para a porta através da qual a mulher saíra minutos antes. Ela supunha que fosse o escritório de James. Ao abrir, entretanto, descobriu que era uma sala de reunião, cheia de profissionais de terno sentados em volta de uma mesa de cerejeira. Havia pastas de arquivos abertas em frente a eles, mas não estavam examinando gráficos. Fitavam Lily. Porém, foi o homem ao fundo da sala que lhe chamou a atenção.

Lindo? Não. Uma palavra melhor seria arrebatador. Ti nha cabelos negros e olhos no tom castanho-esverdeados. Seu rosto era angular com ossos malares definidos e so brancelhas desenhadas, que neste momento arqueavam-se numa careta. O nariz acima dos lábios esculpidos em tom de pele era fino e levemente torcido com os óculos redondos conferindo-lhe certa personalidade.

Lily engoliu em seco. Mesmo sentado, era óbvio que era alto, de constituição grande. Nunca em sua vida fora atraída por esse tipo de homem, mas algo a respeito dele sem dúvida lhe atraía a atenção. Ela disse a si própria que era por ele ter a aparência de alguém conhecido.

Esse pensamento desfez-se quando ele falou. Ela nunca ouvira uma voz como aquela. Quebrou o silêncio de forma devastadora. Suas palavras ecoaram pelo ambiente como um trovão quando perguntou:

— O que significa isto?

— Sinto muito — ela começou, dando um passo atrás até esbarrar na secretária, que a pegou pelo braço.

O gesto pareceu mais como uma tentativa de detê-la do que de ampará-la, o que irritou Lily o suficiente para que dissesse:

— Preciso falar com James Potter e preciso falar com ele agora mesmo. Eu pensei que ele pudesse estar aqui.

— Ele está. — Todos os olhos se voltaram para o grande homem na cabeceira da mesa, que agora se levantava. Ti nha aproximadamente l,98m, talvez dois metros, e cada centímetro irradiava poder e autoridade. Outra vez ela teve a sensação de que ela o conhecia, mas foi como um choque para ela quando ele disse:

— Eu sou James Potter.

— Não. — Lily balançou a cabeça com a certeza de que ela não o havia entendido. — Você não...

Ela não terminou a frase. Sua bolsa d'água arrebentou, saindo em fluxos para formar uma poça no assoalho bem polido. A secretária largou o braço de Lily e pulou para trás, ansiosa por proteger seus sapatos finos de algum dano. O pessoal sentado à volta da mesa se assustou, inclinando-se para trás, como se aquilo fosse contagioso. Somente o homem que se dizia James se moveu. Cuspindo fogo, deu a volta pela mesa indo em direção a ela.

— Sinto muito — Lily suspirou, apesar de se sentir mais mortificada pela vergonha do que culpada.

Ela teria se levantado, girado e fugido... Ou cambaleado como era o caso... Mas por falta de sorte, uma nova contra ção começara. Ela se desviou dele, na esperança de alcan çar o sofá da recepção para esperar pelo pior. Mal conse guiu dar um passo agarrando-se à porta e escorando-se nela. Usando a outra mão para segurar a barriga, ela lutava contra o desejo de se lamentar. Nada estava saindo como planejado. Nada saíra como planejado há muito tempo.

— Britney, chame uma ambulância — gritou o homem. Para Lily, disse:

— Acho que você está em trabalho de parto.

Trabalho de parto? Ela estava sendo virada ao avesso.

Nenhum dos livros que ela lera, nenhuma das aulas que participou haviam-na preparado para esse tipo de dor. Mas ela concordou com a cabeça, temendo que qualquer tentativa de falar a fizesse não só se lamentar, mas dar um grito desesperado. Meu Deus, como doía.

Precisava sentar-se. Precisava de medicamentos sobre os quais aprendera nas aulas de gestante. Precisava da mãe dela. Somente uma dessas coisas seria uma opção agora, mas antes que Lily se esparramasse no chão, foi erguida por um par de braços poderosos e carregada para uma sala através de uma porta depois da sala de reunião.

Ele a depositou no sofá de couro e voltou momentos de pois com o que parecia ser uma capa de chuva e um copo com água. Arrumou a capa no braço do sofá por trás da cabeça dela e lhe ofereceu o copo. Lily não queria be ber água. Naquelas condições, duvidava que pudesse engo lir alguma coisa, mas obedeceu e pegou o copo, fingindo beber alguma coisa. Seu comportamento rígido lhe dizia que ele era o tipo de homem que não gostava de ser desa fiado. E se por um lado, ela geralmente não se deixava inti midar, por outro lado, não estava em condições de colocá-lo em seu devido lugar.

— A ambulância chegará a qualquer momento — anunciou a secretária, olhando através da porta semicerrada.

— Não há necessidade de ambulância — Lily prin cipiou.

Sem falar que o serviço seria muito caro para alguém que acabara de perder o plano de saúde junto com o empre go de professora há uma semana, ao fim do ano letivo. Com a economia do jeito que estava, o município não dispunha de verbas para atividades extras como música.

A pior das contrações havia cedido, e então ela jogou as pernas por cima da borda do sofá e plantou os pés no chão. Ia embora agora, saindo de forma tão graciosa quanto lhe permitisse sua condição. Seu carro estava estacionado na rampa adjacente ao prédio e conseguiria chegar ao Hospital Northwestern Memorial de Chicago em menos de vinte mi nutos, contando com a cooperação de seu pequeno carro complicado e dos sinais de trânsito.

O que a impediu não foi o homem enorme, apesar de ele ter dado um passo em sua direção, mas o retrato emol durado na parede bem à direita da porta. Nele dois ho mens abraçados, um moreno e sisudo, o outro mais claro e menos sério. Lily piscou os olhos. Conhecia aque les olhos sorridentes, aqueles cabelos castanhos desa linhados e a expressão despreocupada. Durante momen tos doces e inocentes, este era o homem com quem passara sete dias adoráveis e despreocupados, para ela, em Aruba.

James.

Ela deve ter dito o nome em voz alta porque ao olhar de relance, percebeu que o homem também fitava a fotogra fia, com a boca contraída de maneira tal que não se podia dizer onde terminava o lábio inferior superior e começava o inferior.

— Você o conhece mesmo — acusou ela, apontando para a fotografia. — Você realmente conhece James Potter.

Eu sou James Potter — declarou ele pela segunda vez. — Aquele é Dillon, meu irmão mais novo.

Dillon... Irmão...

Registrava as palavras devagar, atravessando uma nuvem de desconfiança. Apesar de uma parte dela querer contestar, a prova — de dois metros de altura — estava literal mente a frente dela, braços cruzados, com uma expressão ameaçadora e intratável.

James... ou melhor, Dillon — o homem que engravidara Lily, não lhe dissera seu nome verdadeiro. Esse não era exatamente o tipo de revelação que uma mulher prestes a dar a luz precisava ouvir. Isto fez com que Lily imagi nasse o que mais ele havia mentido. Que outras verdades ele ocultara com seus charmosos beijos e modos impecá veis e sedutores como seu sorriso.

Com excelente voz de professora, ela exigiu:

— Quero ver aquele homem. — E por medida de segu rança, acrescentou: — E não se atreva a me dizer que pre ciso marcar uma hora. Como você pode ver, não estou em condições de esperar uma hora, muito menos uma ou duas semanas.

— Isto não é possível — o verdadeiro James teve a au dácia de dizer.

Ela abriu a boca, com a intenção de devolver uma res posta desaforada. Entretanto, antes que ela pudesse dizer algo, ele anunciou:

— Dillon está morto.

A raiva dela desapareceu, evaporando-se como água em asfalto quente. O espanto tomou seu lugar — espanto e uma dúzia de outras emoções que tomaram conta dela numa mistura estonteante. Como suas pernas ameaçaram não sustentá-la, voltou para o sofá, afundando nas almofadas.

— Ele está morto?

James balançou a cabeça concordando.

— Mas como? Quando?

Ela fez as perguntas, mesmo sabendo que não importavam mais as respostas. Que diferença faria? Ela não só estava a ponto de tornar-se mãe solteira, como também seu bebê ja mais conheceria o pai. Ela controlou uma nova onda de náu sea. O fato é que ela não havia conhecido o pai de seu bebê.

— Seis meses atrás. Um acidente de esqui em Vail, Co lorado. — As palavras saíam entrecortadas, tomadas de tristeza. Ou seria alguma outra emoção surgindo naqueles olhos negros?

— Eu... eu não sabia.

— Nem eu. — Ele deu uma olhada significativa para sua barriga. — Onde você e Dillon se conheceram?

— Aruba. Outubro passado.

Ela tinha ido sozinha, utilizando as passagens que com prara para seus pais pelos trinta anos de casamento. Nunca haviam tido uma lua de mel. Lily quis lhes dar uma viagem surpresa. Antes que pudesse, no entanto, eles mor reram em casa num acidente lastimável com monóxido de carbono. Apesar de não ser do tipo que se desculpa pelo seu comportamento, sua tristeza lhe ajudou a explicar porque alguém que tivesse a cabeça no lugar como normalmente tinha, havia cedido logo às investidas falsas de James. Es tava perdida, solitária. Ele fora charmoso e uma distração para a dura realidade.

— E você... passou algum tempo com meu irmão?

James levantou uma sobrancelha em desaprovação ao fitar sua barriga uma vez mais.

— Sim.

Se ela visivelmente havia se sentido constrangida an tes, agora se sentia duas vezes mais embaraçada. Levantou-se, pretendendo sair desta vez, apesar de não ter ideia de onde iria para além do hospital. Estava mudan do de emprego, mudando de casa, sem família numa ci dade estranha.

Uma dupla de enfermeiros de emergência médica che gou antes que Lily pudesse alcançar a porta. Eles carre gavam bolsas pretas e empurravam uma maca. Ela levantou uma mão.

— Ah, isto não é realmente necessário. Posso chegar ao hospital sozinha. Minhas contrações não estão tão repetidas assim.

Ao dizer isto começou outra contração. Quantos minu tos se passaram desde a última? Ela não se atreveu a dar uma olhada no relógio neste momento.

— É necessário — James objetou. — Supondo o que você diz como verdade, esta criança é um Potter.

— Supondo...

Ela cerrou os dentes, não por causa da contração. Ela teria batido em retirada, mas um dos enfermeiros, de rosto amável, cabelos embaraçados e bigode volumoso colocou a mão no seu braço.

— Vamos primeiro examiná-la, está bem? — Não gosta ríamos que você tivesse este bebê presa no trânsito na ave nida Michigan.

Ele a fez lembrar seu pai, única razão pela qual ela o deixou conduzi-la de volta ao sofá.

Uma vez sentada, ele se ajoelhou na frente dela e pegou um aparelho para medir a pressão na sua bolsa. Enquanto deixava que lhe medissem a pressão, deu uma olhada para James, que lhe devolveu o olhar de cara fechada. Ela estava se acostumando a ver aquela expressão. Só lhe restava ima ginar o que ele estava pensando.

Maldito Dillon, Maldito por fazer isso. E maldito por es tar morto!

James gostaria de estrangular seu irmão menor, prendê-lo numa gravata como fazia quando eles eram garotos e colocar algum juízo dentro dele.

Só que não podia.

Sabia que reabriria uma ferida que mal começara a cica trizar. Por que Dillon tinha que morrer?

James ainda não podia se convencer do fato de que Dill se fora, enterrado no jazigo da família no Memorial Jardim Winchester ao lado de seus avós paternos e uma bisavó solteirona. Como era possível que uma pessoa vibrante e cheia de vida pudesse morrer? Metade do tempo James gosta ria de acreditar que seu irmão caçula estava simplesmente fora numa outra de suas irresponsáveis jornadas, debitando suas despesas na conta de James.

Ele vinha fazendo isto regularmente depois de ter gasto todo seu dinheiro aos vinte e tantos anos. Vail fora sua últi ma excursão extravagante. James ficou furioso quando sua companhia de cartão de crédito ligou para confirmar as despesas. Só as melhores acomodações e restaurantes para seu irmão caçula. Ele havia ligado para Dill num luxuoso hotel em que estava hospedado numa suíte que estava cus tando a James alguns milhares de dólares à noite, e tinha deixado para ele uma mensagem grosseira

— Você já cresceu! — gritou no aparelho. — Você tem trinta anos, pelo amor de Deus. Tem uma posição na empresa, se quiser aparecer para trabalhar. Precisa começar a ganhar o seu próprio dinheiro e parar de se aproveitar de mim. Se fizer isso de novo, Dill, juro que chamo a polícia.

Claro que não teria chamado. Mas estava furioso. Agora, sentada em sua sala parecendo assustada e adorável ao res ponder às perguntas do enfermeiro e se encolhendo toda com uma nova contração, estava um bom exemplo das lou curas do seu irmão caçula.

Como de costume, dependia dele resolver os problemas. Havia feito isso a vida toda de Dill.

Pelo jeito, isto se aplicava postumamente, também.

Ele esfregou uma mão sobre os olhos. Esta confusão ia ser pior que as outras, supondo que Lily não estava mentindo sobre a paternidade do bebê. Esta era uma possi bilidade, levando-se em conta a fortuna da família Potter. Ela provavelmente pensou que podia ganhar alguma coisa com isso. Levando em conta a situação financeira de seu irmão, ela estava prestes a ter um amargo despertar. Infelizmente, determinar a verdade não era tão simples quanto requisitar um exame de DNA. Não porque o pai já estivesse morto. O DNA de James poderia ser usado para confirmar a ligação biológica entre o bebê e os Potter. Isto era precisamente o que fazia com que ele hesitasse. Ele não estava com nenhuma pressa de passar por isso... nova mente. Ele tinha que dizer que Lily Evans não era o tipo usual de Dill. Seu irmão sempre procurava mulheres deslumbrantes — loiras devastadoras, morenas peitudas e atrevidas que achavam que para ficarem atualizadas com os assuntos atuais bastava passar os olhos no jornal de fofocas enquanto faziam os penteados. Uma das namoradas que Dill trouxera para jantar com a família no ano anterior realmente achava que Áustria era a abreviação de Austrá lia. Lily parecia ser inteligente e letrada, a julgar por suas mensagens telefônicas e cartas. Ela estava usando rou pa conservadoras, para não dizer horrendas e, apesar de avançada gravidez, não parecia ter as formas de uma mode lo da Playboy.

Então, o que Dill viu naquela mulher? James não preci sava imaginar o que Lily tinha visto em Dill. Seu irmão sempre foi bonito, charmoso e excepcionalmente pródigo com dinheiro, o que ele podia ser já que o dinheiro na ver dade era de James. Caçadora de dote.

Era um termo antiquado, mas James conhecera exem plos suficientes desse tipo de mulheres ao longo dos anos para saber que ainda se aplicava. Os astros de rock não eram os únicos a ter fãs. Os corretores poderosos também as atraíam, apesar de elas serem mais refinadas e tenderem a procurar uma aliança e um cartão de crédito da Bergdorf. Sua ex-esposa veio a sua mente. Ela se casara novamente com um magnata do petróleo do Texas cuja fortuna fez com que a dos Potter parecesse insignificante na comparação. E ela deu ao magnata um filho, um filho que, por um breve momento, ela deixou James acreditar que era dele. O es cândalo foi o assunto de Chicago por meses depois de a notícia ter sido revelada. O resultado do exame de DNA vazou para a imprensa — mesmo antes de James tê-lo vis to. Os fofoqueiros tiveram seu dia de glória e o teriam no vamente se eles tomassem conhecimento desse assunto.

O gemido de Lily o tirou de suas amargas reflexões. Seus lábios se abriram e ela começou a ofegar. Seus olhos estavam fechados bem apertados, seu rosto torcido e cheios de gotas de suor. Parecia incrivelmente jovem e amedron tada, especialmente quando ela murmurou pausadamente:

— Acho... acho que não vou conseguir... fazer isso.

James não gostava de fraqueza. Nos negócios, ele consi derava isto uma falha na personalidade. Estranhamente, sua vulnerabilidade o tocou. Fez com que ele quisesse aproximar-se dela, segurar sua mão, acariciar-lhe o rosto e oferecer-lhe confiança. Todas as reações absurdas. Ao invés disso, cruzou os braços sobre o peito e inclinou-se de en contro à sua mesa.

— Claro que consegue. Você vai ficar bem — disse-lhe o enfermeiro. — Deite-se no sofá agora. Só vou checar para ver com quantos centímetros de dilatação você já está.

Isso fez com que James se levantasse. Não era nenhum especialista em parto, mas já tinha ouvido este termo antes e sabia o que significava. Ao se encaminhar para a porta, falou:

— Estarei aqui fora.

Na área da recepção, ele andava fora das suas caracterís ticas. Estava acostumado a tomar o controle em qualquer situação e então agir. Neste momento, não tinha certeza do que fazer. Deveria chamar seus pais, que estavam de férias no exterior e lhes dizer... O quê? O que exatamente ele po deria dizer? Parabéns, vocês vão ser avós.

A morte de Dill fora muito difícil para Julia e Hugh Potter aceitarem. A morte de um filho, não importa a idade, era injusta. Zombava da ordem natural das coisas. Os pais não deveriam enterrar sua prole.

James imaginou sua mãe ao ouvir sobre o bebê de Lily. Ela ficaria animada e chorosa por recuperar um peda ço precioso de seu filho mais novo. Sem dúvida, ela co briria a criança de todo conforto e comodidade. E por tabela, também a Lily. Ela fizera o mesmo com sua ex-mulher e o bebê que lhe fora impingido como seu pri meiro neto. Meses antes da data de nascimento sua mãe já havia transformado um dos seus quartos de hóspede num berçário. Em seguida, proporcionara à nora um verdadei ro banho de loja, comprando todos os itens da lista de chá de bebê.

Ela esteve no hospital para o nascimento, chorando as lágrimas de felicidade que todas as mulheres choram em ocasiões como esta. E, 18 meses depois, quando ficaram sabendo que Caden Alexander Potter não era de fato um Potter, derramou mais lágrimas, quase tão arrasada quanto James. Ele cerrou os punhos. Até que apurasse com certeza se esta jovem não estava aprontando uma farsa, ti nha que protegê-los. Isso significava esconder a notícia de Lily não só dos seus pais, mas também da imprensa.

— Britney — disse ao aproximar-se da mesa dela. — Nenhuma palavra sobre isto pode sair deste prédio. Se al guém na sala de conferência tiver alguma pergunta sobre quem é esta jovem ou por que ela veio aqui me procurar hoje, você manda falar comigo. Entendeu?

— Claro, Sr. Potter. O senhor sabe que pode contar comigo... para qualquer coisa. — O sorriso dela foi um pouco pessoal demais para o gosto dele, mas ele o ignorou. Em todos os outros aspectos, Britney era uma funcionária efi ciente e leal. A aparente queda que ela tinha por ele passaria com o tempo, especialmente se ele não fizesse nada para encorajá-la.

Quando ele se voltou, os enfermeiros estavam empur rando Lily na maca para fora da sala. A cabeça dela es tava alta. Seu rosto, tão branco como um lençol.

— Você vem conosco? — perguntou o enfermeiro mais velho. — Temos espaço na ambulância se quiser acompa nhar sua mulher até o hospital.

Mulher? Ele ouviu Britney ofegar e rangeu os dentes. Outro boato a ser desfeito.

— Ela não é minha esposa — retrucou, enquanto lhe voltava a antiga amargura. Ele olhou para o dedo anelar, recordando a aliança de ouro que havia usado. Para ele, fora um símbolo do seu amor e fidelidade. Só quando Ca mila pediu o divórcio, ele percebeu que nenhum dos dois sentimentos fora recíproco.

Seja lá o que o enfermeiro tenha pensado a respeito da brusca negação, ele se protegeu muito bem.

— Talvez você pudesse dar uns telefonemas para ela, então. Seria bom que tivesse alguém a apoiando na hora do parto, mesmo que, pelo que parece, não vá durar muito tempo.

James balançou a cabeça e olhou para Lily. Em tom mais gentil, perguntou:

— Para quem devo ligar?

Os olhos dela permaneceram fechados e apesar de ela não estar mais ofegante, sua voz sussurrou uma resposta:

— Ninguém.

— E sua família, seus pais? Dê-me o número deles e farei com que Britney os localize. Eles vão querer saber.

A umidade aflorou nos cantos dos seus olhos fechados. Escorreu-lhe pelas têmporas agora, misturando-se a seus ca belos úmidos de suor. Fraqueza, pensou ele, mais uma vez atraído por sua vulnerabilidade. Antes de se dar conta do que estava fazendo, aproximou-se e secou-lhe as lágrimas.

Os olhos dela se abriram ao contato. Eram verdes, ele percebeu. Verde intenso e vivido. Como preciosas esmeral das gêmeas. Ele puxou sua mão de volta e pigarreou.

— O número de telefone de seus pais?

— Eles se foram.

— Onde podemos encontrá-los? — indagou.

— Não é possível.

James experimentou uma dor incomum no peito quando Lily sussurrou abatida:

— Não tenho ninguém. Ninguém mesmo.