"Muitas vezes nossa maneira de justificar um erro agrava o erro." William Shakespeare.

Você acorda ás 08 da manhã com o seu celular tocando, 03 chamadas perdidas, agora 04, você coloca os oculos e vê do que se trata, aquele número, você suspira, você fecha os olhos você sabe do que se trata, você atende a nova ligação, um suicida no hotel Primer Rose, você bufa e diz que já está chegando, você calça os tênis e coloca a calça jeans, você tira sua blusa dos ursinhos carinhosos e coloca a velha de estampa xadrez, você vê o sol lá fora, você sabe que está frio apesar daquela bolinha amarela radiante na sua janela, você coloca seu sobretudo preto, você pega sua bolsa e certifica-se que o maço de cigarros está lá. Você pega um táxi correndo. Você não tem tempo nem para tomar um café e se recuperar da noite de insônia.

Os passos nem tão rápidos ao descer as escadas, as mãos o bolso do sobretudo para protejer as maos do frio que já virou rotina, você dá sinal para algum táxi parar, e depois de alguns minutos, finalmente um vazio.

Toca let it be no som do taxista espanhol, eu mando ele ir mais depressa, ele me diz que não pode, eu lhe mostro meu distintivo e digo que é caso de vida ou morte, ele acelera, qualquer multa, eu lhe disse, mandem me ligar, lhe dei meu cartão.

Como eu cheguei até aqui? Faço essas perguntas todos os dias. Não era esse o plano, mas quantas vezes meus planos foram drasticamente mudados, sempre aconteçia o inesperado, e era o inesperado que me machucava. O plano era encotrar o principe encantado, eu encotrei o sapo, eu o beijei, ele continuou um sapo, eu o quis, eu o amei, eu acreditei, ele partiu, partiu pra longe, partiu meu coração em dois, que surpresa de decepção! O plano era seguir em frente, não conseguia, cada passo, mais problemas, cada passo mais dor, familia, amigos — Que amigos? Eu era a esquisita da escola, esquisitas não tem amigos, tem pessoas que tem pena dela, no caso meu primo, mas não era uma amizade saudável, as vezes ele sentava comigo na hora do lanche; a dor não estava nos planos.

O plano era morrer, pilúlas, seringas, drogas, laminas, eu tinha tudo planejado, enfiei tantas pilulas guela abaixo, me deliciei com drogas a noite toda, e os pulsos, ah, eu sabia direitinho onde cortar, corte na vertical, a veia se estoura e tu morre por perda de sangue, mas a morte fugia da esquisita quatro olhos, continuei viva, fora dos planos. O plano era me tornar médica e salvar a vida das pessoas, eu me tornei isso, salvando a vida as pessoas, de um jeito diferente e morbido, as vezes conseguia, as vezes elas pulavam, as vezes elas nao abriam a porta pra mim, as vezes era... tarde demais.

O taxista disse que chegamos, eu o paguei, eu desci do táxi, eu olhei em volta, pessoas, policiais, um colchao enorme aonde, suponho, o suicida se jogue e não se machuque. Como nos filmes, tu acha que o cara foi empurrado do prédio e se espatifou no chão, mas ele se espatifou num daqueles colchoes amarelos do corpo de bombeiros, tudo tirado com photoshop depois. Mais um suspiro. Entro pela porta principal do hotel, logo sendo guiadas por um policial, me dando as informaçoes necessárias:

— Já indetificamos ele atraves das digitais. O nome é Sasuke Uchiha , 25 anos, trabalha em um café aqui perto, pagou a diária de um quarto de hotel. 15° andar, está á meia hora ali, prestes á se matar.

Dou um sorriso barato, e vou correndo até o elevador e apertando o número 15, os dedos coçavam para apertar todos aqueles númerozinhos que se encotravam no elevador. Eu sei que tu já fez isso quando criança, mas eu não, eu era certinha demais, até hoje era, criada por um Hyuuga tendo Hyuuga como sobrenome, fútilidade, um sobrenome não diz nada, ou pelo menos eu achava que não dizia. Mas o que eu achava não tinha importância.

Eu não fazia as regras, e a sociedade nunca é justa.

Sempre fui uma garota muito equilibrada, um pouco cheia de defeitos, um pouco sozinha, talvez até demais para uma mulher, não mais uma garota; já estava com meus 24 anos, nunca tive nenhum relaçionamento sério desde minha adolescencia. Não que eu não quizesse, não que eu não me interesasse por outros rapazes, mas eu simplesmente não conseguia. Então, aos poucos, me acostumei com a ideia que talvez fosse morrer sozinha.

Você se conforma depois de um tempo.

Você se conforma com a vida que você leva, que sempre levou; no fim sempre fui sozinha, desde pequenina, minha mãe morreu cedo, logo apos de ter minha irmã, meu pai, bem, ele nunca gostou muito de mim, Neji, meu primo e talvez minha única fonte de alegria, beh, desde sempre, me confessou que o ódio que meu pai sentia por mim, era apenas o coração ferido que sentia saudades da minha mãe, já que eu, sempre fui quase uma réplica dela; minha irmã, por vez, é a réplica do meu pai, não apenas fisicamente, mas por dentro, é um ser hipocrita que nunca mereçeu meu respeito.

.15.

Décimo quinto andar, e eu não precisava saber qual o número do quarto que aconteçia o tal suicidio, era logico; dei bom dia aos policiais na porta e entrei no quarto, com alguns outros policiais, onde, o detetive Shikamaru, me esperava, com dois copos de isopor starbucks na mão e sombracelhas arqueadas mostrando indiferença para o rapaz — o qual eu via apenas os tênis esportivos — em cima do parapeito. Nenhuma novidade.

— Já sabe o que precisa? — Ele perguntou.

E eu lhe disse, sim, também com indiferença mas pronta para fazer o que me era possivel, lhe roubei um dos copos da mão e dei um gole no café amargo.

Me aproximei da janela e o vento forte atingiu-me em cheio, eu o vi, um rapaz tão jovem, moreno, branco, pálido, pareçia que nunca pegava sol, estava com o rosto desesperado, os olhos fechados. Eu pretendia abrir aqueles olhos, eu queria ver a cor daqueles olhos, eu queria ler aqueles olhos — o legal de trabalhar com pessoas é isso, tu aprende a ler os olhos dela, é lá, nos olhos, que tu encotra o que realmente a pessoa pensa, o que a pessoa é.

— Eu já tentei me matar várias vezes. — comecei, me deitando sobre o parapeito da janela, abrindo os olhos dele, eu sei, mais ainda olhando para o horizonte — Todas as noites, antes de dormir, eu pego uma das minhas laminas na caixinha debaixo da cama, tem várias lá, pra caso de desespero, eu me tranco no banheiro e começo a fazer cortes debaixo do chuveiro, verticais, horizontais, fundos, curtos, grandes. Não tem um dia sequer que eu não pense em machucar a mim mesma. Sento todos os dias no telhado da minha casa e fico calculando quantos ossos posso quebrar se me jogar dali. Desde os meus 05 anos de idade eu passei á ter ódio de todos os humanos, em geral. Desde os 07 eu passei á ter ódio de Deus. Desde os 15 eu passei á ter ódio de mim.

— O que pretende com esse discurso barato? — a voz dele por mais suave que fosse, anotei, estava desesperada, ele não tinha certeza do que estava fazendo ali, ele não queria se matar, confirmei isso ao olhar no fundo daqueles pequenos ônix, se eu fosse ele estaria em algum bar bebendo ao inves daquele teatro ensaiado nos filmes dramáticos.

— Saber porque você quer se jogar, quebrar todos seus ossinhos e sei lá, ir pro inferno, você sabe Deus não aceita suicidas nem Homessexuais.

— Acredita nisso?

— É o que a tevê diz, meu caro.

— Então minha cara. Já que é uma suicida, porque escolheu salvar os mesmos?

— Um trabalho morbido não acha?

— Quero entende-lo.

— Me leve pra jantar. — Voltei á encarar o nada e logo após pude ouvir o suspiro cansado do rapaz, como era mesmo o nome dele?

— Eu afasto tudo que é bom de perto de mim.

— Bem vindo ao clube — Eu lhe estendi a mão, depois de alguns segundos, olhando-a e estudando-a, ele segurou também.

— Você tem olhos de morta.

— Agradeço por isso?

— Me explique.

— Me leve pra jantar.

— Você é insistente.

— Desespero.

— Bem vindo ao clube.

— Você tinha uma mulher — Falei, consultando o bip que acabara de vibrar no meu bolso com mais algumas informaçoes extras.

— A perdi.

— Lamento por isso?

— Não seja hipocrita.

— Me leve pra tomar um café então — Eu falei enquanto me debruçava mais ainda pela janela e encarava o caos que estava lá embaixo, pessoas curiosas, reportéres, equipes de televisão e jornal, puff — Você tem uma bela plateia, vai decepciona-los?

— O que eles querem?

— Sabe porque eu odeio os humanos? — Eu fiz uma pausa de alguns segundos para acender um cigarro — Eles nunca desejam o bem para as pessoas, no fundo são filhos da puta que não se importam com ninguém. Querem que você se jogue, que você se espatife no chão, querem você morto, ensanguentado. Quando o show acabar eles vão sorrir e levar o dia-a-dia deles sem nenhum peso na consciência.

— Já morreram muitos na sua frente?

— Não podemos salvar todos.

— Sou Uchiha Sasuke.

— Sou Hyuuga Hinata.

— Me salve.

— Me dê tua mão. — E segurei sua mão mais forte enquanto o puxava para dentro, consequentemente, o derrubando em cima de mim.

Posso confessar uma coisa?

Eu gostei do peso dele por cima de mim.

Mesmo que tenha sido por poucos, pouquissimos segundos.


Se não gostaram, podem dizer u_u aceito, aceito. Não é muito boa, mas tenho ela quase-terminada aqui, e to de bom humor e tal, fiz minha tattoo essa semana, e gente, nem doeu u_u mas como to passando o sabádo em casa, triste, fail, resolvi postar, lol.