Tudo do G. R. R. Martin.
(Spoilers só do primeiro livro)
Menina Mulher
X
De todas as mulheres que ele vira na vida, Sansa Stark de algum modo era diferente.
Em todos os olhares direcionados ao seu rosto, desfigurado, o que ele via era asco. Ele via orgulho também e desprezo. E com o tempo ele aprendera a se defender desses olhares. Montou barreiras poderosas que impediriam que aqueles olhares o afetassem.
Os modos rudes, a expressão feroz em seu rosto, o ódio em seu olhar e a alcunha de "Cão de Caça" garantiam a ele uma vida sem problemas, reflexos de sua mente trabalhando para ser forte, para ser imperturbável. Nada além dos problemas de um cão de caça cujo senhor sabia ser caprichoso.
E então aquela garotinha o desarmara.
Tinha uma altivez comum a muitas mulheres em seu olhar, filha do norte como era. Mas tinha toda aquela maldita honra Stark e um ar de curiosidade e inocência comum a muitas crianças travessas. Tinha modos polidos, olhar dotado de simpatia e compaixão, embora ainda tivesse no olhar algo que todas as outras mulheres possuíam - algo entre desprezo e pena e surpresa por sua deformidade. E ele a odiou por isso.
Por vezes sentiu-se indefeso, queria que suas defesas pudessem voltar a ser como antes, queria que ela parasse com a maldita simpatia, com a infernal pena, mas nunca fora capaz de se manter completamente furioso com o jeito inocente que ela possuía. E mesmo que muitas vezes ela se mostrasse mesquinha como a irmão a vista de todos, por mais que não passasse de uma estúpida sonhadora - algo que ele particularmente desprezava - quando o assunto era o Príncipe Joffrey, ela ainda o confundia.
"Francamente! Uma garota não tem tanto poder!" pensava e sorria desajeitadamente, completamente convencido. Enganado por si mesmo.
E suas barreiras estavam - fragilmente - erguidas de novo. Somente até vê-la novamente, com aqueles olhos claros já sem qualquer simpatia, sem qualquer pena, sem qualquer compaixão ou altivez, apenas dor. Dor e medo.
Porque seu pai estava morto, sua mãe não estava ali e o príncipe - agora Rei dos Sete Reinos - se mostrara como um verdadeiro pequeno crápula. Estava sozinha, frágil passarinho jogado do ninho de forma abrupta e cruel.
Ele sabia todas as implicações daquela situação e teve receio quando não encontrou mais a mesma vida naqueles olhos que ele tanto desprezara outrora.
"Viva, passarinho. Viva e cresça." Pensava enquanto limpava com uma gentileza inesperada, desajeitada, o sangue que lhe escorria do ferimento em seu lábio. "Viva ou morra..."
- Obrigada - Ela disse com um sorriso fraco, com uma voz quase sussurrada, com um brilho triste nos olhos.
Em seguida ela dirigiu-se para o quarto, já que sua presença não mais era necessária para o então Rei, sendo escoltada por Sandor. Os dois envolvidos por um silêncio sepulcral, sem qualquer comentário a ser feito.
Quando a porta do quarto dela fechou-se, após a tímida mesura que ela fizera em cumprimento a ele, Cão de caça pode ouvir um soluço escapar-lhe dos lábios, talvez um último soluço em memória de seu pai.
- Viva, passarinho. Viva e cresça. - Sussurrou baixinho, certo de que ninguém o ouviria. Sentia-se um pouco patético, desconfortável, mas fizera-o. - E voe... Só não voe para longe de mim.
Um dia ela teria que crescer.
(uma menina-mulher invariavelmente vai crescer)
E quando esse dia chegasse, ele sabia, não queria vê-la partir.
N/A.: Então, babies. Eis que o dia em que eu publico uma Sansan chegou (oh, não diga). Eu nem queria publicá-la agora, mas achei que eu não iria guardá-la em um baú para sempre, então ei-la aqui.
Reviews de todo tipo são aceitas - talvez exceto se as ofensas por conta da escolha do casal forem excessivas, but...
É isso, até muito breve (ou não).
