Cap.1 - Estranha.
Sentada numa sala de aula estrangeira – de uma língua que dominava pouco – ela se contentava em copiar minuciosamente todos os sinais que os professores colocavam no quadro, para traduzir ao chegar ao abrigo.
Sua colega de quarto não lhe prestava muita atenção. Nem ficou surpresa quando viu que as coisas da novata tomaram maior parte do lugar.
-Você é muito apegada às suas coisas.
-É, eu sei. – disse ela em resposta, com o pouco japonês que falava. Foi a única vez em que ouviu a voz da menina. Nem ao menos sabia seu nome. Do nada surgiu uma garota altiva com cabelos da mesma cor dos seus, porém mais longos. Falava muito depressa, mal dava para acompanhar.
-Hajimemashite! Watashi no namae wa Sohryu Asuka desu. Anata no namae wa nan desu ka?
-... nani? ("o quê?") Será que você pode... repetir... mais devagar?
A garota suspirou.
-Ah... novata... eu disse "muito prazer! Meu nome é Asuka Sohryu. Qual é o seu nome?"
Ela sorriu. Asuka parecia ter um gênio difícil.
-Entendi. Meu nome é Sabrina... eu... eu sou do... Canadá. Não sou muito fluente na língua daqui.
Asuka sentou-se ao seu lado e disse com toda a calma:
-É estranho que tenham convocado uma canadense com pouco domínio do japonês para ser piloto. Não acha, Cohen?
Sabrina acabou por espantar-se. Não entendeu muito do que ela disse, mas entendeu menos ainda quanto ela disse seu sobrenome.
-Como sabe o meu nome?
A ruiva fez pose.
-Li na lista dos convocados. Tem mais um canadense na lista... parece que o nome é...
-ESPERA; Por que perguntou meu nome se sabia?
Asuka riu com desdém.
-Porque você é a novata.
Sabrina continuou a copiar os símbolos da aula de matemática. Agora pensando NO QUE era novata. Não sabia ao certo o que era, mas era uma organização chamada... NERV? É, era isso. Tinha sido convocada para pilotar um robô gigante – e na mesma hora que soube, foi para o Japão. E naquela tarde ela ia conhecer o lugar. Enquanto tentava entender o que o Sr. Mokashi dizia, ouviu claramente a pergunta dirigida a um garoto de cabelos castanhos e olhos azuis:
-Ikari... quando utilizamos a fórmula do seno do ângulo?
Sabrina sabia. Ikari, o garoto, respondeu errado. Logo o professor se dirigiu a ela. Como mandava a cultura japonesa, levantou-se (Asuka deu-lhe um beliscão nos quadris), nervosa. Quando foi responder, falou certo.
-Quando queremos descobrir o cateto oposto ao ângulo.
Sentou-se, sentindo-se realizada; mas todos a olhavam com estranheza. Ela tinha falado tudo em inglês, devido ao nervosismo. Levou as mãos à boca e disse em bom japonês:
-Go... gomen asai... eu não consegui me lembrar.
O professor simplesmente disse:
-Estude.
Humilhada, abaixou a cabeça. Asuka soltou um risinho, a garota que dividia o quarto com ela voltou a fitar a janela. Ikari, o garoto dos olhos azuis, ainda a fitava. Quando a aula acabou, ela juntou suas coisas e saiu da sala de cabeça baixa.
-Ei... Sabrina, espere!
Uma garota de cabelos castanhos presos em marias-chiquinhas a chamava.
-Como sabe meu nome? Também leu na lista dos convocados?
Uma lágrima saía de seu olho esquerdo.
-Não, li na lista de chamada. Sabrina, não chore... eu posso ensinar japonês para você... eu sei falar inglês.
-Você faria isso?
A menina sorriu.
-Claro! Ah, meu nome é Hikari Horaki; sou a representante.
Sabrina fez uma breve reverência e disse, feliz:
-Hajimemashite!
E ambas saíram da escola aos risos.
Hikari virou numa esquina, despedindo-se da novata. Quando ela sumiu no batente de sua casa, Sabrina viu-se só na rua, num caminho que não conhecia. Não entrou em pânico. Não queria ir para aquele lugar chamado NERV. Ficou ali por um bom tempo, refletindo. Ficou sentada por algumas horas, até que Ikari passou por ela e a viu, desanimada.
-O que foi, Sabrina?
-Me perdi.
-Vem comigo, vamos para a central.
Ela se calou, e nem se moveu. Ikari estendeu a mão.
-Meu nome é Shinji Ikari. Vem, Cohen. Eu te mostro o caminho.
Aceitou, segurou a mão dele – e ele a apertou.
-Obrigada, Ikari. Mas me chame de Sá.
E foram andando juntos, tentando conversar. O pouco conhecimento do japonês atrapalha na comunicação – mas a compreensão é pela amizade.
