Gauche

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Ele talvez fosse muito jovem para entender o que significava, exatamente, ter um propósito na vida, mas o certo é que tinha um. E, no auge de seus sete anos de idade, Remus sabia apenas que aquela coisa que ele tanto queria, provavelmente, não seria possível ter.

Remus queria se sentir normal mais uma vez. Nunca havia dado tanta importância a isso antes, quando brincava no jardim com o pai ou quando lia algum livro cheio de figuras coloridas com a mãe. Ou quando pensava em como seria bom ter um irmão.

Mas crescer significava, entre outras coisas, começar a entender melhor o que acontece à sua volta. Remus entendia que não tinha um irmão porque ele próprio já dava trabalho e preocupação demais. Entendia que moravam longe da cidade porque suas transformações chamariam atenção. Entendia que tinha que ser trancado no porão reforçado porque era perigoso.

Dentro da vontade de se sentir normal, cabia também a de não querer entender mais nada. Já era o suficiente.

- Ele chorou?

- Não dessa vez.

Por algum tempo, ele tentou atingir aquele objetivo. Encontrou forças em algum lugar desconhecido, e então finalmente pôde dizer que sim, iria conseguir.

O momento chegou quando foi para Hogwarts, e imaginou que tudo estava tão ruim que seus pais preferiam se livrar dele. E então viu aqueles três garotos no dormitório, e riu, e chorou, e mentiu, mas tudo ainda parecia tão certo.

Tão certo quanto os cabelos despenteados de James, quanto a gravata torta de Sirius e quanto o próprio Peter, desajeitado na suas tentativas de também fazer parte daquele caos ordenado.

E talvez fosse por acima de tudo eles eram uma família. Não a primeira ou a segunda, mas apenas eram, sem hierarquias. Talvez fosse porque a vida toda Remus havia pensado em se sentir assim, naquele estado que lhe parecia tão natural. Porque, afinal, ser normal parecia ser, pura e simplesmente, estar ali.

- Remus, nós estamos aqui. Como está se sentindo?

- Bem.