INIMIGO INESPERADO DE ATHENA
Por Vane
Esta história integra o "Ciclo Saint Seiya".
"Saint Seiya" é propriedade de Masami Kurumada, Shueisha, Akita Shoten e Toei Animation.
Prólogo - Sondagem
Todos aprisionados naquele mesmo recinto.
Não. Todos não. Metade, talvez. Sim: fazendo as contas, o mais certo era que metade deles tivesse sido aprisionada ali. E os demais? Estariam aprisionados em outro recinto? Ou teriam sido executados pelos inimigos?
Agora não havia meios de se descobrir a resposta. E nem era esta a prioridade naquele momento. Era preciso antes de tudo encontrar um meio de se escapar dali. Mesmo que apenas um deles o conseguisse. Quem haveria de ser o "herói" deles? Pégaso?
Não era possível saber. Pégaso era justamente um dos que não se encontravam ali. E por que haveria de ser justo ele o libertador do grupo? Ele desempenhara um papel importante em diversas batalhas, desde a retomada do Santuário pela verdadeira Athena até a luta contra Hades. Entretanto, boatos davam conta de que o sucesso dele se devia em grande parte a dois fatores: um grupo de amigos leais que se deixavam liderar por ele e, acima de tudo, um mal disfarçado favorecimento por parte de Athena. De quem, aliás, ele havia se tornado namorado, embora não se soubesse em que época exatamente isto ocorrera.
Mas agora, com ou sem Pégaso, todos eles estavam ali, não é? Se ele era tão fantástico assim, por que não conseguira impedir os inimigos de executar seu plano? Afinal de contas, ele também estava presente quando tudo aconteceu.
Athena não devia estar nem um pouco contente com aquela situação. O que se passaria na mente da deusa naquele momento?
"Não consigo acreditar nisso, por mais que eu tente. Como isso foi nos acontecer? E Seiya? Onde ele está? O que será que fizeram a ele? Queria que pelo menos ele estivesse aqui. Confio nele. Sei que com aquela teimosia ele encontraria um meio de nos tirar daqui; não descansaria enquanto não conseguisse arrebentar essas paredes. Ah, Seiya... tanta gente aqui comigo, menos você... por quê? Isso não é justo. Você é quem deveria estar aqui. Juntos, nós dois poderíamos enfrentar tudo."
Estava explicado. Ao menos a parte dos boatos referente à preferência de Athena parecia ser verdadeira. Bem, isso não importava. Afinal, ela era a deusa de todos eles; tinha o direito de fazer o que bem lhe aprouvesse, e nenhuma obrigação para com seus servos. Ademais, a maioria destes era ainda bastante jovem e teria tempo suficiente para provar a Athena que não era apenas com seu namorado que ela podia contar. Isto, é claro, se eles não fossem assassinados antes que tivessem a oportunidade de demonstrar seu valor.
Ali estava um dos amigos e seguidores de Pégaso. Como será que ele se sentia longe de seu líder?
"Tomara que o Ikki esteja bem. Queria tanto saber se ele também foi capturado... Espero que não. Preciso manter as esperanças. Meu irmão deve ter conseguido se salvar. Agora ele deve estar vindo para cá. Ele vai chegar a qualquer momento e vai nos ajudar."
Com que então Athena não era a única ali a contar com um herói particular... Mas havia uma grande diferença entre apegar-se aos laços fraternos, que afinal eram permanentes, e fiar-se numa paixão que bem poderia ser passageira.
Bem próximo a Andrômeda, encontrava-se o simpático Isaac. Seu herói particular, se é que ele tinha algum, presumivelmente seria Camus de Aquário. Será que o ex-marina estava naquele momento aguardando que seu mestre chegasse para salvar a todos?
"Poxa, todo mundo com uma tremenda cara de tacho. Também, não é pra menos. Eu também devo estar com essa cara. Todo mundo se deu mal. Mas o que importa é que a gente se deu mal junto! Os cavaleiros de Athena ficam juntos na alegria e na tristeza, hehehe!"
Bem-humorado como de costume. Nenhuma lamentação.
Lamentações era o que provavelmente se podia esperar de Saga de Gêmeos, a julgar pelo semblante contrito que ele ostentava enquanto fitava a deusa, a qual se encontrava a alguns metros de distância dele.
"Que situação terrível. Athena está aprisionada, e eu? O que fiz por ela? Nada. Fui aprisionado também. Será que algum dia eu conseguirei ser útil a ela? Será que algum dia conseguirei fazer algo que compense os pecados que cometi contra minha própria deusa? Ser inútil, como eu fui desta vez, também é um pecado. Athena, eu me sinto tão indigno!"
Kanon estava ao seu lado e olhava-o de soslaio, parecendo algo enfadado.
"Pela cara que ele está fazendo, aposto que agora está se lamentando por não ter conseguido proteger Athena. Eu podia lembrá-lo de que todos nós falhamos, não apenas ele. Do contrário, só ele estaria aqui. Ah, mas para que vou perder meu tempo? Quem gosta de perder tempo é ele. Se quer se torturar, que faça bom proveito. Enquanto isso, eu vou pensando em coisas melhores. De preferência, um meio de nos livrarmos dessa."
Aquilo não era surpreendente. Ainda que ambos os irmãos agora estivessem comprometidos com o mesmo ideal - servir Athena fielmente -, isto e a aparência física eram das poucas coisas que eles tinham em comum. Todos sabiam que entre os dois cavaleiros de Gêmeos havia mais diferenças do que semelhanças.
Se havia um deles que parecia não ter semelhanças com ninguém, era Shaka de Virgem. O que se passaria na mente de uma pessoa tão diferente das outras?
"Ooommmmmmmmm..."
Bem, isto já era de se esperar. Mas ele não era a única pessoa incomum ali. Jamian, por exemplo, era um dos raríssimos cavaleiros que se utilizavam de animais enquanto agiam. Agora, no entanto, ele estava longe de seus amados corvos.
"Nenhum dos meus amigos está aqui. Nenhum! Espero que não os tenham matado. Mas o que é isso, Jamian? Agora não é hora de se preocupar com seus corvos. Athena está aqui, e está em perigo! Mas... meus corvos também devem estar em perigo. Não, Jamian! Não pense neles agora! Pense em Athena. Concentre-se. Isso. Mas meus corvos... Athena... Sim! Sim, isso mesmo: imagine que Athena está rodeada de corvos. Muitos corvos à direita, à esquerda, pousados sobre seus divinos ombros, braços e mãos, enquanto ela traja sua armadura. Ela está contente, pois os corvos a amam e ela também os ama. Não é uma bela imagem? Pronto, agora eu posso pensar em Athena e nos meus corvos ao mesmo tempo, sem me sentir culpado."
Sim, Jamian havia encontrado um bom meio de ficar em paz com sua consciência. E quanto a Afrodite de Peixes? Ele tinha um passado sem méritos, pois lutara contra a própria deusa mais de uma vez. Estaria sua consciência tão atormentada quanto a de Saga de Gêmeos?
"Que raiva, que raiva, que raiva, que raiva, que raiva! E a culpa é desses malditos cavaleiros de bronze! Se não fossem um bando de fracassados presunçosos, nada disso estaria nos acontecendo agora. O pior é não poder destruir esse lugar e tirar Athena daqui. Eu tenho certeza de que eu dei o melhor de mim. Não sei se esses outros podem dizer o mesmo."
Ao menos ele estava preocupado com Athena, no final das contas. Alguma coisa podia ser dita em favor dele. Mas talvez os demais cavaleiros aprisionados não ficassem muito contentes se soubessem que Afrodite duvidava da dedicação deles. De qualquer modo, esta era apenas a opinião dele. Uma opinião certamente equivocada; logo, ninguém precisava se aborrecer por ela.
Aborrecidas algumas pessoas estavam, porém não por causa do cavaleiro de Peixes, e sim devido à circunstância a que ele aludira em seus pensamentos: a impossibilidade de destruir aquela prisão. Shaina estava particularmente irritada:
"Por que todos estão aí parados? Isto não é um hotel, não viemos aqui para repousar! Deveríamos ter insistido mais. Odeio essa passividade, essa resignação coletiva! Não sabemos como sair daqui? E daí? Alguma coisa temos que fazer! Parados é que não deveríamos estar!"
É, eles não deveriam estar parados. Mas o que mais poderiam fazer, se seus esforços haviam se mostrado infrutíferos? Precisavam pensar. Pensando todos estavam, naturalmente, mas era preciso que ao menos um deles tivesse uma idéia concreta sobre o que fazer.
Felizmente a sabedoria era um dos atributos de Athena. Em algum momento ela haveria de encontrar uma solução, e então ela iria guiá-los rumo à liberdade. Quem sabe? Talvez naquele exato instante ela estivesse elaborando um plano silenciosamente. Seria bom verificar o que ela tinha em mente.
"Asterion, eu espero que você não esteja lendo meus pensamentos, porque senão..."
Ela percebera. Que vexame... e que medo! Era melhor parar imediatamente. Ainda que persistisse uma certa curiosidade sobre o final daquele pensamento, a sua intensidade ameaçadora já era mais do que suficiente para que se pudesse adivinhar as possíveis continuações da frase.
Depois disso, durante um bom tempo seria difícil encarar Athena sem sentir aquele ardor intenso na face e a fraqueza nas pernas. Desviar os olhos. Sim, era preciso desviar os olhos para outra direção, outra pessoa - preferencialmente um amigo que estivesse bem longe da deusa. Moses.
O cavaleiro de Baleia Branca devolvia o olhar e esboçava um sorrisinho, como se estivesse se divertindo com algo. Com o quê?
"Que cara é essa, Asterion? Está parecendo um bicho assustado! Por que ficou tão vermelho de repente? Se estiver lendo meus pensamentos agora, fique sabendo que depois eu vou querer que você me conte o que houve."
Depois, só bem depois. Naquele momento não seria possível caminhar até Moses. Não quando se havia acabado de receber uma ameaça de ninguém menos do que Athena. O corpo, paralisado de medo, não obedeceria. A língua seria travada pela vergonha. E uma língua travada era bem melhor do que uma língua cortada.
Prólogo escrito em 23 de dezembro de 2008.
NOTAS: E continua o "Ciclo Saint Seiya"! Esta fanfic se passa poucas semanas após o fim de "Pontos de Vista de Isaac", ou seja, quase um ano após os combates contra Hades e os espectros.
No "Ciclo" eu alterei um pouco as idades dos personagens em relação à série original. Quase todos estão mais velhos. A exceção seria o Shun, cuja idade foi mantida de acordo com seus dados oficiais. Assim, na época em que esta fic se passa, ele teria apenas 14 anos. Fornecerei mais detalhes sobre as idades noutra ocasião, ou ao longo da fic sempre que possível.
Quem são estes inimigos que mantêm Athena e seus cavaleiros aprisionados? Uma pista: vocês já conhecem o ser divino que os comanda. Outra pista: o pensamento do Afrodite sobre os cavaleiros de bronze não foi tão infundado quanto pode ter parecido.
Como vocês viram, este prólogo foi narrado do ponto de vista do Asterion, que estava lendo os pensamentos de todas as pessoas do recinto até ser ameaçado por Athena. Eu não queria escrever uma narrativa em primeira pessoa. Se eu o fizesse, talvez o fato de o Asterion ser o narrador ficasse evidente demais; afinal, quem mais possui o dom de ler pensamentos? A narrativa em terceira pessoa foi um meio de se resguardar esse segredinho do prólogo até o momento certo. Porém, como o ponto de vista adotado continuou sendo o do Asterion e não o da autora, eu não pude empregar um estilo tão formal quanto eu teria preferido. Precisei inserir alguns coloquialismos aqui e ali a fim dar à narrativa uma certa naturalidade, pois nossos pensamentos normalmente não contêm muita formalidade.
Obrigada por lerem minhas histórias! Até breve!
