• PHOTOPHOBIA .


Aqueles na luz sabem que nós morremos na escuridão.

— Flyleaf.


oneshot


X

Ele corria pela vida

(o escuro engole todas as coisas

fugindo dos tiros, dos barulhos e da luz, da luz, da luz

buracos negros engolem planetas

das sirenes, dos carros, dos projéteis queimando em pólvora fina. Da dor. Do medo. Dos sons. Dos clarões.

as noites do ártico engolem os dias

E o sangue queimava e escorria e deslizava na escuridão, perdido além da luz, perdido no escuro.

as montanhas da loucura são feitas de sombras)

Nezumi e sua fotofobia.

X

Sob a luz do projetor ele riscava — scratch scratch scratch — a letra comprida num papel. E era tão escuro. Cheia de escuro a letra fina, desraigada, e a carta de consolo à cidade-luz. Cidade brilhando como globo de discoteca num céu negro. Lançando sombras na terra ao redor. Preenchendo o mundo com medo. Cidade-demônio incandescente.

— Eu. — Silêncio. Silêncio. Silêncio de incertezas — Nada.

Scratch, scratch, scratch.

Fale.

Brilhando na luz, ofuscando a vista, queimando com a força de mil sóis.

— Não.

Brilhando na escuridão.

— O silêncio — risca risca, escreve escreve — é o inferno.

Inferno cheio de corpos queimando sob fornalhas de milhões de graus celsius. Inferno. Jigoku. Queimando com hastes de fumaça em nuvens no céu escuro. Queimando na luz. Queimando, queimando. Silêncio de crepitar e fogo estalando. Luz em todo lugar.

— É só que você e eu estamos aqui. Ainda. E isso é bom. Sabe. Me deixa feliz.

Nezumi ergueu os olhos e teve de baixá-los, pois queimavam.

Shion brilhava. E era fogo (do inferno, jigoku, cidade-demônio).

Ia consumir sua vida inteira.

X

— O fogo não para até não ter mais nada que queimar.

— Ou até não haver mais ar.

Respirando. Respirar. Nezumi esqueceu como. Esqueceu de.

Luz.

(everywhere everywhere everywhere)