Prólogo
10h13 EST, sábado, 14 de agosto
Trem 4
Nova York, NY
Meena Harper entrou no metrô e sentou-se com tudo no banco. Não teve medo de olhar ao redor, pois havia escolhido aquele vagão justamente por aquele motivo: ele estava completamente vazio.
Talvez, ela pensou, as coisas funcionem a meu favor, para variar.
Realmente, ela estava com muita sorte naquele dia. Sorte não; a única sorte foi ela ter invadido a casa dos Thompson há dois anos para evitar aquele assalto. Se não tivesse feito isso, Christie Thompson teria entrado na casa quando os bandidos estivessem saindo e faria tanto escândalo que terminaria com uma bala no meio da testa. A parte ruim foi que ela foi presa no lugar dos assaltantes, o que fez com que ela fosse proibida de ir ao casamento onde aquela grande idiota se tornaria a Sra. Jim Parker.
Contudo, sempre foi assim. Eles nunca eram agradecidos. De tantas vezes que já salvou a vidinha inútil de muitos daqueles hipócritas, foi tachada como problemática pela alta sociedade. Seus pais eram forçados a dizer a todos que o local para onde ela ia passar o ano todo era uma clínica para deficientes mentais.
Ou talvez eles não fossem tão forçados assim, pensou Meena com amargura.
Sempre achou que desde quando ela havia previsto a morte do avô, aos oito anos de idade, Timothy e Elizabeth Harper, seus pais, sempre agradeceram a desculpa dela ter nascido prematura para dizer a todos que isso afetou seu cérebro - um monte de merda, como dizia seu irmão, Jon.
Depois de um tempo olhando para o nada subterrâneo, uma voz feminina anunciou a parada - Broadway com a Quinta - e Meena voltou à realidade, levantando-se e saindo do vagão, olhando para baixo e tomando cuidado para não se encostar em nada nem em ninguém. A última coisa que ela precisava naquele momento era um chamado urgente do seu complexo de heroína, até porque, Nova York é recheada de "situações" perigosas. Por sorte, conseguiu sair para a Quinta Avenida sem nenhum acidente.
Andou sem pressa em direção a um barzinho elegante chamado Caldeirão Furado II, que era completamente ignorado pelos transeuntes apesar de sua aparência completamente atrativa. Na realidade, aquele lugar não era somente um restaurante chique nova-iorquino, mas sim uma das entradas para o lugar mais badalado do mundo bruxo americano: a Fifith And a Half Avenue.
Aquele era o terceiro lugar favorito no mundo de Meena - para ela, o Beco Diagonal vinha em quarto, por ser lotado demais e muito confuso. Diferente dos bruxos britânicos, os bruxos norte-americanos sabiam se misturar com perfeição aos trouxas e eram muito organizados. Ela passou reto pelo restaurante e entrou na sua amada avenida, seguindo direto para a Dois Mundos, uma livraria que misturava os livros trouxas com os bruxos. Aquele sim era um lugar descente, para ela; completamente cheio de letras.
— Bom dia, Srta. Harper! Conseguiu vir hoje? — Questionou Abdullah, o caixa indiano que trabalhava no estabelecimento. Quando viu a caixa de rosquinhas nas mãos dele, Meena fez uma careta.
— O que eu falei com você sobre essas rosquinhas, Abdullah? Vai acabar no necrotério com as artérias entupidas de gordura — era verdade. Ela já havia conversado com ele milhões de vezes sobre isso, mantido contato com ele mesmo quando estava em Hogwarts, falando sempre sobre a mesma coisa, mas ele não lhe ouvia. Ninguém nunca o fazia.
— Vira essa boca para lá, menina — falou ele, batendo três vezes em seu balcão de madeira — Qual foi o milagre que você veio hoje?
— Sou indesejável em um casamento ou qualquer coisa do tipo. Vou estar lá nos fundos.
E com isso ela deu as costas para o homem, andando em direção ao fundo da loja, onde os melhores e mais caros livros estavam guardados. Aquele era um segredo só dela e de Abdullah já que, supostamente, somente pessoas que tivessem reais condições de comprar alguma daquelas edições podiam ir ali. Meena até poderia pedir a sal tia-avó alguns poucos galeões para adquiri-los, mas já dava problemas demais a Minerva McGonagall para ter coragem de pedir dinheiro desnecessário a sua protetora.
Ela sentou-se num pufe de couro de dragão que havia ali e pegou o livro que havia parado de ler da última vez que esteve ali, há cerca de duas semanas.
A garota não lia nenhum livro trouxa da loja - seus pais provavelmente os tinham na biblioteca da mansão - e só ia ali por causa de Abdullah, na tentativa de fazê-lo desistir de vez das rosquinhas matinais. Havia esbarrado nele na primeira vez que Minerva havia lhe levado na Fifith And a Half Avenue e desde aquele dia entrou na luta constante para salvar o indiano do infarto no miocárdio que ele sofreria se continuasse se empanturrando de fast-foods.
Entretanto, os livros bruxos daquela livraria eram realmente bons e Meena acabava unindo o útil ao agradável.
Prendeu seu longo cabelo loiro num coque malfeito e mergulhou na historia por algumas horas até ouvir uma comoção vinda da parte principal da loja. Movida por sua característica curiosidade, Meena fechou o livro e saiu da seção dos reservados.
Assim que pôs os pés para fora dali, ela soube que devia ter simplesmente ignorado todo o barulho como havia feito nas últimas horas. Ela soube disso porque, do mesmo modo que sempre acontecia, aquela sensação ruim vinda do fundo de sua alma se apossou dela enquanto andava pelo corredor que daria para frente da loja - e não era porque o caixa em que Abdullah estava ficava na saída da loja.
Assim que ouviu o nome da pessoa para quem ela tinha olhado, já era tarde demais para Meena evitar ter a visão da morte aparecendo em frente aos seus olhos amarelados.
Ele estava caindo da vassoura direto para o meio do Oceano Atlântico. Ele não entendia onde havia errado até porque, o melhor jogador da Seleção Irlandesa de Quadribol não deveria errar. O pior de tudo era que ele estava completamente sozinho e não sabia nadar. Dessa vez, não haveria ninguém para evitar que ele caísse.
Aquilo durou pouco menos que um segundo, assim como todas as visões que Meena tinha.
Por amor às suas melhores amigas, Rose Weasley e Penélope Longbottom, ela precisava salvar aquele estúpido jogador de quadribol a quem todos consideravam o mais bonito de toda Seleção Irlandesa.
— Com licença. É impressão minha ou o senhor é Luke Walsh, o jogador de quadribol eleito o mais gostoso da ultima década? — Meena se ouviu dizer, a voz falsamente doce e enjoada enquanto olhava para o homem loiro a sua frente. Realmente, ele era muito bonito - para quem gosta de homens muito musculosos.
— Oh, olá para você. Sim sou eu e você é? — Luke estava jogando charme para cima dela. Rose, perdão por estragar o seu romance com o cara mais gato do mundo.
— Rose Weasley — disse, estendendo sua pequena mão para ele, que a englobou completamente com suas mãos gigantes — Pode me dar dois autógrafos? Um no meu nome e outro para minha melhor amiga, Penny?
Ele pegou as duas folhas e a pena que ela lhe estendeu com um sorriso, fez uma pequena dedicatória para nas duas e devolveu-as para a garota. Pelo menos agora Rose iria usar de tortura. Mas com certeza iria continuar terminando como uma homicida se soubesse o que ela fez em seguida.
— A propósito, tente não atravessar o Atlântico com a sua Nimbus 5000. Todo mundo sabe que elas não são seguras e que você não sabe nadar — com isso, Meena depositou um beijo em sua bochecha e sussurrou em seu ouvido — Espero que siga meu conselho, Luke Walsh. Adeus.
Deixando um Luke transtornado para trás, Meena saiu da Dois Mundos quase correndo. Passou apressada pelo Caldeirão Furado II - apesar de suas pernas estarem tão moles quanto pudim -, saindo para a Quinta Avenida em direção ao metrô.
Ela pagou a passagem com pressa de voltar para a segurança de sua casa, mas acidentalmente tocou na mão da mulher que vendia os bilhetes.
— Por favor, pare de subir as escadas estreitas do seu apartamento de salto agulha só para chamar a atenção do seu porteiro — pediu com a voz tremendo.
A mulher ia retrucar, mas Meena saiu correndo em direção as escadas, doida para voltar para a segurança de sua casa de onde não deveria ter saído. Porem, para seu azar, estava na hora do rush e aquele era o horário que deveria ser mais evitado por ela quando em Nova York - principalmente se fosse pegar o metrô.
Esbarrando o tempo todo em alguém, Meena murmurava conselhos pelo canto da boca, quase chorando pela quantidade de pessoas que possivelmente iria morrer porque não havia lhe entendido ou porque não estava lhe dando a menor atenção. Entrou no vagão lotado com muita luta, pedindo a Merlin para que ela chegasse a sua casa o mais rápido o possível, pois seria ela quem morreria se tivesse que ver a morte de mais alguém.
