N/A:K-On não me pertence, nem seus personagens, somente esta estória.


Antes que eu pudesse perceber o que estava fazendo, ela olhou em meus olhos e perguntou:

"Ritsu? Que foi?"

Eu olhava fixamente para ela. Mas por quanto tempo eu estava assim?

Estávamos no meu quarto, era uma terça-feira. Mio tentava me explicar aquela equação de matemática que eu não entendi na aula. Então eu fiquei ali, debruçada sobre a mesa, olhando pra ela, ouvindo o som da sua voz, mas sem realmente prestar atenção nas palavras.

"Ritsu?!"

"Hã? Desculpa, Mio. Acho que me distraí um pouco."

"Estamos estudando há mais de duas horas, talvez devêssemos fazer uma pausa."

"É. Está com fome? Vamos pra cozinha pegar alguma coisa."

Parando pra pensar, Mio é uma ótima amiga. Sempre me ajuda quando eu preciso. E, apesar de às vezes perder a paciência por causa das minhas brincadeiras, ela está sempre do meu lado. Mas... isso justifica eu ficar olhando pra ela daquele jeito? É a primeira vez que isso acontece? Só percebi agora.

Ah. Deve ser só coisa da minha cabeça. Nada de mais. Amanhã já vou ter esquecido. A propósito, a Mio não estava escrevendo uma música nova?

"Ei, Mio? Você já terminou de escrever aquela música?"

"Bem. Ainda falta arrumar algumas coisas, mas a letra já está pronta. Quer ver?"

"Sim, quero."

Ela me entregou uma folha de papel com a letra da música. Eu li. E estava cheia de coisinhas fofas, doces e bonitinhas. Mais uma canção melosa de Mio Akiyama. Francamente, de onde ela tira essas idéias?

"Então? Como está a letra?"

"Está ótima, Mio. A sua cara." Disse Ritsu com um sorriso nos lábios

Depois de termos voltado pro quarto e a Mio ter me explicado a equação mais umas centenas de milhares de vezes, eu levei ela até a porta e me despedi. Afinal, teria aula no dia seguinte. De matemática. E ainda faltava fazer a lição, que acabei não fazendo. Pedi pra copiar da Mio antes da aula, e ela em troca me deu um soco na testa.

"Eu não acredito que eu passei quatro horas estudando com você pra no final você nem fazer a lição e ainda por cima vir pedir pra copiar a minha!"

Mio ficou realmente brava, e eu me senti mal por abusar da boa vontade dela.

"Perdão, Mio. Eu juro que da próxima vez eu faço meu dever. E... obr-... obrigada por me ajudar."

"Hã?! Ritsu me agradecendo? O que deu nela?"

"O que foi, Mio?"

"Nada" disse Mio, já com um tom mais calmo "vamos logo pra sala, a aula vai começar!"

Fomos para a aula, e apesar de estar mais quieta que o normal, não consegui prestar atenção. E o mais estranho: fiquei o tempo todo pensando na Mio. De vez em quando eu me virava e olhava para ela, e ela estava lá, expressão séria e olhar compenetrado. Ahh, a mesma Mio de sempre!

Por causa dessa distração acabei perdendo toda a matéria da aula. Vou ter que pedir ajuda pra Mio de novo.

...

Alguns dias se passaram, sem que muita coisa mudasse. A não ser pelas, cada vez mais constantes, "distrações" de Ritsu e, as cada vez mais freqüentes, visitas de estudo de Mio. E também um pequeno problema com a sala de música.

...

Ficamos sem sala de música, e há menos de um mês da nossa apresentação no festival escolar. Mas ainda bem que já resolveram, vamos poder ensaiar normalmente. Só que antes disso tem a peça de teatro. E dessa vez não foi só a Mio que achou isso embaraçoso.

E por que me escolheram pra ser Julieta? E o meu par romântico? Mio. Só pode ser armação da Mugi.

"Ei, Mugi! Dá uma olhada nessa cena aqui."

"Que foi, Ricchan?"

"Aqui, a cena do baile, ato I, cena 5."

"Qual é o problema?"

"A Mio vai ter que me beijar?"

"Ahh... é tão lindo, né? "

"Lindo coisa nenhuma! O que essa menina tem na cabeça? Você não ia adaptar o roteiro?"

"Mas isso faz parte da peça, é uma cena importante."

" ... não posso fazer isso..."

"Por que não, Ricchan?"

Não posso fazer isso. Não, não com a Mio. E na frente de tantas pessoas. Não desse jeito... porque...

Porque... eu gosto da Mio...

E não posso beijá-la sem ao menos confessar o que eu sinto. Ver qual será a reação dela e... pode ser uma péssima reação...

Isso está muito estranho. As coisas acontecendo dessa maneira. Tenho que achar um jeito de pôr a mente em ordem.

"Ricchan? O que quer que eu faça com o roteiro?"

"Faça como quiser, Mugi. E vamos ver o que acontece."

...

No outro dia, na hora do almoço, Ritsu conversava com Mio sobre a peça de teatro. Mugi observava de longe, então decide se aproximar:

"Ricchan. Posso falar com você um minuto?"

"Claro, Mugi. O que foi?" Ritsu levanta e sai da sala com Mugi.

"Ei, Ricchan, por que você não confessa de uma vez?"

"Hã?! O quê?"

"Acho que a Mio vai ficar feliz em saber."

"Mas, hein...? Como ela sabe? Do que você está falando Mugi?"

"Você sabe do que eu estou falando. Você gosta da Mio, né?"

"Q-q-quem disse isso?"

"Eu percebi pelo seu jeito."

"Ta legal, ela sabe. Já era. Tudo bem, Mugi, é isso mesmo. Tem alguma idéia?"

"Mio é uma garota insegura e meio medrosa..."

"'Meio'? Mio se assusta até com a própria sombra."

"Então faça ela se sentir segura com você."

"Mas eu gosto de dar sustos nela." disse Ritsu coçando a cabeça.

"Mude sua estratégia."

"Hum..."

"Vamos ao parque sábado, com as outras meninas também, se precisar de apoio eu vou estar lá. Convide ela pra ir ao Trem Fantasma."

"Heh. A Mio não vai querer."

"Se ela não quiser, eu vou com você."

"Hum?"

Ficaram dez minutos conversando no corredor. De vez em quando Ritsu olhava pra dentro da sala e via Mio, sentada no seu lugar com o almoço e o script na sua frente. Ela não percebeu que Mio olhava para as duas do lado de fora com ar desconfiado, mas sem conseguir ouvir a conversa.

Mais tarde naquele dia, enquanto elas andavam na rua em direção às suas casas:

"Ei, Mio, vamos ao parque de diversões no próximo sábado?"

"Parque de diversões?"

"É. A Mugi, a Yui e a Azusa vão ir. Você não quer ir também?"

"Ah, então era disso que vocês estavam falando no intervalo."

"Era, a Mugi me convidou e disse pra eu te convidar também. Essa não, ela viu. Mas será que ouviu alguma coisa? E então? Vamos?"

"Tudo bem. Eu vou."

"Yoshi! Vamos caçar fantasmas na Casa Mal Assombrada!"

"P-para com isso, Ritsu. Eu não vou caçar nenhum fantasma."

"Eu sei, eu sei. Seria pedir de mais. Mio não pode enfrentar um fantasminha de parque de diversões."

Mio dá um soco na cabeça de Ritsu.

"Ai, ai. Não precisava me bater. Mas vamos lá, Mio~. Vai ser divertido."

"Já disse que vou. Quero ver o que você está aprontando."

"Quem disse que eu estou aprontando? "

"Está escrito na sua testa."