Mesmo antes de tudo acontecer, Liliana Miranda estava tendo um dia péssimo.

Ela tinha conseguido tirar um três na prova, o que significa que ela teria que ficar dezembro enfurnada no colégio enquanto seus amigos estavam lá fora, curtindo. Depois, quando estava correndo loucamente para o seu trabalho de meio-período com suas curtas pernas (Por favor, ela era um anã, quase não chegando a 1,50), quando a sua sorte maravilhosa resolveu agir mais uma vez e mandar uma breve chuva para ela, tudo bem, ela não tem que chegar só atrasada, tem que ser também ensopada.

Aconteceu tudo tão rápido, enquanto ela estava chafurdando na sua miséria, um carro tava vindo tão depressa que mesmo que ela tivesse visto não poderia ter feito nada, a não ser assistir, a sua morte eminente. Tudo o que ela se lembra é o impacto e a dor. Liliana sentiu seu corpo batendo no chão e ouviu as sirenes tocando ao longe, mesmo que ela já sabia que era tarde demais para fazer qualquer coisa, o instinto de sobrevivência falou mais alto e gritava loucamente que sim, ela queria viver, não poderia morrer agora, ainda era muito jovem, apenas 17 anos, e como sua mãe sempre dizia: "ainda tem a vida toda pela frente.". A ultima coisa que ela viu foi o rosto dos seus pais, sorrindo para ela, com um orgulho que ela não merecia.

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Pov Liliana:

Quando eu acordei novamente, estava tudo tão confuso, tudo estava branco e embaçado, como se tivesse alguma coisa nos meus olhos. Talvez tinha entrado em coma? Era bem provável, mas com aquele acidente eu tinha absoluta certeza que ia acabar partindo dessa para melhor. Ou talvez sua sorte estava melhorando? Nah, nunca ia acontecer. Eu estava tão absorta em meus pensamentos surpreendentemente rápidos que só parei quando um choro encheu a sala e mãos, sim, MÃOS, me pegou suavemente, me embalando.

Levou um minuto para perceber que o choro era meu, mais um minuto para entender como mãos humanas poderiam me embalar tão tranquilamente.

Eu era um bebê, um bebê.

Reencarnação, vida após a morte. Mas eu pensava que era para se esquecer de tudo, era para ser a chance de uma nova vida, em um novo corpo. Mas nãaaao, Liliana Miranda tem que se lembrar de sua vida passada.

Meus olhos estavam finalmente clareando, me permitindo ver o mundo, e o que eu vi me trouce uma revelação pior do que ser um bebê e ter plena consciência disso.

Eu estava em choque, meus olhos que agora poderiam enxergar algo pousaram automaticamente para a mulher me segurando, ela tinha brilhantes olhos verdes, pareciam esmeraldas, e cabelos negros, tão escuros como a própria noite. Mas não foram essas características que me chamaram atenção, que acalmaram o meu choro, e sim, um metal amarrado a seu pescoço, com um símbolo de folha, muito conhecido para mim, uma verdadeira amante de animes. Acho que foi esse abalo emocional que me levou a fazer o que fiz, a gritar feito um bebê, o meu choro de volta com força total.

A ultima coisa que eu ouvi antes de adormecer com o cansaço dos meus gritos, foi uma voz suave.

–"Waru Rirī."