Disclaimer: Harry Potter e personagens não me pertecem e sim à J.K. Rowling e afiliados. Fanfiction escrita por pura diversão - e sadismo -, de fã para fã, sem qualquer fim lucrativo. Plágio é crime, mostre-se superior a isso.
Je n'ai pas mourir pour vous, Ginevra.
Betada por SuriMalfoy, luz de mi vidin 3
Para Vinícius, que viu os primeiros esboços da fanfic e me instigou a continuá-la. (L)
How can I decide what's right?
When you're clouding up my mind
Can't win your losing fight all the time
Decode, Paramore
Ginevra...
Ginny estacou. Reconhecia aquela voz; como não reconheceria? A voz que a atormentou durante anos desde seu primeiro ano em Hogwarts; a voz cujo dono fora responsável pela sua quase destruição, se não fosse por Harry. A voz cujo riso ainda ecoa em sua mente, sempre que se deita para dormir. A voz cujo timbre ainda a faz tremer, não importando suas reações ou sensações.
Tudo nele a fazia ter medo. Os olhos escuros que mais pareciam túneis sem fim e Ginny não conseguia fugir deles; pareciam inquirir a verdade dela, e ela não conseguia negar-lhe nada. Os cabelos negros que pareciam ser tão sedosos, Ginny sempre quis tanto sentir a maciez daqueles cabelos, mas Tom sempre se esquivava. Ela se sentiu desiludida, mas sabia que tudo era uma ilusão. Tom não existia - ou assim ela gostava de pensar -, não havia motivos para se decepcionar. Não havia motivos para pensar que tudo que ele disse seria verdade, porque o próprio Tom era uma grande mentira.
Assim como a voz dele, agora, chamando-a. E por que ela ainda se arrepiava ao ouvi-la?
Você ainda pode me ouvir, Ginevra?
É claro que podia, mas isso não significava que o queria. Não depois de tudo que passou para esquecer sua obsessão por Tom, depois de todo o trabalho que teve para esquecer-se dos sonhos que tinha com ele, mesmo depois de seu primeiro ano. Tinha que seguir sua vida e não se prender a medos infantis, porque Tom Marvolo Riddle estava morto, e ela viu quando Harry o matou.
E, por mais que Ginny tentasse reprimir esse lado, sabia que havia uma pontinha de esperança nela que esperava que Lord Voldemort vencesse - porque você prometeu que voltaria, Tom, e você voltou, mas não como ela esperava - não pra ela, e sim para ele. Voldemort voltou porque queria derrotá-lo, não porque a entendia e compreendia a necessidade que ela tinha dele. Porque Tom nunca entendeu isso.
Encostou-se à parede, esperançosa de que fosse apenas uma ilusão. Fechou os olhos, tentando manter a respiração compassada; ledo engano: mal fechara os olhos e a imagem de Tom viera em sua mente, tão belo quanto nunca esteve, os olhos negros brilhando de excitação, e um sorriso sedutor nos lábios. Ginny sentiu-se como uma garotinha de onze anos novamente, suas pernas tremiam ao vê-lo. "Não tema," ele disse, "eu não vou te fazer mal." Não mais do que já fez, pensou Ginny.
A Weasley - agora Potter - tentava lembrar-se do rosto de seu marido, mas os olhos verdes de Harry sempre se tornavam negros, sombrios e ameaçadores, e os cabelos revoltos alinhavam-se rapidamente, formando o penteado do Riddle. O sorriso bondoso de Harry distorcia-se em seu rosto, formando o tão conhecido sorriso sádico de Tom. Meneou a cabeça, afastando-se da parede do vestiário.
Abriu os olhos; não estava na câmara secreta, Tom não estava lá - porque Tom está morto - e estava sozinha no vestiário das Harpias de Holyhead. Suspirou, sentando-se no banco. Desde o fim da guerra, Ginny jogava quadribol pelas Harpias, na posição de artilheira. Era um sonho se realizando, e tudo ficou ainda mais perfeito quando se casou com Harry. Bem, tudo seria ainda mais perfeito se ela não visse vislumbres do Riddle nas arquibancadas, se não ouvisse o riso dele a cada gol que fazia.
E tudo isso estava deixando-a louca.
Lembra-se do que passamos juntos, Ginevra Weasley? De como você me ajudou?
Passou as mãos pelos cabelos ruivos, afastando-os do rosto. Saia da minha mente, Tom, me deixe em paz!, ela pedia, mesmo que soubesse que ele não iria atender. Ginevra era seu passatempo favorito, mesmo depois de morto. Suspirou; tinha que manter a calma, não poderia deixar Tom subir tanto à sua mente, mesmo que tudo em si clamasse pelo Riddle.
Ginny se lembrava, sim, de tudo que fez por Tom. Controlou uma cobra gigantesca e mortífera, porque ele disse que era bom para todos se exterminassem os nascidos trouxas, mesmo quando sua melhor amiga era nascida-trouxa; escreveu ameaças com sangue nas paredes, porque Tom disse que seria bom alertá-los, para que fugissem, como a escória que eram. Tom a enfeitiçou e a fez se apaixonar por ele, porque assim seria mais fácil de manipulá-la. Uma garota apaixonada é uma garota sem senso do perigo.
E Ginny apaixonou-se; apaixonou-se pelo garoto compreensivo, gentil e belo que via nas memórias de Tom, apaixonou-se pelas palavras de consolo de Tom sempre que olhava para Harry Potter e sentia seu peito se apertar na paixãozinha de criança. E Tom era tão diferente de Harry, Tom não a faria sofrer como Harry fazia, porque Tom gostava dela, e Harry não. Harry a via como uma irmãzinha mais nova, e Tom a via como uma amiga a quem contaria todos seus segredos. E Ginny gostou da segunda opção, e deixou-se levar por Tom Riddle.
Qual fora seu pior erro em tudo isso?
Nós podíamos ter sido grandes, Ginevra. Eu a faria minha rainha, mas você me traiu, não foi?
Tom era um mentiroso nato, e Ginevra sabia bem disso. Tom disse diversas vezes o quanto gostava de Ginny, quando a menina dizia adorá-lo, mas suas palavras sempre foram vagas, quase como se tratasse o assunto com muita levianidade. Ginny sempre soube disso, sempre soube que Tom poderia machucá-la se quisesse, mas preferia acreditar que ele não queria. Tom estava ajudando-a com Harry e Ginny ajudava-o com seus objetivos, em troca, mesmo que não soubesse. Tom era bom, apesar de tudo, havia um vestígio de bondade no Riddle e Ginny conseguia enxergá-lo.
Ginny passou as mãos no rosto, e sentiu seus olhos úmidos. Era esse o efeito que Tom tinha em sim, a fazia sentir-se fraca e muda, e tinha que aguentar suas provocações em silêncio, porque as palavras fugiam-lhe toda vez que tentava confrontá-lo. Não se importou se suas companheiras de time poderiam adentrar o vestiário, apenas deixou-se cair no banco onde estava sentada e sentiu as lágrimas molharem seu rosto.
Não chore, Ginevra. Você era mais forte antes.
E Ginny chorou ainda mais, porque aquele não era o Tom que ela conhecia. Ele estava tentando seduzi-la novamente, porque assim poderia induzi-la a fazer mais coisas das quais ela, com certeza, se arrependeria. E o que a desesperava é que Tom conseguiria, se quisesse, mas ele estava apenas brincando. Não era a primeira vez que ouvia a voz dele em sua mente e com certeza não seria a última.
Tom tinha um prazer sádico em vê-la sofrendo, em vê-la chorando. Não era um choro desesperado, era tão silencioso que nem mesmo os soluços da moça eram ouvidos. E ele ria nos ouvidos dela, com uma risada pura e cristalina, mas havia uma entonação que a machucava. Tom não se importava com o sofrimento mudo dela, tampouco com sua quase loucura - porque ouvir vozes não é considerado, nem de longe, normal -, porque tudo era um grande jogo para ele. E nenhum jogo pode ser interrompido até total prazer de seus espectadores.
Por fim, Ginny parou de chorar, mas ainda estava encolhida no banco. O vestiário estava anormalmente calmo, e ela agradeceu por ele ter parado. Limpou as lágrimas que ainda estavam se formando em seus olhos, e olhou o nada. Suas companheiras de time estavam entrando agora, aos risos e tropeços, e olharam Ginevra. A Potter empertigou-se, sorrindo para as colegas de time, que sorriram de volta, sem perceber o real estado da ruiva.
Suas bochechas coradas e os olhos vermelhos, mesmo que evidentes, não foram percebidos porque Ginny preferiu esconder-se atrás de seus cabelos e procurar sua vassoura. Era o último jogo da temporada e as Harpias estavam com o campeonato nas mãos, e agora que jogariam o último jogo contra o Chudley Cannons, Ginny quase riu. Seu irmão a mataria por jogar contra seu time do coração, mas eram ossos do ofício. Riu, abafado, ao pensar em Ron matando. Não precisa de tanto, irmão, Ginny pensou, eu me encarrego disso.
Eu não morri, Ginevra. Não pra você. E, enquanto você viver, eu vou viver. Porque eu estou dentro de você.
Então você não vai viver por muito tempo, Tom., Ginny pensou, com um sorriso estranho. Suas companheiras de time alçaram voo, e ela foi logo atrás, agarrando a goles. Voou pelo campo, sentindo a adrenalina passando por seu corpo, os gritos dos torcedores e os vultos que deviam ser os jogadores do time oposto. Tom ainda sussurrava em seu ouvido, mas ela não queria mais afastá-lo. Não agora, não nos últimos momentos.
Havia uma parte de Ginny que não queria Tom morto. Havia uma parte de Ginny que desejava a vitória de Tom Riddle, de que ele tivesse matado Harry e feito dela sua rainha. Ela não se importaria com os olhares que receberia, as possíveis maldições, nem mesmo com o rosto ofídico de Tom - do seu Tom - porque ainda era o mesmo garoto por quem se apaixonara.
Havia uma parte de Ginny que ainda amava Tom.
Eu não te amo, Ginevra Weasley. Você sabe disso.
Sim, ela sabia, e havia qualquer coisa de divertido em continuar amando-o. Tom era incapaz de amar alguém, porque fora fruto de uma relação baseada em poções de amor, mas era divertido esperar que Tom dissesse que a amava, que gostava dela, ao menos, de forma sincera. Era quase divertido torturar-se assim. Tom a ensinou a ser masoquista.
Fez o último gol da partida assim que o apito soou, avisando que o apanhador do Chudley Cannons apanhara o pomo. Riu, sarcástica, pensando que nem nos seus últimos instantes poderia partir com uma vitória. Porque Ginny, assim que cruzou seu destino com o de Tom Marvolo Riddle, selou seu destino: estava fadada a nunca ganhar, porque Tom nunca perdia.
Impulsou sua vassoura para que subisse o mais alto possível. A juíza estava chamando-a de volta, porque todos deveriam descer já que o jogo havia terminado. Porém, Ginny ignorou-a, e continuou a subir cada vez mais. Tom estava sussurrando ordens para que ela descesse, mas Ginny preferiu ignorá-lo uma vez na vida.
Eu nunca vou morrer, Ginevra Weasley. Nunca.
Isso é o que veremos, mon amour. Ginny pensou, debochando. Parou, no ponto mais alto permitido - logo os trouxas poderiam vê-la e ela não queria quebrar o sigilo da magia. Tom quase fez isso - e olhou em volta. Engoliu em seco, respirando fundo. Chegara até aqui, poderia levar até o final, não é? Tom estava nervoso, sussurrando cada vez mais rápido ordens em seu ouvido, mas, pela primeira vez naquele dia, ela riu. Riu livremente, quase histérica, pelo destino que a aguardava.
Tom não podia viver.
E, se ele vivia em Ginny, Ginevra também não.
E soltando as mãos da vassoura, Ginevra caiu. O vento cortava seu rosto, devido à velocidade que descia, e seus cabelos confundiam-se com seu rosto. Tom estava gritando, porque ele também estava morrendo, mas Ginny não quis ouvi-lo. Não agora. Continuou a rir enquanto caía, e viu vários bruxos levantarem a varinha para aparar sua queda. Mais rápida que eles, Ginny levantou sua varinha, impedindo que fizessem algo e depois a soltou. Não precisaria mais dela.
O fim veio tão rápido que Ginny mal teve tempo para se arrepender. Pensou em Harry e em como ele ficaria arrasado, mas sabia que estava fazendo bem. Harry quase morreu para impedir que Tom vivesse, Ginny tinha que fazer o sacrifício do marido valer a pena. E, quase chegando ao solo, Ginny pensou em Tom. Pensou nos olhos negros, nos cabelos sedosos e nos sorrisos repletos de mentira. E sorriu.
Talvez a Ginny que amava Tom fosse maior que a Ginny que amava Harry. Talvez a Ginny de Tom estivesse tomando o controle, cada vez mais rápido, fazendo-a tomar decisões precipitadas. Entretanto, não poderia parar para pensar nisso, porque logo sentiu seu corpo chocar-se contra o solo e seus ossos se espatifaram. O sangue jorrou de seu corpo e ela não sentiu mais nada.
Ginny estava em paz.
Nós estamos mortos, Ginevra.
