Capitulo 1º

Weasley

Caminhava calmamente pela larga rua que antes era bastante movimentada. Porém, naquele dia, aquele local parecia mais sombrio e abandonado do que alguma vez fora. Era raro ver a Diagon-Al vazia, desprovida de feiticeiros apressados e crianças barulhentas, mas não naquele dia.

Apertou mais o casaco longo em torno do pescoço protegendo-se do frio. As poucas pessoas que andavam por ali pareciam desconfiadas, algumas delas até assustadas. Olhavam para a rapariga como se ela fosse louca por andar ali, calma e descontraída sem se preocupar com nada. E não se preocupava mesmo, não tinha motivos para isso.

Entrou numa das lojas, como tantas outras, vazia. O letreiro na entrada dizia 'Equipamento de Quidditch de Qualidade'.

"-Boa tarde Srta. Em que lhe posso ser útil?"

"-Boa tarde. Eu queria ver as Snitch's, as de colecção."

"-Pois não."

O homem desapareceu por detrás do balcão voltando minutos depois com algumas caixas em mão. Pousou-as sobre o balcão e dispondo-as em fila tornou a encarar a rapariga.

-Não são muitos os modelos, os tempos estão difíceis e cada vez menos as pessoas as compram.

Ela examinou as pequenas snitch's e decidiu-se minutos depois.

"-Quero esta" – Disse apontando para a mais brilhante e a mais trabalhada delas.

"-Essa é a mais cara Srta."

"-Não importa o preço."

"-Quer que grave alguma coisa?"

"-Apenas 'Patrick'."

O homem fez um ligeiro movimento com o pulso e no segundo seguinte apareceu gravado na superfície trabalhada da snitch o nome que dissera.

"-É para o seu namorado?" – Perguntou despreocupadamente enquanto embrulhava a pequena caixa.

A rapariga riu levemente antes de responder.

"-Não. É para o meu afilhado."

"-Deve gostar bastante dele, esta é uma das melhores Snitch's que tivemos. São 90 galeões" – Disse ao terminar de fazer o laço do embrulho.

90 galeões era mais do que o que recebia por mês ao trabalhar no 'Profeta Diário', mas não importava, não naquele momento.

Passou as moedas douradas ao homem e minutos depois saia da loja com um pequeno embrulho em mãos.

Passeou-se por mais uns minutos na rua quase abandonada observando as montras das lojas completamente vazia. Depois aparatou-se.

Toca era sinónimo de festa, alegria e muito barulho, mas ainda assim aquele era o seu local favorito. Fora onde passara a sua infância com os seus irmãos, os momentos mais felizes da sua vida.

Bateu à porta e a resposta não se fez esperar, segundos depois era abraçada fortemente pela sua mãe, Molly Weasley.

"-Já tínhamos saudades Gininha! Esqueceste-te donde mora a família?"

"-Mãe vim cá a semana passada."

"-Devias vir cá todos os dias. Tens te alimentado bem?" – Perguntou preocupada fazendo-a dar uma volta completa – "Estás muito magrinha filha."

"-Não comeces! Onde estão os outros afinal?"

"-No jardim. As crianças estão impacientes para cortar o bolo. E estão fartos de perguntar pela tia Gin."

"-Não os vou fazer esperar."

Caminhou até ao jardim onde encontrou os seus irmãos com as respectivas mulheres.

"-Onde é que estão os meus sobrinhos favoritos?" – Perguntou alto.

No mesmo instante quatro crianças correram até ela abraçando-se às suas pernas.

"-Olá princesas" – Disse baixando-se, deixando que duas pequenas lhe beijassem as bochechas – "Têm se comportado meninas?"

"-Sim Tia Gi!" – Responderam as pequenas em coro.

Mellissa e Mary Ann eram as únicas raparigas da família. Filhas de Charlie, com quatro anos, tinham um cabelo loiro que fazia inveja a qualquer um, herança da mãe, Fleur Delacour.

"-E os meus outros sobrinhos?" – Perguntou olhando em volta ignorando propositadamente os pequenos que a olhavam expectantes.

"-Estamos aqui!" – Responderam dois rapazes de três anos, tão idênticos que pareciam gémeos.

"-E eu não tenho direito a um beijo?" – Perguntou sendo abraçada de seguida pelos dois rapazes, William e Bradley filhos de Fred e George.

"-E o meu afilhado favorito? O aniversariante? Será que não tenho direito a um beijo teu?" – Perguntou ao rapaz que a encarava à distância.

Ele acenou levemente e caminhando até à ruiva deu-lhe um beijo estalado na bochecha.

"-Estava a ver que não me davas o meu beijo…. Teria de levar este maravilhoso embrulho de volta para casa" – Disse casualmente estendendo ao rapaz o embrulho que carregava.

"-E nós não temos prendas?" – Perguntaram as gémeas.

"-Não hoje…. Hoje a tarde é do Patrick mas prometo que para a próxima trago uma surpresa para todos. Pode ser?"

"-Sim!"

"-Óptimo. Não vais abrir Patrick?"

O ruivinho abriu com cuidado o papel que envolvia a pequena caixa e ficou espantado com o seu conteúdo.

"-Não gostaste?"

"-Gostei! È linda! O papá não me deu uma quando lhe pedi… Disse que eram caras…. Muito caras…. Obrigado tia Gin!"

"-Ainda bem que gostaste…. O preço não importa afinal não é todos os dias que o meu afilhado favorito faz cinco anos!"

"-Eu sou o teu único afilhado!"

"-Mas isso não quer dizer que não sejas o meu favorito."

"-Vou mostrar ao meu papá!"

"-Faz isso!"

"-Gin?" – Ouviu chamar atrás de si.

Ergueu-se encarando que a chamava.

"-Oi Ron!"

"-Gin, não achas que mimas demais estas crianças?"

"-Porque dizes isso?"

"-Porque a prenda do Patrick custa com certeza bem mais do que o que ganhas do 'Profeta Diário'."

"-Ora uma vez não são vezes e ainda para mais o dinheiro não é problema para mim."

"-Como não? Tu não ganhas uma fortuna no 'Profeta Diário'."

"-Eu sei o que faço. Onde está o Fredrick?"

"-Lá dentro. A Luna foi busca-lo."

"-Já volto maninho" – Beijou a face do ruivo e encaminhou-se para dentro da casa à procura da loira.

"-Onde é que está o fofinho?" – Perguntou à loira que estava prestes a subir as escadas para o primeiro andar.

"-O fofinho que não deixa dormir ninguém de noite mas que passa toda a tarde a dormir está lá em cima. Ia busca-lo agora."

"-Deixa que eu vou."

"-Está no antigo quarto do Ron."

A ruiva subiu as escadas voltando minutos depois com um bebé rosadinho nos braços.

"-Ele é a coisa mais linda que eu já vi. Tão fofo e rosadinho, faz-me lembrar o Ron nas antigas fotografias de família."

"-Antigas fotografias de família? Nunca vi nenhumas!"

"-Não seja por isso" – Passou o pequeno à loira e subiu as escadas de dois em dois descendo logo depois.

"-Aqui está."

Pousou sobre a mesa um álbum de couro escuro com belas letras douradas na capa, formando a palavra 'Weasley'.

"-Deram-mo quando fiz quinze anos. Recolhi todas as fotos que encontrei espalhadas pela casa e outras que tirei a partir desse dia."

Pegou no bebé ruivo deixando Luna livre para folhear o álbum á vontade.

A encadernação estava repleta de fotos de Ginny o dos seus irmãos enquanto crianças. Em todas elas eles sorriam e acenavam contentes.

Havia fotos deles em Hogwarts, primeiro dos irmãos mais velhos e depois de Ron e Ginny. Fotos de Harry e Hermione e umas quantas com a própria Luna.

Fotos das formaturas e depois dos casamentos dos seus irmãos. Por fim ocupavam as folhas fotos dos sobrinhos de Ginny, enquanto bebés e agora mais velhos. A última foto era precisamente de Fredrick ao colo de Ron, acabado de nascer.

"-Tinhas razão, o Fredrick é bastante parecido com o pai."

"-E tu não podias estar mais contente…."

"-E tu Gin?"

"-Eu?"

"-Não há ninguém? Um homem com quem constituir família? Um namorado? Nada?"

"-Tenho tido muito trabalho no 'Profeta Diário'."

"-Sabes que isso não é desculpa."

"-Sei lá, não me sinto pronta para isso… Além do mais não há ninguém assim tão especial…."

"-Tens a certeza Gin?"

"-Alguma vez te escondi algo?"

"-Não que eu saiba….."

"-Então pronto… Se houvesse alguém serias a primeira a saber."

"-Vamos lá fora?"

"-Claro."

Entretiveram-se a ver as crianaças a correr pelo jardim. Minutos depois Bill caminhou até ela.

"-Então maninha, já vi que mimaste mais uma vez o Patrick."

"-Sabes que não resisto."

"-Mas aquela snitch? Foi um exagero Gin. Eu não quero o meu filho mimado de mais."

"-Também tu? O Ron disse o mesmo."

"-É porque é verdade."

"-Eu só lha ofereci porque quis… Dá para entender isso? Além do mais ele não faz anos todos os dias! E tu viste como ele ficou feliz!"

"-É verdade Gin…. Mas ele vai ficar mimado se sempre que lhe negamos algo tu lhe fazes a vontades."

"-Para a próxima consulto-te antes…"

O ruivo riu fazendo menção de dizer algo mas foi interrompido por Molly.

"-Vamos para dentro antes que as crianças tenham um ataque de tanta impaciência. Eles estão hiperactivos hoje."

Vários minutos depois, todos os Weasley, reunidos em torno da mesa da cozinha, preparavam-se para cantar os parabéns ao pequeno Patrick.

Porém antes que pudessem começar uma pequena coruja negra entrou de rompante pela janela pousando no ombro de Ginny.

Todos olharam para ela espantados até porque a coruja não carregava qualquer espécie de bilhete.

"-Tenho de ir" – Avisou dirigindo-se para o jardim onde se poderia aparatar.

"-Mas porquê? Já?"

"-É importante. Volto depois."

Deixando toda a sua família para trás saiu de casa e aparatou-se.

Encontrava-se num local um tanto escuro mas isso não dificultava a sua tarefa. Conhecia aquele caminho como a palma da sua mão. Andou durante breves segundos até entrar por uma porta à sua esquerda. De novo num corredor passou algumas portas fechadas entrando desta vez numa do seu lado direito.

Estava agora num escritório, de tamanho médio com uma enorme mesa redonda no centro. Sentados em volta dessa mesa estavam cerca de uma dúzia de homens e mulheres que aparentemente esperavam por ela.

"-Agora que a Ginevra se juntou a nós, podemos começar" – Disse um homem que certamente seria o mais velho da sala.

Naquele local todos eram bem mais velhos que Ginny excepto um rapaz, Joshua, que tinha a mesma idade que ela, 22 anos.

Já não era a primeira vez que estava naquele local, muito pelo contrário, frequentava-o à cerca de 3 anos. Tudo tinha começado depois que terminou Hogwarts.

Viviam-se tempos de guerra e mesmo contra toda a sua família ela tinha-se inscrito na escola de aurores. Fora uma das melhores alunas na sua altura, passada a todos os níveis com a maior das distinções, mas ainda assim não fora aceite.

Em contrapartida recebeu um convite, juntar-se a uma das forças da resistência, uma espécie de associação, secreta, que lutava do lado dos aurores.

"- Srta Weasley, verificamos os seus registos na academia dos aurores, foi uma das melhores alunas e ainda assim não foi aceite. O motivo da rejeição é me conhecido pois fui eu próprio que impedi a sua entrada.

-Mas porquê? Acha que não tenho qualidades?

-Qualidades? Mais que muitas!

-Não percebo…

-Devido a tais qualidades achamos melhor integra-la não no esquadrão de aurores mas na nossa associação.

-Creio não compreender ainda…. Que associação é essa?

-Digamos que um apêndice do esquadrão de aurores para onde são recrutados os melhores estrategas e os melhores alunos do curso de aurores. No entanto á anos que não víamos alguém com níveis tão altos de classificação, normalmente os alunos apresentam apenas apetências para alguns dos requisitos, porém a Srta tem níveis bastante altos em todos os parâmetros.

-Isso quer dizer que vou entrar para a vossa associação?

-Se assim o desejar. Mas devo dizer-lhe que é algo altamente secreto e portanto não poderá falar disto a ninguém. Digo-lhe ainda que seria um enorme desperdício se não se juntasse a nós.

-Eu, eu tenho de pensar.

-Evidentemente, esta não é propriamente uma escolha fácil, ainda mais nos tempos que correm."

Esteve tentada a não aderir, a não aceitar a oferta mas depois de muito pensar concordou, seria a única forma de participar na guerra.

Teria sido um enorme choque para toda a sua família se alguma vez eles tivesse tomado consciência do que se passava coisa que nunca aconteceu. Ginny tinha entrado para a associação sob o maior secretismo e encontrava-se como correspondente do 'Profeta Diário' apenas para manter as aparências.

"-Ginevra estás a prestar atenção?" – Perguntou o homem que se lhe tinha dirigido quando entrara.

"-Sim."

"-Óptimo, porque nós temos uma missão de extrema importância para ti."

- - - - - Fim do Capitulo 1º - - - - -

N/A: Em primeiro lugar, a fic é dedicada à Rute… Escrevi-a porque hoje é o aniversário dela… Rutinha, agora que tens 18 tens é que ter juízo! Segundo, este é o primeiro capitulo e como já deu para reparar não tem emoção por aí além… É uma D/G para não quebrar a tradição mas não garanto nada quanto ao final….Quanto ao rating, deve-se a capítulos futuros… Comentem… Digam o que acharam…

Kika Felton

08 / 07 / 2005