O corpo, ainda pesado devido a exaustão, teimava em ficar naquela posição incômoda: de bruços, o braço esquerdo em baixo da barriga, as

pernas moles que, a cada movimento, protestavam ardorosamente, e o rosto afundado no travesseiro, quase amassando o nariz. No entanto,

ele queria acordar, queria ver se estava tudo realmente bem, se todos estavam bem na medida que a situação permitia.

Sentindo o corpo pesar uma tonelada, Harry se revirou, ficando de barriga para cima e olhando o dossel de sua cama. Piscou os olhos

molemente, uma, duas vezes. Decidiu fechá-los de novo. Contudo, não conseguiu dormir.

Quanto tempo havia se passado? Ele não fazia idéia... Pegou seu relógio - o que ganhara de presente dos senhores Weasley no seu

aniversário de dezessete anos - e verificou as horas. Já havia perdido o café da manhã, mas dali a pouco serviriam o almoço. Isso, se os

horários continuassem os mesmos.

Dando um bocejo exagerado, ele se sentou devagar, sentindo cada ponto de seu corpo protestar. No entanto, Harry não se demorou em se

arrumar. Sentia uma urgência quase desesperada em sair logo daquele quarto em que estava e procurar por ela.

Ele já tivera seu momento de sossego. "Graças à Luna", pensou. Também já tivera seu lanche, que fora servido por Monstro assim que chegara

em seu quarto. Mas, naquele momento, a única coisa que ele queria era estar com ela. Sentir que ela estava bem. Que sua dor já começara a

abrandar, começara a se resignar. Pois não tinha outra opção.

Rapidamente, Harry saiu de seu quarto e desceu as escadas que davam acesso ao salão comunal da torre da Gryffinória. Alguns colegas e

amigos lhe sorriram e cumprimentaram enquanto passava. E ele ficou feliz que nenhum deles lançara-lhe um olhar de fanatismo, mas apenas

alegria em vê-lo vivo, vê-lo bem.

Assim que saiu do salão comunal, ouviu a Mulher Gorda também cumprimentá-lo efusiva: "Tenha um bom dia, meu rapaz!". Ele teria um bom dia

no momento em que conseguisse se encontrar com ela.

Ao meio do caminho, entretanto, ele topou com Neville.

- Hei, Harry!

- Neville!

- Como você está?

- Tudo bem! Foi bom eu dormir um pouco.

Neville sorriu e ergueu as sobrancelhas, mas não comentou o fato de que o amigo dormira por dois dias seguidos.

- Fico feliz que esteja bem, Harry.

Uma sombra perpassou pelos olhos de Neville ao dizer aquilo. Harry sentiu que o carinho que tinha pelo amigo aumentou ainda mais. E, junto

dele, a admiração.

- Você foi muito corajoso, Neville. Obrigado por ter feito o que eu havia lhe pedido.

As bochechas de Neville rosaram levemente.

- Bem, não foi tão difícil, sabe? Quero dizer... - Sorriu sem graça. - Na hora que eu te vi nos braços do Hagrid, eu... - A voz de Neville oscilou

suavemente. Ele pigarreou. - Eu só pensava que eu devia fazer o que você havia me pedido. Era o mínimo que eu devia fazer. Não sei de onde

tirei tanta coragem.

- Eu sei de onde você tirou - Harry lhe sorriu -, e você deve saber também. Você foi o máximo, Neville.

- Valeu, Harry. - Neville colocou a mão no ombro de Harry, apertando-o firmemente. - É muito bom ter você de volta, cara. Bom mesmo.

Harry sorriu.

- É bom estar de volta também.

Vencemos, enganamos a fera, Potter é o Máximo,

Voldy já era, então agora vamos nos divertir à vera!

- Pirraça realmente sabe o que diz... - murmurou Neville, colocando as mãos nos bolsos da calça.

- Ele ainda está cantando isso? - Harry riu.

Neville revirou os olhos.

- Hei, Harry, você está inteiro de verdade, não está? - perguntou de repente.

- Estou, por quê? - retorquiu Harry.

- Bem, é que estão precisando de pessoas para ajudar a colocar o castelo em ordem, ajudar os professores, sabe? Eu estava indo chamar o

Simas e o Dino. Já era para eles terem voltado, mas acho que eles se enfiaram no salão comunal para se esconderem da Profa. McGonagall.

Você não poderia ir para o terceiro andar?

- Ah...

- A não ser que você estivesse indo para outro lugar... - Neville começou incerto. Então, de repente falou: - Vá para as estufas, então. Estão

precisando de ajuda na Estufa 7, mas vá pelo caminho da de número 4. - E saiu.

Harry ergueu as sobrancelhas, estranhando aquela reação do amigo. Mas antes que Neville virasse o corredor, querendo perguntar por Gina,

Harry gritou:

- Hei, Neville, você viu...

- Estufas, Harry! - ele lhe lembrou antes de sumir de vista.

Com uma careta nos lábios, Harry voltou a andar. Quem sabe não teria outra oportunidade para perguntar a outra pessoa?

No entanto, ele não conseguiu encontrar ninguém que lhe pudesse responder satisfatoriamente. Na verdade, pensou em como era curioso que

nem mesmo Rony ou Hermione estavam à vista. Contudo, logo percebeu que, provavelmente, Rony estaria com a irmã devido ao que

acontecera na batalha final.

Harry respirou fundo. Ainda não conseguia se conformar com as perdas daquela batalha. Pessoas maravilhosas, amigos queridos. Todos

lutando para que aquele pesadelo terminasse, para dar um mundo melhor para si mesmos e para seus filhos.

Remu e Tonks, que deixaram Teddy. Harry teria que cuidar dele. Era seu padrinho. Ou seria... "Formalidades", dissera-lhe Lupin ainda vivo.

"Assim que essa loucura terminar, faremos tudo direito". Teria que cuidar de Teddy, mesmo que o menino estivesse, no momento, na casa da

avó Andrômeda - agora também viúva.

Harry conseguiu alcançar os jardins do castelo. O céu estava azul, sem nuvens, como se quisesse que o sol aquecesse a tristeza de todos. Sem

perceber, seguia na direção das estufas de Hogwarts, contudo, pelo caminho da Estufa 4, com olhe instruíra Neville.

E Harry só conseguiu entender o por quê do amigo lhe dizer aquilo quando vislumbrou uma garota encostada a uma árvore, seus cabelos

rubros balançando levemente com a brisa. "Obrigado, Neville".

Automaticamente, o peito de Harry se encheu de calor. Seu monstro particular urrou de alegria e suas mãos já antecipavam a sensação que

seria ao tocar em Gina.

Ele começou a andar devagar à medida que se aproximava de Gina. Seus pés quase não faziam barulho quando já estava a três passos dela.

- Que bom que acordou - ela falou numa voz baixa que Harry só conseguiu ouvir por já estar a um passo dela.

- Não dormi tanto, dormi? - ele perguntou também baixo, ficando ao seu lado.

Gina olhou para ele e sorriu. Um sorriso não tão bonito, Harry constatou. Não o sorriso dela.

- Praticamente dois dias inteiros. - Os olhos dela se encheram de lágrimas, as quais já começavam a cair sem permissão. - Tempo demais para

mim.

Harry a abraçou sem precisar pensar. Passou seus braços protetora e acalentadoramente pelos ombros de Gina, trazendo-a o mais perto

possível, enquanto os dela apertavam a cintura dele como se, caso soltasse, ela fosse cair num abismo.

- Eu não agüentava mais ficar sozinha - ela falou com o rosto afundado no peito dele, a voz embargada. - Não conseguia mais ser tão forte pela

minha mãe, meu pai, pelos meus irmãos...

- Eu sinto tanto, Gina.

- Eu sei - ela falou simplesmente em resposta.

E permitiu-se chorar como não fizera naquelas horas, desde que Fred morrera.

Harry também não disse mais nada. Apenas a manteve em seus braços durante o tempo que Gina precisou, para depois ambos se sentarem

embaixo daquela árvore, com a garota ao meio das pernas dele, as costas encostadas em no peito de Harry. Os braços de Harry ainda

mantinham Gina perto dele, ainda protegendo-a daquela dor, enquanto seus dedos passavam suavemente pelo braço da garota.

O silêncio só foi quebrado um tempo depois por Harry, quando ele a ouviu suspirar.

- Que bom que está mais calma - falou, dando um beijo na bochecha dela.

- Obrigada.

- Como estão todos?

- Bem... Fred vai ser enterrado hoje - ela falou suavemente. - Mamãe e papai esperaram você acordar. Disse a eles que você gostaria de estar

presente, dar um último adeus a Fred. Lupin e Tonks, assim como outros, também o serão amanhã.

- Obrigado - foi a única coisa que Harry conseguiu dizer.

- De nada.

Gina virou o rosto apenas para conseguir visualizar pelo canto do olho a feição de Harry para lhe sorrir suavemente. No entanto, depois que o

olhou foi difícil de desviar. E depois que sentiu os dedos de Harry secar as últimas lágrimas em seu rosto, foi impossível fazê-lo. Ela não precisou

dizer nada, assim como ele.

Era como nos momentos que tiveram sozinhos, naqueles jardins, um ano antes. Eles se comunicavam apenas com o olhar. Sabiam o que o

outro queria apenas em vislumbrar seus olhos. E ambos viam saudade. Ambos viam amor demais. Um amor que queria tomar as rédeas da

situação mais uma vez.

Mais uma vez, Harry nem sequer pensou no que estava fazendo. Ele só queria sentir Gina, cheirar o cabelo dela e verificar se eles continuavam

com aquele maravilhoso cheiro de flores. Sim, eles continuavam. Continuavam macios também, deslizando por seus dedos à medida que

passeavam pelos fios.

A boca dela também continuava macia, quente, de um jeito gostoso de experimentar, delicioso de saborear. Cada vez mais apaixonante. E as

mãos dela, passando pelo seu pescoço, pelos seus cabelos, retirando depois seus óculos... Elas ainda continuavam quentes, macias... Gina era

toda maciez, era calor. Ela era seu amor e nada era mais certo do que eles.

Somente depois de longos minutos que eles finalmente se separaram, as respirações ofegantes.

- Senti tanto a sua falta - ela murmurou, ainda de olhos fechados, afundando seu rosto no pescoço de Harry.

- Eu também - retorquiu, colocando os cabelos dela atrás da orelha e dando-lhe um beijo no rosto. - Me desculpe por isso.

Gina soltou um riso fraco e se afastou dele um pouco para poder olhá-lo.

- Harry... Meu Harry - falou, passando os dedos pelo rosto dele. - Que não consegue ficar sem se desculpar mesmo quando a culpa não é

realmente dele.

Harry deu um meio sorriso encabulado.

- Preciso parar com essa mania, então.

- Não precisa.

- Não?

- Eu gosto de suas manias. - Gina o encarou. - Sem elas, você não seria você. E eu não te amaria como te amo.

Harry sentiu sua respiração falhar, assim como uma batida de seu coração, que depois acelerou. Gina nunca dissera que o amava, antes. Sim,

ele sabia que ela gostava dele, de seu xodó quando ainda era uma menina tímida perto dele. Mas...amor? Amor era uma palavra nova na

conversa deles. Porém, não nos pensamentos.

Gina estava constantemente em sua mente, disso Harry não poderia negar nem se lhe pagassem. Cada vez que pensava nela, seu coração se

apertava de saudades, seu estômago parecia que sairia pela boca de aflição, imaginando-a presa nesse castelo com Comensais da Morte. Não

foi tão difícil, quanto ele pensou que seria, quando percebeu que a amava. Afinal, ele não percebera seus sentimentos também da noite para o

dia. Perceber que a amava não foi igual ao primeiro beijo que trocaram: um ato quase impensado, surpreso. Quando Harry percebeu que a

amava, não se sentiu surpreendido por tal pensamento. Claro que ele a amava. Para ele, Harry, amar Gina era a coisa mais certa que ele

poderia fazer, assim como ficar com ela.

Sua atenção direcionou-se novamente para Gina, pois a garota se remexia em seus braços, ficando novamente encostada em seu peito. Ele

não a sentiu a vontade em seus braços como antes. Ela parecia cuidadosa. Estava tensa.

- Onde está Rony e Hermione? - perguntou, querendo fazê-la desviar os pensamentos de onde quer que eles estivessem.

- Por aí. Eles começaram a namorar, sabia?

- Verdade? - Harry riu. - Também, depois do beijo que a Mione deu nele.

- A Mione me contou - Gina sorriu. - Eu pensei que eles se acertariam durante a... A viagem que vocês fizeram, durante a guerra.

- Eu também pensei. Acho que até conseguiria, caso o Rony não tivesse indo embora.

- Embora? - Gina virou para Harry. - Como assim, embora?

- É uma história não tão agradável, mas... - Ele decidiu contar quando viu os olhos inquiridores de Gina.

- Oh... Que horrível - Gina falou depois de ouvir a história.

Ficaram em silêncio novamente. Harry, não se agüentando, falou:

- Não foi assim que eu pensei que estaria com você, sabia?

- Como? - Gina virou-se para ele novamente.

- Eu não esperava muito silêncio ou conversas... Quero dizer, algumas conversas sim, mas o silêncio que estaria não seria pela falta de palavras

e sim por outras coisas.

- Por que você está dizendo isso?

- Gina. - Harry respirou fundo. - Você está tensa enquanto eu te abraço, o que há de errado? Estou fazendo algo incerto?

- Não, claro que não, Harry - apressou-se Gina.

- Eu sei que você esperava uma resposta pelo que me disse. Quando disse que me amava - Harry completou ao vê-la olhá-lo incerta. As

bochechas de Gina coraram.

- Não estou te cobrando coisa alguma, Harry. Nunca faria isso. Eu só quis dizer que te amava, porque é verdade. E me deu vontade, também.

Eu vi que você ficou incomodado e...

- Fiquei?

- Não ficou?

- Não! De onde você tirou isso?

- Bem, você ficou quieto, não olhou para mim e... Em que você estava pensando, então?

Harry sorriu um pouco constrangido.

- Eu estava pensando que você nunca tinha me dito que me amava. E também estava pensando quando eu descobri isso.

- Isso o quê? Que eu te amo? Foi quando você foi à Toca pela primeira vez - Gina falou rindo, as bochechas não perdendo a cor rosada.

- Não. Pensava em quando eu descobri que te amo também.

Gina o olhou com os olhos quase arregalados.

- Foram as noites mais solitárias da minha vida. Eu queria tanto estar com você, dizer a você que a amava. E quando te encontrei, não consegui

falar com você, e nem tinha condição para isso. A batalha, Voldemort... Eu nunca me esqueci do presente de aniversário que você me deu, Gina.

E não o esqueceria mesmo se uma veela cruzasse meu caminho.

Gina sorriu e, novamente, encostou seu rosto no pescoço de Harry, beijando-o.

- Obrigada.

- Obrigado por você existir.

- Queria que você tivesse se esquecido do presente, por um momento.

- O quê? - Harry retorquiu, não entendendo.

- O que te dei, no seu aniversário.

- Por quê?!

- Para relembrá-lo.

- Bom... - Harry deu um meio sorriso. - Acho que minha memória falhou um pouco, agora, sabe?

- Verdade?

- Com certeza.

- Então vou cuidar disso...

E Gina o relembrou com prazer.

- Te amo - Harry falou depois que se separaram.

- Também te amo.

Não importava que aqueles dias ainda seriam assombrados pelas dores e perdas daquela guerra. Os vários dias ensolarados viriam novamente

e, pelo visto, não iriam embora nunca mais. Pois, por mais que dissessem o contrário, eles eram uma necessidade na vida de Harry Potter. Uma

dádiva.

Eles eram sua nova realidade. Uma realidade com Gina.


Primeira Fic, espero que gostem!

Ou pelo menos, sejam um pouco condesncentes comigo.

Thierry Harry