"E no final, ele morreu por amar demais..."
Vivendo uma realidade falsa eu sorria, acreditando cegamente em tuas mentiras. Idealizava teu amor ao anoitecer, quando apagavas as velas, desejando-me boa noite em meio a breu do aposento. Apenas sua voz soava, e eu dormia tranqüilo, imaginando mil e uns momentos que hoje vejo... Tão impossíveis, tão distantes.
Inúmeras vezes peguei-me me perguntando se era possível não perceber a maneira adorável como você ajeitava seus óculos quando estes estavam prestes a cair. Inúmeras vezes peguei-me sorrindo quando me dirigias a palavras. Inúmeras vezes peguei-me observando-te ás escondidas. Inúmeras vezes peguei-me suspirando ao pensar em ti. Inúmeras vezes chamei teu nome em meio ao desespero, por mais que não tenhas ouvido-me.
Porém, com o passar do tempo, percebi que não me vias da mesma maneira. Consolei-me tentando imaginar que poderias estar com medo demonstrar, tentei pensar positivo. Eu tinha esperanças, e por mínimas que fossem, foram nelas que confiei. Fazendo o possível e o impossível para chamar tua atenção, acabei tornando-me nada mais que um fardo para você. E tamanha não foi minha surpresa ao descobrir que não era o suficiente para ti. Creio que ser apunhalado milhares de vezes por lâminas frias doeria menos do que ser substituído.
Tudo que desejei foi seu amor. E abriria mão de qualquer coisa para tê-lo. Deixe-me levar por tuas falsas promessas e acreditei que um dia pudesse corresponder todo este sentimento. E até hoje me pergunto se o erro foi meu, por ter sido tão ingênuo, ou talvez, meus esforços para fazê-lo tornar-se meu não tenham sido o suficiente.
E agora, cá estamos nós. Onde? Não sei dizer ao certo. Talvez seja a tão falada pós-vida. Ao olhar em volta, vejo que não é tão ruim quanto imaginei que seria, até porque, minha visão está pouco nítida. Tudo parecer estar coberto por uma densa neblina, e é difícil enxergar qualquer coisa a não ser sua figura aproximando-se cada vez mais.
Minha vontade não é nada menos do que correr até você, abrigar-me em teus braços, e ouvir tua voz garantindo-me que tudo ficará bem, independente do que aconteça. Ouvir que estarás ao meu lado, certificando-se de minha segurança. Porém, calei-me. Calei-me até o momento em que estávamos tão próximos que pude ouvir tua respiração.
Havia tantas perguntas sem respostas, tantas coisas que eu gostaria de saber. Porém, faltou-me coragem para questionar-lhe. Talvez pelo medo de tuas palavras machucarem mais do que a tortura da incerteza.
Sem dizer nada, apenas lhe envolvi em meus braços, e inconscientemente, derramei minhas lágrimas doloridas em teu peito. Lágrimas há muito acumuladas, lágrimas sofridas e maltratadas.
- ... Por quê? – Balbuciei.
Sem obter respostas, apenas senti tuas mãos acariciarem meus cabelos louros, como se quisessem me confortar. Eu queria poder afastar-te de mim, mandar-te ir embora, para onde? Não sei. Não me importaria. Infelizmente, meu amor por ti era maior que a razão e o orgulho. Sempre foi. E apesar de tudo que acontecera, apesar de teres rompido minha vida para alcançar seus objetivos egoístas, tudo que eu queria era você.
Mesmo sem respostas, mesmo sem certezas, mesmo sem razões... Eu apenas desejo passar a eternidade ao seu lado, Claude.
