Tava saindo do treino de natação quando um babaca bateu na traseira do meu carro, eu desci e comecei a reclamar, então percebi que se tratava de Jean Martins, o vizinho de frente. Ele era daqueles que valia a pena dizer um uau. Então fiquei meio que hipnotizada.
— Ah, meu Deus, me desculpe! — ele disse com as mãos levantadas.
— Não foi nada — eu respondi sem pensar —, quer dizer, não. Você bateu no meu carro, tá maluco?
— Eu posso pagar pelo concerto.
— Mas é claro que você vai pagar — falei com indignação. Na minha cama, foi o que cogitei.
Ele passou suas mãos grandes pelos seus fios de cabelo castanho claro. Adoraria ser tocada por aquelas mãos.
— Deus, onde estou com a cabeça? — disse ele, exaltado.
Qual delas?
Rapidamente repreendi meus pensamentos sujos.
— Bem, não se culpe tanto, foi só uma batidinha e como você mesmo disse, vai pagar pelo concerto. Tudo resolvido por aqui. — Bati as mãos como quem limpa a poeira das mesmas.
Ele me olhou com certa preocupação a transparecer.
— Você é a srta. Ashland, não? — perguntou.
Eu abri um sorriso pretencioso.
— Apenas Leah, muito prazer! — estendi a mão, que fora ligeiramente encoberta pela dele. Sua pele era tão suave, lembrei-me de listar essa qualidade à minha lista de coisas que amava em homens americanos.
— Sou Jean, igualmente.
Não que eu já não soubesse, mas fingi que não lembrava no momento.
— Tudo bem passar na minha casa mais tarde para acertarmos isso? — indicou a trazeira amassada do meu carro.
— Oh, sim, tudo bem. — Se isso significar ir parar na sua cama…
Ele sorriu com gentileza, então se despediu e entrou no carro e partiu, enquanto fiquei dando pulinhos de alegria. Do outro lado da pista tinha um garoto magricela me olhando como se eu fosse louca, o que me fez ficar de bochechas quentes. Então entrei apressadamente em meu carro recém amassado e parti, na mesma hora em que a vaca da Debby resouveu me ligar.
— Bish na escuta — falei ao atender.
— Preciso te contar uma coisa — ela disse com euforia sobre os autofalantes do carro.
— Eu preciso te contar uma antes — me apressei.
— Tem a ver com macho?
— Só um momento, preciso enxugar minhas virilhas.
— Vadiaaaa! Quem é ele?
— Sabe o vizinho de frente que você adora apreciar a bunda? Ele bateu em minha traseira.
Ela deu um gritinho histérico.
— Cadelaaaa! Ele não é casado?
— O que importa?
— Vou querer detalhes como tamanho, espessura e cor — Debby exigiu.
— Vai ter que esperar até amanhã porque vou estar na cama com ele hoje a noite — meu espirito exibicionista falou por mim.
— Tira foto!
Parei no sinal fechado e avistei um casal de idosos se beijando no banquinho da pracinha em uma faixa de vinte metros da avenida. Minha mãe com suas loucuras me fez acreditar que ver algo assim é sinônimo de má sorte, então meio que fiquei paranoica no instante.
— Amigaaa, você ainda está ai? — Debby chamava no telefone.
— Oh, sim, estou. O que a vadia queria me dizer?
— Então, tenho um par de ingressos para o show da banda do Troye no sábado e pensei na bish league aprecer por lá.
— Não sei não, amiga. Vai que alguém da banda me reconhece.
Ouvi ela suspirar.
— Eles não vão te reconhecer, isso foi a um século. Por favooor!
Debby esteve comigo nos meus piores momentos, não custava dar uma forcinha nela com o Troye.
— Okay, eu vou. Mas com uma condição.
— Qual é?
— Eu escolho o look da vadia.
Ela gargalhou esteticamente.
— Siiim. Valeu, amiga!
O sinal abriu e eu ainda não havia parado de olhar para o casal de idosos.
Ah, superstição boba.
