Kagome Higurashitomou mais um gole de sua taça, fechou os olhos e emitiu um leve gemido de satisfação. Champanhe é a bebida mais saborosa e fabulosa do mundo. E depois de consumir quatro taças desse líquido espumante delicioso nas últimas duas horas, ela se considerava uma bela de uma especialista. Aliás, decidiu, dando mais um gole, era algo tão maravilhoso que nunca beberia mais nada além de champanhe.
Ela soluçou alto, e a força do soluço foi tanta que a fez pular da cadeira. Ela levou a mão à boca e olhou ao redor. Felizmente, apenas alguns poucos convidados do casamento continuavam lá e, a não ser pelo Sr. Sampson — seu professor de matemática da oitava série — sentado na mesa ao lado, ninguém pareceu notar. Um segundo soluço sobreveio, ela então prendeu a respiração e começou a contar em silêncio. Quando a contagem chegou a trinta, baixou a mão e soltou o ar com todas as suas forças, levantando sua franja.
Em seguida, soluçou novamente. Ela bufou uma risada. O Sr. Sampson franziu a testa em desaprovação enquanto ajudava sua esposa a vestir o casaco para partir. Kagome sorriu, levantou a taça em direção a ele em um brinde silencioso e bebeu o resto do líquido de um gole só. Ele balançou a cabeça e apressou a Sra. Sampson para fora da sala de jantar.
Suspirando, sonhadora, Kagome colocou o cotovelo na mesa e apoiou o queixo na mão, enquanto observava seu irmão, Souta, e sua noiva dançando ao som da música lenta. Eles eram os únicos na pista de dança, o que tornava ainda mais doce à visão dos dois com os corpos totalmente entrelaçados.
Souta e Kanna eram, obviamente, loucos um pelo outro. Melhor ainda, Kanna e Ayame, a pequena filha de Souta já tinha estabelecido um forte vínculo. Quem teria pensado que seu irmão, um policial certinho de uma pequena cidade, iria encontrar o amor verdadeiro com uma autêntica meSango rebelde da cidade grande?
Deus, isso era tão romântico.
Kagome serviu-se mais da bebida mais saborosa e fabulosa do mundo com a mão que estava livre, mas como sua cabeça parecia extraordinariamente pesada, não conseguiu erguê-la para beber. Apenas guiou a taça à boca e se inclinou para a frente até que pudesse sorver algum líquido.
Mas não era a única que tinha sido contagiada pelo clima de romance daquele dia. Horas antes, notou o irmão de Kanna, Miroku, dançando com Sango Carlson, uma amiga sua do colegial. Eles devem ter decidido fazer algo para aplacar as faíscas que seus corpos lançaram no ar, porque pouco tempo depois Kagome os avistou entrando na camionete de Miroku. Do jeito que agiram, como dois adolescentes escapulindo juntos, Kagome supôs que eles não gostariam que ninguém soubesse que estava bem... escapulindo juntos. Por mim, tudo bem, pensou Kagome. Ela sabia ser dis... Ela torceu o nariz e procurou a palavra certa. Ela sabia como ser... disparatada? Dissimulada? Dis... dis... Enfim, sabia como manter um segredo. Afinal, há dez anos mantinha um bem grande, não é mesmo?
Ela esquadrinhou o salão novamente, procurando o único, o único homem capaz de fazer seu coração palpitar. Inuyasha Taisho, com seu cabelo loiro desgrenhado, olhos escuros, sorriso torto e raciocínio rápido, era a sua alma gêmea. Ela sorriu. E lá estava ele, incrivelmente sexy em seu terno escuro. Estava de pé perto do bar e — Kagome estreitou os olhos para enxergar melhor
— Flertando com Kikyou, sua prima gostosona?
Kagome tamborilou com os dedos na lateral de sua taça. Manteve seu amor por Inuyasha em segredo por todos esses anos. Ninguém mais sabia; ninguém tinha a menor ideia de que ela e Inuyasha estavam destinados a ficar juntos. Nem mesmo Inuyasha.
Mas tudo isso estava prestes a mudar, decidiu, ao bater a mão livre sobre a mesa e se levantar. O salão girou um pouco, mas segurou firme até que as coisas se endireitaram novamente. Ela pegou a garrafa de champanhe com uma das mãos, a taça com a outra, ergueu os dois braços para fora um pouco para obter equilíbrio e deu um passo cuidadoso e cambaleante em direção ao bar. Estava indo pegar o seu homem
Inuyasha Taishotentava se concentrar no que a mulher na frente dele estava dizendo. Mas, apesar de Kikyou ser uma gata, de cabelo loiro e corpo escultural — três de seus traços favoritos —, ele não conseguia cultivar mais que um interesse passageiro.
Kikyou parou de tagarelar sobre seu trabalho como assistente jurídica e olhou para ele com expectativa. O que ela havia dito? Sem ter a menor ideia, Inuyasha tratou de armar um meio sorriso e acenou com a cabeça, o que pareceu ter funcionado, já que apertou o seu braço e continuou a falar. Inuyasha tomou um gole de cerveja. Deve haver algo de errado com ele. Por que mais ficaria frio diante daquela mulher?
— Com licença — disse uma voz feminina rouca atrás dele. Um arrepio de antecipação subiu sua espinha... Mas aquela ansiedade murchou quando se virou e encontrou um par de olhos cinzentos familiares.
— Ei, gênio maluco — disse ele, ignorando o modo como seu estômago se revirou ao vê-la. — Como é que andam as coisas?
O olhar que Kagome lhe lançou por ter mencionado seu antigo apelido — que ele e Souta lhe deram quando tinha 8 anos e desde então a perseguia — deveria ter feito seu sangue gelar. Só que foi subitamente tomado por uma onda de calor.
Ele discretamente colocou a palma de sua mão contra a testa para verificar se estava com febre, já que não conseguia entender sua falta de interesse em Kikyou nem a reação completamente descabida que teve em relação a Kagome. Ele devia estar ficando doente.
— Eu odeio interromper — disse Kagome —, mas a tia Kagura está procurando por você, Kikyou.
Inuyasha franziu o cenho. Ele não conseguia evitar achar que ela estava mentindo, tanto quando disse não querer interromper quanto sobre a mãe de Kikyou estar procurando por ela. Ora, era um policial, é o seu trabalho detectar mentiras.
— Eu volto já — Kikyou disse, passando os dedos nas costas de sua mão. — Então, talvez possamos encontrar um lugar um pouco mais — ela lançou um olhar cortante para Kagome, que desviou os olhos — reservado para conversar.
Ela saiu e Kagome prontamente tomou seu lugar. Ele deu um passo para trás para não ficar em seu caminho, e não porque a visão dela naquele vestido preto revelando cada curva fizesse seu pulso acelerar.
Kagome encostou-se ao bar, o que por si só era incomum, uma vez que não era do tipo que se inclina. Ela era mais do tipo ombros para trás, coluna reta e postura perfeita.
— De nada — disse ela.
Ele piscou. — E por que eu deveria agradecer?
Por que ele deveria ser grato a ela, fora pelo fato de estar usando esse vestido? Deus me ajude. E aqueles sapatos sensuais de salto alto deixando os lindos dedos à mostra...
Algo se eriçou dentro dele, algo que ele brutalmente reprimiu. Só de pensar em como estava linda, sentia-se totalmente errado, já que era a irmãzinha de seu melhor amigo.
E não era só isso. Kaede e Myouga Higurashi, pais de Souta, tinham tratado Inuyasha como seu próprio filho desde que seu pai partiu. Inúmeras vezes, eles permitiram que dormisse em seu sofá, que os acompanhasse em passeios familiares e deixavam claro que Inuyasha sempre teria um abrigo em sua casa.
Quando Inuyasha passou por uma fase difícil durante a adolescência e sua mãe não conseguia nem conversar com ele, foi Myouga que o endireitou. Quando Inuyasha quis convidar uma garota para sair pela primeira vez, foi a Myouga que procurou para se aconselhar. Céus, admirava Myouga tanto que seguiu seus passos — e os de seu melhor amigo — direto para a academia de polícia.
Ele respeitava e amava a família Higurashi, mas, acima de tudo, Inuyasha devia a eles. E a pior maneira de recompensá-los seria ter pensamentos impróprios em relação à filha caçula do casal.
Ela colocou uma mecha de cabelo por trás da orelha. — Você deveria me agradecer se livrar de Kikyou.
— E por acaso eu passei a impressão de que eu queria que ela fosse embora?
— Não — admitiu, gesticulando desajeitadamente com a garrafa na mão. Ele recuou para não ser atingido na cabeça com a maldita coisa. — Mas eu conheço você. Ela não serve para você de jeito nenhum Ela é chata. — Kagome se inclinou para a frente, dando-lhe uma visão de seus seios exuberantes. O estômago dele se contorceu. Ela baixou a voz e falou lentamente, como se escolhendo cuidadosamente as palavras.
— Além disso, você pertence a mim.
