Uma Fantasia Maravilhosa- Anne Eames
Uma Fantasia Maravilhosa
Anne Eames
Título Original: The Pregnant Virgin (2000)
1º Banco de Bebês
Desejo 958
Trabalhar em um banco de espermas tinha suas vantagens. Ali Celeste poderia ficar grávida sem ter que esperar seu príncipe azul.
Mas uma vez posto em ação o "Projeto Menino", Ali conhece o doador, um bonito médico chamado Brad Darling. E a atração entre eles foi inegável.
Depois de uma noite de paixão, Ali descobriu que estava grávida. Mas as contas não saíam e Brad pensou que, nem ele era o pai do menino, nem ela era tão inocente como parecia.
Ali teria que convencê-lo de que aquilo não era nenhuma armadilha para casar-se com ele, simplesmente, o destino e a medicina moderna tinham conspirado para reunir duas almas gêmeas.
Série: Multi Autor – 01 Banco de Bebês
Editora: Harlequín Ibérica
Gênero: Contemporâneo
Protagonistas: Brad Darling e Ali Celeste
DISPONIBILIZAÇÃO: ROSANGELA NUTRI
TRADUÇÃO: DENISE FERREIRA
REVISÃO: BRUNA CARDOSO
FORMATAÇÃO: ALE MODOLON
CAPITULO UM
― O quê?
― Que vou ter um menino – repetiu Ali Celeste, desfrutando da expressão de perplexidade no rosto de sua irmã Lynne.
― Mas como...? Eu nem sequer sabia que você tinha um noivo! – exclamou sua irmã a ponto de um colapso.
Ali decidiu esclarecer a situação.
― Disse que vou, não que estou – explicou, afastando o prato de salada.
Lynne se apoiou no encosto da cadeira e jogou uma toalha pela abarrotada cafeteria do hospital de Detroid. Provavelmente, para comprovar se alguém escutava a conversa, pensava Ali, incapaz de apagar o sorriso de seu rosto.
― Não tem graça ― disse Lynne, tentando mostrar-se séria. ― Me destes um susto de morte!
― Por quê?
― Grávida antes de contrair matrimônio? Mamãe se levantaria de sua tumba.
― Antes de contrair matrimônio? – riu Ali. Essa é uma expressão do século passado.
― Os princípios seguem sendo os mesmos - replicou Lynne, olhando a sua irmã com cara de reprovação.
Ali olhou o romance que havia ao lado de seu prato. Se pudesse encontrar um homem como o daqueles romances, pensava.
― Acreditei que queria te manter virgem até que chegasse o teu Príncipe Azul.
― E esse segue sendo o plano.
Lynne a olhou confusa.
― Do que está falando, Aléxis Enjoe?
― Bom, já sabe que trabalho em uma clínica de fecundação assistida...
― E o que tem isso...? – De repente Lynne abriu os olhos como pratos – Não está querendo dizer...?
― Por que não? Ali posso conseguir o que necessito... – seguiu dizendo Ali, para escândalo de sua irmã.
― Por favor, Ali, para que você necessita de um banco de esperma? Só tem vinte e oito anos...
― Já, mas dentro de um mês cumprirei outro ano mais – a interrompeu Ali.
― Esse é o problema? Sente-se velha?
Ali negou com a cabeça.
― Nunca pensei que na minha idade seguiria sendo solteira. E não me diga que continuo sendo uma menina...
― Mas ainda é. Ainda continuará por muitíssimo tempo.
Isso era o que Ali estava acostumada a pensar. Mas em sua mente seguia aparecendo a fantasia que tinha acariciado durante anos, a imagem de um homem forte e, de uma vez, sensível, que se apaixonaria loucamente por ela. Quase podia ver seus olhos: intensos, sinceros. E cheios de amor.
Ali olhou a capa do romance.
Exatamente como os daquele homem.
― Não te ofenda, Lynne, mas você pensava que tinha todo o tempo do mundo e olhe o que demorastes a ter um menino – disse Ali em voz baixa.
– Tinha quase quarenta anos quando ficou grávida.
Recorda os anos de ansiedade, por não mencionar a dinheirama que você e Ken gastaram em tratamentos?
Lynne assentiu com falta de apetite.
― Como vou esquecer? Se não tivesse sido pela herança de mamãe, ainda estaria pagando o empréstimo... Mas não me queixo, Keri merece cada centavo que gastamos.
― Estou de acordo – sorriu Ali, recordando as rosadas bochechas de Keri. Se gostava tanto de sua sobrinha, o que sentiria por um filho próprio? Sempre gostou de crianças e não tinha dúvidas de que iria fazer o correto. Seria uma inocente se esperasse o homem dos seus sonhos. Além disso, que possibilidades tinha de encontrá-lo? Era hora de tomar providências no assunto e se dava conta de que sua irmã começava a entendê-la.
― E não se esqueça de Bárbara. Ela não teve tanta sorte como você. Timmy é um céu e ela o quer como se fosse filho dela, mas nós duas sabemos que a adoção é o último recurso, quando todo o resto falhou.
Lynne tomou a mão de sua irmã.
― Carinho, que eu tenha tido problemas para ficar grávida não significa que você os vá ter.
― Mas não quero esperar até o último momento para saber. Além disso, não conheci um homem decente em dois anos. Dentro de nada terei trinta e continuarei tentando me atirar em cima de alguém. Por favor, compreenda-me. Necessito de apoio.
Ali olhou para Lynne, esperando que ela entendesse a seriedade de sua decisão.
― Vejo que está decidida – suspirou sua irmã por fim – Bom, se o que queria era minha benção, já a tem.
Ali desejava saltar da cadeira para abraçá-la.
― Obrigada Lynne, significa muito para mim. – Sorriu aliviada – O que você acha que Bárbara dirá?
― Provavelmente o mesmo que eu. Primeiro dirá que está louca e depois que faça o que achar melhor.
Nunca fomos capazes de te diz não pra tudo, irmãzinha, e você sabe.
Irmãzinha. Esse era o problema. Às vezes se perguntava se seu desejo de ter um filho não era uma forma de fazer com que suas irmãs deixassem de vê-la como uma menina. Sempre a tinham tratado desse modo, embora morasse sete anos sozinha e estava indo muito bem. Exceto nas relações amorosas. Os homens seguiam sendo um enigma para Ali.
― E falando em Bárbara – disse, mudando de assunto – O que acontece com a volta de Tom a Detroid?
― Pensava que voltariam antes do Natal, mas têm que esperar até a primavera – respondeu sua irmã, olhando a seu redor. – Por favor, te incomodas de jogar uma toalha? – sussurrou – Neste hospital há um montão de homens bonitos e não acredito que todos estejam casados.
Ali suspirou frustrada. De novo aquele assunto.
Ela não estava procurando um médico. A experiência a tinha mostrado. E, se, além disso, era bonito, era melhor esquecer o assunto. Provavelmente tinha um ego do tamanho de Saturno.
Mas Lynne pensava de forma diferente.
― Olhe esse loiro, o alto do canto.
― Por favor, Lynne. Deve medir dois metros. Justo o que me falta, um homem que meça quarenta centímetros a mais que eu.
― E esse com pinta de estudioso, o de óculos? – Insistiu Lynne.
― É homossexual.
― Como sabe?
― Não sei. – Riu Ali – Mas poderia ser. O assunto voltaria a aparecer. Sua irmã era imbatível ao desânimo.
― O que?
― Abaixe a voz – disse Brad Darling, olhando ao seu redor. ― Ouvistes perfeitamente.
― Mas, porque vais fazer… Isso? – perguntou Craig, escondendo a cara detrás de seu copo de suco, como se temesse que alguém pudesse ler seus lábios.
Brad riu gostosamente.
― Porque é rápido, fácil e lhe pagam muito bem. Nem todos nasceram em um berço de ouro como você, Craig.
― E quantas vezes tem-no feito? – Perguntou Craig.
― Hoje vai ser a primeira vez. Há uma clínica de fecundação assistida na nova ala do hospital e vou assim que terminar de comer. – respondeu Brad, perguntando-se se teria feito bem em contar ao seu amigo.
― E não tem medo de que alguém o reconheça?
― Por favor, Craig, não vou cometer nenhum crime.
― Mas tem uma reputação a manter. É médico…
― Apenas.
― Bom, somos residentes no hospital, mas ainda assim…
― Olhe, não vou de jaleco. Trocarei de roupa e entrarei pela porta principal, como se chegasse da rua. Se alguém me vir, que me veja. – Du de ombros Brad – Mas tão pouco penso em me anunciar.
Crag soltou uma gargalhada.
― Já posso imaginar as brincadeiras: "Brad, te interessa uma visita ao banco de esperma? Não tinham me dito que ganhas o salário com o suor da sua… mão."
― Muito engraçado. – disse Brad, dando uma última dentada no sanduíche. – Tenho que ir. Falamos-nos depois.
― Até te diria: "Não faça nada que eu não faria", mas…
― E é assim. Vão me pagar por isso. – sorriu Brad, pegando sua bandeja.
Desejava estar tão seguro como tinha feito Crag acreditar, mas na realidade, estava engasgado.
E Craig tinha razão sobre uma coisa. Se seus companheiros ficassem sabendo o que iria fazer, passariam um bom tempo rindo aos seus custos.
CAPÍTULO DOIS
Às duas da tarde, Ali abriu seu romance e, escondendo-se atrás do computador, começou a ler da onde tinha parado:
Sabia que seria naquela noite. A luz das velas iluminava o local e a chaminé estava acesa. Levantou sua taça de champanha…
― Pelo amor da minha vida – brindou com um olhar tão intenso que a enjoava. Depois, deixou a taça sobre a mesa e a tomou em seus braços. Seus olhos cravados na boca feminina, seus lábios aproximando-se até que…
― Darling – escutou Ali, confusa.
― Sim – murmurou ela, com os olhos semi-fechados.
― Brad Darling. Tenho uma entrevista.
Ali saiu de seu romântico estupor e ficou atônita ao ver frente a ela o homem da cafeteria.
― Ah… Sim, claro. – murmurou, fechando o romance e procurando no arquivo. Mas quando voltou a levantar os olhos, ele sorriu e ali teria jurado que o ar condicionado tinha deixado de funcionar.
Rapidamente, desviou o olhar e se concentrou no relatório. – Vejo que fez os testes preliminares e parece que está tudo em ordem. – disse sem olhá-lo ― Quantas vezes pensa vir?
― Perdão?
― Uma vez na semana, no mês?
― Pois... – começou a dizer ele, esclarecendo a garganta. Ali se deu conta de que ele estava nervoso. Era normal na primeira vez. ― Não sei, digamos que uma vez na semana.
― Hoje tudo bem pra você?
― Sim. Tudo bem pra mim.
― Se não se importa, sente-se, alguém o atenderá imediatamente.
Enquanto chamava a enfermeira para informar que tinham um doador esperando, Ali o observou pelo canto do olho. Usava uma camisa azul e jeans gastos, que lhe caiam como uma luva. Gostava mais assim do que com o jaleco do hospital, embora no jaleco também ficasse maravilho...
"Mas no que está pensando?", disse-se irritada. Ali era a primeira que criticava os homens por fixar-se somente no físico de uma mulher. Além disso, ela nunca sairia com um médico. Todos os médicos se acreditavam tocados pela mão de Deus... "Droga!", pensou. Tinha ido ali com a esperança de criar pequenos deuses. Sua contribuição à raça humana.
Ali colocou o relatório no arquivo, repreendendo a si mesma por seus frívolos pensamentos. Felizmente, a enfermeira logo o levaria dali.
Mas a enfermeira não saía e, cinco minutos mais tarde, o homem se aproximou dela e lhe deu de presente um sorriso tão ofuscante como o de Brad Pitt.
― Sabe quanto tempo terei que esperar? Tenho que voltar ao trabalho.
Se fosse loiro, poderia ser o dobro de seu ator favorito, pensava Ali.
― Vou ver o que está causando o atraso – murmurou levantando-se. Mas o homem estava posicionado entre sua escrivaninha e a porta do corredor e não lhe deixava espaço para passar. Ali ficou olhando o pêlo escuro que aparecia pelo botão aberto da camisa, esperando que ele se afastasse. Como não o fazia nervosa, levantou o olhar.
Grande engano.
Os olhos do homem eram muito azuis. Muito intensos.
A porta se abriu atrás deles e os dois se viraram de uma vez.
― Senhor Darling? – chamou a enfermeira.
― Sim - respondeu ele, sorrindo uma última vez antes de afastar-se.
Ali voltou a senta-se, suspirando. Pegou o romance e, depois de um último olhar ao descamisado herói da capa, guardou-o na bolsa. Possivelmente sua irmã tinha razão. E, certamente, aquele não era o melhor lugar para ler romances de amor.
Felizmente, o telefone começou a tocar e o trabalho a fez esquecer momentaneamente aqueles incríveis olhos azuis.
Mas quando Brad Darling passou na sua frente, uns minutos mais tarde, seguiu-o com o olhar.
E, nesse momento, uma idéia começou a tomar raízes.
Brad caminhava com pressa, zangado consigo mesmo. O que lhe tinha acontecido? – perguntava-se. Paquerar com uma empregada do banco de esperma que pensava visitar uma vez na semana...
"Muito inteligente, certamente", disse-se.
Tinha que esquecer daquela garota por completo. Embora parecesse uma das salva-vidas da praia e tivesse um coeficiente intelectual acima de cem. Ele não tinha tempo para fazer vida social. Ao menos até que tivesse lugar fixo como medico do hospital. E inclusive não teria problemas para pagar o aluguel.
Enquanto colocava o jaleco na sala dos médicos, Brad tentava não recordar os anos que demoraria a devolver o empréstimo de 120.000 dólares com que tinha pagado seus estudos.
Mesmo assim, durante o dia, suas preocupações monetárias foram substituídas pela imagem daquela garota. Recordava seu longo e sedoso cabelo loiro, perguntando-se que aspecto teria quando estivesse despenteada, com o cabelo caindo sobre seu rosto...
Quando as coisas começaram a se acalmar, por volta de meia-noite, Brad encontrou uma cama vazia e se deitou para dormir um pouco. Como sempre o dia tinha sido longo e exaustivo. Suspirando, fechou os olhos... Ali estava ela de novo.
Ali tinha ficado na cafeteria do hospital com Michelle Singleton, a programadora de informática que a tinha ajudado a conseguir o emprego na clinica. Tinha conhecido Michelle em seu emprego anterior e, quando ela apresentou sua demissão, farta dos arrogantes cirurgiões, ali lhe tinha pedido que a ajudasse a procurar outro emprego. Após isso, ficaram muito amigas.
Ali chegou uns minutos adiantada e escolheu a mesma mesa do dia anterior, mas daquela vez se sentou na cadeira que tinha ocupado sua irmã. As pessoas são animais de costume, pensava, e se o homem dos olhos azuis se sentava no mesmo lugar, poderia olhá-lo à vontade.
Michelle chegou sorrindo uns minutos mais tarde.
― Que tal o trabalho? – perguntou, deixando a bandeja sobre a mesa.
― Muito bem.
A mesa atrás de Michelle continuava vazia e as duas conversavam enquanto comiam, até que Ali encontrou coragem suficiente para contar a sua amiga a razão pela qual a tinha chamado.
― Eu gostaria de te fazer uma pergunta pessoal, mas se não quiser responder, eu vou entender.
― Não posso imaginar o que pode ser tão pessoal, mas pergunte.
― Sua inseminação – disse Ali, direta ao ponto. Michelle lhe tinha dito que tinha ido há clínica uns anos antes e Ali queria que lhe desse detalhes.
― Ah, isso – sorriu Michelle – O que quer saber?
Antes de responder, Ali lhe contou que tinha decidido ter um filho e que fez os testes em outra clínica de inseminação artificial que trabalhava em coordenação com a do hospital de Detroid.
― Sim, é melhor que tenha feito em outra clínica. Assim economiza as fofocas. – disse Michelle – Me surpreende que tenha tomado essa decisão sendo tão jovem, mas suponho que tenha suas razões.
― A verdade é que ainda tenho certas reservas. Vai parecer uma bobagem, mas... Não te assustava pensar que não conhecia o rosto do pai e, que...? – Nesse momento Brad Darling entrava na cafeteria e Ali deixou a frase pela metade.
― Pois sim – disse Michelle. Ali não podia deixar de olhar o homem dos olhos azuis, que, como esperava, sentou-se no mesmo lugar do dia anterior e se dispôs a ler o jornal, aparentemente sem reparar nela. ― Por isso inventei o homem dos meus sonhos.
― O homem dos seus sonhos? – repetiu Ali, tentando concentrar-se na conversa.
― Soa patético, mas olhava fotografias nas revistas procurando o rosto do homem pelo qual me sentiria atraída.
― E o encontrou?
Michelle sorriu. ― Nas revistas não. Conheci Kevin em um cruzeiro no mesmo dia em que me inseminaram. E você já conhece o resto da história.
Ali voltou a olhar por cima do ombro de Michelle e se encontrou frente a um par de intensos olhos azuis. Brad Darling estava olhando-a com expressão de estupor. Possivelmente estava tentando recordar onde a tinha visto antes. Ou possivelmente sabia onde e se sentia envergonhado.
― Ali, você está bem?
― Hã? Sim. Tinha me perdido um momento. Acontece muitas vezes. – respondeu ela.
― Isso era tudo que queria perguntar?
― Não pense que sou uma covarde, mas lhe fizeram mal?
― Mais do que tinha imaginado, mas é muito rápido. Muito mais rápido que o resultado do processo, te garanto – sorriu sua amiga. – Estou certa de que ouvirá muitas histórias quando chegar o momento.
Por cima do ombro de Michelle, Ali viu o olhinhos azuis sair da cafeteria com a bandeja na mão.
Caminhava com segurança, mas não com arrogância e de novo se fixou em seus musculosos braços e suas largas pernas. Bons genes, pensava. Que mais poderia pedir?
― Já marcou uma hora?
Brad Darling desapareceu e Ali voltou a dar a Michelle toda sua atenção. Nem sequer havia dito aquilo a sua irmã, mas se sentia mais confortável com sua amiga. Além disso, estava desejando contar a alguém, e quem melhor do que sua amiga que já tinha passado por isso?
― Pois... Qualquer dia desses.
― É maravilhoso Ali. – disse Michelle tomando sua mão. – Te desejo sorte. Conte comigo para o que quiser.
― Obrigada – sorriu ela. Gostava de falar com Michelle porque não a tratava como se fosse uma menina. Embora fosse da idade de Bárbara e Lynne, sempre a tinha tratado como uma adulta.
Enquanto saiam da cafeteria, Ali se sentia tentada a lhe contar mais, por exemplo, que acreditava ter encontrado ao pai de seus sonhos. Mas no final decidiu que era melhor guardar pra si mesma.
Mais tarde, em seu apartamento, Ali estudava a lista de potenciais doadores em sua base de dados. Depois tirou da bolsa o número de ordem de Brad Darling e o contrastou com os dados da clínica de fecundação assistida. Encontrou-o na página cinco. Dizia:
Um metro e oitenta centímetros, setenta e cinco quilogramas, olhos azuis e cabelos escuros. Campo de trabalho: medicina.
Antes que pudesse mudar e opinião, pegou o telefone e ligou pra clínica. Quando a enfermeira respondeu a ligação, Ali se identificou e, com a voz tensa, disse o número de doador que tinha selecionado. A enfermeira lhe assegurou que tudo estaria disposto para o dia em que ela estivesse preparada.
Mas não foi até sábado pela manhã, o dia do jogo, que Ali descobriu que era o momento. Fez o teste duas vezes e comprovou que estava ovulando. Felizmente, a clínica estava aberta e lhe disseram que não havia nenhum problema.
Seu coração pulsava a toda velocidade enquanto conduzia pela auto-estrada e, antes de entrar na clínica, voltou a repassar mentalmente as razões pelas que tinha tomado àquela decisão: os problemas de fertilidade de sua família, que não tinha encontrado nenhum homem que a interessasse, que tinha elegido um bom doador... Ali ficou pensando neste último. Ela não pensava em pedir ao olhinhos azuis que mantivesse seu filho, não queria nada dele. Só queria ver um rosto detrás da ria seringa de injeção.
E por fim, pensou no cuidado de seu filho. Suas irmãs poderiam ajudá-la se desejasse voltar a trabalhar e, se não fosse assim, felizmente a herança de sua mãe lhe permitiria ficar em sua casa cuidando de seu filho. Ali fechou os olhos, imaginando a suave pele de um menino, o aroma de talco... E os preciosos olhos azuis de seu pai.
Sim, era o momento de fazê-lo. Aquele era o dia.
CAPÍTULO TRÊS
De volta em sua casa, Ali secava uma lágrima.
Tudo tinha ido bem. Muito bem. De uma forma fria, eficiente. Ali acariciava o ventre com a mão. Na clínica a tinha advertido que não tivesse muitas esperanças, que frequentemente tinham que tentar varia vezes. Mas não tinham advertido de que se sentiria tão triste.
Ela desejava um filho, mas em seus sonhos sempre tinha existido um homem maravilhoso que a adorava, a quem amava com total abandono e que a abraçaria em um momento como aquele.
Nunca havia se sentido mais só em sua vida.
Ali fechou os olhos, tentando imaginar os olhos azuis de Brad Darling. Mas era só uma imagem imprecisa.
O telefone começou a tocar. Era Lynne.
― Irei te buscar em vinte minutos. – disse sua irmã – Ali não respondeu. ― Você está bem?
― Hã? Sim. Só estou um pouco cansada.
― Bom, pois se anime. Faz um dia lindo pra ir ao jogo.
Ali pendurou o telefone e se levantou do sofá. Aquele era um dia para celebrar, não para estar pensando tolices, dizia-se. Estava levando o assunto com muita seriedade.
O jogo seria uma boa diversão... Enquanto não contasse a Lynne o que tinha feito. Não, antes de contar a sua irmã, assegurar-se-ia de que tinha noticias a lhe dar.
Enquanto colocava um jeans e uma camiseta, se olhava no espelho.
Tinha um aspecto diferente? Perguntava-se. Em realidade, não. Mas, quando saía de seu apartamento, sentia como se tivesse um letreiro luminoso sobre a cabeça, anunciando o que tinha feito.
Quando faltavam cinco minutos para terminar a primeira parte, o Michigan ia ganhando.
― Vou tomar um refresco antes que derreta – disse Ali, voltando-se para sua irmã. ― Quer algo?
― Um cachorro quente com mostarda e uma Coca-Cola. – responde Lynne – Quer que eu vá contigo?
― Não precisa. – respondeu ela.
Ali se levantou de seu lugar e se dirigiu a barraca de cachorros quentes no que, felizmente, só havia duas pessoas.
― Ali! – ouviu uma voz atrás dela. Quando se virou, viu Michelle e as duas mulheres se abraçaram. ― Não sabia que vinha ao jogo. Poderíamos ter vindo juntas.
― Estou com a minha irmã Lynne. Veio com seu marido?
― Sim, está por ai, veio com dois médicos amigos dele. – Respondeu sua amiga.
Ali estava com vontade de lhe contar o que tinha feito naquela manhã, mas tinha começado a formar a idéia e temia que alguém a ouvisse. Imaginava toda aquela gente em completo silêncio assim que pronunciasse as palavras banco de esperma e teve que conter uma gargalhada ― Porque não jantamos todos juntos?
― Por mim ótimo. Perguntarei a Lynne.
― Será impossível nos encontrarmos quando terminar a partida, assim nos veremos no State Grill – disse Michelle.
― Muito bem. Se não pudermos ir, te ligo essa semana. – se despediu Ali, depois de comprar os refrescos.
Quando voltou para o seu lugar e perguntou a sua irmã se gostaria de ir jantar, Lynne aceitou encantada.
Ao final da partida, as calçadas estavam cheias de fãs do Michigan festejando sua equipe.
A alegria era contagiosa e Ali levantou o rosto para o céu. O entardecer era lindo, tinham desfrutado de um bom jogo e, o mais importante, um de seus sonhos poderia tornar-se realidade naquele dia. Seu estado de ânimo tinha mudado completamente.
― No que está pensando? – perguntou Lynne.
― Em nada. Quero que conheça Michelle – sorriu Ali, quando estacionavam em frente ao State Grill.
O restaurante estava abarrotado e Ali viu Michelle lhe fazendo gestos de uma mesa do fundo.
Sentado ao seu lado estava Kevin, seu marido, um homem de aspecto distinto e sorriso muito agradável.
Mas quando os dois jovens médicos que os acompanhavam se viraram, Ali ficou sem ar. Era ele!
Lynne tinha sentado ao lado de Michelle e, com seu habitual desembaraço, apresentou-se ela mesma. Só ficou um lugar livre. Ao lado de... Ele.
Michelle apresentou o seu marido e aos dois homens, Craig e Brad. Ali se deu conta de que Brad a tinha reconhecido e, por sua expressão, não parecia lhe fazer nada de bom encontrar-se com ela.
― Ali me disse que tem gêmeos – estava dizendo Lynne nesse momento – Muito trabalho.
― É mesmo, mas temos muita sorte com as babás. Suas avós devem estar os mal-criando agora mesmo.
― As duas avós ficam com os meninos?
― Bom, na realidade não são suas avós. Minha mãe morreu antes que nascessem os gêmeos e a mãe de Kevin vive na Europa. São duas senhoras melhores às que virtualmente adotamos como avós – explicou Michelle.
― Millie e Hazel são voluntárias no hospital e duas pessoas de cuidado – riu Kevin ― As conhecemos em um cruzeiro, no dia em que Michelle e eu nos vimos pela primeira vez.
Depois, Michelle explicou o papel de cupido que tinham feito às duas senhoras, mas Ali quase não prestava a atenção porque sentia dois intensos olhos azuis cravados em seu rosto. Felizmente, a conversa derivou para o trabalho e Brad distraiu em uma conversa com Brad.
Aproveitando que ele tinha deixado de olhá-la, Ali estudou o seu perfil.
Gostava de como caía à franja sobre sua testa, lhe dando um aspecto juvenil e despreocupado. E seus olhos seguiam sendo tão azuis como recordava. Brilhantes, profundos...
Na realidade, gostava de tudo nele. E sua proximidade a estava deixando muito nervosa. Tudo aquilo era absurdo. Estavam sentados um ao lado do outro, como se não passasse nada, enquanto poderia levar o filho daquele homem em seu ventre.
E, apesar do absurdo da situação, sua imaginação não deixava de trabalhar. Perguntava-se se poderiam sair alguma vez, se gostaria de ir dançar, se...
"Você está ficando louca" Disse-se a si mesmo. Podia imaginar a apresentação: "Está é Ali, trabalha no banco de esperma que sou doador.".
― Ba! É mais tarde do que eu pensava. – disse Craig, quando terminaram de jantar.
― Tem uma entrevista? – sorriu Brad.
― A verdade é que sim. Mas não estava pensando nisso. Estava pensando que será noite quando chegarmos a casa.
― Não se preocupe Craig, o homem do saco não existe.
― Muito obrigado simpático. Mas eu estava pensando em sua garota – replicou seu amigo. Ali ficou gelado ao ouvir aquilo. ― Sally estará na janela, esperando que chegue. Como todas as noites.
― O que acontece é que está com ciúme porque não tem ninguém te esperando. – brincou Brad, enquanto todos riam. Todos menos Ali.
Porque lhe incomodava que Brad tivesse uma garota? Perguntava-se. E o que significava isso, que tinha noiva ou que estava casado? Em qualquer caso, estava claro que vivia com uma mulher.
Ali ficou um pouco para trás enquanto saíam do restaurante. Não queria que ninguém visse sua expressão. Porque tinha acreditado que aquele homem tão bonito estaria solteiro? Perguntava-se.
Embora ficasse tudo igual. Nunca tinha pensado em ter relações com ele. Brad Darling não era nada mais que um rosto pra ela.
Entretanto, enquanto se despediam, dava-se conta que tinha esperando muito mais.
― O que aconteceu? – perguntou Lynne quando se dirigiam ao carro.
― O que?
― Brad – respondeu sua irmã. ― Parecia o homem perfeito pra ti, mas já tem uma garota. – sorriu, passando o braço por seus ombros.
― O que posso fazer – murmurou Ali.
Lynne permaneceu calada durante quase todo o caminho e ela agradeceu. Estava cansada de dissimular. Não tinha por que enganar Lynne, poderia ter lhe contado a verdade. Mas se sentia muito vulnerável para suportar as recriminações de sua irmã. Além disso, tinha seu orgulho. Lhe contar que se sentia triste, seria como admitir que tinha cometido um engano.
E não era assim, dizia a si mesma. Seria uma boa mãe e daria a seu filho todo o amor do mundo. Para isso tinha feito o que tinha feito. Se tinha cometido algum engano, tinha sido deixar voar sua imaginação sobre o homem dos olhos azuis.
Se ele tivesse seguido sendo um estranho, dizia-se. Mas conhecê-lo, compartilhar um jantar, ter amigos comuns...
Simplesmente, tinha que tirar Brad Darling de seus pensamentos.
Mas quando estava sozinha em seu apartamento, parou diante da janela que dava para o rio, perguntando-se se Brad continuaria indo a clínica, se sua garota saberia que era doador de esperma, se haveria se sentindo tão incomodo naquela noite como ela. Mas, sobre tudo, perguntava-se o que ele estaria pensando naquele momento.
Craig e Brad desceram do carro no Greektown, insistindo em não desviar os Singleton do seu caminho.
Brad era o que morava mais perto, em um pequeno apartamento na Rua Monroe, a menos de um quilometro do hospital, o que era muito conveniente porque não podia contar que seu velho cachorro arrancasse todos os dias. Embora, na realidade, preferia voltar caminhando do hospital, para clarear as idéias. Nem sempre era possível deixar o trabalho pra trás, especialmente quando se tratavam de casos terminais.
Mas naquele dia tinha tido sorte. Todos os seus pacientes estavam em condição estável e tinham desfrutado do jogo sem preocupar-se com nada. Tudo tinha sido perfeito, o tempo, o jogo, a companhia. Tudo até que...
Brad sacudiu a cabeça, tentando tirar Ali de seus pensamentos. Que curioso o destino, que fazia ambos se encontrarem continuamente, dizia-se. Primeiro na clínica, o que lhe tinha dado estimulo suficiente para fazer o trabalho que tinha que fazer, depois na cafeteria. E de novo naquela tarde. E cada vez a achava mais atraente.
― O que te aconteceu? Tem cara de preocupado. – sorriu Craig ― Venha, menino, te anime. É sábado de noite. Vamos pra festa.
― Não trabalhas amanhã?
― Não. E você?
― Alguém tem que fazer com que o hospital funcione.
Seguiram caminhando sem dizer nada e Brad pensou que Craig não iria mencionar Ali. Mas tinha se enganado.
― O que você achou?
― A que te referes?
― A Ali, homem! Não tem sangue nas veias?
Brad encolheu os ombros, tentando aparentar desinteresse.
― Não sei. Não nos falamos muito.
― E o que isso tem a ver? Não viu como ficava a camiseta? – riu seu amigo, fazendo um gesto muito descritivo. ― Acreditei que iria explodir a qualquer momento. Eu acredito que seja loira natural. E que olhos! Nunca tinha visto olhos de cor violeta. São como os de Elizabeth Taylor.
Brad teve que rir, apesar de tudo.
― Porque não a convida para jantar?
― Eu? Não me olhou nenhuma só vez – disse Craig. ― Só tinha olhos pra ti.
― O que disse?
― Ficou te olhando durante todo o jantar, Brad. Quase não provou um pouquinho.
― Por favor...
― Sério. Porque não a convida para jantar?
― Não.
― Mas, o que você é, uma espécie de monge? Não lembro quando foi a ultima vez que te vi com uma mulher. Durante o terceiro ano de medicina? – riu seu amigo. Brad ignorou a pergunta. Os dois lembravam como tinha terminado sua história com Valerie. ― Me dê uma boa razão para não convida-la para sair.
― Estou muito ocupado.
― Vamos, homem! – exclamou Craig. ― Eu também estou muito ocupado, mas sempre há tempo para conhecer outras pessoas.
― Eu não tenho a sua energia – insistiu ele. "Nem seu dinheiro", se pudesse acrescentar. Um fato que Craig nunca se dava conta. Ainda assim, Brad sabia que nem o tempo, nem o dinheiro eram as razoes pra evitar Ali.
― Mas tem que passar bem alguma vez.
― Hoje passei bem.
Craig parou no meio da rua, como se acabasse de ter uma idéia brilhante.
― Poderia me informar de onde trabalha...
― Esquece, Craig – interrompeu Brad irritado.
― Parece que tem algo estranho. Tenho razão? Perguntou seu amigo.
Brad suspirou. Só havia uma forma de fazer Brad se calar, e era contando a verdade.
― Sim. Mas não quero ouvir nada, já lhe advirto isso.
― Me conta.
― Trabalha na clínica.
― Que clínica? Perguntou Craig. Brad fechou os olhos. ― Não! Não me diga que...? Brad assentiu. ― Está certo que não quer que saiamos esta noite?
― Estou certo.
― Você que está perdendo. – murmurou Craig.
Tinha se passado muito tempo desde a ultima vez em que Brad tinha se sentido atraído por uma mulher, mas durante o jantar, a proximidade de Ali lhe tinha feito sentir algo especial. Era estranho. Apenas se tinha dirigido à palavra e, entretanto...
Craig parou em frente um bar e, quando duas enfermeiras do hospital saíram para saudá-lo, Brad, despediu-se e seguiu caminhando para sua casa. Ia passar a noite pensando no que fazer com Ali...
Embora não houvesse nada para pensar, dizia-se. Mas, se houvesse, preferia pensar em sua cama a um local com a música a todo volume.
Sua caseira estava sentada frente à janela do primeiro piso, como sempre, observando o mundo de sua cadeira de balanço.
― Já vais dormir? – sorriu Sally, quando Brad entrou no vestíbulo.
― Sim. – suspirou ele.
CAPÍTULO QUATRO
Apesar de sua decisão, Ali voltou a ler seu romance, sentindo inveja da protagonista, que tinha encontrado o homem dos seus sonhos.
O homem de seus sonhos.
Ultimamente, cada vez que fechava os olhos, só havia um homem nos seus. E aquele homem tinha uma entrevista em quinze minutos. Tinha esperado que Brad a cancelasse, mas não o tinha feito.
Ali fechou o livro e apoiou o rosto nas mãos. Brad estava casado, recordou-se a si mesma. De qualquer forma, não havia esperança alguma. Ainda assim, fechou os olhos e recordou de seu sorriso...
Mas quando os abriu, quase caiu da cadeira.
Brad estava apoiado em sua escrivaninha, sorrindo e Ali piscou, tentando separar a realidade da ficção.
Ele continuava ali.
― Estava dormindo?
Não. Só estava... – começou a dizer ela. Mas não sabia como terminar a frase. ― Chegou cedo.
― Sei – disse ele. ― É que queria falar contigo.
― Sobre o que?
― Queria te dizer obrigado por não ter dito nada aquele dia.
― Não tinha porque fazer. Não é da conta de ninguém.
Brad parecia tão incomodo quanto ela.
― Não sei por que vir aqui resulta em algo embaraçoso. De qualquer jeito sou medico. É que... Bom, eu gostaria de saber se você...
Nesse momento, começou a tocar o telefone.
― Perdão. – disse Ali. Brad colocou as mãos nos bolsos e se sentou para esperar.
Quando estava terminando a ligação, a porta do corredor se abriu e enfermeira se dirigiu a Brad.
Só mais tarde, quando ele saiu da clínica, Ali recordou que Brad tinha começado a dizer: "Eu gostaria de saber se você...".
O que teria querido dizer?
"Se quereria que eu fosse pai do seu filho? Ah com certeza. Muito obrigado." Imaginava Ali, irônica.
Tinha que fazer algo com a sua imaginação porque algum dia iria se colocar em uma boa confusão.
Provavelmente era o momento de começar a ler livros de terror, dizia-se.
Na quinta-feira, Ali entrou na loja do hospital para dar uma olhada nas roupinhas de menino. Estava olhando uns sapatinhos quando se encontrou com Brad.
― Olá – a saudou ele.
― Olá – sorriu Ali. Brad tinha na mão uma pequena calça de vaqueiro, mas depois de olhar o preço, voltou a deixá-lo onde estava. Não tinha lhe ocorrido que poderia ter filhos. Por alguma estranha razão, tinha esperado que o seu fosse o primeiro. Brad voltou a olhá-la e Ali tentou dissimular seus pensamentos. ― Para seu filho?
― Oh, não – sorriu ele. ― Estou procurando um presente para uma de minhas pacientes. Hoje trouxe ao mundo seu primeiro menino. – acrescentou orgulhoso. ― Quatro quilogramas, nada menos. Alguma sugestão?
Ali não sabia quanto dinheiro queria gastar e tinha vergonha de perguntar, mas como a maioria dos residentes do hospital não tinha um centavo. Apontou uma bolsa que continha um babador e uma chupeta.
― Esse é um bom presente.
― Ótimo. Obrigado. – disse ele. Depois, pareceu duvidar um momento. ― olhe, não sou muito bem com isso, mas... Você gostaria de sair comigo amanhã à noite?
Ali o olhou incrédula. Ele mesmo tinha falado de sua garota na noite do jogo. Que tipo de mulher pensava que ela era?
― Perdão. Tenho que voltar pro trabalho. – respondeu voltando-se.
― Espere um momento – disse Brad, pegando-lhe o braço. ― O que eu disse que te deixou incomodada?
― Não foi o que disse. É o que te esqueceu.
― Não te entendo.
― Ah, não? Pois deixa eu te ajudar. Tua garota não te espera em casa?
Brad a olhou, surpreso, e depois soltou uma gargalhada.
― Refere-se à Sally?
― Sim, Sally.
― É minha caseira. Uma senhora encantadora de sessenta e cinco anos que cuida de mim como se fosse seu filho – explicou ele. Ali o olhava, desejando acreditar. Brad fez uma cruz na altura do coração. ― Lhe juro! Não te mentiria sobre uma coisa assim.
Ali cruzou os braços, sorrindo. ― E sobre o que me mentiria? – perguntou. Quando ele sorriu, Ali se deu conta de que tinha se metido em uma confusão. Uma boa confusão.
― Não te mentiria. Estou certo de que me culparia pra sempre.
― É muito esperto.
― Mas não respondeu a minha pergunta. Eu tinha pensado em ir escutar um pouco de jazz do outro lado do rio...
Ali estava brincando com fogo e sabia. Ele somente era o rosto, recordou a si mesma. Não seria inteligente.
― Eu adoraria.
Depois de combinarem para sexta, as cinco, separaram-se. Ali dizia a si mesma que aquela conversa não era tão importante, mas teve que fazer um esforço para concentrar-se no trabalho durante o resto da tarde.
De noite, entretanto, não podia deixar de pensar nisso. Colocou meia dúzia de roupas sobre a cama e, depois de provar todas, decidiu-se por uma calça azul marinho e um pulôver de cor creme com blusa de lá junto. Essa era a razão pela qual não gostava de sair com homens. Ficava louca com essas tolices.
Às quatro e meia de sexta-feira, quando Ali tinha um nó no estômago, o telefone começou a tocar. Era Brad.
― Sinto muitíssimo, mas vamos ter que deixar pra outro dia. Houve um acidente na auto-estrada e tenho que ficar para trabalhar. Não sei que horas terminarei.
― Entendo. – murmurou Ali, esperando que ele não se desse conta de sua desilusão.
― Infelizmente, tenho que trabalhar todo o final de semana.
― Enfim, assim é a vida dos médicos. – suspirou ela.
― Bom, tenho que ir. Chegou à ambulância.
Ali desligou o telefone, entristecida. Embora estivesse segura de que Brad não estava mentindo. Naquela vez.
Nesse momento, recordou das vezes que tinha ouvido sua mãe chorar em seu quarto. A lembrança formou um nó em sua garganta. Quantos aniversários tinha passado sua mãe sozinha? Perguntava-se. Quantos aniversários seus, tinha perdido seu pai? Não lembrava que tivesse estado em nenhum deles.
Quando saiu da clínica, sentia-se triste, mas tinha tomado uma decisão.
Brad poderia ser o pai de seu filho. Poderia ser... Mas era melhor lembrar que os médicos não eram bons pais.
Aquela noite dormiu mal e o sábado pela manhã passou com Lynne, brincando com sua sobrinha. Não havia voltado a falar com sua irmã sobre a inseminação. Tinha contado os dias no calendário.
Mas a noite, em sua cama, Ali teve que admitir que sentia-se angustiada. Angustiada porque possivelmente estava sendo muito dura com Brad. Porque possivelmente existia a possibilidade de ter uma relação com ele. E mais angustiada porque veria Brad na segunda-feira e não sabia qual seria sua reação. Possivelmente, ele não voltaria a mencionar o convite, possivelmente o tinha feito de forma impulsiva e depois se arrependeu.
O final de semana foi longo e Ali não deixava de pensar. Na segunda-feira pela manhã, quando tocou o despertador, estava esgotada. Na clínica, leu as anotações que tinha deixado à enfermeira no final de semana e preparou um café. Depois, voltou para sua escrivaninha e abriu o livro de consultas. O primeiro que chamou sua atenção foi que a consulta da uma hora tinha sido cancelada.
Brad tinha cancelado sua consulta.
Ali dizia a si mesma que poderia haver mil razões, que não deveria tomar como algo pessoal, mas a lógica não a estava ajudando em nada.
Tinha feito perguntas a si mesma durante todo o final de semana e aquilo fazia com que voltasse a se torturar.
Não se tinha dado conta de quanto desejava voltar a ver Brad e tinha umas vontades tolas de chorar, mas a culpa era dela. Tinha deixado sua imaginação voar e tinha que pagar o preço. Na próxima vez, disse a si mesma, não teria ilusões.
Durante os dias seguintes, levou comida para o escritório para não ir à cafeteria do hospital. Mas na quinta-feira esqueceu o almoço em casa e decidiu arriscar-se. Deu uma olhada pela cafeteria e, ao não ver Brad, sentou-se para comer sua salada em uma mesa perto da porta.
Mas uns minutos depois, o ruído de uma cadeira a fez levantar os olhos.
E se encontrou frente a frente com aqueles incríveis olhos azuis.
― Importa-se de me sentar contigo? – perguntou Brad. Era uma pergunta retórica porque já tinha se sentado. Ali terminou seu copo de água, perguntando-se se haveria algum tipo de vacina para imunizá-la contra aquele homem. ― Sinto muito por sexta-feira... – começou a dizer ele.
― Não se preocupe. – o interrompeu Ali. Era assim que deveria atuar. Indiferente. Ela era uma mulher segura de si mesma independente. Poderia estar com aquele homem e não deixar-se afetar por ele.
― Bom, tenho que ir.
― Quer que... Tentamos amanhã? - perguntou Brad.
― Muito bem.
CAPÍTULO CINCO
Estava dando muita importância a uma simples conversa, pensava Brad. Possivelmente tinha sido um engano convidar Ali para sair. O que aconteceria se gostasse dela de verdade? O que tinha para lhe oferecer? Muito pouco dinheiro e menos tempo. Então, porque tinha feito isso?
Brad estava trocando-se na sala dos médicos. Sabia por que isso o incomodava. Tinha a necessidade de estar com ela, de conhecê-la, de saber que coisas gostava.
Tinham se passado anos da última vez em que havia se sentido atraído por uma mulher como se sentia atraído por Ali. Ainda assim, deveria tomar cuidado. A ultima vez tinha sido um desastre. Se tivesse continuado com Valerie teria se arruinado. Ela não tinha nenhum cuidado em usar seus cartões de credito alem do limite, imaginando que logo ele começaria a ganhar muito dinheiro e poderia pagar suas dividas.
Mas entre Valerie e Ali havia uma grande diferença. Os olhos de Ali mostravam inteligência, personalidade e um grande senso de humor. Mas se pensava que era somente em sua personalidade em que estava interessado, estaria mentindo para si mesmo. Entre eles, existia uma química inegável. E, em vez de tentar acalmar sua libido, Brad se perguntava se deveria passar pela farmácia para comprar um pacote de preservativos.
"Mas no que esta pensando?", disse-se irritado consigo mesmo. Não tinha lhe mostrado que estava interessada em uma relação, nem física, nem de outro tipo. Na realidade, sempre parecia um pouco incomoda quando estavam juntos.
E era melhor não pensar, dizia-se. Já era hora de relaxar um pouco e ficar bem.
Mas quando viu Ali, não relaxou nada. A calça lhe caia como uma luva e o pulôver marcava seu mais que amplo busto.
Ela sorriu e Brad perdeu a cabeça. Naquele momento, teria lhe dado algo. Até seu primeiro filho, caso o tivesse.
― Olá – disse, sem saber o que fazer com as mãos.
― Olá, sorriu ela, nervosa.
Nenhum dos dois parecia saber o que dizer e Brad suspirou.
― Está tudo bem?
Uma suave gargalhada escapou dos rosados lábios femininos.
― Não faço isso frequentemente.
― Pois somos dois – sorriu Brad. A secretária do turno da noite chegava neste momento e Brad pegou Ali pelo braço. ― Está com fome?
― Um pouco.
― No restaurante do hospital servem os melhores cachorros quentes da cidade.
― Isso parece ótimo. – disse ela.
― Importa-se de irmos caminhando até a estação?
― Faz uma noite linda – sorriu ela, desfrutando da fresca brisa de outubro. ― Gostaria de dar um passeio.
― Espero que você goste de jazz.
― Eu adoro. – sorriu Ali. Felizmente, porque não poderia levá-la a outro lugar, pensava Brad.
Enquanto caminhavam juntos até o Greektown, Brad a olhava pelo canto do olho. Ali parecia mais relaxada e ele tentava tranqüilizar-se, mas aquela mulher o deixava nervoso.
― Onde mora? – perguntou, sem saber o que dizer.
― Até minha mãe morrer, morava com ela no subúrbio. Agora moro em um apartamento no centro.
― E seu pai? Perguntou ele. A expressão de Ali lhe disse que havia tocado em um assunto doloroso.
― Viajando pelo mundo com a sua noiva – respondeu ela. Por seu tom amargo, Brad descobriu que não tinha se equivocado.
― Falando de noivas... – sorriu ele, apontando a janela de sua casa.
― Sally?
― Sally. E parece sinalizar que nos aproximemos. – disse ele, pegando-a pelo braço. ― Te prepare. Nunca se sabe o que vai dizer.
Sally os saudou, sorrindo de orelha a orelha.
― Me alegro em te ver, Brad. ― Te disse que amanhã interromperão a água?
― Sim, Sally. Tinha me dito. – sorriu Brad.
― Parece que não conheço sua amiga. Sou Sally Williams.
― Ali Celeste. Encantada de conhecê-la.
― Nunca vi Brad com uma garota e já estava começando a pensar mal. – sorriu a mulher, lhe piscando os olhos. ― Fico feliz que te divirtas um pouco, pra variar.
Pouco depois, despediram-se e seguiram caminhando até a estação.
― Estava me falando de seu pai. – disse Brad.
― Era um médico muito conhecido. Um homem que sempre estava ocupado... Fora de casa.
A Brad não passou despercebido o tom de recriminação e, absurdamente, sentiu necessidade de lhe demonstrar que nem todos os médicos eram iguais.
Mas, ao mesmo tempo, não pode deixar de notar a marca de uma pequena calcinha debaixo de sua calça e se perguntou de que cor seria... E se descobriria naquela noite.
Certamente, não era muito inteligente pensar essas coisas se queria lhe provar que ele não estava brincando de médico. E tão pouco achava que Ali gostasse desse tipo de jogo.
Parecia uma mulher que tinha em alta estima a virtude, alguém que não procurava segurança nos braços de um homem.
Seguiram caminhando sem dizer nada até que chegaram à estação e, quando subiram à plataforma, Brad segurou sua mão. O contato foi como uma corrente elétrica que subia por seu braço e chegava até seu peito. Algo surpreendente que não havia sentido nunca ao tocar uma mulher.
Ali não o olhava e Brad se perguntou se ela tinha sentido o mesmo. Teria dado tudo pra entrar naquela cabecinha preciosa e ler seus pensamentos.
Foi tão rápido que Ali não teve tempo de pensar.
O contato com a mão de Brad a fazia desejar que o trem não chegasse nunca e olhou para o outro lado para dissimular. Não queria que ele soubesse quanto a excitava sua proximidade, como despertava nela algo primitivo que era como uma provocação para suas convicções sobre a pureza e a paciência. Não queria nem pensar no que aconteceria se ele a beijasse.
Mas pensava. E, para ser sincera consigo mesma, estava desejando.
Um pouco depois, chegou o trem e Brad soltou sua mão para entrar com o resto dos passageiros. Sentaram-se e Ali olhou os longos dedos do homem, como se pudesse entrelaçá-los novamente aos seus.
Como não conseguia, suspirou, admirando a paisagem de Detroit através da janela.
Ele não falava muito e parecia um pouco distraído. Provavelmente estava cansado, dizia-se, ou pensando em algum paciente.
Ali se mexeu um pouco no assento e sua coxa roçou a perna de Brad.
Ele não se afastou. Ela muito menos.
O trem parou com brutalidade na estação seguinte e seu peito se esmagou contra o braço do homem.
― Está gostando do passeio? – perguntou ele, lhe passando grosseiramente um braço pelas costas.
― Sim. – respondeu ela.
― Fico feliz.
"Pouca conversa", pensou Ali, dissimulando um sorriso.
Pouco depois chegaram ao restaurante Hart. Quando saíram do trem, Brad tornou a pegar sua mão e, daquela vez, ela a apertou com um sorriso.
A borda do rio estava cheia de quiosques e, no anfiteatro, uma banda tocava musica de jazz.
Caminharam até o corrimão que os separava do rio Detroid e, mas à frente, do Canadá, e o mundo pareceu desaparecer para os dois. As luzes do cassino Windsord brilhavam nas quietas águas e Ali desfrutava da presença masculina ao seu lado.
― Obrigado – disse ele então.
― Por quê?
― Por me trazer aqui.
― Você é que me trouxe – riu ela ― Não te lembras?
― Eu te pedi que viesse, mas você me deste o motivo – insistiu ele, olhando-a com aqueles olhos tão azuis. ― Me converti em um tipo muito tedioso.
― Pois eu sou o remédio para isso.
― Fico feliz – sussurrou Brad, inclinando-se para ela. Ali fechou os olhos, preparada para receber um beijo, mas quando sentiu os lábios no rosto, teve que afogar um gemido de desilusão.
Brad se colocou atrás dela e a rodeou com seus braços para olhar o rio. Ali nunca havia se sentido mais segura e, entretanto, assustada, mais protegida e, também, vulnerável. Mas não trocaria aquele momento por nada no mundo. Eram um casal perfeito, pensava, sentindo o queixo de Brad em seu pescoço. ― Com fome? – perguntou ele, uns segundos depois.
― Não tenho pressa.
― Fico feliz. Eu também estou muito bem assim. – disse Brad. A musica de jazz soava a seu lado e ele começou a mover-se, levando o ritmo. ― Ali Celeste... Meu anjo celestial. É como um pedacinho de céu.
Ali riu nervosa.
― Nunca tinham me chamado de anjo celestial. Provavelmente deveria falar com minhas irmãs.
― E o que me diriam?
― Provavelmente que sou muito obstinada e independente para ser um anjo.
― Por quê?
Ali não podia lhe contar o exemplo mais recente de sua obstinação. Embora possivelmente tivesse que fazer algum dia. Mas, no momento, não deixaria que nada estragasse a noite.
― Terá que perguntar a elas. – respondeu Ali.
― Acredito que agora taparmos nossas artérias com um cachorro quente. O que você acha? – sorriu ele, pegando sua mão.
― Ótimo – mentiu ela. Não era precisamente em comida que estava pensando.
Comeram sentados no anfiteatro, enquanto escutavam o grupo de jazz e Ali não podia deixar de pensar na situação. Duas semanas antes, Brad não era mais que um rosto. E, de repente, em umas horas, converteu-se em muito mais. Era um homem amável e quente, absolutamente pretensioso e arrogante como tinha acreditado. E se sabia que era bonito, não demonstrava.
Enquanto não ficasse grávida de seu filho... Como poderia lhe explicar algo assim?
Ali só estava uns dias atrasada e, com seu ciclo irregular, não era para sentir-se alarmada.
Mas se estivesse grávida, e continuasse vendo Brad, quando seria o melhor momento para dizer-lhe? E o que pensaria quando lhe dissesse que teria um filho dele?
Ali sabia o que pensaria. Que o tinha enganado. Ela não estava procurando por isso e não era justo...
― Com frio? – perguntou Brad, pondo o braço ao redor de seus ombros. ― Está tremendo. Talvez devamos ir embora.
― Tem que trabalhar amanhã?
― Temo que sim.
― Então será melhor irmos – sorriu ela – Adorei. Obrigada Brad.
Ela a beijou delicadamente nos lábios e o coração de Ali se encheu de emoção.
― Eu também. – disse ele. – Poderíamos repetir outro dia?
― Claro – respondeu ela, tentando aparentar tranqüilidade. Mas a verdade era que seus sentimentos pelo doutor Darling foram muito alem do que estava preparada.
CAPITULO SEIS
Brad não a procurou durante todo o final de semana. E tão pouco chegou suas menstruação. Não sabia qual das duas coisas lhe deixa mais angustiada, embora dissesse a si mesma que nenhuma delas significava nada. Mas, de volta ao trabalho na segunda-feira seguinte, não podia deixar de olhar para o relógio.
Cinco minutos depois da uma hora, Brad entrou na clínica e o coração de Ali deu um salto. Levava uma bola de beisebol, uma camiseta e um jeans gasto.
Nunca lhe tinha parecido mais sexy.
― Olá, você gosta do meu disfarce? – sorriu ele, olhando-a com seus olhos azuis.
― Isso é um disfarce? Riu ela, mais por nevos do que por outra coisa.
― Estou ficando paranóico. Não quero que ninguém me veja entrar aqui. – disse Brad.
― Eu te vejo – recordou-lhe ela.
― Isso é diferente – disse Brad olhando-a nos olhos como se pudesse ler seus pensamentos. Embora Ali esperasse que não fosse assim. ― Queria te perguntar uma coisa... Alguma vez vê os resultados desta clínica? Já sabe se tem gente que consegue ter um filho.
― Não. Meu trabalho consiste em atender os doadores. – respondeu ela, incômoda.
― Imagino que muitos casais se beneficiam com a inseminação artificial.
― Nem sempre são casais. – disse Ali. Mas se arrependeu imediatamente.
― Bem, claro. Mas não deve haver muitas mulheres solteiras que fazem não?
― Cada dia mais. – respondeu ela. Tinha que fazer algo para trocar de assunto. Ali desejava que tocasse o telefone, que chegasse outro doador, algo...
Neste momento, duas mulheres mais velhas entraram na clinica com um carrinho cheio de caramelos.
Brad cobriu o rosto com a viseira e se sentou em uma cadeira.
As duas mulheres, vestidas com avental rosa das voluntárias, plantaram-se frente a sua escrivaninha, com um sorriso nos lábios.
― Olá. Meu nome é Millie. E ela é minha irmã Hazel. Somos voluntárias e nos dedicamos a comprar brinquedos para os meninos doentes. – disse uma delas.
― Vieram para que eu compre os caramelos?
Millie si inclinou para ela, conspiradora.
― Esta não é a nossa rota normal, mas os médicos da ala são uns miseráveis. Não sabe o trabalho que nos custa lhes tirar dinheiro para os brinquedos.
― É verdade – assentiu Hazel. ― Como são novos, não estão acostumados a colaborar.
― Você também deve ser nova, não? – perguntou Millie ― É casada, tem filhos?
― Millie! Esse assunto não te interessa.
Ali riu encantada com aquele excêntrico par de senhoras e, sobre tudo, pela distração.
― Estou solteira.
― Uma garota tão bonita como você? O que acontece com os homens? – exclamou a mulher, olhando para Brad que, sentado em uma das cadeiras, fazia todo o possível para esconder o rosto. ― E esse, você não gosta? – perguntou em voz baixa.
Hazel olhou então a parede e viu o pôster que indicava onde estavam.
― Millie, sabe o que é isso? – perguntou à sua irmã.
Ali olhou então as mulheres como se as visse pela primeira vez.
― Um momento! Vocês devem ser Millie e Hazel, as do cruzeiro de Michelle e Kevin!
― Pois sim – assentiu Millie. ― Conhece os Singleton?
― Michelle é muito minha amiga. Ela que me conseguiu este trabalho.
― Mas o mundo é pequeno! – sorriu a mulher. Neste momento o telefone começou a tocar.
Enquanto anotava a entrevista, Ali via pelo canto dos olhos às duas mulheres cochichando e imaginava sobre o que. Pobre Brad, deveria estar sendo fatal.
De repente, Millie arregalou os olhos.
― Agora entendo. Mas...
― O que? Sussurrou Hazel. ― O que é que entendes?
― Eu creio que esteja aqui para... Já sabe.
― Não, não sei. Conte-me.
― Por favor, Hazel, seja mais discreta. – disse Millie, inclinando-se sobre o ouvido da irmã.
― Não me diga! – riu Hazel, tampando a boca com a mão. Felizmente, a porta do corredor se abriu e neste momento Ali ouviu os passos de Brad, afastando-se. Hazel se aproximou da mesa e pegou um exemplar da revista Playboy que olhou, boquiaberta.
― Deixa disso, Hazel. Não posso te levar em lugar nenhum. – disse sua irmã, tirando uma sacola de caramelos do carrinho, que Ali pagou encantada. ― Bom, prazer em conhecê-la... Como se chama?
― Ali.
― Muito bem Ali. Até logo.
Ali se despediu e, quando as duas mulheres desapareceram, soltou uma gargalhada. Nesse momento, tocou o telefone e teve que fazer um esforço para responder.
Felizmente, era sua irmã e, entre risadas, contou-lhe o que tinha acontecido. O que não mencionou foi o nome do bonito doador.
Uns minutos mais tarde, Brad apareceu frente a sua mesa.
― Quase me deixam louco – rio ele. ― São duas senhoras encantadoras, mas famosas por sua mania de enquadrar as pessoas – acrescentou, tirando o boné. ― Se não houver nenhuma emergência, tenho livre a noite de quinta-feira. Quer que façamos algo?
Era bom que ele soubesse que estava sempre livre? Perguntava-se Ali. Não deveria se fazer de dura?
― Muito bem. Gostaria de jantar na minha casa?
― Nunca disse não a um jantar caseiro. – sorriu Brad. ― Bom, te ligo mais tarde, tudo bem?
Ali o olhava afastar-se, com expressão sonhadora. Se não pensasse que poderia haver uma gravidez, continuaria a sentir aquele desejo por Brad Darling? Perguntava-se.
A resposta lhe chegou em alto e bom som. Mas, concentrando-se no trabalho, fez o que pôde para ignora - lá.
Ali cortava tomates para a salada, enquanto Lynne colocava a lasanha no forno.
― Tem algum plano para quinta-feira à noite? – perguntou sua irmã.
― Bem... Na verdade sim – respondeu ela. Lynne a olhou com uma sobrancelha erguida ― Não quero que fique animada, mas tenho um encontro.
― Alguém que conheço?
― Conheceu-o depois do jogo. Brad.
― Mas achei que...
― Equivocamo-nos – a interrompeu Ali. Depois explicou sobre Sally e que tinham saído na sexta-feira anterior. Da clínica não disse nada, óbvio.
De repente, sua irmã içou olhando-a fixamente.
― Tem feito aquilo, verdade?
Não tinha sentido continuar mentindo e aquele era um bom momento como qualquer outro.
― Sim. No dia do jogo.
Lynne a olhou, com expressão dolorida.
― E porque não me contaste isso?
― Lynne, me perdoe. Pensava em te contar isso, se é que houvesse algo a contar.
― Quer dizer...?
― Não sei. A interrompeu Ali, mexendo a salada. ― Estou pensando em fazer um teste de gravidez.
― Eu tenho um. Vamos, a lasanha tem que esperar um tempinho mesmo. – disse sua irmã, secando as mãos. Ali se deixou levar até o banheiro, sentindo-se emocionada e preocupada de uma vez. Mas, ao menos, não estava sozinha. Lynne procurou no móvel que havia debaixo do lavado e tirou uma caixa molhada. ― Os encanamentos gotejavam faz um mês, mas te asseguro que o interior está intacto. – murmurou nervosa, enquanto abria a caixa. ― As instruções não se vêem muito bem, mas parece que esta tudo em ordem. A única coisa que tens que fazer é depois de usá-lo, esperar uns minutos para ver se fica azul. – explicou ― Quer que te espere no quarto ou vou pra cozinha?
― Espera – disse Ali, empurrando sua irmã para fora do banheiro. ― Não demorarei nada.
Mas quando abriu a porta, uns minutos mais tarde, havia a necessidade de dizer nada. Seu rosto dizia tudo porque Lynne se jogou em seus braços.
― Sinto muito, carinho. Talvez da próxima vez.
Ali deixou que sua irmã a consolasse, com o coração partido. Teria que passar por uma interminável espera, como tinha acontecido com suas irmãs? Perguntava-se.
Lynne lhe deu um lenço e Ali secou as lágrimas.
― Estava quase certa porque estou mais de uma semana atrasada. Mas deveria ter me lembrado...
― Sim. Já sabe: a maldição das Celestes. Pode passar o tempo e não muda nada.
Ali soou o nariz, tentando animar-se. Tinha sido absurdo pensar que funcionaria da primeira vez. Teria que voltar a tentar até que conseguisse.
― Obrigada Lynne.
― Para que servem as irmãs?
Quando voltaram para a cozinha, encontraram Kevin com Keri sentado em sua cadeira e Ali teve que fazer um esforço para não chorar outra vez.
Mais tarde, de volta a sua casa, colocou um pijama de flanela e se meteu entre os lençóis. As lágrimas rolaram por seu rosto, molhando o travesseiro e ela as deixava cair, sentindo-se tão triste como no dia em que se inseminou.
Perguntava-se se aquilo seria uma mensagem. Estaria lhe dizendo Deus que esperasse um pouco mais? Que Brad poderia ser o homem de sua vida? Que deveria ter um filho de forma convencional?
Ela nunca tinha acreditado nas coincidências. Sua mãe sempre dizia que Deus tinha um plano, que havia uma razão pra tudo.
Através da janela, Ali observava cair os primeiros flocos de neve. Suspirando, fechou os olhos e começou a imaginar uns olhos azuis e um cálido sorriso.
CAPITULO SETE
Na quinta-feira à noite, Ali olhava pela janela, preocupada com iminente chegada de Brad. Tinha sido boa idéia jantar em sua casa? Perguntava-se. Era um apartamento de luxo que podia pagar graças à herança de sua mãe, um fato que era melhor manter escondido no momento. Os homens que tinha conhecido até então se dividiam em duas categorias: os que, de repente, demonstravam um enorme interesse por conhecer o estado de sua conta corrente e os que não podiam suportar que uma mulher tivesse mais dinheiro que eles.
Queria acreditar que Brad era diferente, que ele não se encaixava em nenhuma dessas categorias, mas era muito cedo para saber.
Estava na cozinha, provando o assado quando tocou o telefone. Ali fechou a porta do forno rápido. Sabia quem estava ligando.
Brad explicou que tinha que ficar trabalhando porque havia muitos pacientes de urgência.
― Posso ir mais tarde?
― O jantar estará pronto dentro de uma hora – disse ela. Durante esse tempo, tinha esperado conversar com Brad para se conhecerem um pouco melhor... Mas possivelmente poderia dar um jeito.
Ali teve uma idéia. ― Não seria melhor jantarmos em sua casa?
― Se não te importas – disse ele.
― Absolutamente.
― Ótimo. Assim que terminar meu turno, sairei correndo. Ligarei para Sally para lhe dizer que abra a porta.
Depois de guardar o jantar em uma cesta, Ali foi para a casa de Brad.
― Ah! Isso cheira muito bem! – sorriu Sally ao vê-la.
― Olá, Sally – não é mais que um assado. Sally piscou os olhos enquanto subia as escadas.
― Não conheço nenhum homem que não goste de assados. – sorriu a mulher, abrindo a porta. ― É este apartamento. Que fiquem bem.
― Obrigado, sorriu Ali, fechando a porta atrás dela. O apartamento era o que tinha esperado. Um só cômodo que fazia às vezes de sala e quarto, uma cozinha francesa e um pequeno banheiro. Um sofá marrom, uma mesa, duas cadeiras e uma cama de dobrar que Brad tinha deixado sem arrumar. Frente à janela, um banco de exercícios com peso.
Ali deixou a cesta na cozinha e, depois de pendurar seu casaco, sentou-se na cama. Sentia-se atrevida por invadir um espaço tão intimo, mas não podia evitar. Sorrindo, colocou os lençóis no rosto. Cheiravam à colônia de Brad. Recordava como ele a tinha abraçado no restaurante, como a tinha beijado fugazmente nos lábios e... Como ela tinha desejado muito mais.
E também recordou o assado e se levantou da cama em um salto para colocá-lo no forno. Depois voltou a olhar ao redor. Deveria arrumar a cama? Isso deixaria claro que ela não queria... Embora Ali não estava segura do que queria aquela noite.
Quando terminou de arrumar a cama, viu um aparelho de som estéreo em um canto do lugar e decidiu pôr um pouco de música. De novo, perguntava-se se Brad gostava de dançar. Quase podia senti-lo junto a ela, movendo-se lentamente ao ritmo da música.
Frustrada por seus pensamentos, Ali voltou para a cozinha e começou a colocar os pratos, talheres e inclusive uma ela que colocou no meio da mesa.
Quando tudo estava pronto, sentou-se no sofá e deu uma olhada nas revistas médicas que havia no chão.
Mas quando escutou passos na escada, seu coração começou a pulsar loucamente. Sentia-se como uma jovem noiva esperando seu marido voltar do trabalho. Ali teve que fazer um esforço para não sair correndo até a porta e lhe dar um beijo nos lábios.
Enquanto abria a porta de seu apartamento, Brad se sentia exausto, mas saber que ela o esperava, levantava seu ânimo.
― Que cheiro bom! – sorriu, enquanto tirava o casado. Quando Ali se aproximou, Brad mostrou a rosa que tinha escondido nas costas. ― Feliz aniversario, Ali.
Ela pegou a flor surpresa. ― Como sabia?
― Encontrei-me com Michelle quando saia do hospital. Disse-lhe que íamos jantar juntos, e ela me contou que era seu aniversario. Porque não tinha me dito isso?
― Ali encolheu os ombros. ― Não queria que se sentisse obrigado a comprar algo. – murmurou, acariciando as suaves pétalas. ― Mas obrigada. É linda.
― Vou procurar algo onde pô-la – disse ele, indo à cozinha. Como não tinha nenhum vaso, tirou da geladeira uma garrafa de vinho meio vazia e, depois de enxáguá-la colocou a rosa dentro.
― Já está. Problema resolvido. Mas agora não temos vinho para o jantar.
― Eu não gosto muito de vinho. Se tomar umas duas taças, não posso dirigir. – rio ela, abrindo a porta do forno para provar o assado.
Ele a observava, perguntando-se se sempre ficaria tão nervosa ao lado de um homem. A verdade é que gostava que fosse assim. Tinha conhecido muitas mulheres que não dissimulavam o que queriam, e não era precisamente conhece-lo como pessoa, a não ser o que podiam conseguir dele, na cama ou no futuro. Mas estava certo de que Ali não era assim.
― Assado? Como sabia que era meu prato favorito? – sorriu Brad, pegando-a pela cintura. Quando a virou pra ele, perdeu-se imediatamente naqueles olhos violetas. ― Faz muito tempo da última vez que... Comi – murmurou. Aquilo não tinha sido nada bom. Brad esperava que Ali entendesse de que se referia... Ao assado. ― Me dá um tempo pra tomar uma ducha? – perguntou, esclarecendo a garganta.
― Claro. Respondeu ela. Brad a observou tirando o assado do forno e se deu conta de que se sentia mais em casa do que nunca. Até aquela noite, seu apartamento só tinha sido um lugar para dormir. Quando saiu do banheiro um tempo depois, a mesa estava posta. Com a rosa, a ela acesa e a música, seu apartamento parecia, pela primeira vez, um lar. A mulher que tinha conseguido aquele milagre estava frente à janela.
― Obrigado – murmurou, pegando sua mão.
― Ainda não provou. – disse ela, sem tirar os olhos da boca do homem.
Brad não pôde resistir ao impulso de tomá-la nos braços e, naquela vez, não a beijou no rosto. Ali abriu os lábios e a língua do homem se afundou ansiosamente em sua boca. Quando ela soltou um gemido, Brad sentiu uma pressão na virilha.
Seus sentidos estavam bêbados com a música, o aroma de comida e o calor lhe intoxicavam com o aroma da mulher que tinha nos braços.
Brad teve que fazer um esforço sobre humano para separar-se, respirando com dificuldade.
― Faz algum tempo que quero fazer isso
― Eu também – disse Ali. Timidamente, pegou sua mão e o conduziu à mesa. ― Mas agora é hora de outros prazeres.
Era perfeita, pensava Brad. Tudo nela era perfeito. E o melhor era que parecia não se dar conta.
Ali serviu o assado. A carne era suculenta e Brad emitia sons de aprovação com cada bocado.
― Está maravilhoso! – sorriu. Ela parecia encantada, embora Brad tenha percebido que não comia. ― Não tem fome?
― Estive beliscando um pouco e perdi o apetite. – disse ela ― Mas você continue comendo.
Quando terminaram de jantar, Brad a ajudou a tirar a mesa, insistindo em que ele lavaria os pratos pela manhã e depois a levou até o sofá.
― Ali... – começou a dizer, pensativo. ― Isso foi uma surpresa maravilhosa.
― O jantar?
― Isso também – sorriu ele, levantando seu queixo com um dedo. ― É uma garota muito especial...
― Mas? – o interrompeu ela, ao ver dúvidas no rosto do homem.
― Mas, o que posso te oferecer? – perguntou Brad, mostrando o seu redor. ― Certamente, dinheiro não... E tempo já sabe que não tenho muito.
― Provavelmente deveria ir embora – murmurou Ali, tentando levantar-se, mas ele a impediu. ― Por favor, não te zangue. ― Olhe, sou grandinha. Se não quer voltar a ver-me, diga-me isso.
― Mas não vou forçá-la a nada, Ali. Quero que penses no que estas te metendo. E se decidir que não é o que queres, eu entenderei. – a interrompeu ele. Claro que ficaria a pó, com certeza, mas tentaria entender – continuou sorrindo. Ali tentou sorrir também. ― Continua querendo que eu vá embora? ― Não. ― Me alegro – suspirou ele, aliviado. ― Não é o melhor momento para falar dessas coisas, mas... Quero que saibas que fiz testes de AIDS antes de entrar na clínica. E não estive com ninguém após isso. Na realidade, faz muito tempo que não fico com ninguém – explicou nervoso. ― Sei que não é muito romântico, mas é melhor dizer agora do que... Quero dizer, no caso de...
― Brad – o interrompeu ela, baixando os olhos. ― Eu... Sou virgem.
Brad ficou atônito e demorou alguns segundos para reagir.
― Bom, anjo celestial, e agora o que fazemos?
Ao escutar se tom divertido, Ali levantou os olhos.
― O que nos ocorrer. – respondeu, animada. Sabia que podia confiar naquele homem.
― Está segura?
― Completamente.
― Mas... A seu ritmo.
― Tudo bem. E o melhor será que eu vá embora agora mesmo. – suspirou ela, beijando-o fugazmente nos lábios. Ele a seguiu até a porta, desejando outro beijo, mas sem atrever-se a pedi-lo. Ali pegou seu casaco do cabide e deu a volta para olhá-lo. ― Foi um aniversario maravilhoso, Brad. Obrigada.
CAPITULO OITO
Durante todo o mês, por acordo de ambos, Brad e Ali evitaram ver-se em seu apartamento, optando por longos passeios à borda do rio.
Uma terça-feira, com a neve caindo sobre a cidade, foram juntos comer na cafeteria do hospital, algo que não tinham feito até então para evitar rumores.
Ali estudava a relaxada expressão de Brad e, apesar do frio, sentiu certo calor por dentro. Em momentos como aquele, perguntava-se se deveria lhe contar sua experiência na clínica. Tinham passado dois meses, mas continuava na dúvida. Na realidade, ele não tinha porque saber e abriria uma discussão que não estava preparada para compartilhar com ele no momento: seu desejo de ter um filho. O que menos desejava era que Brad pensasse que ele não era mais do que uma forma de conseguir seu objetivo.
E, na realidade, desde que tinha conhecido Brad. Seu objetivo tinha sido trocado. Ali queria algo mais que um filho.
Sentiam-se cômodos um com o outro e muitas vezes nem sequer tinham necessidade de falar. Como naquele momento, quando ele pegou sua mão e lhe deu um sorriso.
― Ali! – escutaram então uma voz familiar. Millie e Hazel estavam a seu lado, com um sorriso de orelha a orelha. ― Faz tempo que não há vemos – disse Millie, sem disfarçar que estava lendo o nome de Brad na placa de seu jaleco. ― Não é você o jovem que trabalha com o doutor Singleton?
― Sim, senhora – respondeu ele.
― Sabia que seu rosto me parecia familiar.
Hazel afastou sua irmã para poder aproximar-se de Brad.
― Eu sou Hazel e ela é minha irmã Millie. Somos muito amigas dos Singleton – explicou orgulhosa.
― Muito prazer em conhecê-las – sorriu Brad.
― Veja só que coincidência, - começou a dizer Millie ― Hazel e eu estávamos nos perguntando se poderia nos fazer um favor. Temos duas entradas para "O Quebra-Nozes" e não podemos ir.
― Não podemos? Perguntou Hazel.
Millie lhe deu uma cotovelada nas costelas.
― Ai! – exclamou sua irmã, surpreendida. Mas depois se deu conta de que Millie tinha um plano. ― Ah, não, claro. Não podemos ir. Que pena.
― São para quinta-feira. É dia de Ação de Graças, mas pensamos que talvez queira ir. Seria uma pena desperdiçar umas entradas tão boas.
Ali tinha que se esforçar para disfarçar um sorriso. As duas irmãs eram tão sutis como um tanque de guerra, mas adoráveis e bem intencionadas.
― Eu adoraria – disse por fim. ― E lhes asseguro que encontro alguém que queira ir comigo. – acrescentou, para proteger Brad.
Millie olhou de um para outro e depois pegou sua irmã pelo braço.
― Bom, amanhã lhe levaremos as entradas – se despediu ― Passem bem.
Assim que desapareceram, Brad se inclinou para ela.
― Todo hospital saberá em menos de meia hora.
― Não sei – rio Ali. ― Gostam de ser alcoviteiras, mas não acredito que se dediquem a sair por aí falando das pessoas.
― Espero que tenha razão.
― Te importa tanto que as pessoas saibam?
― Não – sorriu ele. ― Sozinho estou tentando evitar as fofocas. Já sabe como são os homens, principalmente os médicos.
Ali sorriu, adorava o lado protetor de Brad. Ele não se preocupava com ele mesmo, mas sim pelo que os outros pudessem dizer sobre ela.
― Eu adoraria preparar um peru no dia de Ação de Graças. Poderia deixá-lo no forno e estaria pronto depois do balé.
― Não ai jantar na casa da tua irmã?
― Ela foi para a Califórnia passar uns dias com Bárbara – explicou ela. Brad apertou sua mão e a temperatura do ambiente pareceu aumentar vários graus.
― Pedirei a Crag que faça meu turno. Mas precisa te incomodar em cozinhar. Podemos ir ao balé e depois comer algo.
― Não me incomoda. A verdade é que eu adoro.
― Quer dizer que finalmente vou conhecer seu apartamento?
― Sim – respondeu ela. Na realidade, não podia atrasar mais isso.
― Tenho que adverti-la de uma coisa – murmurou Brad, inclinando-se para ela. ― Não sei quanto tempo mais ou poder agüentar sem te tocar. Esta certa que quer que vamos a tua casa?
Ali ficou sem fôlego durante um segundo, mas tinha tomado uma decisão.
― Sim. Estou completamente certa.
Os dois saíram da cafeteria sem dizer uma palavra. Ali sabia exatamente o que tinha feito.
A multidão que tinha ido ao centro de Detroit para desfrutar do desfile de Ação de Graças tinha diminuído muito quando Brad e Ali saíram do teatro.
Passearam de mãos dadas até seu apartamento e, quando Ali abriu a porta, Brad ficou boquiaberto.
― Uau! Que apartamento mais elegante – exclamou. Ali pegou seu casaco e o pendurou no armário do corredor, completamente encantada. ― Que linda vista! – acrescentou, frente à janela, de onde se podia ver o rio.
Meia hora mais tarde, Brad estava fazendo purê de batatas, enquanto Ali preparava o molho e pouco depois, os dois estavam sentados à mesa, desfrutando de um delicioso peru.
Mas quando terminaram o jantar, Brad se deu conta de que Ali estava pálida e insistiu em tirar a mesa e colocar os pratos na máquina de lavar, enquanto ela relaxava no sofá.
Quando terminou, viu-a lendo um jornal de noticias econômicas e teve que sorrir.
― Ela cozinha, entende da bolsa... Que outros segredos tem guardados?
― Você gostaria de saber – sorriu Ali. E, embora Brad soubesse que estava brincando, detectou certo nervosismo em sua voz. Na realidade, gostaria de saber muitas coisas. Por exemplo, como podia pagar aquele apartamento. Estava em uma das melhores zonas da cidade e era de luxo. ― Caso estejas te perguntando, fiz investimentos é a resposta. – disse ela, como se tivesse lido seus pensamentos.
― Sério que sabe um pouco de investimentos na bolsa?
― Não sou uma perita, mas sei algo. Se fizer certo, os dividendos são um bom complemento anual.
― No dia em que me sobrar um dólar, terei que dar pra ti – disse Brad. Ali sorriu e depois voltou para a leitura.
Brad se perguntava quantos complementos fariam falta para pagar um apartamento como aquele, seu carro novo, sua roupa... Não gostava de duvidar, mas a lembrança de Valerie continuava sendo uma ferida aberta. Tinha que estar seguro.
― Sabe que eu nem sequer tenho cartões de crédito.
Ela virou a página, sem levantar a cabeça.
― Eu tenho dois. Um uso diariamente e o outro esta guardado na minha escrivaninha, para o caso de uma emergência.
― Que juros se paga pelos cartões ultimamente?
― Não sei. Eu pago mensalmente, assim não cobram juros.
― Garota esperta. – disse ele. Preocupou-se bobamente. Ali era uma mulher honrada. Deveria ter sabido que podia confiar nela e se sentia culpado por duvidar. ― Se sentes melhor?
― Muito melhor – responde Ali, sorrindo. ― Eu... Parece que estava emocionada por... Esta noite – acrescentou, baixando os olhos.
Brad sabia a que ela se referia e, embora nenhum dos dois tivesse mencionado o assunto durante todo o dia, sua própria excitação estava chegando a níveis inquietantes. Entretanto, olhando-a naquele momento, pálida e nervosa, perguntava-se se não estariam se apressando.
Estava a ponto de dizer que talvez devesse ir embora quando ela o chamou com um gesto. Brad atirou o pano que tinha na mão e se aproximou do sofá. Ali entrelaçou os braços ao redor de seu pescoço, lhe dando o primeiro de muitos beijos que Brad pensava compartilhar com ela durante a noite. Seus lábios eram quentes e convidativos e não tinha erro: estava-lhe dando permissão, depois de um segundo beijo, mais profundo, pegou-a pelos braços, levantando-a do sofá.
― Confia em mim, verdade? – perguntou ao ver medo em seus olhos. Ela assentiu, mordendo os lábios. ― Eu nunca te faria mal Ali. Quando quiser que pare, é só me dizer.
Brad a levou até o quarto e a deixou calmamente sobre a cama. Depois, deitou-se ao seu lado. A luz da sala iluminava apenas o quarto. Quando se inclinou para beijá-la, notou que estava tremendo e, calmamente, tirou-lhe o pulôver. Seus peitos ameaçavam escapar do sutiã que Brad desabotoou com dedos trementes.
― É linda – murmurou. Quando começou a acariciar um de seus mamilos, ela fechou os olhos e emitiu um leve gemido. Brad, impaciente, tirou-lhe a saia e a deixou de calcinha. Depois, olhando-a nos olhos, passou a mão por seu "monte de Vênus" e entre suas coxas, sentindo a umidade através do tecido. A expressão dela lhe dizia que poderia continuar e a beijou ansiosamente, colocando a mão por debaixo de sua calcinha.
Quando introduziu um dedo dentro dela, Ali soltou um gemido e começou a mover-se sob a mão do homem, enquanto ele acariciava sua parte mais sensível com o polegar.
― Oh, Brad – murmurou ela, arqueando as costas.
― Te deixe levar, carinho – disse ele com voz rouca. Seu polegar continuava acariciando cada vez com mais força, mais depressa, inclinando-se sobre o peito dela, brincando com a sua língua enquanto tentava controlar a sua excitação, um pouco depois, Ali ficou muito quieta e levantou os olhos, envergonhada. Brad se colocou sobre ela e a beijou lentamente nos lábios enquanto Ali começava a lhe desabotoar a camisa ― Brad, eu...
Ele a beijou no rosto e lhe tirou uma mecha de cabelo do rosto.
― Pode dizer o que quiser Ali. Não sejamos tímidos um com o outro.
Ela o olhou, procurando a forma de dizer. ― Eu não tenho irmãos e nunca... Nunca... ― Minha doce e inocente Ali. – sorriu ele, pegando sua mão para guiá-la para baixo. Seus dedos tremiam enquanto percorriam sua ereção através do tecido e quando lhe desabotoou a calça e ele encheu sua mão, Ali soltou um gemido de surpresa.
Brad não podia se conter mais e se levantou com pressa para tirar as calças. Depois, tirou algo de um dos bolsos.
― Temos que usar? – perguntou ela.
― Quer dizer que podemos... Está protegida?
Ela o beijou e saiu da cama, cobrindo-se modestamente com um travesseiro.
― Vou proteger-me.
Brad suspirou profundamente, esperando que Ali voltasse do banheiro, surpreso e excitado ao dar-se conta de que, obviamente, ela desejava aquilo tanto quanto ele.
Ali voltou para a cama e seu sangue se avivou de novo. Mas quando se deitou e a beijou nos lábios, notou que estava tremendo.
― Ali, aconteceu algo?
Ela olhou rapidamente para baixo.
― É só que... É tão grande. – disse, sem olhá-lo. Quero dizer...
Ele a pegou em seus braços, rindo.
― Meu anjo, é maravilhoso para o ego de um homem – murmurou, beijando-a com força. ― Confia em mim. Não haverá nenhum problema – acrescentou, deslizando a mão por seu ventre, procurando o que queria. Quando achou que era o momento, abriu as pernas dela com seus joelhos. Com um braço sob sua cintura, abriu-a pouco a pouco, introduzindo-se em seu pequeno e úmido buraco. Tentava controlar-se para não o fazes muito rápido, mas podia sentir que Ali se tencionava.
― Relaxe, amor. Só será um pequeno incomodo. Não ai doer.
As investidas do homem ficavam mais e mais fortes, esperando rompê-la com a mínima dor.
Mas então Brad se deu conta de que a tinha penetrado completamente e que não havia nada em seu caminho. Seu cérebro registrou esse fato, mas quando Ali levantou os quadris para ele, a paixão substituiu a confusão.
Ele a beijou na boca e a montou com força, ofegando, suas línguas imitando o ritmo de seus corpos suados.
Um tempo depois, caiu sobre ela, tremendo compulsivamente.
― Ali – sussurrou. Ela acariciava as costas masculina, desfrutando daquela nova intimidade. E Brad soube que voltaria a fazê-la sua naquela noite.
Ao amanhecer, Brad saiu da cama e de dirigiu ao banheiro. Tinha que estar no hospital em menos de uma hora. Sua mente começou a repassar a noite anterior, mas não queria deixa-se arrastar por pensamentos ruins. Assim que se vestiu, beijou a uma dorminhoca Ali e saiu correndo para o hospital.
Só quando estava no trem deixou que suas dúvidas tomassem forma. Enquanto a abraçava, nada tinha tido importância exceto fazer amor com ela. Mas na fria manhã, sem tê-la ao seu lado, não podia deixar de se fazer perguntas. Não queria pensar mal de Ali, mas havia coisas que não entendia. Primeiro, seu apartamento. Embora soubesse que fazia investimentos, era necessário ter dinheiro para isso. Muito dinheiro. Ali tinha lhe contado que sua mãe alguma vez tinha trabalhado fora de casa e que não tinha boa relação com seu pai, de modo que, de onde saía o dinheiro?
E quando fizeram amor... Havia-lhe dito que era virgem e, entretanto, não havia evidencia física disso. Poderia ter tido algum tipo de acidente, era habitual que as garotas perdessem a virgindade por um pequeno acidente ou algum tipo de exame médico. Essas coisas aconteciam.
Brad tirou a franja do rosto e se apoiou na janela. Não podia suportar aquelas dúvidas.
Além disso, perguntava-se que tipo de proteção tinha usado Ali antes de fazer amor. No momento, não tinha querido pensar porque estava muito excitado.
Quando saiu da estação, tentava convencer a si mesmo de que tudo aquilo era tolice, que tinha conhecido uma mulher maravilhosa e que a única razão para sentir-se incômodo era que tudo era perfeito com ela. Mas, quando estava colocando o jaleco na sala dos médicos, deu-se conta de que havia muitas coisas de Ali Celeste que não conhecia. Gostasse ou não, seu instinto nunca o enganava. Ela estava escondendo algo.
CAPÍTULO NOVE
Ali subiu o lençol até o pescoço, sentindo falta do calor de Brad. O aroma de sua colônia no travesseiro a excitava.
Ali sorriu. Por fim o tinha feito, pensava pondo a mão entre suas pernas. E tinha ultrapassado todos os seus sonhos.
Nunca tinha imaginado que seria tão maravilhoso. Havia sentido uma ligeira dor, mas nada comparado a delicia que tinha sido sentir Brad dentro dela. Desejava que houvesse uma próxima vez, muitas vezes. Sabia que nunca voltaria a sentir-se completa sem aquele homem.
Quando olhou o despertador e viu que eram oito e quinze, tinha o dia livre e poderia dormir até o meio dia se quisesse. E provavelmente deveria fazer isso. Durante as últimas semanas não tinha dormido bem.
Ali fechou os olhos e imaginou Brad ao seu lado. Esperava que ele a ligasse logo para voltar a escutar sua voz.
Mas quando Brad lhe ligou as sete, nada foi como ela tinha previsto. Agradeceu-lhe pela noite anterior quase com frieza e lhe disse que teria que trabalhar durante todo o final de semana. Não disse que ligaria no dia seguinte e nem mencionou quando voltariam a se ver e isso a deixou ferida e confusa.
Enquanto tomava um banho quente, Ali tentava entender a atitude do homem. Certamente teria ligado entre pacientes e, além disso, deveria estar muito cansado. Provavelmente, não tinha mencionado sobre voltarem a se ver porque, depois do que tinha acontecido na noite anterior, parecia-lhe óbvio.
Mas tinha certeza que acontecia algo. Aquele tom frio em sua voz... Pensava enquanto via desaparecer espumas em seus dedos. Quando pensou que Brad poderia desaparecer de sua vida, Ali começou a chorar.
Antes de tirar o casaco na segunda-feira pela manhã, Ali pegou o livro de consultas e viu que há da uma hora tinha sido cancelada. Tinha suspeitado que isso acontecesse e ainda assim sentiu um aperto no coração. Insegura, pensava que talvez ele tivesse se decepcionado por sua pouca experiência na cama. Entretanto, acreditava que para Brad tinha sido tão especial como para ela.
Ali se deixou cair sobre a cadeira e escondeu o rosto entre as mãos. O que tinha feito para afastá-lo? Perguntava-se. Tinha parecido muito ansiosa? Brad teria se dado conta de que o que ela queria era um casamento e uma família? Era isso? Tinha ido muito rápido?
Ali se levantou da cadeira e tirou o casaco, confusa. Quando entenderia os homens?
Durante os dias seguintes, Brad não a ligou e Ali almoçava na clínica. Não queria encontrar-se com ele na cafeteria no hospital. Não queria que pensasse que o estava procurando. Se quisesse vê-la sabia onde encontrá-la.
Mas na sexta-feira, decidiu que aquilo era uma tolice. A cafeteria era um lugar público e queria continuar se escondendo.
Dez minutos mais tarde, dirigiu-se para lá. Seus passos eram decididos, como se estivesse desafiando Brad mentalmente.
Quando entrou, procurou uma mesa vazia. Ele não estava por nenhuma parte. Mentalmente sentia-se segura, mas seu estômago se fechou e teve que fazer um esforço para comer a salada. Depois de tomar um pouco de chá, sentiu-se melhor e tirou o livro da bolsa. Ao menos em seus romances sempre havia um final feliz.
Tinha quase terminado um capítulo quando notou que alguém se sentava frente a ela. Ali levantou o rosto e ali estava ele. Naquela vez, nem sequer tinha se incomodado em perguntar se podia sentar-se.
― Olá – disse Brad. Ali guardou o livro na bolsa e começou a se levantar. ― Espera – pediu ele, segurando sua bandeja. ― Podemos conversar um momento?
― Sobre o que?
― Olhe, Ali, você é uma pessoa muito especial, mas eu não estou preparado para...
― Deixa que eu termine a frase. Uma relação? Muito típico. – o interrompeu ela, irônica. ― E suponho que no Dia de Ação de Graças não te lembravas disso.
― Não é isso, Ali.
― Não? Então, o que te fez mudar de opinião? Eu adoraria saber.
― Muito bem, se insiste – disse ele. Ela cruzou os braços. ― Seu apartamento.
― O que tem meu apartamento?
― Vive acima de suas possibilidades, e...
― Um momento. Quem disse que vivo acima de minhas possibilidades?
― Ali, por favor. Seu salário não pode ser...
― Com certeza. Não sai do meu salário. Já te disse que faço investimentos.
― E de onde tira dinheiro para esses investimentos?
― Isso é incrível! – exclamou ela, surpreendida. Algumas pessoas se viraram quando levantou a voz. ― Não é teu assunto, mas já que está tão interessado, te digo que minha mãe me ensinou tudo que sei sobre a bolsa. Era uma mulher muito inteligente e tinha um talento especial para descobrir bons investimentos – explicou. A expressão de Brad se suavizou, mas quando tentou pegar sua mão, Ali se afastou. O mal entendido poderia ter sido esclarecido, mas continuava zangada. ― Me diga como achava que pagava meu apartamento.
― Já te disse isso. Acreditei que vivia por cima de suas possibilidades, que tinha dívidas...
― Ah, além disso sou uma mentirosa.
― Ali...
― Te disse que pagava mensalmente meus cartões de crédito – o interrompeu ela. ― Se isso for uma questão de confiança, carinho, me parece que quem tem problema é você, não eu. – lhe espetou. Ali esperou que ele dissesse algo, mas Brad só a olhava, sem saber o que dizer.
― Bom, Brad, enquanto você soluciona seus problemas, te informo que acaba de perder a melhor oportunidade da tua vida. – terminou, levantando-se e saindo da cafeteria.
O prazer que Ali poderia ter sentido dizendo a Brad o que pensava, desapareceu durante o longo final de semana. E, no domingo de noite, olhando seu calendário menstrual, deu-se conta de que havia algo mais que a preocupava. Inclusive para uma mulher tão irregular como ela, aquilo era muito estranho.
Mas no final de semana seguinte, decidiu que não podia esperar mais e comprou um teste de gravidez na farmácia. Quando voltava para casa, as luzes de Natal se acenderam na Avenida Jefferson, mas nem sequer isso a animava.
Meia hora depois, olhando o resultado do teste, Ali se negava a aceitar a verdade que tinha em sua frente.
Estava grávida.
Deveria estar celebrando, dizia-se. Aquilo era o que sempre tinha desejado.
Mas não desse jeito.
A única coisa que queria naquele momento era dormir. Ali se deitou sobre a cama e, assim que fechou os olhos, um rosto apareceu em sua frente, o rosto de Brad. Mas já não era somente um rosto. Brad era o único homem com quem tinha estado o homem do qual se sentia mais próxima do que nunca. E não só fisicamente. Ele tinha conseguido entrar em seu coração. Profundamente. Mas tudo estava perdido.
Ali não queria ficar chorando e se levantou para ir ao cômodo onde guardava os enfeites de Natal. Durante o resto do dia se manteve ocupada, decorando a casa e escutando canções de natalinas. De vez em quando cantarolava um pouco, como se tudo estivesse bem.
Mas no final, quando não tinha mais nada para fazer, sentou-se no sofá e, com o coração partido, pensou em como poderia ter sido aquele dia se as coisas fossem diferentes.
Na quarta-feira, Michelle e ela foram comer em um restaurante perto do hospital.
Ali queria ter contado sobre o bebê à sua amiga, mas sabia que não poderia contar sem chorar.
― Te recordo que sábado de noite tens que vir a minha festa de Natal – disse Michelle.
Ali tinha esquecido e se perguntou se Brad também iria.
― Claro. Quer que leve algo?
― Um acompanhante, se quiser. – sorriu Michelle, levantando as sobrancelhas.
― Prefiro ir sozinha – disse Ali.
Michelle a olhou, como se esperasse uma explicação, mas não houve nenhuma. Depois disso, falaram sobre as férias e sobre os enfeites de Natal até que chegou o momento de despedirem-se. Mas quando Ali voltou para sua mesa, o Natal era a última coisa em sua mente.
Estaria ele na festa de sábado? Perguntava-se. E o que faria se estivesse?
E o mais importante, pensava enquanto voltava para casa, com um sorriso perverso nos lábios, o que estaria vestindo?
Ali soltou uma gargalhada pela primeira vez em muito tempo. Como podia ter ficado deprimida daquele modo? Perguntava-se. Ela tinha um caráter alegre e era uma pessoa lutadora. Se seu objetivo era ter um filho e um pai para esse filho, porque tinha abandonado tão rapidamente?
Tinham discutido. E ele se comportou como um autêntico imbecil.
E o que tem? Mentiria se dissesse que não pensava nele dia e noite.
Ali subiu correndo até seu apartamento e tirou seus melhores vestidos do armário. Ficaria muito sexy e alegre, pensava, provando um vestido verde de lantejoulas. Mas quando tentou fechar, o zíper não subia. Como podia ter engordado tanto? Perguntava-se. Não podia ser o bebê ainda... O vestido devia ter encolhido, pensou.
Sorrindo, colocou um vestido de veludo granada com um decote que ficava perfeito e destacava um de seus traços mais chamativos.
― Cuidado, Brad Darling – murmurou, baixando o decote ― Ali Celeste está chegando.
CAPÍTULO DEZ
Kevin e Michelle estavam lhe dando as boas vindas quando Ali viu Brad no salão. Estava muito bonito usando um traje de jaqueta azul e gravata vermelha. Uma roupa que sugeria que possuía muito e que parecia tão cômoda nele. Havia muitas coisas que não sabia daquele homem.
Michelle a pegou pelo braço e a levou até bufê. Uma poncheira de prata decorava o centro da mesa, cheia de bandejas de canapés. No bar, um elegante garçom servia as taças.
― O que prefere um coquetel ou um copo de ponche? – perguntou Michelle.
― Ponche, por favor.
― Não posso te tentar com algo mais forte? – sorriu sua amiga.
― Não bebo muito ultimamente – respondeu ela. Se houvesse dito em um alto-falante não teria sido mais clara.
Michelle abraçou sua amiga, sorrindo.
― Não sabe o quanto fico feliz por ti.
― Ainda não contei pra ninguém. – disse Ali.
― Oh, então me sinto adulada – murmurou.
Michelle lhe serviu um copo de ponche e disse: ― Quer comer algo ou prefere que lhe apresente ao resto dos convidados?
― A verdade é que não tenho muita fome. – disse ela.
Michelle a levou pela mão até a biblioteca, onde as pessoas estavam conversando e tomando bebidas animadamente.
― Provavelmente esta procurando um ginecologista, recomendo-te ao doutor Wilson. É maravilhoso. – murmurou sua amiga.
― Obrigada. Ainda é um pouco cedo, mas o procurarei quando chegar o momento.
Um dos convidados chamou a anfitriã e Ali ficou sozinha no meio de um monte de desconhecidos. Mas não queria ir até o salão. Brad e ela se encontrariam no momento adequado.
Um par de cabecinhas apareceu então pela porta do corredor e Ali se aproximou. Os gêmeos de Michelle estavam usando casacos de veludo na cor vermelha e estavam comendo. Em pensar que logo ela também...
Brad se aproximou do bufê para comer um canapé e, quando olhou para o corredor, viu a pessoa que estava procurando. Ali estava inclinada ao lado dos gêmeos de Kevin e Michelle e falava animadamente com eles. O fato de Ali se dar bem com crianças o enchia com uma estranha sensação de orgulho.
Mas não sabia por que se sentia tão orgulhoso de uma mulher que, certamente, cuspiria em sua cara quando o visse. Brad se colocou em frente à porta, esperando que ela o visse. Estaria esperando que ele desse o primeiro passo ou o ignoraria durante toda a noite?
Antes de decidir se deveria arriscar-se a falar com ela, duas mulheres o pegaram pelo braço.
― Doutor Darling! – exclamou Millie.
― Ficamos felizes em vê-lo – disse Hazel.
Brad não sabia como tinham feito, mas as irmãs o tinham empurrado até Ali.
― Ali, querida. Esta muito bonita. Verdade, Hazel?
― Sim. Eu adoro como ela arruma o cabelo.
― Muito obrigada. Vocês também estão muito bonitas.
― Nós gostamos muito de sua nota de agradecimento pelas entradas para o balé – disse Hazel.
Ali olhou para Brad, sorrindo.
― Gostamos muito.
― Bom, vamos, temos que continuar cumprimentando todo mundo. Fiquem bem – disse Millie, que, é óbvio, tinha preparado tudo aquilo.
― Sim, sim, temos que ir – sorriu Hazel.
Ali se virou para Brad, com um sorriso nos lábios. Brad a olhou de cima a baixo e lançou um assobio de admiração.
― Você gosta do meu vestido?
― Eu gosto mais do que há dentro – disse ele. Ali soltou uma gargalhada alegre. Não parecia zangada, como tinha esperado. ― Poderia te dizer mais coisas, mas jogaria o ponche na minha cara. – sorriu ele, aproximando-se. O familiar aroma da colônia masculina a envolveu.
― Não farei isso. Pode dizer.
Brad tinha os olhos cravados em seu decote.
― Estou a ponto de te comer – murmurou. ― Ali... Sinto muito. Tinha razão. Era um problema de confiança, mas era meu problema.
― E o resolveste?
― Espero que sim – respondeu ele.
― Eu também. Não quero pensar que pode voltar a ter um problema entre nós – disse ela, oferecendo seu melhor sorriso. Brad teve que fazer um esforço para não pega-la nos braços e beijá-la até deixá-la tonta.
― Então, me perdoa?
― Digamos que está em teste – sorriu ela, dando um beijo na bochecha. Brad a pegou pelos ombros antes que pudesse se afastar e a beijou na boca. Quando a soltou, viu que Ali parecia surpreendida.
― Não tem medo que falem da gente?
― Você acha que alguém já não tinha imaginado?
Ela acariciou sua bochecha e o olhou com tal ternura que Brad desejou lhe dizer coisas que não tinha direito de dizer. Ao menos, não ali. Não naquele momento. Falaria logo, quando ela tivesse confiança nele outra vez.
― Isso quer dizer que podemos ir embora juntos a festa? – perguntou Ali, lhe fazendo saber o que desejava.
― Quando você quiser – respondeu ele, apertando sua mão.
― Não tenho pressa. Só queria saber.
― Bom. Pois já sabe.
Ele teria ido naquele mesmo instante, se ela tivesse pedido. Mas não o fez. E não era difícil de imaginar que queria ir devagar.
Uma hora e meia mais tarde, Ali se ofereceu para leva-lo em casa. Mas não subiu até seu apartamento. Brad se sentia desiludido, mas não surpreso.
A surpresa chegaria duas semanas mais tarde.
Um companheiro do hospital tinha trocado seu turno com ele e Brad pôde ficar livre no dia da véspera de Natal. Estava sentado no chão ao lado de Ali, abrindo os presentes de Natal.
― Sinto não ter podido comprar mais nada.
― Não seja tolo. Este é o melhor Natal da minha vida – sorriu ela, tomando seu rosto entre as mãos. ― Você meu deu algo que não pode ficar embaixo de uma árvore.
― Você é um céu – disse ele.
Ali o olhou então, como se tivesse tomado uma decisão.
― Brad... O que celebramos no Natal?
― Refere-se ao lado espiritual ou comercial?
― Ao lado espiritual, óbvio.
― O nascimento de Jesus?
― Sim – sorriu ela. ― O nascimento de um menino que mudou a vida de todo o mundo.
Um alarme soou no cérebro de Brad.
― Ali...
Ela pegou sua mão e a pôs sobre seu ventre, olhando-o nos olhos. O coração de Brad pulsava descompassado.
― Estou muito feliz, Brad. Tudo vai ser maravilhoso.
Ele ficou olhando-a, como se, de repente, fosse uma estranha. Parecia que como se ela quisesse isso desde o começo, como se tivesse planejado. Não havia desculpas, nem explicações. Só uma mulher tranqüila e sorridente lhe dizendo que iria ter um filho dele.
― Por favor, Brad, não fique assustado. Eu quero este bebê.
Brad tinha medo de falar. Medo de que, se abrisse a boca, soltaria por ela toda a raiva que tinha dentro.
― E não te ocorreu pensar que eu poderia não querê-lo? – perguntou, levantando-se do sofá e passeando, furioso, pela sala. ― Por favor, Ali. Nem se quer posso comprar um presente decente ou te levar para jantar. Passarão anos antes que possa ter uma situação econômica estável. – murmurou, passando a mão pelos cabelos, desejando pegá-la pelos braços e sacudi-la. Então lembrou da noite em que tinham feito amor, como ela havia dito que não precisavam de proteção. ― Aquela noite te perguntei se poderíamos fazer, lembra? O que fez no banheiro? Te pentear?
― Eu... Olhei o calendário de ovulação.
― Maravilhoso! – exclamou ele ― O famoso método. Pois já viu o quão bem funciona.
― Acho que deveria ir embora - disse Ali, com a voz tremendo. Ele deu um passo para ela, respirando com dificuldade. Tinha desejado pega-la nos braços, mas isso só o enfurecia mais. ― Não quero nada de ti, Brad. Só esperava que talvez...
― Que nós nos casássemos e vivêssemos felizes para sempre? Ali, acorda d uma vez. Isso não é um de seus romances de amor. Eu não posso manter um filho – a interrompeu ele. Sem dizer uma palavra, Ali se dirigiu a porta e a abriu, com a expressão mais triste que Brad já tinha visto. ― Eu não queria que as coisas fossem desse modo.
― Eu tampouco, Brad – disse Ali, fechando a porta atrás dele.
Ali passou o dia de Natal na casa de Lynne. Bárbara e Tom estavam lá passando as férias e os dois meninos, Tom e Keri, desfrutavam como loucos abrindo seus presentes.
Embora se sentisse imensamente triste por Brad, desfrutava de se segredo e se negava a deixar-se afundar. Ia ter um filho e tinha que ser forte para ele. Isso era o mais importante.
Além disso, no fundo de seu coração, continuava pensando que havia uma oportunidade para Brad e ela. Inclusive entendia a sua reação. Possivelmente quando se acostumasse com a idéia...
Mas não podia pôr toda a sua esperança nisso. Além de tudo, o plano original era ter um filho e cria-lo sozinha. Se isso era o que tinha que acontecer, estava preparada.
Mas depois de jantar, quando os meninos e os homens estavam na sala e as três irmãs na cozinha, Ali decidiu que era o momento de lhes contar seu segredo. Tinha decidido que aquele era o dia, seu presente de Natal.
― Estou grávida.
Lynne e Bárbara deixaram o que estavam fazendo e a olharam boquiabertas.
Ali continuou secando um prato, esperando que suas irmãs saíssem de seu estupor. Um segundo depois, as duas a abraçavam, pulando como meninas.
― Deve estar muito emocionada. – disse Lynne, secando uma lágrima.
― Não posso acreditar que tenha feito – conseguiu dizer Bárbara, rindo e chorando ao mesmo tempo.
Lynne a pegou pela mão e as três se sentaram em frente à mesa.
― Que surpresa. Nem sequer sabia que tinha voltado à clínica.
Ali abaixou os olhos e as duas irmãs entenderam.
― Aléxis? – começou Bárbara. ― Há algo que não nos contaste? Ali suspirou.
― Não me diga - disse Lynne. ― O doutor... Como se chama?
― Brad Darling – respondeu. Sabia que saberiam cedo ou tarde e o melhor era contar. Nunca tinha guardado um segredo de suas irmãs.
― Quem é Brad Darling? – perguntou Bárbara.
― É um jovem médico do hospital. Ali saiu com ele. – respondeu Lynne.
― Um médico? – repetiu Bárbara, incrédula. ― Saiu com um médico?
― Estou aqui Bárbara. Pode perguntar pra mim.
― Tudo bem. O que aconteceu com esse Brad?
― É o pai do bebê – respondeu Ali, sentindo uma estranha dor no coração. Mas aquele era um dia feliz, recordou a si mesma. Tinha que controlar suas emoções.
― Quer dizer que não foi por inseminação? – perguntou Lynne, atônita.
― Não. Foi por... O método normal. – respondeu ela, esperando que suas irmãs não lhe dessem um sermão. Bárbara e Lynne trocaram um olhar.
― Sei, sei. Mas pensei que tinha encontrado o homem de seus sonhos. – explicou com voz rasgada.
― E não é assim? – perguntou Bárbara.
― Não sei.
Nesse momento, o controle de suas emoções desapareceu e Ali chorou durante um momento, com lágrimas que tinha guardado para ela mesma durante muito tempo.
― É certo que está grávida? – perguntou Lynne quando ela se acalmou. ― Foi ao ginecologista?
Ali soou o nariz.
― Pensava em esperar um pouco mais. Só usei um teste de farmácia.
― Não sei se esses testes são totalmente confiáveis – murmurou Bárbara.
― Estou grávida – assegurou Ali. ― Noto que meu corpo está diferente e minha cintura mais larga.
Suas irmãs estavam de acordo que uma mulher sabia essas coisas e logo a conversa derivou para o quarto do bebê, o nome e coisas assim. E o dia transcorreu com mais risadas que lágrimas.
Mais tarde, enquanto voltava para sua casa, Ali continuava alegre. Era melhor que suas irmãs soubessem tudo. Bom, na realidade, tudo não. Enquanto estacionava, pensava no que não lhes tinha contado. Não havia lhes dito que tinha usado esperma de Brad para inseminar-se. Encolhendo os ombros, saiu do carro. O que isso importava? Tinha ficado grávida depois.
CAPÍTULO ONZE
As quatro semanas seguintes foram as mais compridas da vida de Brad. Quantas vezes tinha pegado o telefone para ligar para Ali? E, entretanto, não o tinha feito. Necessitava de tempo para pensar.
Era de noite e uma chuva persistente golpeava os vidros de sua janela. Brad acrescentou peso à barra e continuou fazendo exercícios até que seu corpo pingava gostas de suor. Com um gemido de esgotamento, deixou os pesos e soltou uma maldição.
Como podia ter feito aquilo? Perguntava-se. Tinha planejado sem lhe dizer nada? Tinha se convencido de que Ali não era como Valerie e, entretanto... Provavelmente não pensava no dinheiro que algum dia poderia ter, mas obviamente queria algo dele. Mas o que? Um marido? Para isso ficou grávida?
Brad secou o rosto com uma toalha sem deixar de pensar. Ela o tinha enganado e, entretanto, parecia tão segura de si mesma, tão auto-suficiente, certamente nada a ver com o tipo de mulher que necessita de um marido.
Brad jogou a toalha no chão. Nada daquilo tinha sentido.
Mas quanto tinha tido sentido uma mulher pra ele? Provavelmente deveria dedicar-se somente a curar seres humanos, não tentar entende-los.
Enquanto tomava um refresco da geladeira, recordava o dia em que Kevin Singleton o tinha chamado em seu escritório. Se não fosse por Ali, estaria celebrando naquele momento. Não é qualquer dia que se recebe a noticia de que era o candidato com mais possibilidades para ocupar o lugar fixo de ajudante com um dos cardiologistas mais renomados do país. Se continuasse trabalhando como até o momento, em uns meses o posto seria dele.
Nem sequer tinha contado a Craig. Nem tinha ânimo.
Brad terminou o refresco e atirou a lata ao contêiner de reciclagem sob a pia. Só havia uma forma de encontrar um pouco de paz. Gostasse ou não, teria que falar com Ali.
Antes que pudesse mudar de opinião, pegou o telefone e discou seu numero. Eram mais de dez horas e ela respondeu com voz rouca e muito sexy para seu gosto.
― Temos que conversar – disse simplesmente.
― Muito bem – assentiu ela, esperando que ele dissesse quando e onde.
Nem em seu apartamento, nem no dela, certamente. E tampouco no hospital. Tinham que ver-se em algum lugar público e cheio de gente.
― Já esteve alguma vez no Alley Cat, o bar da Rua Woodward?
― Sim.
― Poderíamos nos ver ali no sábado às nove.
― Muito bem.
Os dois ficaram em silêncio. Brad não queria desligar, queria continuar escutando sua voz.
― De acordo – disse, aborrecido consigo mesmo. ― As nove então.
No sábado as nove, Brad entrava em um bar abarrotado. Tanto, que teve que abrir espaço com cotoveladas para chegar ao bar.
Ele queria que se visse em um lugar público, mas aquilo era ridículo. Teria que gritar para falar com Ali. De repente, imaginou que, quando gritasse a palavra grávida, todo mundo ficaria em silêncio, olhando-os e teve que sorrir, mas o sorriso desapareceu de seus lábios quando lembrou a gravidade do assunto.
― O que lhe sirvo? – perguntou o garçom.
― Uma cerveja.
― Alguma em especial?
― Qualquer uma – respondeu ele, olhando ao redor. ― O bar vai até lá em cima né?
― Como todos os dias – sorriu o homem, lhe servindo uma cerveja.
― Olá, Brad.
Brad se virou e quase deixou cair à cerveja da mão. Ali, com jeans e uma camiseta justa, estava impressionante. Mas o que mais chamou a sua atenção foi que tinha um copo de cerveja na mão.
― Não deveria beber álcool.
― É uma cerveja sem álcool, Brad.
― Ah – murmurou ele, procurando uma mesa vazia com o olhar. A proximidade de Ali estava o fazendo esquecer o que tinha para dizer.
― Não esta sentada em nenhuma mesa, certo?
― Temo que não – disse ela.
Nesse momento, um homem começou a falar do lugar onde tocava um grupo de música country.
― Está é a oportunidade para qualquer um que queira aprender a dançar. Vamos, não sejam tímidos.
Ali olhou a pista de dança e seus olhos se iluminaram.
― Nem sonhe – disse ele, sem mover-se. ― Eu não danço.
― Podemos deixar os copos no balcão? – perguntou Ali ao garçom.
― Claro.
Ali deixou seu copo e tomou Brad pela mão. A contra gosto, ele a seguiu. Mas gostava tanto de sentir os dedos dela entrelaçados aos seus que, por um momento, esqueceu que estava zangado. Um minuto depois estavam dançando, rodeados por um montão de gente.
― Você acha que deveria estar saltitando em sua condição? – perguntou.
Ela o olhou incrédula. ― Não é medico? Pois deveria saber que não acontece nada.
― É diferente quando... ― Quando você é o pai? – interrompeu-o ela.
O pai. Não gostava da emoção que tinha provocado àquela palavra. Mas Ali ria feliz, e sua alegria era contagiosa. Nem sequer gostava de música country, como podia estar dançando diante de um montão de desconhecidos? Perguntava-se. Entretanto, tinha que reconhecer que estava muito feliz.
De repente, a banda começou a tocar uma canção lenta e, antes que pudesse reagir, Ali estava em seus braços. Então Brad atirou a toalha. Ao demônio com o que tinha pra dizer, pensava.
Gostava de abraçá-la. Gostava muito.
Brad a apertou com força e começaram a mover-se ao ritmo da música. Se fizessem um corte no seu braço naquele momento, tinha certeza que não sangraria. Todo seu sangue estava por debaixo da calça. Não podia entrar uma só razão para não abraçar Ali. Possivelmente era porque tampouco havia uma gota de sangue em seu cérebro, pensava.
Mas quando a banda começou a tocar de novo uma música country, Brad a pegou pela mão e a conduziu de novo para o balcão. ― Queria falar comigo, não? – sorriu ela.
― Sim. E pare de tentar me distrair.
― Estou te distraindo?
― Mais que isso. E sabe.
― Deveria lamentar? – riu ela, com os olhos brilhantes.
― Você saberá. – respondeu ele.
Ali deixou de sorrir.
― O quer dizer?
― Me fizeste uma armadilha, Ali?
― Sim, claro. Sempre quis me casar com um médico e perder minha virgindade com um homem que desapareceria na manhã seguinte – respondeu ela, irônica.
― Ali... Importo-me. De verdade, mas...
― Mas não quer suportar a carga de uma família – o interrompeu ela.
― Isso já sei. Que mais queria me dizer?
― Quero te ajudar.
― Como? – perguntou Ali.
― Bem, contribuindo com dinheiro para a criança...
― Não preciso do seu dinheiro – disse ela, cruzando os braços. ― Que mais?
― Você goste ou não, essa criança também é minha responsabilidade e quero que me escute – disse Brad irritado por sua atitude. ― Podemos chegar a um acordo econômico. Agora não tenho dinheiro, mas posso abrir uma conta e pôr algo todos os meses. Quando tiver um cargo fixo no hospital, aumentarei a quantia.
― Parece que está falando de um empréstimo.
― Ali, seja razoável. Só quero ajudar.
― Pois não o está fazendo – disse ela. ― E falando de dinheiro, espero que não tenhas deixado de ir ao banco de esperma só por mim.
― Não deixei de ir. Agora vou aos sábados.
― Ah.
― Você poderia ficar com esse dinheiro – sugeriu ele então. Uma lágrima escapou dos olhos de Ali, mas ela a limpou rápido.
― Já disse que não preciso do seu dinheiro, Brad. E tampouco necessito da sua compaixão. – disse, antes de virar-se. Brad pegou seu copo e tentou abrir espaço entre as pessoas que enchiam o local. Mas Ali tinha sido mais rápida, e quando chegou à rua, procurou-a, sem êxito.
Tinha desaparecido.
Brad olhava ao redor, mas a neve atrapalhava sua visão.
Ali não deveria dirigir em uma noite como aquela, pensava enquanto se dirigia ao estacionamento.
― Ótimo, Brad. Agora sim fez uma coisa boa – murmurou, enquanto entrava em seu carro.
O carro patinou perigosamente e Ali tirou o pé do acelerador. Segurando o volante com as duas mãos conseguiu controlá-lo e suspirou aliviada.
Comportou-se como uma criança. Por que tinha pensado que, se voltassem a ver-se, ele se mostraria mais pormenorizado? Brad não tinha nenhum interesse em ser pai.
― Dinheiro – murmurou desgostosa. O dinheiro era a única coisa importante pra ele. Ela tinha mais que o suficiente e ele não tinha nada. Se fosse ao contrário, seria um problema? Perguntava-se.
Provavelmente. Então, pensaria que era isso o que procurava.
Possivelmente era o momento de aceitar o plano B. Embora seu plano inicial de ter um filho e cria-lo sozinha era um bom plano, tinha que admitir que o plano B tinha sido melhor. Se não tinha se deixado levar pela ilusão, pensava. Se não tivesse tido tantas esperanças loucas. Desejava estar com Brad e o baile só tinha aumentado sua necessidade de tocá-lo, de tê-lo por perto.
O limpador de pára-brisas quando podia retirava a neve e Ali diminuiu a velocidade, procurando um raio de esperança que parecia impossível. Algo continuava incomodando-a sobre esse assunto de dinheiro, mas não sabia exatamente o que.
Pensou nisso até que chegou a seu apartamento e, enquanto estacionava, deu-se conta do que era.
Na realidade, não lhe tinha contado que tinha recebido uma herança. Seria esse o problema? Quase rindo, Ali saiu do carro sabendo exatamente o que tinha que fazer. Provavelmente não funcionaria, mas tinha que tentar.
CAPÍTULO DOZE
Ali chegou na segunda-feira para trabalhar cheia de energia e procurou o telefone do ginecologista que Michelle lhe tinha recomendado, o doutor Lawrence Wilson. Estavam no começo de fevereiro e só estaria de dois meses, mas queria confirmar.
Ali discou o número e marcou uma consulta.
― É a sua primeira consulta? – perguntou a enfermeira.
― Sim. Creio que estou grávida. – respondeu ela, tão emocionada como cada vez que pensava no que significava aquilo.
― De quantos meses?
― Dois meses.
― Bom, então temos tempo – disse a enfermeira. ― Está bom pra você em duas semanas, na segunda-feira às quatro e meia?
― Muito bem.
Ali deu seu nome e endereço e desligou, sentindo-se feliz.
O dia passou mais rápido do que o habitual, lhe dando pouco tempo para pensar em Brad e em sua idéia, mas mais tarde, em sua casa, depois de tirar as justas calças e jura a si mesma que não voltaria a usá-las, correu para o telefone e discou o número de Brad. Imaginava que não estaria em casa, mas tinha que ao menos tentar.
Quando estava a ponto de desligar, ele respondeu, com voz entrecortada.
― Você estava em um mau momento?
Do outro lado houve uma pausa e o coração de Ali deixou de pulsar por um décimo de segundo. Estaria com outra mulher?
― Não – respondeu Brad por fim, tomando ar. ― Estava falando com Sally quando ouvi o telefone.
Ali suspirou, aliviada. Até o som de sua voz a excitava.
Nunca havia sentido aquilo por outro homem. O que Brad Darling tinha que a deixava sem fala?
― Eu... Bom, queria te perguntar se... – começou a dizer ela ― Se te importa que vá verte?
― Agora?
― Sim.
― De acordo.
― Nos vemos em meia hora. – disse Ali, antes de desligar. Depois, correu até o armário, dizendo a si mesma que não deveria ter muitas esperanças. O que iria lhe dizer provavelmente não mudaria nada. Mas talvez sim.
Tinha que usar algo largo e cômodo, pensava, tirando do armário um vestido de algodão. Perfeito. Não era justo e tampouco sexy. Tinham que falar de negócios e não queria que ele pensasse que ao seu apartamento para seduzi-lo. Para assegurar-se, colocou meias três – quartos e uma sapatilha esporte.
Vinte e cinco minutos mais tarde, Ali subia ao seu apartamento.
― Olá – a saudou ele, pegando seu casaco. Brad usava uma toalha ao redor do pescoço, uma bermuda e... Nada mais. O pelo escuro de seu peito estava úmido de suor e a imagem a deixou momentaneamente sem fôlego ― Estava fazendo exercício – explicou ele. Ali apertava sua bolsa, sabendo que deveria parecer uma senhora octogenária assustada por ladrões, mas não podia deixar de pensar nos papéis que tinha dentro da bolsa. ― Gostaria de uma Coca Cola?
― Não, obrigada.
― Sente-se – disse Brad, sentando-se no sofá.
Ali não tinha esperado um recebimento tão cordial, depois de como se despediram no bar. Inclusive parecia contente em vê-la.
Ali se sentou ao seu lado, mas tão longe dele o quanto pôde. Brad sorria e esperava pacientemente que ela dissesse o que queria o que era desconcertante.
― Estie pensando... Bem, há muitas coisas que não sabemos um do outro e possivelmente poderíamos...
― O que quer saber?
Ali ficou desconcertada. ― Me conte algo sobre sua família – respondeu por fim.
― Tenho uma irmã mais velha, Mary Beth. Mora na Flórida com seu marido. Meu pai morreu faz uns anos e minha mãe mora com Mary Beth desde que sofreu um enfarte. – começou a dizer ele. ― Em minha casa nunca houve dinheiro e, quando eu começar a ganha-lo, penso em enviar parte a minha família. Minha irmã e seu marido cuidam a anos da minha mãe – acrescentou. Aquilo explicava sua preocupação pelo dinheiro, pensava Ali. ― E você? Conte-me coisas sobre sua família.
― Minha mãe era dona-de-casa porque gostava de ser – começou ela seu relato. ― Em minha casa sim havia dinheiro e minha mãe investia na bolsa. Como te disse, tinha muito talento para descobrir bons investimentos. Para isso e para ser mãe. Era a melhor do mundo.
― Mas seu pai não era assim, verdade?
Ali não tinha vontade de falar do pai, mas sabia que deveria.
― Uma vez o ouvi dizer a um de seus colegas que eu tinha sido um engano... Já sabe um filho que não tinha desejado. Minhas irmãs são muito mais velhas que eu e ele nunca me quis.
― Sinto muito – murmurou Brad.
― O engraçado é que meu pai era ginecologista. Ganhava a vida trazendo crianças ao mundo enquanto eu, entretanto, era um inconveniente. – sorriu ela, irônica. ― Bom, o caso é que meu pai nunca estava em casa. Quando não estava trabalhando, estava jogando golfe. Minha mãe nunca se queixava e sempre o defendeu até que... Abandonou-a por outra mulher.
Brad sacudiu a cabeça, sensibilizado.
― Por isso acreditava que todos os médicos eram um lixo.
― Sempre tinha acreditado, sim – sorriu ela.
― Já não acreditas mais?
― Não.
― Eu gostei disso, de falarmos de nossas vidas. – disse Brad.
― Você disse que tinha tido más experiências no passado – se atreveu a dizer Ali. Tinha que fazer isso em algum momento e aquele parecia o mais adequado.
― Ah, isso – murmurou Brad. ― Se chamava Valerie e aconteceu faz tempo, quando ainda estava na faculdade. Deveria ter me dado conta que tipo de mulher ela era quando, antes de terminar o curso, já me apresentava as amizades dela como Doutor Darling. Cada vez que lhe perguntava de onde tirava dinheiro para comprar tantas roupas e carros novos, ele me dizia pra não me preocupar.
Então, um dia deixou a bolsa na minha casa e... Bom, não tenho orgulho disso, mas dei uma olhada – continuou dizendo. ― Havia mais de vinte cartões de credito e, em um dos papéis do banco, descobri que tinha uma quantia importante no vermelho. Quando lhe perguntei por que isso, Valerie encolheu os ombros e me disse que algum dia eu ganharia muito dinheiro como cardiologista e poderia pagar suas dívidas. O que te parece? – sorriu Brad, irônico. ― Não voltei a sair com muitas mulheres após isso. Quando saía, sempre estavam muito interessadas em saber minha especialidade e eu não podia deixar de imaginar se estavam fazendo cálculos.
― E quando viu meu apartamento... – interveio Ali.
― Isso.
Ali abriu sua bolsa e tirou um envelope.
― Brad, eu tenho feito todo o possível para esconder o que tenho... Provavelmente pelas mesmas razoes que você. Não quero que ninguém me queira pelo meu dinheiro. Nunca mostrei isso a ninguém, mas pensei que poderia nos ajudar. – disse, lhe dando o envelope.
― O que é isso?
― Abra-o – insistiu ela. Brad abriu o envelope e começou a ler seu conteúdo enquanto Ali observava sua expressão de surpresa.
― Ali! Aqui há mais de meio milhão de dólares! – exclamou ele, por fim.
― Minha mãe me deixou a maior parte desse dinheiro como herança, mas eu acrescentei uma boa quantia – explicou ela.
Brad a olhava incrédulo.
― Mas Ali... – começou a dizer ele, passando a mão pelos cabelos.
― Continua acreditando que o que procuro é o dinheiro que possa ganhar um dia?
― Não, claro que não – responde ele. ― Mas...
― Brad, pode m perguntar o que quiser. – o animou ela.
― Quando fizemos amor...
― Sim?
― Disse que era virgem, assim esperava...
― Ah, isso – murmurou Ali. Não tinha pensado em lhe contar sobre sua visita à clínica, mas teria que contar. ― O médico o rompeu quando...
Brad cobriu sua boca com a mão.
― Não continue. – a interrompeu – Deveria ter acreditado em ti, Ali. Sinto muito.
Ali pegou sua bolsa e começou a levantar-se, mas ele a deteve.
― Não pensa em ir embora, certo?
― Não quero te incomodar mais...
― Fique. Por favor.
― Tudo bem. Mas continue fazendo teus exercícios.
― Enquanto você me olha?
― Sim – respondeu ela, ficando vermelha.
Brad soltou uma gargalhada. Ele não se dava conta de como estava sexy com aquela bermuda, nem nas fantasias que Ali começava a ter.
― Muito bem – sorriu ele, sentando- se no banco de exercícios.
― Poderia me ajudar.
― Como?
― Quando me canso, tenho que arquear as costas e isso não é muito bom. Porque não se senta em cima de mim?
Ali o olhou, com as sobrancelhas levantadas.
― O que pretende doutor Darling?
― Fazer exercícios – respondeu ele, sorrindo.
Ali não se importava com quais fossem suas intenções, de modo que subiu o vestido e se sentou sobre seu estomago de pernas abertas.
― Assim?
― Perfeito – sorriu Brad, respirando profundamente antes de levantar a barra.
Ali observava os músculos masculino com admiração. Brad tinha um físico que poderia rivalizar com qualquer modelo.
Levantava a barra aparentemente tranqüilo, mas Ali notava algo duro debaixo de seu corpo e começou a mover-se, sentindo como o tecido de sua calcinha se umedecia ao entrar em contato com a ereção do homem. Brad soltou a barra bruscamente e, com mãos ardentes, começou a acariciar a parte interior de suas coxas.
Quando Ali viu como ficava o volume da bermuda e seu coração começou a pulsar com força e, com dedos trêmulos, começou a acariciá-lo ate que ele pôs sua mão sobre a dela, apertando para baixo com força. Com mais audácia do que acreditava ter, baixou-lhe a calça e Brad a atraiu para si para beijá-la na boca, sua língua mostrando como queria que fizesse em outras partes de seu corpo. Devolvia-lhe o beijo com ânsia, sem deixar duvidas sobre o que desejava.
Brad acariciava seus peitos, brincando com seus mamilos através do tecido. Depois, afastou para um lado o pequeno tecido da calcinha e colocou os dedos. Quando Ali acreditava que não poderia suportar mais, ele a penetrou calmamente, quase sem mover-se.
Enchia-a tão profundamente que Ali se perguntava como podia ter vivido sem ele durante tanto tempo. Mas quando começou a empurrar para cima em um ritmo frenético, deixou de se fazer perguntas. Suas bocas se exploravam de novo com um beijo longo, úmido e desesperado.
― Você me deixa louco, Ali – murmurou Brad com voz rouca. Então começou a sair dela e Ali se sentiu confusa. Mas só por um momento. Brad, sem tirar tudo, começou a esfregar-se contra sua pele mais sensível, entrando de novo, voltando a sair e a esfregar-se contra ela até que Ali sentiu que ficava rígido debaixo dela. Sua respiração era entrecortada. ― Ali, não sabe como estou contente que tenha vindo aqui – sorriu um pouco depois.
― Eu também – disse ela, beijando-o em um ombro antes de ir ao banheiro. Quando saiu, Brad estava bebendo água na cozinha e lhe ofereceu um copo que ela bebeu, ansiosa, sentindo que ficava sem fluidos.
― Tenho que voltar para o hospital dentro de uma hora.
― Ah. Quer descansar um pouco?
― Por favor, fique. – disse ele, olhando-a nos olhos. De repente, pôs a mão sobre seu ventre. ― Esta começando a se notar – murmurou confuso. ― Não é muito cedo?
― É?
― Ainda não sei, não é minha especialidade. O que disse o teu ginecologista?
― Ainda não o vi. Tenho uma consulta em duas semanas.
― Então, ainda tem que confirmar se está grávida – sorriu Brad, inseguro.
Ali passou a mão pelo ventre, surpreendida que se notasse tanto.
― Acredito que ultimamente comi muito. E falando em comer... Estou faminta, porque não vamos comer uma pizza? Eu convido. – sorriu ela.
― Isso que da sair com uma mulher rica, tem suas vantagens – riu ele, beijando-a suavemente nos lábios ― Ouça, tem comida na sua geladeira?
― Sim – murmurou Ali, sem entender.
― Eu posso jantar no hospital. – murmurou ele, acariciando seus seios. ― E assim poderíamos aproveitar a tempo que sobrar.
― Você acha? – sussurrou ela. Brad tirou seu vestido e ficou surpreso ao ver que ela não usava calcinha. ― Deixei no banheiro – explicou Ali.
― Você deveria ter deixado as meias três – quartos me excitam. – riu ele, enquanto tirava a cueca, ficando gloriosamente nu frente a ela.
Sentindo-se corajosa, Ali acariciou sua sedosa ereção.
― Por isso ficou assim?
― Com certeza. Só podem ter sido as meias três – quartos.
CAPÍTULO TREZE
A meia noite Brad foi procurar por Craig em uma das salas de consultas de emergências.
― Gostaria de uma pizza. Dividimos?
― Ótimo. Termino com meu paciente e em vinte minutos estou contigo.
― Tudo menos anchovas?
― Nem pimentões.
― Certo.
Brad pediu por telefone a pizza e depois voltou ao trabalho. Quando se reuniu com Craig na sala dos médicos, metade da pizza tinha desaparecido.
― Que fome tenho – disse seu amigo, com a boca cheia.
― Já vejo como me esperou – riu Brad, pegando um pedaço. ― Craig, você trabalhou com o doutor Wilson, não?
― Sim. Uma ótima pessoa, por quê?
Brad limpou a boca com um guardanapo, evitando olhar Craig nos olhos.
― Só queria saber como era – murmurou. ― Quando uma grávida começa a ir ao ginecologista? – perguntou, sabendo que aquilo despertaria suspeitas em seu amigo.
Embora, na realidade, não sabia como tinha conseguido lhe esconder seu caso com Ali por tanto tempo.
― Normalmente, aos dois ou três meses. É gorda ou magra?
― Magra.
― Então... Aos três.
― Não examinam quando estão de dois meses?
― Se tiver tido um bebê antes, é possível. – respondeu Craig, olhando Brad com suspeita. ― O que passa meu amigo?
― Tem que jurar que não vais dizer uma palavra.
― Certo, eu juro.
Brad largou o pedaço de pizza. Tinha perdido a fome.
― Parece que vou ser pai.
Se tivesse lhe dito que iria trocar de sexo, seu amigo não teria ficado tão surpreso.
― Nem sequer sabia que você estava saindo com alguém! – exclamou Craig. ― Eu conheço?
― Ali. – respondeu Brad.
Craig continuava atônito.
― E desde quando estão saindo?
― Desde que nos conhecemos.
― E me conta isso só agora?
― Bom, não estava estabilizado. Agora estamos bem.
― Já sei que faz muito tempo que não saía com alguém, mas não sabe que existe uma coisa chamada preservativo? – perguntou seu amigo, passando a mão pelo cabelo. ― É medico, Brad e não tem um centavo. Como deixou isso acontecer?
Brad teria dito o mesmo se isso tivesse acontecido com Craig, assim aceitou a crítica sem dizer nada.
― Dá no mesmo.
― Espera um momento. Disse que está de dois meses?
― Dois meses e algo.
― E como sabe que é...?
― Sei – o interrompeu Brad.
― Vai casar com ela?
― Esse é um assunto que não conversamos ainda.
― Mas ela deve estar pensando. Todas as mulheres querem casar-se.
Craig provavelmente tinha razão, mas ate aquela noite o casamento não lhe tinha parecido real.
Quando tinha visto seu ventre...
O bipe de Craig soou naquele momento.
― Tenho que ir – disse, levantando-se. Se tiver dúvidas, vá com ela à consulta do doutor Wilson. De acordo? Falaremos mais tarde – acrescentou, lhe dando um tapinha nas costas.
― De acordo.
Sozinho na sala dos médicos, Brad pensava no que tinha dito Craig. Muitos maridos ao ginecologista com suas mulheres. O problema era que Ali não era sua mulher e provavelmente não quereria que os vissem juntos na consulta.
Um minuto depois soava seu bipe e, antes que se desse conta, terminava seu turno. Às sete e meia foi a cafeteria tomar um café da manha e estava lendo o jornal até as oito, a hora que Ali entrava para trabalhar.
― Olá, linda – sorriu, quando ela entrava pela porta.
― Brad, que surpresa! – exclamou Ali. Seus olhos se iluminaram ao vê-lo.
― Vou pra casa, mas antes queria te dar bom dia. Assim me garanto bons sonhos. – sorriu. Ali lhe devolveu o sorriso enquanto tirava o casaco. Usava um pulôver largo e Brad lembrou do que Craig havia dito. ― O que você acha se eu for contigo à consulta do doutor Wilson?
― Quer ir comigo? – perguntou ela.
― Sim.
― Eu adoraria.
Brad se despediu uns segundos depois, com um sorriso.
O dia tinha chegado e Ali estava nervosa. Tinha pedido ao seu chefe para sair antes e os minutos pareciam intermináveis.
Estava querendo ver o doutor Wilson, principalmente desde que tinha começado a se sentir estranha uns dias antes, nada doloroso, só uma espécie de espetadas que a preocupavam. Lynne tinha sofrido vários abortos e não podia deixar de pensar que poderia lhe acontecer o mesmo.
Mais que nunca, sentia-se feliz por Brad ir com ela.
Seguiam sem falar sobre o futuro, mas o fato de querer acompanhá-la ao ginecologista era um bom sinal.
Às quatro e vinte e cinco, Ali tirou o casaco e tomou o elevador até o quarto andar. Quando entrou na sala de espera, Brad estava lendo uma revista sobre maternidade e seu coração deu um salto.
Nunca poderia ver aquele homem sem ter uma reação parecida.
Ele levantou a cabeça e seu sorriso a fez derreter-se por dentro.
― Olá.
― Olá. Vou dizer à enfermeira que estou aqui. – sorriu ela, se dirigindo ao guichê. Uns minutos mais tarde, a enfermeira os acompanhava à consulta e lhe dava um jaleco.
― Você que esperar na sala até que o medico a examine? – perguntou, dirigindo-se a Brad.
― É necessário? – perguntou Ali. ― Eu gostaria que ficasse.
― Muito bem. O doutor virá em seguida.
Ali colocou o jaleco de costas para Brad, sentindo-se um pouco tímida.
― Muito sexy – sussurrou ele.
Ela rio, tentando relaxar. Não sabia por que estava tão nervosa. Ele era seu amante, o pai de se bebê. E alem disso era médico. Não ia ver nada que não tivesse visto antes. Ainda assim, uma estranha sensação de desconforto a invadia. Tanto que, quando o doutor Wilson entrou na sala, Ali estava a ponto de gritar.
― Boa tarde – os saudou.
O aperto de mão do medico era firme e seguro e Ali se tranqüilizou um pouco.
― Você não é o doutor Darling? – perguntou o ginecologista, olhando Brad.
― Sim – responde ele. ― Nos conhecemos faz tempo. Sou amigo de Craig Miller.
― Ah, claro. Como está Craig? Lamentei muito a escolha dele em seguir sua carreira na emergência.
― Está muito bem.
― Então, doutor Darling, seu interesse aqui é...
― Sou o pai da criança.
A simples admissão fez que Ali sentisse um nó na garganta.
Felizmente, o doutor Wilson não fez nenhum comentário a respeito e, simplesmente, começou a fazer pergunta a Ali. Contou-lhe que ultimamente estava se sentindo estranha e Brad a olhou surpreso.
Não lhe tinha comentado nada.
Por fim, o doutor chamou uma enfermeira e, quando começou a examiná-la, Brad se colocou ao lado de Ali e pegou sua mão.
Pouco depois, o doutor Wilson tirava as luvas e voltava a cobrir suas pernas com o lençol.
― Pode sentar-se – sorriu. A enfermeira saiu da sala e o doutor Wilson se sentou em um banco. Ali estudava seu rosto, com o coração acelerado. Algo acontecia. Brad também deveria ter notado porque apertou sua mão com força. ― Parece que está tudo bem.
― Mas há algo estranho, não é? – perguntou Ali.
― Não é que seja estranho. É que não esta grávida de dois meses e meio, como dizia seu relatório. – disse o homem. Ali o olhou, sem entender. Tinha que estar grávida, disso estava certa. ― Eu diria que está de quatro meses e meio.
Brad soltou sua mão.
― Mas...
― Se tiver um ciclo irregular, é normal que tenhas te equivocado nas contas. E essas sensações estranhas que diz sentir, bom, querido, é seu filho, que te recordas que está ai – sorriu o homem, sem dar-se conta do impacto que tinha causado a noticia. ― Na semana que vem vamos fazer uma ecografia. E, por certo, terão que decidir se querem saber o sexo do bebê ou não. É muito possível que possamos vê-lo – acrescentou, levantando-se. Quando nenhum deles disse uma palavra, o doutor Wilson os olhou, surpreso. ― Alguma pergunta? – Ali negou com a cabeça. ― A enfermeira te dará instruções sobre dieta, exercício e todas essas coisas. Se tiver algum problema, me ligue e, se não, voltaremos a nos ver dentro de uma semana.
O doutor se despediu deles e desapareceu.
Durante o que parecia uma eternidade, Brad não se moveu nem disse uma palavra.
― Sei o que deve estar pensando, mas posso te explicar... – começou a dizer Ali.
― Sei que pode – a interrompeu ele. ― É muito convincente. Esteve me enganando durante todo o tempo.
― Por favor, Brad, eu...
― Nada do que diga pode mudar isso, Ali. Fez-me acreditar que eu tinha sido o único, que esta criança era minha. E, obviamente, nenhuma das duas coisas é verdade.
― Mas...
― Sei que você quer essa criança e sei também que será uma boa mãe.
― Brad... – tentou falar ela, sem saber como lhe explicar o que tinha acontecido.
Ele a olhou uma última vez e a dor em seus olhos era tão aparente que Ali não pôde continuar segurando as lágrimas.
― Adeus Ali. Desejo-te sorte.
Brad saiu do consultório e Ali enterrou o rosto entre as mãos.
CAPÍTULO QUATORZE
Ali passou a noite sozinha em seu apartamento e, depois de chorar durante horas, ligou para Lynne para contar-lhe tudo.
Como sempre, sua irmã a consolou e a aconselhou sem julgá-la, mas insistiu em que, acontecesse o que acontecesse, tinha que contar a verdade para Brad. De qualquer modo a criança era dele e merecia saber.
Ali desligou sentindo-se um pouco melhor e preparou um chá. Quando o liquido quente chegou ao seu estômago, começou a sentir-se um pouco melhor.
E então voltou a sentir aquela sensação.
Ali deixou a xícara sobre a mesa e colocou a mão sobre o ventre. Ali estava, pensou com lágrimas de alegria. Aquilo era o que tinha desejado a vida toda. Um filho.
Ficou sentada naquela cadeira durante uma hora, sentindo seu filho e desejando que Brad estivesse com ela para compartilhar o momento. E, então, decidiu como lhe contaria a história. Não haveria visita inesperada em seu apartamento, nem tampouco falaria com ele no hospital.
Explicar-lhe-ia tudo por carta e deixaria que ele decidisse o que queria fazer.
Não iria enganar ninguém, queria Brad em sua vida, não ia pôr-lhe uma pistola na cabeça. E tampouco ia pôr todas suas esperanças nele. Até porque, Brad não tinha tomado à decisão de ter um filho.
Durante toda a semana, Ali tentou terminar a carta mais importante de sua vida e na sexta-feira pela manhã a enviou por correio. A partir de então, a única coisa que podia fazer era esperar a reação de Brad.
A meia noite de segunda-feira, Brad abria sua caixa de correio e tirava papéis de propaganda, junto com outros papéis que imaginava serem faturas. Já dentro de seu apartamento, deixou tudo sobre a mesa e abriu a geladeira para comer algo.
Preparou para si um sanduíche de atum e começou a comer apoiado no balcão quando seu olhar se fixou em um envelope escrito à mão.
Brad o abriu surpreso. Não tinha que ler a assinatura para saber de quem era.
Quando terminou de lê-la, ficou imóvel, muito perplexo para reagir.
Estaria Ali dizendo a verdade? Ou seria uma mentirosa patológica? Perguntava-se. Aquela história sobre a inseminação com seu esperma era digna de um roteirista de Hollywood.
Brad voltou a deixar a carta na mesa e foi tomar um banho, furioso.
Como demônio saberia a verdade? Se esperasse que a criança nascesse e fizesse um DNA pra provar que ele era o pai, teria perdido os meses mais importantes da vida com Ali e nunca se perdoaria por isso. Entretanto, se acreditasse e ela estivesse mentindo, sentir-se-ia destroçado.
Na segunda-feira anterior, na consulta do doutor Wilson, tinha recebido uma dolorosa desilusão. Seus sentimentos por Ali eram cada vez mais profundos e tinha começado a acostumar-se à idéia de que seria pai... Só para dar-se conta de que tinha sido enganado.
― Maldita seja! - exclamou, saindo do banho. O que poderia fazer?
Uns dias depois, Ali estava certa que Brad tinha recebido a carta e, simplesmente, não queria responder.
O trabalho era sua salvação e, felizmente, estava mais ocupada do que de costume. Alem disso, tinha comprado um montão de livros sobre maternidade e se dedicava a estudar, fazer compras e, em geral, desfrutar cada segundo de sua gravidez.
Mas quando ia se deitar não podia deixar de pensar em Brad.
No domingo seguinte, a noite, Ali não podia deixar de dar voltas e voltas na cama, incapaz de dormir. Se tivesse contado antes, dizia-se, provavelmente ele teria acreditado. Lembrava que tinha começado a dizer-lhe na noite que esteve em seu apartamento, mas ele a tinha interrompido.
Na segunda-feira pela manhã, esgotada, pensou em ligar para a clínica para dizer que estava doente, mas aquele era o dia da ecografia e só a idéia de ver seu filho a enchia de energia.
De alguma forma conseguiu suportar as oito horas de trabalho e, mais tarde, deitada na maca, olhava a tela escura do monitor esperando ao doutor Wilson.
Quando escutou a porta se abrindo, se virou, sorrindo.
Mas era Brad.
Ele fechou a porta e ficou olhando Ali, atônita, que não conseguia dizer uma palavra.
― Não sei se deveria estar aqui. – sussurrou.
Ela queria dizer que já era suficiente que estivesse ali, mas era? Não sabia o que pensar de sua repentina aparição.
Antes que pudessem dizer algo, entrou o doutor Wilson.
― Preparados para ver o filme? – brincou o homem, enquanto abria um tubo de gel e o passava sobre o ventre de Ali. ― Como você esta? Come bem?
Ali abaixou o olhar.
― Sim. Vai tudo bem.
― Fico feliz – sorriu o ginecologista, virando-se para Brad. ― Poderá ver melhor se te aproximar.
Pelo canto do olho, Ali viu que Brad se aproximava, perguntando-se se o doutor Wilson se dava conta da tensão que havia entre eles. Mas quando o médico colocou um instrumento parecido com um camundongo sobre seu ventre, Ali se concentrou na tela do monitor, em que tinha aparecido uma figura imprecisa.
― Ótimo. Como tinha pensado. Está de vinte semanas – disse o homem. De repente, levantou o aparelho. ― Olhe!
― O que aconteceu? Algo ruim? – perguntou Ali, quase sem voz. Brad se aproximou um pouco mais.
― Perdão, não queria te alarmar – sorriu o homem. ― É que o bebê está em uma posição em que se pode determinar o sexo e ainda não me disseram se querem saber.
Ali suspirou aliviada e ouviu que Brad fazia o mesmo. Tinha vacilado durante toda a semana sobre ao assunto, mas a decisão estava tomada.
― Eu quero vê-lo – murmurou, olhando Brad. Não necessitava de sua permissão, mas esperava que estivesse de acordo.
Devolveu-lhe o olhar com aqueles olhos azuis intensos e ali se deu conta de que ele, embora inseguro, também queria.
― Sim. Queremos vê-lo.
O doutor voltou a colocar o camundongo sobre o ventre de Ali.
― Essa é a cabeça. E aqui, o coração – explicou. Brad apertava sua mão, emocionado, os olhos de Ali se encheram de lágrimas. O doutor Wilson estava riscando uma linha com a mão sobre o monitor. ― Este é o cordão umbilical, o que significa que isto – acrescentou, assinalando um pequeno apêndice – não é. Parece que vão ter um menino. – sorriu.
Ali olhou Brad. Os olhos do homem, mas brilhantes do que nunca, estavam cravados na tela.
Quando por fim os separou do monitor e a olhou, Ali soube que, acontecesse o que acontecesse entre, entre ele tinha-se criado um laço que nunca poderia ser rompido.
Um filho. Um menino pequeno que algum dia necessitaria do apoio dos dois.
― Podemos tirar uma fotografia, se quiserem.
― Sim, por favor – disse Ali, olhando o que pareciam bracinhos e pernas moendo-se continuamente.
Seu coração parecia querer saltar de alegria. Se o bebê não lhe tinha parecido real, naquele momento parecia.
Ia se mãe.
E o homem que segurava sua mão ia ser pai.
Com aquela realização, deu-se conta de outra coisa. Quão egoísta tinha sido. Tinha estado tão cega por seu desejo de ter um filho que não tinha pensado no que significava lhe negar um pai.
Bem, disse a si mesma, sentindo-se extremamente maternal, ainda tinha tempo para mudar isso. Ao inferno o orgulho. Se havia alguma forma de convencer Brad, encontrá-la-ia.
O doutor Wilson apertou um botão e tirou duas fotografias em branco e preto.
― Aproveitem o tempo. Se tiverem alguma pergunta, estarei lá fora – disse, antes de sair da consulta.
Ali ficou olhando a fotografia, enquanto procurava palavras. Não podia deixar passar aquele momento sem tentar uma aproximação.
― Brad, eu... – disse, esclarecendo a garganta. ― Te juro que é teu filho.
― Ali...
― Sinto não ter te dito antes sobre a inseminação – o interrompeu ela.
― De verdade. É que as coisas se complicaram e... Brad, eu me apaixonei por ti no dia em que te vi na cafeteria – acrescentou.
Ele fechou os olhos, confuso. ― Este menino precisa de ti, Brad. Eu preciso.
Brad negou com a cabeça.
― Você não precisa de mim, Ali.
― Muito bem, talvez não precise. Mas te quero.
― Você merece um marido. O tipo de homem que vai todas as noites para jantar, que tem os finais de semana livres. Alguém que possa contribuir com dinheiro para os gastos da casa, que não esteja endividado até o pescoço.
Ali sentia que ele se afastava e se deu conta de que sua resistência a deixava furiosa.
― Se fizer com que se sinta melhor, poderia pagar a metade do aluguel. E se tanto te preocupa ter que pagar o empréstimo dos teus estudos, eu poderia pagar amanhã mesmo e o problema acabaria.
Brad a olhou muito sério.
― E como acha que eu me sentiria?
― Aliviado, por exemplo – tentou sorrir ela.
― Nem sequer aceitei o fato de que este filho é meu e você quer que aceite teu dinheiro – disse Brad, com os dentes serrados. ― Não pode me comprar, Ali. Muito mais que queira um marido e um pai para seu filho.
― É um arrogante e um imbecil... – disse ela, então, sentindo que as lágrimas apareciam em seus olhos novamente. ― Não estou tentando te comprar. Só quero resolver o problema. Perdão se tiver ofendido seu delicado ego, doutor Darling. Tome cuidado, não se afogue com ele quando sair daqui.
Ele a olhou furioso e, sem dizer uma palavra mais, saiu da sala batendo a porta.
Ali limpou o gel, vestiu-se e saiu do hospital apressada e furiosa.
Só quando chegou a sua casa e voltou a olhar a fotografia de seu filho, conseguiu acalmar-se.
― Sinto muito, pequenino, parece que vou ter que começar a ter calma, verdade? – sorriu, sentindo-se culpada pela forma como tinha tratado Brad. ― Vamos ter que dar ao seu pai um pouco mais de tempo. A verdade é que é uma boa pessoa. E, embora não queira admitir, eu acredito que também nos quer.
CAPÍTULO QUINZE
No final de março, a neve cobria a cidade e os corredores de emergência estavam abarrotados de feridos em acidentes de transito.
Brad terminou seu turno às nove da manhã do sábado. Estava esgotado e precisava desesperadamente de um banho e varias horas de sono, mas havia algo rondando sua cabeça que o fazia permanecer em pé.
E naquele dia resolveria esse assunto de uma vez por todas.
Foi à estação de trem e depois correu todo o caminho até o apartamento de Ali. Não tinha energia para ensaiar um discurso, mas não mudava nada. Ela teria que escuta-lo.
Ali abriu a porta vestida com um penhoar longo. Estava despenteada e muito sexy, apesar de estar grávida de seis meses.
― Olá, Brad – o saudou ela. ― Gostaria de um café? – sorriu, como se tivesse estado esperando aquela visita.
― Não – respondeu ele, com secura. Ela se serviu de café e se sentou no sofá, lhe fazendo um gesto para que a acompanhasse, mas Brad a ignorou e se dedicou a caminhar pela sala.
― Estragaste tudo, sabia? – disse, olhando-a. Ali tomava seu café tranquilamente, como se aquilo não fosse com ela e Brad continuou caminhando, negando-se a deixar-se afetar por sua tranqüila atitude.
― Eu gostava do meu trabalho. Eu adorava trabalhar embora fossem vinte horas diárias – acrescentou, passando a mão pelo cabelo. ― E agora estou todo o tempo distraído... Maldita seja! Já nem sequer posso fazer exercícios sem pensar em ti. Nada... Absolutamente nada é como antes. Não encontro paz em nenhuma parte! – exclamou. Ali simplesmente o olhava, sem mudar de atitude. ― Olhe, tomei uma decisão.
― Sim?
― Quero que tentemos... Seja de quem for à criança. É teu e isso é suficiente pra mim.
― Já vejo – murmurou ela.
― Já vê? – repetiu ele. ― É isso tudo o que tem a dizer?
― É muito amável da sua parte, Brad. Mas não é suficiente.
Ele abriu os braços, desesperado.
― O que quer de mim, Ali?
― Tudo – respondeu ela.
― Pode ser um pouco mais especifica? – perguntou Brad, quase aos gritos. Aquela mulher o estava deixando louco.
― Para começar, quero que confie em mim. Se nossa relação não esta apoiada nisso, é como se estivéssemos construindo castelos no ar.
― De acordo. Confio em ti.
― Se confiasse, não estaria questionando quem é o pai do menino – disse Ali, tocando seu ventre. ― Te disse que você é o pai, mas você continua duvidando. Provavelmente pensa que saio por ai me deitando com todo mundo.
― E como demônio vou estar seguro? Diga-me – disse ele, voltando a caminhar.
― Esperava que me conhecesse o suficiente para saber que eu não te mentiria. Tinha esperado que seu coração te dissesse que é a verdade.
Fazendo um esforço, Ali se levantou do sofá e se dirigiu a porta.
― Vim aqui esperando que chegássemos a um acordo – disse ele. ― E ao menos seu filho merece um pai.
― Nosso filho, Brad – o corrigiu ela. ― E sim, é verdade. Mas prefiro cria-lo sozinha a com um homem que não confia em mim.
Brad teve que resistir ao impulso de sacudi-la... E outro impulso de tomá-la nos braços e beija-la como nunca a tinha beijado antes.
― Não será fácil cria-lo sozinha – disse, entre dentes. ― Algum dia lamentará, Ali.
― já lamento, Brad. Mas tenho que ser forte pelo menino. Não posso aceitar o que me oferece. Qualquer criança merece um amor incondicional e se o pai não estiver seguro... Seria como não ter nada.
Brad golpeou a porta com o punho.
― Maldita seja, Ali, nestas circunstâncias, não acha que esta m pedindo muito?
Ela assentiu, com os olhos cheios de lágrimas.
― Sim – respondeu, abrindo a porta. Brad a olhou durante um longo momento, respirando com dificuldade e depois saiu do apartamento.
Ali levou sua xícara até à cozinha, obrigando-se a não chorar e sentindo-se contente por tantas coisas para fazer naquele dia. Só tinha tempo para uma ducha antes que Lynne fosse buscá-la para irem às compras.
Naquele dia compraria o berço do bebê e outras coisas que precisava para o quarto. Mas, uma vez dentro da ducha, Ali deixou que as lágrimas rolassem por seu rosto, sabendo que se sentiria melhor se não as escondesse. Em seu coração sabia que estava fazendo o melhor para os três.
Só rezava para não esperar o final feliz que poderia não chegar nunca.
Um mês mais tarde, Lynne fez uma festa em sua homenagem. Estava Bárbara, que tinha se mudado para Detroit por fim, Michelle, Hazel e muitas outras amigas e primas.
Ali se divertiu muito brindo todos os presentes, mas foi no final da festa que recebeu a melhor das surpresas.
Michelle estava ajudando-a a secar a louça quando se colocou ao seu lado, com cara de conspiradora.
― Tenho uma proposta pra te fazer.
― Sobre o que? – perguntou Ali.
― Não sei que planos de trabalho têm, mas eu preciso de ajuda com meu negocio – explicou sua amiga. ― Me vejo obrigada a rechaçar trabalhos interessantes porque não tenho gente e pensei em ti como possível sócia.
― De verdade?
― Você conhece bem os sistemas informáticos com os que trabalho e é especialmente boa com as bases de dados.
Michelle lhe explicou que só teria que trabalhar vinte horas à semana e o melhor de tudo era que podia fazê-lo em casa, com o menino. Quando mencionou o salário mensal, Ali aceitou sem duvidar e decidiu falar com seu chefe para apresentar demissão.
Ao menos, esse era o plano.
Brad acabava de conseguir dormir na segunda-feira pela manhã quando seu bipe começou a soar.
Abrindo um olho, olhou o aparelho, que marcava o telefone da unidade de emergências e, murmurando uma maldição, sentou-se a duras penas na cama.
Sua história com Ali o impedia de dormir até o ponto que ia trabalhar todos os dias como um zumbi e rezava para não cometer um grave engano com algum dos pacientes.
Depois de lavar o rosto com água fria, foi correndo até o hospital e, assim que entrou Craig o pegou pelo braço.
― O que é tão urgente pra me tirar da cama? – perguntou, irritado.
― Acreditei que deveria saber... Ali esta na emergência. No número oito.
Brad correu pelo corredor sem esperar uma explicação e afastou a cortina com tal força que Ali se sobressaltou.
― O que aconteceu?
― Acho que... Tenho contrações, Brad – sussurrou ela, com os olhos cheios de lágrimas. ― Mas é muito cedo.
― Tente relaxar, Ali. Pode ser um falso alarme – tentou tranqüiliza-la. ― O que disse o doutor Wilson?
― Ainda não me viu.
― Está sangrando? – perguntou Brad, apalpando seu ventre de forma profissional, enquanto tentava recordar os textos de obstetrícia que tinha estudado na universidade, com o coração angustiado. Ela negou com a cabeça. De repente, Brad notou algo e ficou quieto.
― O que acontece? – perguntou Ali, alarmada.
― Senti algo.
Ela pôs a mão sobre seu ventre e depois a afastou, sorrindo.
― Acho que é um chute. Faz isso o tempo todo.
― Isso é bom sinal – murmurou Brad, com um nó na garganta. Depois, sentindo-se como um imbecil, admitiu o que tinha sabido durante algum tempo. Aquela mulher não era uma mentirosa, nenhuma manipuladora. O bebê que se moveu sob sua mão era seu filho. Nunca tinha estado mais certo em toda sua vida. ― Vou procurar o doutor Wilson e pedir que lhe coloquem um monitor. Voltarei em seguida.
Ali o segurou pelo braço.
― Acredita em mim, não é, Brad?
Brad se inclinou e a beijou suavemente nos lábios.
― Sim, carinho. Sinto muito ter duvidado de ti. E agora deixe que eu vá procurar ajuda, de acordo?
Ali assentiu, deixando que as lágrimas rolassem por suas bochechas enquanto ele saía correndo pelo corredor.
O doutor Wilson estava no vestíbulo, estudando seu relatório e Brad se jogou em cima, virtualmente.
― O que acha de lhe colocarmos um monitor? Sim? Irei pedir...
― Um momento – o deteve o doutor Wilson. ― Já fiz o pedido. Porque não te acalma um pouco? Irei falar contigo assim que tenha examinado Ali.
― Mas eu...
― Olhe, Brad, tenho um trabalho a fazer e, francamente, neste momento é um estorvo.
Brad foi à sala dos médicos e se deixou cair pesadamente em uma cadeira, tentando acalmar-se, como tinha feito tantas vezes em momentos de grande tensão. Mas naquela vez não poderia fazê-lo.
Aquela vez era diferente.
Começou a rezar: "Por favor, meu Deus, salva nosso filho". Palavras que eram como um mantra.
Quando sentiu uma mão nas costas, levantou-se de um salto. Craig estava ao seu lado, com expressão preocupada.
― Aconteceu algo? Ali...?
― Não sei. Wilson continua com ela.
― Só vim te fazer companhia. Esta bem?
― Sim. Só estou preocupado com Ali e nosso filho – suspirou Brad. Craig sorriu. ― Do que ri?
― De nada. Só que, de repente, esse menino se converteu em nosso filho. Quando chegou a esta conclusão?
― Não sei. Mas sei que é verdade. – explicou – Não sei como vamos ajeitar isso, mas temos que encontrar alguma forma. E logo. Aconteça o que acontecer com... – começou a dizer. Mas a angustia não o deixava terminar a frase. ― É possível que não encontre outra mulher como Ali em minha vida.
― Vá, se é isso que quer – sorriu seu amigo.
― Provavelmente posso conseguir outro empréstimo. Provavelmente Singleton possa me avalizar...
O bipe de Craig começou a tocar e seu amigo se despediu, lhe dando um tapinha nas costas.
― Boa sorte. Se puder fazer algo por ti, diga-me. Nesse momento, Wilson entrava na sala dos médicos. Seu sorriso parecia genuíno e Brad soltou um suspiro de alivio.
― O menino esta bem, Brad. Parece que Ali teve um leve problema intestinal e o confundiu com contrações – explicou o ginecologista ― Tem um pouco de febre, mas estou seguro de que não passa nada. Provavelmente, voltará para casa amanhã.
― Obrigado, doutor Wilson – disse Brad. ― Perdoe o nervosismo de antes...
― Não se preocupe – o interrompeu ele. ― Médico ou não, quando a gente vai ter o primeiro filho, fica nervoso.
O homem se despediu e Brad se apoiou na parede, murmurando uma prece de agradecimento.
Depois, saiu da sala decidido a arrumar o que tinha estragado.
Mas por onde começar? Brad recordou o que tinha pensado sobre o empréstimo. Quando chegou ao quarto de Ali e a encontrou dormindo decidiu que possivelmente... Sim. Tinha o dia livre e possivelmente, quando voltasse a vê-la, poderia lhe dar boas noticias.
CAPITULO DEZESSEIS
Depois de uma visita improdutiva ao sindicato dos médicos e outra, menos produtiva ainda a seu banco, onde tinha uma conta corrente bastante ridícula, Brad voltou para o hospital sentindo-se ridículo.
Ali estava tomando suco, com olhos brilhantes.
― Olá – sorriu ao vê-lo. Seu sorriso esquentou o desalento espírito de Brad, que tentou dissimular enquanto a abraçava.
― Tinha-me preocupado. Como está?
― Muito melhor.
Brad pôs a mão no seu rosto.
― Continua tendo um pouco de febre.
― Enquanto o bebê estiver bem, não me importo. Estava tão preocupada...
― Sei, carinho – disse ele, sentando-se ao seu lado na cama.
― Continua pensando...?
― Perdi muito tempo e tenho que recupera-lo – disse ele, envergonhado.
Nesse momento, Ali olhou para a porta e arregalou os olhos. Detrás de um enorme buquê de flores, estavam Millie e Hazel.
― Flores! – sorriu Ali. Brad deveria se dar uma bofetada. Sujeito caipira devia pensar que ele era. ― Nunca me deram um ramalhete tão grande. Muitíssimo obrigada.
― De nada, carinho – disse Hazel, antes que Millie começasse a empurrá-la para a porta.
― Será melhor que deixemos sozinhos os dois pombinhos – disse sua irmã ― Votaremos mais tarde.
― São um encanto, não? – sorriu ela, cheirando as flores. Brad não pia olha-la nos olhos. ― Brad, o que está acontecendo?
― Sou eu quem deveria ter te trazido flores.
― Você me deu de presente algo mais valioso, Brad. – disse ela, pondo a mão sobre seu ventre. ― Agora que sabe que é seu filho, tudo é perfeito – acrescentou, com um sorriso. Exceto que ele nem sequer podia comprar um buquê de flores, pensava Brad. Por não pensar no anel e no futuro que ela e seu filho mereciam. Ao menos, por uns anos. ― Porque está ao triste?
― Cada vez que imagino nós três no meu pequeno apartamento... Você e o menino sozinhos todo o tempo... Não posso suportar.
― E quem disse que vamos morar no seu apartamento? Qual o problema com o meu?
Ele negou com a cabeça.
― Não posso paga-lo, Ali. E não posso consentir que você nos mantenha.
― Não será para sempre – disse ela, obrigando-a a olhá-la. ― Dentro de uns anos você ganhará um montão de dinheiro e te deixarei apagar as contas, se isso fizer você se sentir melhor.
― Falas como se não tivesse importância.
― É que não tem.
― Ali, você não entende...
― Não. Não o entendo, Brad – o interrompeu ela. Aquele assunto outra vez, pensava. Ela incrível a importância que Brad dava ao dinheiro.
― Singleton me prometeu um lugar fixo como cardiologista, Ali – tentou explicar ele. ― Dentro de dois anos poderemos celebrar o casamento que você sempre sonhou...
― Me deixa ver se entendo. Quer que eu abandone um ótimo apartamento só para viver contigo? – perguntou ela, incrédula.
― Só até que possa pagar...
― Fora daqui! – gritou Ali.
― Ali, por favor...
― A menos que queira que te atire este vaso na cabeça, sugiro que saía.
― Sei que você não está bem. Este não é um bom momento para...
― Fora! – gritou ela.
― Certo, certo. Voltarei mais tarde e conversaremos.
Ali cruzou os braços e estreitou o olhar.
― Não te incomode.
Brad saiu do quarto, sentindo-se como um canalha. E, para piorar a situação, chocou-se com as duas curiosas irmãs que, é óbvio, tinham escutado a conversa.
― Muito bem, é nisso que você acredita, jovenzinho? – espetou-lhe Millie.
― Perdão?
― É para Ali que deveria pedir perdão. – interveio Hazel.
― Não queríamos escutar, mas pudemos evitar. – seguiu Millie, como se tivesse o discurso ensaiado. ― Vamos ver, se você estivesse ganhando montões de dinheiro e Ali queria esperar uns anos antes de casar-se para pagar suas dividas, como se sentiria? Com um filho a caminho!
― É diferente...
― Por quê? Porque é homem? É que não te dá conta de que é igual que tenha dinheiro ou não, enquanto que se tenha o suficiente para criar uma criança?
― Isso é. – assentiu Hazel.
― O câncer é um problema. Ou o Alzheimer.
― Ou as unhas encravadas – interveio Hazel. Sua irmã a olhou irritada.
― Bom, é que também doem...
Se tivesse pensado que não as animaria ainda mais, Brad teria soltado uma gargalhada. Apesar de tudo, era impossível ofender-se com aqueles dois excêntricos anjos.
― Enfim, se te preocupas tanto em ter dinheiro, nós podemos lhe emprestar e nos devolverá quando for um cardiologista famoso.
Brad as olhou incrédulo.
― Todo mundo sabe que o doutor Singleton te apóia – disse Hazel, procurando a aprovação de sua irmã com o olhar.
― O doutor Singleton ainda não me...
― Já, já. É uma formalidade e você sabe – o interrompeu Millie.
― O que você acha do empréstimo? – perguntou Hazel.
― É muito generoso de suas partes, senhoras, mas me parece que não se dão conta da quantia...
― Quanto? – perguntou Millie, sempre direta.
Brad não podia acreditar que estivesse falando daquilo no meio do corredor, mas estava certo de que, quando lhes desse a resposta, as mulheres se assustariam.
― Mais de cem mil dólares.
As irmãs se olharam e começaram a rir.
― Nada mais – riu Millie. ― Isso não é nada, filho.
― Seria um idiota se deixasse Ali escapar – disse Hazel. ― Uma garota como ela não se encontra todos os dias.
Millie tirou um cartão do bolso do avental.
― Nos ligue quando tiver recuperado o juízo. Estávamos-nos pensando em um empréstimo que pudesse começar a pagar em dois anos. Ou um pouco mais, se quiser. Ah, e não diremos nada disso a Ali. Ela não tem porque saber de onde saiu o dinheiro a menos que você queira dizer – disse a mulher, pondo o cartão em sua mão, antes de entrar no quarto.
Brad se apoiou na parede, com a boca aberta. Não entendia nada.
Mas estava muito cansado para continuar pensando. Dormiria umas horas e depois voltaria a falar com ela.
Disse-lhe à enfermeira onde poderia encontrá-lo caso houvesse alguma mudança e depois foi procurar uma cama vazia, sem poder esquecer o furioso brilho nos olhos de Ali.
Ela tinha que saber o que ele sentia... Quando dissesse...
Dando um tapa no rosto, Brad se deu conta de que não havia dito, não com as palavras que qualquer mulher gostaria de escutar.
Brad encontrou uma cama vazia e se atirou sobre ela.
― Darling, você é um imbecil – murmurou, antes de dormir.
Umas horas depois Brad estava lendo o relatório clínico de Ali quando a enfermeira o chamou. O doutor Singleton queria vê-lo imediatamente em seu escritório.
Brad tomou o elevador, pensativo. Teria cometido algum engano? Perguntava-se. Durante os últimos dias tinha estado tão cansado e distraído que possivelmente lhe tinha passado algo.
― O doutor está lhe esperando – disse sua secretaria.
Kevin Singleton o saudou com um aperto de mão e o convidou a sentar-se.
― Sei que esta muito ocupado, assim irei direto ao ponto – disse o homem, reclinando-se para traz na poltrona de pele. ― Se continuas interessado no cargo de cardiologia, é teu.
Brad ficou boquiaberto. Não tinha esperado ouvir aquilo ate muitos meses depois e se perguntou por que o oferecia naquele momento.
― Obrigado, doutor Singleton. É obvio que estou interessado, mas...
― Mas o que?
― Tenho que perguntar... Isso tem algo a ver com...?
― Com que é o melhor candidato que tive em anos? – interrompeu-o o doutor Singleton. ― É a única coisa que conta. Brad. Você é o homem que preciso. Se o momento for o mais adequado, melhor ainda.
― Não sei o que dizer.
Kevin Singleton ficou de pé.
― Eu sim – disse, estendendo a mão. ― Parabéns.
Brad se sentia afligido.
― Obrigado, doutor Singleton. Não posso lhe dizer o quanto lhe agradeço.
― Falaremos dos detalhes mais tarde. Só pensei que você gostaria de saber da noticia.
Brad teve que fazer um esforço para não sair do escritório correndo, dando pulos de alegria. Mas quando chegou ao quarto de Ali, a cortina estava fechada e o coração lhe subiu a garganta.
Brad esperou no corredor, angustiado. Sentia-se tentado a entrar, mas sabia que não deveria fazê-lo.
Quando colocou a mão no bolso do jaleco, tocou o cartão de Millie e Hazel. Sabia qual seria a primeira coisa que faria depois de falar com Ali.
Nesse momento, o doutor Wilson abriu a cortina.
― O menino está bem, Ali. Pode ir para casa, mas te aconselho que deixe de trabalhar durante um tempo.
Brad respirou aliviado. Quando saía do quarto, o ginecologista lhe deu um tapinha nas costas. ― É toda tua.
Brad esperava que o doutor Wilson tivesse razão. Mas, pelo olhar com que Ali o recebeu, deu-se conta de que não seria nada fácil.
― Como você esta? – perguntou, á distancia.
― Bem – respondeu ela, abaixando os olhos.
― Importa-se que me sente?
― Sim – replicou ela. ― Quero ir para casa, assim diga o que tem pra dizer.
― Muito bem – disse ele, esclarecendo a garganta. Não tié tempo para me preparar, mas tenho que dizer o que quero, Ali. Quero me casar contigo.
Ela o olhou durante um longo momento antes que sua expressão se suavizasse.
― Muito bem. Agora pode te sentar – disse. Em seus lábios havia o ensaio de um sorriso que animou Brad.
― Ali Celeste... Quer casar comigo? – perguntou, pegando sua mão.
― Quando? – perguntou ela.
― Assim que tenhamos a licença para o casamento. – respondeu ele.
― Faz isso pelo bebê?
― Ali, estou louco por ti. Provavelmente isso está acontecendo um pouco mais rápido do que eu esperava, mas não te peço em casamento pelo bebê. Não posso imaginar a vida sem ti.
Por fim, ela rodeou seu pescoço com os braços e Brad sentiu seu rosto úmido de lágrimas. As de Ali e as suas.
― Iremos morar no seu apartamento se quiser – murmurou ela ― A única coisa quero é que fiquemos juntos, Brad.
― Não acho que isso seja necessário – sorriu ele.
― O que quer dizer?
― O doutor Singleton acabou de me oferecer o cargo.
Ali soltou um grito e o abraçou, chorando e rindo de uma vez.
― Oh, Brad. É maravilhoso. Estou orgulhosa de ti – disse, emocionada. ― Mas... O isso muda as coisas no momento?
― Vou pedir um empréstimo. E não tenho que começar a paga-lo até dentro de dois anos – explicou ele, adorando a expressão de felicidade no rosto de Ali. ― Agora falaremos do casamento. Quando e onde?
Ali sorriu.
― Se não te importar e tiver uns dias livres, dentro de duas semanas. Michelle me ofereceu sua casa e Millie e Hazel se ofereceram para me ajudar.
Brad ficou perplexo.
― Tinha preparado tudo?
― Bem... – começou a dizer ela, ficando vermelha. ― Sozinha, no caso de...
Brad a abraçou, rindo.
CAPITULO DEZESETE
― Pareço uma baleia – murmurou Ali, olhando-se no espelho.
― Não é verdade – sorriu Lynne, tentando colocar-lhe o véu. ― Está linda.
― Estou gorda.
― Não esta gorda. Está grávida de oito meses.
Ali ficou de perfil.
― Nem sequer o bebê gosta deste vestido. Ficou um bom tempo se queixando.
― Provavelmente, estará tentando te dizer para que se acalme um pouco.
― Sei – murmurou ela.
Bárbara entrou no quarto, com um sorriso nos lábios.
― Tudo está pronto – sorriu sua irmã mais velha. ― Ali está radiante.
― Levei uma hora lhe dizendo, mas ela não acreditou.
Ali sentiu que seus olhos se enchiam de lágrimas e pegou um lenço de papel para evitar que lhe borrasse a maquiagem.
― Fico tão feliz que estejam aqui comigo. Quem dera estivesse mamãe.
― Mamãe está aqui, carinho – disse Lynne. Bárbara assentiu, beijando sua irmã.
― Descerei para dizer que podem começar – disse depois.
Ali respirou profundamente, nervosa.
― Certo.
Quando escutaram as primeiras notas do piano, Lynne precedeu a noiva pelas escadas decoradas com gardênias. No meio do caminho, Ali pensou que deveria ter ido ao banheiro mais uma vez. A pressão em seu ventre era enorme, como se levasse um saco de batatas a ponto de estourar.
Mas então viu o lindo rosto de Brad, seus intensos olhos azuis cravados nela e esqueceu todo o resto. Aquilo era o que sempre tinha sonhado, o homem que tinha acreditado que nunca encontraria. Era a mulher mais sortuda do mundo.
E, frente ao sacerdote, diante de todas suas pessoas queridas, olharam-se um ao outro.
Brad falou com voz clara e firme. Ali bebia cada palavra, como para memorizar.
Mas quando chegou sua vez, teve que arquear as costas, tentando aliviar a dor. Ali repetiu as palavras do sacerdote, respirando penosamente. Gotas de suor plantavam no seu rosto e começou a notar que o lugar estava rodando. Teve que segurar as duas mãos de Brad para não cair enquanto lhe colocava a aliança.
― Pode beijar a noiva – escutou a voz do oficial.
Brad ia beijá-la quando ali se inclinou para frente, segurando o ventre.
― Oh, não. Oh, meu Deus!
― O que te passa, Ali? – perguntou Brad.
Ela se levantou um pouco o vestido e os dois olharam aterrorizados as manchas no cetim da roupa e no tapete.
― Minha bolsa estourou... – começou a dizer ela. Nesse momento, uma contração a fez cair de joelhos. ― Oh, Brad. É muito cedo.
Brad se ajoelhou ao seu lado, segurando-a.
― Têm que assinar a licença de casamento – disse o sacerdote.
Ali começava alevantar-se quando voltou a sentir outra contração, aquela vez mais forte. Segurando-se em Brad, conseguiu assinar o papel e depois olhou seu marido.
― É normal que venham tão seguidas?
Brad se virou para Craig.
― Craig, vou usar sua caminhonete. Alguém ligue para o hospital e lhes diga que vamos para lá. E avise o doutor Wilson.
Brad a estava ajudando a entrar na caminhonete, quando Kevin saiu da casa com sua maleta preta.
― O doutor Wilson já foi avisado.
― Em caso de que não cheguemos a tempo... – disse Brad, olhando Kevin.
― Como não chegarmos a tempo? Repetiu Ali, histérica.
― Importa-te em vir conosco, Kevin?
― Alguma vez já ajudou em um parto?
― Uma vez, faz uns dois meses.
― Pois eu não tenho mais experiência que você – murmurou Kevin para que Ali não o ouvisse.
― Querem que eu dirija? – perguntou Craig.
― Sim! Entra logo na caminhonete! – gritou Ali. De repente, os médicos não lhe pareciam tão ruins. Ao contrario, quanto mais, melhor.
Outra contração fez com que se dobrasse de dor e soltou uma maldição por entre os dentes.
― Nós iremos atrás – disse Lynne.
Michelle deu a Brad um montão de toalhas cortadas antes que a caminhonete começasse a rodar.
Ali ofegava como a tinha ensinado nas aulas de parto sem dor e Brad a olhava, sem poder dissimular seu medo.
De repente, Ali sentiu a necessidade de empurrar e apertou os dentes com tal força que pensou que fosse quebrar.
― Está empurrando! – gritou Brad. Craig acelerou e, quando entrava em uma curva, Ali teve que segurar-se para não sair do assento. Kevin dava instruções a Brad e Ali seguia empurrando, incapaz de resistir, enquanto a caminhonete se dirigia a toda velocidade para o hospital.
― Não vai demorar, carinho. Um empurrão mais...
Ali se apoio sobre os cotovelos e fez um último esforço.
― Aqui esta. Aqui está seu menino, mamãe – disse Brad, levantando uma coisinha úmida e avermelhada para que Ali o visse, antes de cair para trás, exausta.
Nesse momento, chegavam ao hospital e Kevin ajudou Brad a cortar o cordão umbilical antes que uns enfermeiros envolvessem o menino em uma toalha e o levassem para dentro. Depois, colocaram Ali em uma maca.
― Está bem? É grande? – perguntou ela, sem soltar a mão do marido.
― É lindo. Não é muito grande, mas é o suficiente.
― Está seguro?
― Vou vê-lo agora mesmo – disse ele, enquanto Ali estava no quarto. ― Volto em seguida – acrescentou, beijando-a no rosto.
O médico de plantão estava ajudando-a a tirar a placenta quando Wilson se aproximou de sua cama.
― Vejo que não precisei fazer nada – sorriu o homem, pegando sua mão. Então se deu conta das flores brancas no cabelo e o vestido de noiva e soltou uma gargalhada. ― Bom, suponho que tenho que te felicitar... Por varias coisas. Certamente, nunca esquecerá esse dia! – exclamou. Nesse momento, começou a tocar seu bipe. ― Parece que não é a única. Vou fazer uma chamada. Em seguida volto – sorriu o ginecologista, lha dando uns tapinhas na mão.
Brad entrava neste momento empurrando um berço.
― Olhe quem veio te ver – disse, sem disfarçar seu orgulho. A enfermeira terminou com Ali e a deixou sozinha com sua nova família. Brad colocou o menino ao seu lado.
― Oh, Brad – murmurou ela, olhando seu filho, envolto em uma manta azul. O coração não lhe cabia no peito. ― É perfeito, verdade?
― Com certeza.
― Quanto pesa?
― Dois quilos e meio. Não quero imaginar como seria ter que esperar mais umas semanas.
Ali desejava pegar seu filho nos braços, mas no momento se contentava acariciando sua mão e observar a felicidade na cara do pai.
― Onde estão minhas irmãs?
― Parece que Bárbara se deprimiu no vestíbulo – sorriu Brad.
― Meu Deus – rio ela. ― E Lynne?
― Puseram-lhe respiração assistida, eu acho.
Ali rio e teve que segurar o ventre.
― A vida vai ser sempre assim?
― Enquanto esteja casado contigo, senhora Darling, acredito que sim.
Senhora Darling. O nome mais lindo do mundo.
― E quanto tempo acha que pode durar isso? Perguntou ela, secando uma lagrima.
― Quer dizer, quanto tempo vamos ficar casados? – perguntou ele. Ali assentiu, acariciando a mão de seu marido. ― Eu diria que uns quantos filhos mais e uns cinqüenta anos, mais ou menos.
― E depois? – sorriu ela.
― Possivelmente então o melhor é voltarmos a nos casar – sorriu Brad. Ali deixou cair à cabeça sobre o travesseiro, tão feliz que não podia dizer nada. ― Sabe de uma coisa? Não tive a oportunidade de te dar um beijo.
Suavemente, Brad pôs os lábios sobre o de sua mulher e Ali pensou que nunca um beijo lhe tinha sido mais doce. O olhar de amor daquele homem lhe chegava ao fundo da alma... De uma forma que não poderia descrever com palavras. ― Obrigado, Ali. Por nosso precioso filho... Por ser minha mulher... Mas sobre tudo, por ter insistido comigo.
Ela acariciou sua bochecha, ainda incrédula de ter encontrado aquele homem, que era toda dele, aquele dia, o dia seguinte... Para sempre.
Os dois voltaram a olhar seu filho. Tinha o cabelo escuro, tão revolto como o de seu pai e Ali sorriu.
― Ele se parece com o seu papai – disse, virando-se para Brad. Os olhos do homem estavam cheios de lágrimas.
― Sim, parece-se muito comigo, verdade?
FIM
