o.O.o França, 1889... o.O.o

- Camus...?

A voz doce e melodiosa o tirou de seus pensamentos. Virou-se para ela, ainda sério, encontrando os curiosos olhos azuis que o fitava.

- Parecia tão distraido... No que estava pensando? - Perguntou ela, sem demonstrar curiosidade.

- Nada de mais... - Ele respondeu sem animação, fazendo o sorriso da garota sumir.

- Nada de mais?!

Perguntou a mulher, um tanto insatisfeita. Não era bem essa a resposta que esperava ouvir. Deu os ombros, sabia que Camus sempre fora distraido e até frio as vezes, era o jeito dele.

Nesse momento, um homem careca, com um sorriso nos lábios, aproximou-se, olhando o relógio de bolso que trazia consigo, virou-se para a garota e a cumprimentou com uma reverência.

- Mademoiselle Anabelle, Monsieur Camus...

Ele virou-se para o homem de longos cabelos azul acinzentado, que o olhou sem entusiasmo.

- Espero que o evento os esteja agradando...

- Ah sim, Lumiere!! Muito! - A sorridente garota falou, virando-se para o noivo que disfarçou um sorriso.

- Que bom saber, Senhorita! - Lumiere sorriu. - Esta torre vai revolucionar a arquitetura! E alem disso, o mundo todo poderá ver a tecnologia em construções metálicas...- Ele explicou, antes de virar-se para Camus.

- Mas eu vim aqui chamá-los para tirarem uma foto para o jornal! – completou - Sabem como é, eles não poderiam deixar passar o filho herdeiro de uma das famílias mais ricas da França despercebido...

Camus virou-se para ele, aceitando com a cabeça, e logo Lumiere os levou para onde o fotógrafo se encontrava. Anabelle foi para o lado de Camus que permanecia sério. O fotógrafo sorriu, e logo escondeu a cabeça sob o pano escuro preparando-se para bater a foto.

Nessa hora, um flash de luz ofuscou os olhos de Camus, que virou-se para saber de onde vinha.

- Er... Por favor, o senhor poderia virar-se para a maquina?! - Lumiere pediu, mas Camus parecia nem ouvir.

Viu, ao longe, um homem trajando um sobretudo marrom, segurando uma estranha e pequena máquina, que levava ao rosto. Logo o flash disparava novamente. Quando viu que era observado. o estranho rapidamente virou-se e caminhou a passos rápidos na direção contraria.

- Camus...?! - Anabelle tentava chamar sua atenção.

- Senhor, assim eu não posso tirar a foto!!

O fotografo impacientou-se, mas para a surpresa de todos, Camus soltou o braço da garota e foi atrás do desconhecido, que ao perceber que estava sendo seguido, correu mais o rápido que podia, fazendo Camus acelerar também o passo.

-Você, pare imediatamente!! - Camus gritou, não obtendo resposta.

O homem de sobretudo pulou do que parecia ser um precipicio e Camus, seguindo seu exemplo, fez o mesmo, caindo no fundo do abismo com um grito...

o.O.o França, 2008... o.O.o

- Uffa, essa foi por pouco...

Ele falou antes de se levantar, retirando o capuz e exibindo seus rebeldes cabelos negros. Sorriu aliviado, olhando para a câmera fotografica que tinha em mãos, mas quando se preparava para ir embora, percebeu o corpo de um homem estirado no chão. Correu até ele, para ver o que era e desesperou-se, puxando os próprios cabelos.

- Por Dios, eu trouxe um homem do passado!! - Ele olhou bem para o rosto dele, ainda desacordado. - O que eu faço?!

Andava de um lado para o outro.

- Shura seu burro, como pôde trazer um homem do passado pra cá?! - Ralhou consigo mesmo e depois virou-se para o rapaz que acordava, um pouco tonto. - Está acordando!!!!!! Ele está acordando...!!! - Olhou ao redor, como se procurasse alguma coisa, mas não encontrando, tirou o próprio sapato e jogou na cabeça do desconhecido, que desmaiou logo em seguida.

- Ótimo... respira, inspira...! O QUE EU VOU FAZER!!!! - falou nervoso, virando-se para o precipicio. - O portal...!! Não, já deve estar fechado! Não vou arriscar a jogá-lo do penhasco! Tenho que levá-lo a um lugar seguro...

Ele segurou o corpo do homem pelos braços, arrastando-o até a rua mais próxima, fazendo caretas com o esforço, e xingando a si mesmo enquanto isso.

...v...

Shura entrou no apartamento, jogando Camus no chão e fechando a porta, antes de agradecer ao garoto que o havia ajudado.

- Que bueno, e agora esse cara que não acorda...!! Será que eu o matei???! - Ele desesperou-se, correndo até o corpo e começando a sacudí-lo violentamente. - Hombre?! HOMBRE, DESPERTATE!! - Ele continuava, até Camus abrir os olhos lentamente.

- Onde estou...?! - Perguntou-se.

- Está vivo!! - Shura sorriso aliviado

- Quem sois vós?! - Camus soltou-se rapidamente, reconhecendo o sobretudo marrom que Shura ainda vestia, puxando sua espada e apontando para o rapaz, que levantou as mãos em sinal de paz.

- Calma amigo... eu sou da paz...

- Quem sois vós?!

- Olha, primeiro, abaixa isso para gente conversar, dale...! - Shura tentava conversar, mas Camus ainda o olhava sério e fez menção de golpeá-lo, fazendo o espanhol quase cair no chão.

-Para onde vós me trouxestes? Isso é um sequestro?! - Camus perguntou.

-No, mira, você nem devia estar aqui, foi um acidente!! Eu juro!

- Acidente?! - Camus parecia não entender.

- Eu não queria te trazer para o futuro, mas você se jogou no precipicio também, não foi culpa minha! – Shura levantou-se, ao ver que Camus abaixara a arma.

- Futuro? - Camus olhou ao redor, não reconhecendo o lugar o onde estava. – Do que você está falando?!

- É isso aí, eu te trouxe para o futuro!! - Shura aproximou-se dele, apontando para a varanda do apartamento onde vários edifícios, enormes por sinal, fizeram Camus ficar boquiaberto.

- Impossivel...! - Ele caminhou a passos lentos até a varanda, olhando pra baixo, onde muitos carros passavam. – Mon Dieau...

- Pois é, amigo... Bem vindo ao ano 2008! - Shura sorriu, agindo como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.

- QUÊ?! 2008!!! Mas eu estava em 1889!!

- É, eu fui fazer uma visita ao seu tempo, pegar umas fotos...! Então você acabou me vendo e deu no que deu! Mas cá para nós, que burrice você pular de um precipicio..! - Camus irritou-se com o comentario.

- Eu não sabia que era um precipicio! Vi você pulando e achei que não houvesse perigo!

- Ah ta...! - Shura disse sorrindo.

- Mas que barulho é esse?! - Camus virou-se para trás, de onde vinha um ganido, misturado a um ruído, como se unhas arranhassem alguma coisa.

- Ah sim! – O espanhol correu até a porta de seu quarto e a abriu.

Nesse momento um cachorro, não muito grande, mas que parecia ser bem pesado, pulou em cima dele, lambendo-o.

- Camus, esse é o meu cachorro, Cortéz!

- Cortéz...?! - Camus olhou para o animal babão, que quase sorria, olhando para ele.

- E aí, ficou com saudades do papai, ficou?? - Shura falou, recebendo um latido em resposta.

- Por que ele estava preso?

- É que se eu deixar ele solto enquanto estou fora, ele morde meus moveis! - Shura apontou para o pé da sua cama, completamente destruído.

- Ah...

Camus girou os olhos, vendo o jovem amorenado conversar com seu cachorro. Foi quando batidas na porta se fizeram presentes. Shura correu até a porta para atender, dando de cara com um homem de cabelos azuis e olhos de um tom mais claro, com cara de poucos amigos.

- Shura Sanchez, até que enfim você chegou!! O seu cachorro ficou latindo a manhã toda, sabia??! - Ele entrou no apartamento irritado, mas olhou surpreso para Camus.

- Er... Oi, Miro... - Shura coçou a cabeça.

- Que roupas são essas?! O carnaval foi mês passado, sabia?! - Ele apontou para Camus, com um sorriso debochado.

- Senhor... – Camus pigarreou -...Minhas roupas são... – O francês ia argumentar, mas Shura o cortou.

- Ele é Ator!! - Foi a primeira desculpa que arranjou.

- Como?! - Camus parecia não entender.

- Ator? - Miro perguntou, olhando para o amigo.

- É, ator... e... ele estava aqui em casa ensaiando uma peça que vai fazer!! - Shura sorriu amarelo.

- Eu não sou...!! - Shura tapou a boca de Camus antes que ele pudesse falar alguma coisa.

- Não estou nem aí para o seu amigo ator, mas quero que controle seu cachorro!! – O rapaz grego falou.

- Tudo bem, já vou cuidar disso...!! - Shura falava enquanto empurrava Miro para fora.

- Mas...! – O jovem tentou falar alguma coisa, mas já se viu do lado de fora do apartamento.

- Até mais! – Shura disse, antes de fechar a porta na cara do companheiro. - Uffa, se ele sonhasse que você é do passado...!

- Por que disse a ele que eu era ator?! - Camus perguntou, irritado.

- Queria que eu dissesse o que?! Que viajei no tempo e trouxe um cara do século XXI pra cá?!

Camus ficou calado, contrariado.

- Bom, eu vou levar o Cortéz para passear, ok! Não saia de casa até eu voltar!

Ele pegou a coleira sobre a mesa de jantar e colocou no cachorro, puxando-o. Quando abriu a porta, tudo o que viu, foi o punho de Miro sobre seu rosto, dando-lhe um sonoro soco, deixando Camus com uma careta.

- Seu espanhol imbecil!!

- Ai... Você é meu melhor amigo também...! - Ele disse, passando a mão no rosto dolorido, depois deu de ombros e caminhou até o elevador, chamando-o, sob o olhar curioso de Camus.

A porta do elevador abriu-se.

- Até depois, amigo...!

Shura sorriu, acenando, enquanto entrava no elevador se olhar para frente. Mas não encontrou chão, e caiu com tudo, lá em baixo, soltando um gemido de dor.

Camus correu até o elevador e Miro fez o mesmo, muito preocupado.

- Shura!!! - Ele chamou pelo amigo.

- Yo... estoy muy bien...! - Ele falou.

Nesse momento, ao ouvir a voz do dono, Cortéz soltou um latido e pulou dentro do elevador, caindo em cima do rapaz com todo o seu peso, fazendo-o gemer novamente.

- Eu ainda estou bem... – disse o espanhol, com uma voz chorosa.

Camus girou os olhos, balançando a cabeça negativamente.

- Bem, dizem que os cães são o retrato dos donos...!! – falou o Francês, fazendo Miro virar-se para ele, com um sorriso sarcástico pelo comentario.

Foi o sorriso mais bonito que Camus já vira na vida!!

- Eu vou chamar alguém para tirar ele daqui, e um médico também...! - Ele levantou-se e seguiu para seu apartamento, deixando Camus ali, abaixado, na frente do elevador, com seus pensamentos...

...v... No hospital ...v...

- Shura...?! - A voz de Miro soou mais doce dessa vez, fazendo o rapaz abrir os olhos esverdeados lentamente.

- Porcaria de elevador... - Ele murmurou. - Para que eu pago o condomínio, então?!

O grego sorriu.

- Que bom que está bem! - disse com um sorriso leve.

- E o Camus?! - Shura pareceu mais nervoso.

- Está no corredor! Esse seu novo amigo é muito estranho, Shura...! - Miro disse, desconfiado.

- Miro, eu preciso te contar uma coisa...! O Camus não é ator! - Ele falou, tentando procurar as palavras para se explicar.

- Não?!

- Não...! É que...Bom, eu sei que parece loucura, mas é que eu descobri um portal que leva ao passado, e... quando eu estava voltando, ele passou comigo sem querer!

- Shura, você deve ter batido com a cabeça forte demais!! - Miro disse sorrindo.

- É serio, por favor!! Eu preciso que você me ajude!!

- Ajudar você em que?!

- Ele não pode ficar sozinho na minha casa, ele poderia ficar na sua?!

- Na minha casa?? - Ele pareceu não gostar muito da ideia.

- Por favor, é só enquanto eu estou no hospital!! Ele não dá trabalho, não come muito...!!

- Shura, não estamos falando do seu cachorro! - Miro exasperou-se. - Eu nem conheço ele!! - já não entendia mais nada.

- Por favor, eu juro que vai ser por pouco tempo!! Em nome de tudo o que passamos juntos no santuário de Atena, Miro...!!

- Shura, você só me livro de uma muta!! - Ele disse, olhando-o.

- Hun, uma muta que valeu por uma vida...Você não tinha carteira!

Ele deu um sorrisinho malicioso, fazendo o companheiro fuzilá-lo com o olhar.

- Tudo bem, esquece isso!! Mas, por favor...! – tornou o espanhol.

Miro suspirou desanimado, dando-se por vencido.

- Ok...! Bom, eu tenho que ir agora... – falou, sorrindo entediado.

- E cuidado no Cortéz, ele só come ração diet!! - Shura preveniu.

- Ah, mas se ele morder meus moveis, eu mesmo atiro ele no elevador quebrado e o deixo lá! – o grego falou seriamente. – Até! Melhoras...!

Miro saiu do quarto, encontrando Camus, que levantou-se ao vê-lo.

- Como ele está? – o francês perguntou.

- Pior não fica... louco como sempre!! - Ele falou sorrindo. - O médico disse que vai precisar ficar aqui uns dois ou três dias, não se machucou tanto! – Miro completou -Mas pediu que você ficasse na minha casa, só não sei por que...!

- Na sua casa? - Camus franziu o cenho.

- Sim, tudo bem? – perguntou, encolhendo os ombros.

Camus não respondeu imediatamente. Não sabia mesmo o que dizer...! Não sabia mais de nada! Estava nervoso, preocupado, mas também não sabia se virar sozinho ainda. Quem sabe fosse interessante ter a companhia daquele garoto estranho, tão diferente de todos que já conhecera. O que era aquilo que sentira por ele quando deveria apenas sentir por uma mulher? Após alguns segundos de silêncio, respondeu por fim.

- Tudo bem...

C.O.N.T.I.N.U.A...