UM CONTO DE NATAL

Disclaimer: Saint Seiya pertence a Massami Kurumada e Editora e Empresas licenciadas. Esta é uma obra de ficção, sem fins lucrativos.

Inspirado no livro: Um Conto de Natal de Charles Dickens.

Este fic não tem ligação nenhuma com os demais fics que eu escrevo.

Dedico este fic aos meus amigos de todos os fóruns que participo.

Feliz Natal!

Capítulo 1:

Era Véspera de Natal no Santuário. E a despeito de ser um lugar consagrado a uma deusa pagã, os habitantes locais não eram indiferentes a comoção que era seguida pela tal data.

Até mesmo Atena, criada durante anos como Saori Kido, demonstrava apreciar e muito a festa. E para isso estava promovendo em Rodório uma grande festa de Natal, onde todos estava convidados. Dos simples habitantes, passando pelos soldados e aprendizes, até os lendários santos dourados.

Todos ali pareciam amar o Natal.

Todos o esperavam com ansiedade.

Todos menos um. Ele odiava o Natal!

Seu nome era Máscara da Morte, ou pelo menos era o nome que usava nos últimos anos de sua vida. Afinal, que mãe teria coragem de batizar o filho desta maneira? Bem, ele era conhecido não apenas por ser o mais frio entre os cavaleiros de ouro, mas o mais malvado e mal humorado entre eles.

Muitos se perguntavam como ele conseguiu o privilégio de usar a armadura de ouro, outros se indagavam como Atena podia confiar nele, apesar de seu passado?

De fato, ele inspirava medo e desconfiança das pessoas próximas. Quem o visse a porta de seu templo, com as mãos na cintura, olhando com desprezo as luzes de Natal que enfeitavam ao longe a vila de Rodório, podiam compará-lo ao personagem da literatura, o Grinch. Mas acreditem, tal personagem era bem mais simpático que ele, nesta época do ano.

Um resmungo escapou dos lábios do cavaleiro de Câncer, como podiam perder tanto tempo com tanta bobagem, como o Natal? Quem é idiota em gostar do Natal?

-Feliz Natal, Máscara!-dizia Aldebaran, aparecendo de repente na frente dele, com um gorro de Papai Noel na cabeça, assustando-o.

-CATSO! Vá assustar sua mãe!-se recuperando.-Mas o que é isso na sua cabeça?

-Um gorro de Papai Noel.-respondeu o taurino com simplicidade.-Não é lindo? A senhorita Saori deu um para cada um, para entrarmos no clima da festa.

-Ridículo...-resmungou.

-E tem um para você!-avisou o cavaleiro de touro, colocando na cabeça de seu companheiro o gorro.-Perfeito, cara!

-...

-E aí? Quando vai aparecer na festa da Atena de Natal? Vai ter muita comida e bebida! E vai ter um monte de garota da vila. Quem sabe a gente....

Vermelho de raiva, Máscara da Morte empurra Aldebaran de lado e tira o gorro da cabeça, jogando-o com força ao chão.

-EU NÃO VOU NESTA PALHAÇADA!

-Como não vai? Você não é de perder um open bar!-espantado.

-Eu não vou nesta bobagem de Natal! É uma data idiota para idiotas! Olha bem pra mim! Vê se tenho cara de quem gosta de Natal!-apontando para a própria face.

-Diria que curte mais o Dia das Bruxas.-Aldebaran respondeu em tom de brincadeira.-Ah, deixa disso! Vamos.

-Saia da minha frente, seu cruzamento de Ursinho carinhoso com Barney!-respondeu irritado o cavaleiro de Câncer.-E não ousem vir aqui me incomodar com esta história de Festa de Natal!

-Vai perder uma festança!-gritou Aldebaran, recebendo apenas um resmungo de Máscara da Morte em resposta.

Dentro de seu templo, o cavaleiro caminhava para seus aposentos, para descansar, quando algo chama a sua atenção. Ele escuta alguém cantarolando uma música natalina, e debaixo de seu próprio teto.

Intrigado, vai seguindo o som até a cozinha dos fundos e se depara com a serva que haviam mandado recentemente para cuidar de seu templo e dele. A garota era jovem, de cabelos castanhos, presos em um coque. Ela cantava baixinho, e estava tão distraída colocando alguns efeitos de Natal na cozinha.

-MAS O QUE É ISSO?!

Seu berro a assustou. A garota deixa cair um dos bibelôs, com a forma de um anjo, e este se espatifa ao chão. Ela fica congelada de medo, sem saber o que fazer.

-Então?-insistiu o cavaleiro.

-Eu...estava arrumando a cozinha, Mestre Máscara da Morte.-disse a jovem, se ajoelhando e pegando os cacos do bibelô.

-Estou vendo...mas que merdas são essas?-pegando um deles que estava na mesa e olhando.-Quero estas coisas no lixo! Não quero ver nenhum deles aqui mais.

-Mas...

-MAIS NADA!-interrompeu com brusquidão, e então um aroma doce chega até ele.-O que está cozinhando?

-São biscoitos senhor. Eu ia levá-los a festa. A senhorita Atena pediu.-respondeu a jovem com simplicidade, dando um sorriso.-Tenho orgulho de saber que a senhorita Atena adorou meus biscoitos!

-Vai levar na festa dela?

-Sim.

-Não.

-Vou sim senhor.-ela insistiu.

-Não vai não! Está proibida de ir até a festa! Eu não permiti que enchesse minha cozinha com estas merdas.-jogando um deles no chão que se quebra em vários pedaços.-Vai limpar o templo de Câncer inteiro como castigo!

-Mas...Mas...é Véspera de Natal e...

-NÃO ME INTERESSA!-ele lhe dá as costas, caminhando para o quarto.-EU ODEIO ESTA BOSTA DE NATAL MESMO!

Ele caminhava para seu quarto, deitando na cama em seguida, olhando para o teto. Ainda imaginando porque ainda insistiam em aborrecê-lo com esta festa idiota. Primeiro, Atena, agora Aldebaran e agora sua serva...qual era o nome dela mesmo? Ah, não tinha importância. Ela não era ninguém importante mesmo. Deu um suspiro, fechando os olhos...

Alguns momentos depois, ouviu um som. Sentou na cama para ouvir melhor. O som se repete. Parecia o arrastar de correntes, e seja lá o que for, estava do outro lado da porta de seu quarto.

Resmungou um palavrão, saindo da cama. Se era sua serva interrompendo seu sono, seria severamente castigada. Abriu a porta e não havia ninguém. Olhou pelo corredor e nada. Ergueu uma sobrancelha e em seguida a fechou de novo. Os sons de correntes voltaram, e pareciam mais altos.

Voltou a abrir a porta, não havia ninguém.

-Que diabos?-fechou a porta com violência, voltando para a cama.-Cada uma que me acontece...

Deitou na cama, olhando para o teto, fechou os olhos, suspirou. Os abriu novamente e se deparou com a visão de uma figura fantasmagórica pairando no ar acima dele, o corpo envolto em correntes e uma expressão de sofrimento no olhar.

-Máscara da Morte...-chamou o fantasma, com a voz trêmula, como se tivesse vindo do submundo.

-AAHHHH...MAS QUE....-o susto o fez cair da cama, e ele se levanta como se estivesse prestes a lutar.-Quem é você? Não importa, vou te mandar de volta por onde veio!

-Ora, cale a boca seu ingrato!-disse o fantasma, fazendo o cavaleiro olhar espantado para ele.-Isso é jeito de se referir ao seu mestre?

-M...Mestre Faust?! Mas...você...-ele fitou bem o fantasma, lembrava vagamente o homem alto, de cabelos castanhos e longos, olhar gélido que foi seu mestre quando mais jovem.-Mas..você...

-"Morreu"? Era o que iria dizer?-o fantasma riu, flutuando do alto da cama para o chão, caminhando até ele com dificuldades, as correntes presas a ele pareciam dificultar seus movimentos.-Sim, morri há mais de dezesseis anos, quando você se tornou o Cavaleiro de Câncer em meu lugar.

-Mas, o que faz aqui sua alma penada?-ainda na defensiva.-Se veio me levar pro inferno, advirto que não será fácil.

-Sempre na defensiva, hein? Para de agir como um bebê chorão. Eu não vim te levar.

-E o que veio fazer então?

-Lembra de como eu era quando vivo? Cruel, maldoso, mentiroso...

-Eu lembro...adorava dar rasteira em velhinhas no domingo, depois que roubava as esmolas das igrejas.-com um sorriso lembrando.

-EU ERA UM MONSTRO!-esbravejou.-Não tenho orgulho disso. Olhe o que me aconteceu! Como castigo por meus crimes, por ser uma pessoa amarga e vazia, fui condenado a arrastar estas correntes por toda a eternidade!

-E o que eu tenho a ver com isso?-perguntou como se nada disso o interessasse.

Em resposta, o fantasma de Faust o acertou com as correntes. O golpe o jogou para o outro lado do quarto. Antes mesmo que o cavaleiro se recuperasse, o fantasma estava sobre ele.

-Não quero que aconteça com você o mesmo comigo. Acredite ou não, gosto de você Máscara da Morte de Câncer. Preste atenção no que eu direi!

Em silêncio, sentindo a face dolorida ainda pelo golpe, o escutou.

-Esta noite irá receber a visita de três espíritos. Às dez, virá o primeiro espírito. O Espírito do Natal Passado. Às onze, o Espírito do Natal presente virá e a meia noite, o Espírito do Natal Futuro.

-Peraí! Eu já vi este filme antes. Que coisa mais sem originalida...-protestou.

-Cale-se!-urrou o espírito, ventos apareciam do nada.-E se prepare para seus visitantes. Ou tenha o mesmo destino que o meu!!

O espírito desapareceu em seguida, diante dos olhos de Máscara da Morte, envolto por um espiral de vento, e em seguida, tudo se silenciou, como se nada houvesse acontecido.

Máscara da Morte ainda ficou parado, como em choque antes de se recuperar e levantar-se, olhando para o velho relógio na cabeceira de sua cama. Eram 9:45 da noite. Quinze minutos para a visita do tal "fantasma".

-Isso é ridículo!-balançou a cabeça, voltando para a cama.-Devo estar sonhando, isso sim. Um pesadelo...é isso...um pesadelo! Comi demais no jantar! Também, aquela serva cozinha que é uma beleza!

Enfiou a cara no travesseiro, fechando os olhos, tentando esquecer o pesadelo. Quinze minutos se passaram, e o cavaleiro ainda estava acordado, olhando para o relógio. Deu um sorriso, nada de espíritos.

-Era um pesadelo...-murmurou, quando ouviu um som de um tilintar de sininhos.

-Pesadelo você vai ter se não sair desta cama!-Máscara da Morte sentou-se na cama a uma velocidade incrível ao ouvir a voz, fitando seu dono.-Anda queridoooo. Não temos a noite toda! Só uma hora antes do bofe do Espírito do Natal Presente aparecer!

-Afrodite!?!??-olhou incrédulo para a pessoa diante dele. Ele usava um terno fino, mas cheio de lantejoulas, e cores vivas e brilhantes, mas era o Afrodite que conhecia.

-Nã-nã-ni-na-não, querido! Eu não sou aquele monumento a perfeição do seu amigo, o Cavaleiro de Peixes!-juntava as mãos em um gesto bem teatral.-Eu sou o...-deu uma voltinha.-O Espírito do Natal Passado!

-Parece o Espírito do Dia do Orgulho Gay!-ergueu a sobrancelha desconfiado.

-Também. Mas nas horas vagas!-começou a bater palmas, para apressá-lo.-Vamos amor! Temos muito o que fazer hoje! Eu e você. Você e eu!

Máscara da Morte recuou na cama.

-Vamos querido. Hoje eu vou introduzir em você o meu Espírito Natalino!

-Não vai introduzir nada aqui não, rapá! Quequihá! Quequihá! Eu não tenho nada pra fazer com você não! Nunca tive e nunca terei! Sou espada!

Afrodite, ou melhor, o Espírito do Natal Passado pega no braço do Cavaleiro de Câncer e o puxa, até seu guarda-roupa e as portas se abrem.

-Vamos entrar aqui, querido. Aonde irei te mostrar o que o Espírito de Natal tem!

-Eu não entro aí dentro com você não! Tá me estranhando?

Em resposta, o Espírito o chuta com força na barriga e ele cai no guarda roupa. Mas ao invés de sentir o chão de madeira do móvel, ou até mesmo bater as costas em seu fundo, o que o cavaleiro sente é o chão gelado e úmido de neve, e ouve os sons de crianças brincando ao longe.

Ele abre os olhos e se depara com o Espírito diante dele.

-Vamos querido. Vamos visitar um garotinho!

O cavaleiro fica em pé rapidamente, tirando a neve presa em suas roupas, seguindo o Espírito. Olhou ao redor, aquela vila era estranhamente familiar a ele. Logo, ele e o Espírito estavam diante de uma casinha simples no bairro mais pobre daquele lugar, e o Cavaleiro para.

-O que foi?-perguntou o espírito, tirando uma rosa do nada.

-Esta casa...

-O que tem ela?

-Eu...morei nela. Era a minha casa.-com passos hesitantes, ele atravessou o pequeno portão e olhou ao redor.-A horta e o jardim da minha mãe era aqui. Espírito, o que quer me mostrar?

A porta da frente se abre e um garotinho de cabelos azuis sai correndo passando através dele.

-Eles não podem nos ver. Somos fantasmas aqui.-explicou o Espírito.-Reconhece o menino?

-Sou eu...-murmurou olhando para o menino, que correu até uma árvore e sentou a sua sombra, parecendo chorar.

-Está lembrado deste dia?-perguntou o Espírito.

O cavaleiro não respondeu, entrando na casa. Ali, uma mulher de expressão doente e cansada, mas que ainda mantinha a beleza, olhava desolada para o marido, que parecia transtornado.

-Ele não entende...

-Ele só tem seis anos, querido. É uma criança!

-Somos muito pobres para lhe dar um presente de Natal caro.-suspirou o senhor.-Tive que mostrar a ele que o Natal não tem magia alguma, não tem bom velhinho trazendo presentes, nada disso! Já gastamos muito dinheiro com os remédios que você toma, não podemos gastar com bobagens.

A mulher tocou na mão de seu marido com um sorriso e disse:

-Vou conversar com ele. E você...tente o mesmo, Pietro.

A mulher apertou mais o casaco contra o corpo, para se proteger do frio, e passou por Máscara da Morte e pelo Espírito. Ela não os viu, mas rever aquele rosto trouxe algo que há muito o cavaleiro achava que estava morto dentro dele. Saudades...

-Minha mãe me falou para não ter raiva do meu pai, por ter me dito que não havia nada de mágico no Natal.

-Realmente, não tem né?-o Espírito sorriu, afinal ele era a prova de que o que o pai dissera não era verdade.

O homem suspirou, e caminhou até um ponto da sala, ajoelhando ao chão e tirando uma tábua solta. De lá, retirou um saquinho com algumas economias.

-Então era ali que escondiam as moedas! Bem que desconfiava! Mas o que ele está fazendo?

Ao invés de pegar as moedas, pegava um pequeno embrulho em papel vermelho e um laço.

-As economias de um ano inteiro.-disse o Espírito.-Seu pai ganha muito pouco, naquela fábrica, mas daria para vocês viverem bem, se sua mãe não estivesse tão doente, não é? Gastam muito com médicos e remédios.

-Eu sei. Nunca me queixei de nada, da nossa pobreza. Éramos...

-Felizes?

Ele não respondeu. Em seguida a porta se abriu e o menino entrou acompanhado pela mãe. Ainda tinha a expressão emburrada quando sentou-se a mesa, e o pai sentou-se a frente dele.

-Papai não pode lhe dar uma bicicleta agora meu filho, mas...prometo economizar ano que vem para comprar uma para você. Precisei dizer que Papai Noel não existia, para que não ficasse com esperanças dele lhe trazer um presente...sinto muito.-ele coloca o embrulho diante do menino.-Feliz Natal, meu filho.

O menino abraça o pai.

-Tudo bem, papai.

-Ai que lindo!-o Espírito limpa uma lágrima.-Como é que este garotinho fofo virou um homem insuportável como você?

-...

-Vamos, me conta! O que te fez odiar tanto assim o Natal?

-Cuida da sua vida!

-É o que estou fazendo, querido!-o Espírito toca no ombro do cavaleiro e o cenário muda.-Pronto. Um ano depois daquele dia.

A casa estava abandonada, cheia de poeira e teia de aranha. Parecia que a vida a abandonara. Duas senhoras na sala murmuravam, olhando com pesar para um menino sentado em um canto, olhar triste.

-Pobrezinho! Primeiro o pai morre naquele acidente na fábrica, e agora a mãe não agüentou e morreu.

-E faltando alguns dias para o Natal. Que tragédia! O que acontecerá a ele?

-Não tem mais família, com certeza irá para o orfanato.

-E o corpo da mãe?

-Vai ser velado na capela. O bom padre assim decidiu. Teve pena desta família.

Mas o menino conseguiu ouvir, e saiu correndo da casa. Não queria ficar perto daquelas pessoas hipócritas que deixaram seu pai morrer, demorando a lhe dar socorro, deixaram sua mãe morrer sozinha, tendo apenas o filho por companhia. E agora choravam e sentiam pena por eles? O menino sentia muita raiva dentro de si. Correu o mais que podia, tentando extravasar esta raiva, correu até a capela, entrando nela. Viu o corpo de sua mãe sendo velado e correu até ele, agarrando ao braço dela.

-Mamma! Vamos embora daqui! Vamos embora deste lugar! Mamma!

As lágrimas corriam copiosamente, dois homens, entre eles o padre, conseguiram segurá-lo, fazendo-o soltar o braço da falecida. O menino gritava, chorava e se debatia, ignorando as palavras de consolo do pároco.

Da porta da capela, Máscara da Morte e o Espírito observavam a tudo.

-Leve-me daqui Espírito, por favor.-pediu.

O Espírito, com pesar atendeu, tocando em braço. Logo estavam a caminho de outro Natal.

Continua...

Bem, espero que esteja divertido de ler,como está sendo divertido para mim escrever.

Calma, tem mais...estão preparados?