O primeiro dia de Setembro
Alvo sentiu o tempo passar com bastante ansiedade até o dia primeiro de Setembro, quando suas aulas iniciariam.
Mas sentia o peso em suas costas pelo que seu irmão lhe falara.
"Você tem que se equiparar a papai, Alvo. Ou até ser melhor, se não todos irão ficar desapontados. Eu também lido com isso".
Alvo estremeceu diante daquelas palavras. Ele não era bom para muitas coisas, apesar de ser muito inteligente. Devorava todos os livros de tia Hermione com muita vontade.
Ele decidiu fazer algo para que isso não se demonstrasse. Pediu a seu pai aulas de vôo e em três semanas já dominava sua vassoura. Pediu aulas de Transfiguração para Hermione, que as deu em bom grado. No fundo, ele sabia que não era tão bom quanto o pai e nunca seria.
Ele seria bom o quanto pudesse. E o mês de Agosto passou voando. Rápido o suficiente para o sufoco das expectativas quase o matasse.
E quando o dia de ir a Hogwarts chegou, ele acordou já com uma reviravolta no estômago. Era como se algo tivesse o acertado logo ali. Com muito esforço, domou os cabelos rebeldes e negros e desceu com pouco apetite. Sua mãe o esperava para o café da manhã.
- Coma algo, Alvo. – ela lhe pediu, e ele comeu um cookie inteiro a contragosto. Até que não era tão ruim. Alvo sentiu um cansaço repentino enquanto que seu irmão Tiago chegava ao recinto.
- E aí, pirralho, pronto para ir à Hogwarts? – ele perguntou, passando as mãos nos fios de cabelo tão negros quanto os de Alvo e despenteando-lhes. Ele tinha essa mania.
- Na medida do possível. – este lhe respondeu emburrado.
- Você se acostuma.
Sua irmã Lílian Luna e seu pai Harry Potter, o famoso mago que derrotara o Lorde das Trevas, apareceram juntos.
- Hoje é o grande dia, Al. – seu pai comentou com um grande sorriso e Alvo sentiu um aperto no peito.
- É sim, pai. – ele tentou dar um sorriso confiante, mas quando tentou o que deu foi um amarelo. – Vou para Hogwarts hoje.
Harry sabia que era muita pressão encima do filho, por isso não falou mais nada.
A manhã do dia primeiro de setembro estava revigorante e dourada como uma maçã, e, quando a pequena família atravessou saltitante a rua, em direção à grande estação encardida, a fumaça que os carros expeliam e a respiração dos pedestres cintilavam como teias de aranha no ar frio. Duas grandes gaiolas sacudiam em cima dos carrinhos cheios que os pais empurravam; as corujas dentro delas piavam indignadas e a menina ruiva acompanhava chorosa os irmãos, agarrada à mão do pai.
- Não vai demorar muito, e você também irá – disse-lhe Harry.
- Dois anos – fungou Lílian – Quero ir agora!
Os passageiros olharam curiosos para as corujas quando a família se encaminhou em ziguezague para a barreira entre as plataformas nove e dez. A voz de Alvo chegou aos ouvidos de Harry apesar do barulho reinante; seus dois filhos tinham retomado a discussão começada no carro.
- Não quero ir! Não quero ir para a Sonserina!
- Tiago, dá um tempo! – pediu Gina.
- Eu só disse que ele talvez fosse – defendeu-se Tiago, rindo do irmão mais novo – Não vejo problema nisso. Ele talvez vá para a Sonse...
Tiago viu o olhar da mãe e se calou. Os cinco Potter se aproximaram da barreira. Lançando ao irmão um olhar ligeiramente arrogante por cima do ombro, Tiago apanhou o carrinho que a mãe levava e saiu correndo. Um instante depois tinha desaparecido.
- Vocês vão escrever para mim, não vão? – Perguntou Alvo aos pais, capitalizando imediatamente a ausência momentânea do irmão.
- Todo dia, se você quiser – respondeu Gina
-Todo dia, não – replicou Alvo, depressa. – O Tiago diz que a maioria dos alunos recebe carta de casa mais ou menos uma vez por mês.
- Escrevemos para o Tiago três vezes por semana no ano passado – contestou Gina.
- E você não acredite em tudo que ele lhe disser sobre Hogwarts – acrescentou Harry. – Ele gosta de brincar, o seu irmão.
Lado a lado, eles empurraram o segundo carrinho e ganharam velocidade. Ao alcançarem a barreira, Alvo fez uma careta, mas a colisão não ocorreu. Em vez disso, a família emergiu na plataforma nove e meia, que estava coberta pela densa fumaça clara que saía do Expresso de Hogwarts. Vultos indistintos pululavam na névoa, em que Tiago já desaparecera.
- Onde eles estão? – perguntou Alvo, ansioso, espiando os vultos brumosos pelos quais passavam ao avançar pela plataforma.
- Nós os acharemos – tranquilizou-o Gina.
Mas o vapor era denso, e estava difícil distinguir os rostos das pessoas. Separadas dos donos, as vozes ecoavam anormalmente altas Harry pensou ter ouvido Percy discursar sonoramente sobre o regulamento para uso de vassouras, e ficou feliz de ter um pretexto para não parar e cumprimentar...
- Acho que são eles Al – disse Gina, de repente.
Um grupo de quatro pessoas que estava parado ao lado do último vagão emergiu na névoa. Seus rostos só entraram em foco quando Harry, Gina, Lílian e Alvo estavam quase em cima deles.
- Oi – disse Alvo, parecendo imensamente aliviado.
Rosa que já estava usando as vestes de Hogwarts recém-compradas, deu-lhe um grande sorriso.
- Afinal, conseguiu estacionar direito? – perguntou Rony a Harry – Eu consegui. Hermione não acreditou que eu pudesse passar no exame de motoristas dos trouxas, não é mesmo? Achou que eu ia precisar confundir o examinador.
- Não pensei, não – replicou Hermione – Fiz a maior fé em você.
- Pois eu o confundi, mesmo – sussurrou Rony para Harry, quando, junto, embarcaram o malão e a coruja de Alvo no Trem. - Só me esqueci de olhar pelo retrovisor externo, e, cá entre nós, posso usar um Feitiço Supersensorial para isso.
De volta à plataforma eles encontraram Lílian e Hugo, o irmão mais novo de Rosa, entretidos em uma animada discussão sobre a Casa para qual seriam selecionados, quando finalmente fosse para Hogwarts.
- Se você não for para a Grifinória nós o deserdaremos – ameaçou Rony – mas não estou pressionando ninguém.
- RONY! – gritou Hermione.
Lílian e Hugo riram, mas Alvo e Rosa ficaram muito preocupados.
- Ele não está falando sério - disseram Hermione e Gina, mas Rony já não estava prestando atenção. Atraindo o olhar de Harry, ele acenou discretamente com a cabeça para um ponto a uns cinqüenta metros. O vapor tinha rareado por um momento, e três pessoas estavam parados destacando-se contra a névoa em movimento.
- Veja só quem está ali – disse Rony.
Draco Malfoy estava parado com a mulher e o filho, um sobretudo escuro abotoado até o pescoço. Seus cabelos já revelavam entradas que salientavam o seu queixo fino. O novo aluno parecia com Draco tanto quanto Alvo parecia com Harry. Draco viu Harry, Rony, Hermione e Gina olhando para ele, deu um breve aceno com a cabeça e se afastou.
- Então aquele é o pequeno Escórpio – comentou Rony em voz baixa – Não deixe de superá-lo em todos os exames, Rosinha. Graças a Merlin você herdou a inteligência de sua mãe.
- Rony pelo amor de Merlin – O tom de Hermione mesclava seriedade e vontade de rir – Não tente indispor os dois antes mesmo de entrarem para a escola!
Você tem razão, desculpe – mas, incapaz de se conter ele acrescentou – mas não fique muito amiga dele, Rosinha. Vovó Weasley nunca perdoaria se você casasse com um sangue-puro.
Tiago reaparecera; tinha se livrado do malão, da coruja e do carrinho e, evidentemente, estava fervilhando de novidades.
- Teddy está lá atrás – disse ele, sem fôlego, apontando por cima do ombro para as gordas nuvens de vapor. – acabei de ver! E adivinhe o que ele está fazendo? SE AGARRANDO COM A VICTOIRE!
Ele ergueu os olhos para os adultos, visivelmente desapontado com a falta de reação.
- O nosso Teddy! Teddy Lupin! Agarrando a nossa Victoire! Nossa prima! E perguntei a Teddy que é que ele estava fazendo...
- VOCÊ INTERROMPEU OS DOIS? –Gritou Gina – Você é igualzinho ao Rony...
- ... e ele disse que tinha vindo se despedir dela! E depois me disse para dar o fora. Ele está agarrando ela! – acrescentou Tiago, preocupado que não tivesse sido suficientemente claro.
- Ah, seria ótimo se os dois se casassem – sussurrou Lílian enlevada. –Então o Teddy ia realmente fazer parte da nossa família!
- Ele já aparece para jantar quatro vezes por semana – disse Harry – Por que não o convidamos para morar de uma vez conosco?
- É! – concordou Tiago, entusiasmado. – Eu não me importo de dividir o quarto com o Alvo... Teddy poderia ficar com o meu!
- Não – disse Harry, com firmeza – você e Al só dividirão um quarto quando eu quiser ter a casa destruída.
Ele consultou o velho relógio arranhado que, no passado, tinha pertencido a Fábio Prewett.
- São quase onze horas, é melhor embarcar.
- Não se esqueça de transmitir a Neville o nosso carinho – recomendou Gina a Tiago ao abraçá-lo.
- Mãe! Não posso transmitir carinho a um professor!
- Mas você conhece Neville...
- Aqui fora sim, mas, na escola, ele é o professor Longbottom, não é? Não posso entrar na aula de Herbologia falando em carinho...
E, balançando a cabeça para a tolice da mãe, ele sapecou um pontapé em Alvo.
- A gente se vê, Al. Cuidado com os testrálios.
- Pensei que eles fossem invisíveis, VOCÊ ME DISSE QUE ERAM INVISÍVEIS!
Tiago, porém, riu apenas, permitiu que a mãe o beijasse, deu no pai um rápido abraço e saltou para o trem que se enchia rapidamente. Eles o viram acenar e sair correndo pelo corredor à procura dos amigos.
- Não precisa se preocupar com os testrálios – disse Harry a Alvo – São criaturas meigas, não têm nada de apavorante. E, de qualquer modo, você não irá para a escola de carruagem, irá de barco.
Gina deu um beijo de despedida em Alvo.
- Vejo vocês no Natal.
- Tchau, Al – disse Harry, e o filho o abraçou - Não se esqueça que Hagrid o convidou para tomar Chá na próxima sexta-feira. Não se meta com o Pirraça. Não duele com ninguém até não aprender como se faz. E não deixe Tiago enrolar você.
- E se eu for para a Sonserina?
- Alvo Severo – Disse Harry, baixinho para ninguém mais exceto Gina, poder ouvir –nós lhe demos o nome de dois diretores de Hogwarts, um deles era da Sonserina, e provavelmente foi o homem mais corajoso que já conheci.
- Mas me diga...
- Então a Sonserina terá ganhado um excelente estudante, não é mesmo? Não faz diferença para nós, mas qualquer coisa peça para o chapéu seletor colocar você na Grifinória em vez de Sonserina. Ele levara em consideração a sua escolha.
- Sério?
- Levou comigo.
As portas dos compartimentos iam se fechando, quando alvo pulou para dentro do trem, ele observou que a maioria dos estudantes olhava para eles.
- Por que eles estão todos nos encarando? – perguntou Alvo.
- Não se preocupe – disse Rony – é comigo sou excepcionalmente famoso.
Todos os presentes riram e o trem começou a andar Harry acompanhou com os olhos o rosto magro do filho, acenando adeus para ele. O último vestígio de vapor se dispersou no ar de outono, O trem fez uma curva, a mão erguida de Harry ainda acenava adeus.
- Ele ficará bem – murmurou Gina.
Ao abaixar a mão tocou em sua cicatriz em forma de raio em sua testa.
- Sei que sim.
A cicatriz não incomodara Harry nos últimos dezenove anos. Tudo estava bem.
