Os personagens desta fanfic não me pertencem. Mas eu não pretendo comercializá-los ou ganhar qualquer coisa por ter escrito esta fic além de comentários preciosos.

Desafio: nenhum

Ship: Derek Hale/Stiles Stilinski

Capa: link no meu perfil

Sinopse: Ele precisava de uma âncora. Seu pack precisava dele. E tudo estava nas mãos de um simples humano.

Spoiler: 2 – ignorando o alpha pack

Beta: no one

Finalização: 17 de setembro de 2012

Quantidade de capítulos: ainda não sei, mas não deve ser muito longa

Spiral

Capítulo 01 - Humanidade

Tudo estava bem.

Ele podia ver. Era só uma questão de prestar atenção aos pequenos sinais.

Derek não era o tipo de pessoa atenta a sinais. Se fosse, ele teria percebido as intenções de Kate antes de vender sua alma e sua família a ela, ele teria visto que Peter só precisava de um pack para retomar sua sanidade antes de ter de mata-lo, ele teria visto que Erica e Boyd não o viam como alfa antes que eles tentassem se afastar e quase morressem nas mãos de Gerard com isso, ele teria visto que Isaac só precisava de uma referência para lhe dar toda a sua confiança.

Mas isso foi antes. E agora, sentado na escadaria da casa que uma vez foi o covil de seu pack e a sua própria referência, ele via como tudo parecia simplesmente se encaixar.

Eles estavam ali. Todos eles. Peter e Jackson e Erica e Boyd e Isaac. Seu pack. Naquela casa de novo.

Sua casa que estava se reerguendo sobre o sangue de Kate, independente da vontade dela. Sua casa que ele abriu mais uma vez para Scott quando ele veio pedir abrigo, seu lobo exigindo mais quando seu pack se reduzira a Stiles e o medo do que isso poderia significar trazendo os dois para perto, finalmente. Sua casa que era a casa de Erica e de Boyd, não mais porque eles não tinham para onde ir, mas porque, depois de todas as feridas curadas, vendo Peter e Isaac e Scott ali, Derek sentia que eles queriam ficar, só estavam cansados de lutar, como Jackson e Lydia, que também estavam por ali, em silêncio, buscando a aceitação do grupo.

E não havia mais luta.

Gerard estava morto. Os Argent estavam em observação silenciosa. A lua era uma constante pacífica marcando os ciclos em que, cada vez mais, ele via seus lobos mais confortáveis com o ser lobo. A cidade, pequena como se lembrava desde sua infância, voltava ao ritmo que deveria ter, sem assassinatos não explicados, sem ataques de animais que não deveriam existir naquela região, sem desaparecimentos.

Tudo estava bem.

Derek deveria se sentir confortável com isso, mas ele era o alfa, e, nesse momento, quando não havia nenhuma preocupação com fugir de caçadores ou enfrentar outros seres sobrenaturais ou estruturar um novo pack, ele sentia mais do que nunca o que era ser um alfa. Isso incluía, obviamente, manter caçadores, criaturas sobrenaturais, ômegas perdidos e packs rivais a uma distância segura, mas essa era, incrivelmente, a parte fácil.

Ele sentia o olhar desconfortável de Scott sempre que se encontrava com o dele e sabia que isso era um problema que ele tinha que resolver, ele não queria Scott como um rival, nunca quis, e, agora que o adolescente não se colocava como um, era seu dever fazê-lo saber que não era assim que as coisas deveriam ser entre eles. E não é como se sentar e conversar fosse a melhor forma de consenso entre os dois, ele já havia tentado outras vezes e não havia sido exatamente bem sucedido.

Oferecer uma cerveja quando se encontraram uma madrugada insone na cozinha parecia algo eficaz. Compartilhar um silêncio que não era desconfortável pela primeira vez na vida e perguntar sobre sua mãe ou as notas da escola haviam se mostrado coisas muito mais úteis do que ir direto ao assunto da rivalidade. Fazia Derek se sentir um pouco... pai de Scott, mas seu lobo estava confortável com isso, e o garoto sorriu para ele de uma forma amigável, então estava tudo bem.

Ele via a forma como Erica e Boyd sempre se sentavam juntos para comer ou ver TV no chão da sala ou nos exercícios que faziam na floresta, e como se separavam de forma desconfortável no momento em que cada um seguia para um quarto diferente toda noite. Erica era uma menina que se descobriu rápido demais como mulher quando ele a transformou e, mesmo com toda a segurança que ela tentava passar, ele parecia ser um dos poucos na casa que ainda via seus momentos de menina, e ela definitivamente não sabia o que fazer nesse caso. Boyd parecia que nunca teve que lidar com uma mulher antes, ou com uma menina, e Derek conseguia ver que ele já sabia o que queria fazer, mas entre o instinto do seu lobo e a falta de confiança do adolescente rejeitado por toda uma vida, ele simplesmente não fazia.

Derek nunca saberia dizer como, exatamente, a conversa sobre preservativos e conquistas havia começado naquela tarde, mas ele tinha certeza de que Erica estava ouvindo atenta de seu quarto, e quando ela respondeu rápido demais à sugestão de Boyd para jantarem em outro lugar no dia seguinte e sorriu para Derek antes de sair, o alfa sabia que, quando eles voltassem, provavelmente teria um quarto vazio na casa agora.

Ele sugeriu que Isaac ou Scott ocupassem o quarto quando ficou claro que Boyd e Erica agora eram um casal, mas, surpreendentemente, os meninos responderam que não se incomodavam de continuar dividindo o que ocupavam até então. Derek já havia se acostumado com o silêncio recolhido de Isaac e, depois de conseguir deixar Scott mais à vontade, ele havia deixado de chamar sua atenção também, então ele não se surpreendeu de não ter visto isso acontecer.

Na verdade, tudo parecia ainda em processo entre os dois, de forma lenta e segura, em que Isaac parecia confiar cada vez mais em Scott, contando sobre as pequenas coisas de seu dia ou de seu passado, além de todas as dezenas de sms que trocavam o tempo inteiro, enquanto Scott ainda falava muito de Allison, mas cada vez mais preferia gastar seu tempo com Isaac, no campo de Lacrosse, na floresta ou em casa, do que fazendo qualquer outra coisa. E eles preferiam dormir juntos.

Quem acabou ocupando o quarto vazio foi Stiles, o que Derek também não viu como aconteceu, somente reparou que o garoto parou de dormir no sofá da sala e ainda assim aparecia para o café da manhã com o pack no dia seguinte, em quase todas as noites em que seu pai estava de plantão. O Xerife ainda não sabia sobre lobisomens e, como as ocorrências sobrenaturais na delegacia agora eram praticamente nulas, não havia necessidade real de perturbá-lo com isso. Para todos os efeitos, Stiles passava as noites com Scott, e Scott passava as noites com Isaac, então todos passavam a noite na casa de Derek, e foi assim que algumas roupas de Stiles acabaram na cômoda do quarto, e a cama ganhou seu cheiro de forma quase permanente, como ele já existia em toda a casa.

O mesmo processo aconteceu com Jackson e Lydia, que ocupavam outro quarto como casal. A conversa entre Derek e Jackson após sua transformação havia sido longa, dura e formal. Jackson precisava de um pack, ele tinha Lydia, mas Derek não apostaria que isso seria o suficiente para manter seu lobo são, e ele não precisava da volta de um Kanima. A casa, as pessoas e os lobos a sua volta ajudariam a manter Jackson inteiro, a construir sua identidade e a fortalecer sua âncora, que obviamente era Lydia.

Ela andava tensa pela casa nos primeiros dias, o chão e as paredes do lugar parecendo sair diretamente de seus pesadelos, como Derek sabia que saiam dos de Peter e de seus próprios. Por isso a reforma da casa foi tão importante, com outro desenho, outras cores e outros cheiros, o cheiro do seu novo pack. Jackson e Lydia, assim como todos os outros adolescentes, se divertiram pintando paredes e ajudando a escolher a mobília. O bom senso da garota em meio a tantos homens preocupados em construir mais um covil do que uma casa foi fundamental. Ela, tão humana, para sempre humana, havia feito daquele lugar o máximo seu, para que todos se sentissem parte dele.

Derek não precisou muito para que Peter entendesse que eles precisavam de espaço, e conforme ele se afastava da garota, deixando-a transitar e modificar o que havia sido seu túmulo, Derek observou que seu tio também aprovava aquela ocupação e aquela mudança. O casal não dormia todas as noites ali, eles também tinham suas próprias casas e família, mas suas coisas iam se acumulando pelos cômodos, até eles saberem que eram bem vindos.

Bem vindos à casa de Derek, à casa do pack que não era mais o pack Hale, mas não tinha nome e não parecia precisar de um. Para os outros packs, era o pack de Bacon Hills, para eles, era simplesmente "o pack". E a casa não era mais a casa Hale também, a casa Hale era a casa que havia sido queimada, era a casa em que Kate havia sido assassinada e Peter havia queimado e morrido e sido enterrado, era a casa em que Derek via a sombra de sua irmã e os fantasmas de sua família, a casa em que Scott havia encontrado sua maldição e que povoava os pesadelos de Lydia e de Jackson, era a casa de onde Erica e Boyd haviam fugido e onde Isaac nunca havia se sentido bem vindo.

Essa não era mais a casa Hale. Podia ser o mesmo chão e o mesmo lugar, mas agora cheirava a cookies e era branca com janelas azuis e cortinas rendadas. Agora tinha um Camaro, um Porsche e um Jeep estacionados em frente à cerca vermelha e os caminhos que corriam para a cidade levavam para pessoas queridas e não para locais inimigos, e a floresta não era mais local de fuga, mas seu jardim particular em que as sombras brincavam com a luz da lua enquanto os lobos corriam e uivavam sabendo que, se estivessem juntos, não havia perigo.

Tudo estava bem.

Derek queria entender, por que, então, ele se sentia tão perturbado.

Todas as noites, ele era o último a dormir. Ele percorria cada quarto da casa verificando quem estava lá e se estavam bem e depois telefonava para aqueles que decidiram dormir com seus pais naquela noite antes dele mesmo se retirar. Eles ainda não estavam totalmente bem, ele sabia pela frequência que escutava passos de madrugada, conforme não conseguiam dormir, procurando o contato uns dos outros ou simplesmente tentando se encontrar naquele lugar que eles construíram juntos. Mas eles ficariam bem, ele sabia pela forma como eles o olhavam, como sorriam para ele sutilmente, como o buscavam mesmo em silêncio. Mas havia algo o perturbando.

Ele os sentia, ele via os detalhes de suas vidas e os pequenos sinais que eles lhe davam, coisas que não tinha visto antes, e ele sabia que isso era bom, era sinal de que estava amadurecendo como alfa, Deaton poderia até se orgulhar dele, e ele sabia que pensar antes em Deaton, e não em sua mãe, sua irmã ou em Peter era parte desse processo. Ele estava mais preso ao seu presente, ao seu pack e às necessidades deles.

Peter era um observador que parecia estar experimentando o silêncio pela primeira vez na vida, e Derek era grato a isso. Ele podia quase sentir a mente de seu tio se alinhando como os ponteiros de um relógio, como se a paz que Derek e o pack à sua volta estavam cultivando fosse a razão e a força de seu próprio equilíbrio, e o alfa sabia que isso era um longo processo também, e se mantinha atento, mas ele sentia que Peter ficaria bem, afinal.

Ele sentia demais. Ele sentia em sua pele, em sua mente e em seu ser. Ele confiava nesse sentir como se ele pudesse governa-lo, e não sabia se isso era algo bom ou ruim, porque, nesse momento, sentir era algo muito mais importante do que saber. Derek nunca soube de muita coisa, nunca foi um lobo que dominasse todo o conhecimento do pack como sua irmã fazia e nunca foi um ser humano genial como Peter ou Stiles ou Lydia. Ele era inteligente, o bastante para sobreviver, mas nesse momento em que se sentia responsável por oito lobos, além dele mesmo, saber somente não parecia o bastante, então ele se permitia sentir, porque confiava em seu lobo, e ele era um alfa agora, o que significava que seu lobo podia perfeitamente sentir por todo o seu pack.

Mesmo que, com isso, ele se sentisse menos humano. A forma como ele sentia Lydia e Stiles era quase vibrante se comparado à maneira como o resto do pack se apresentava ao seu olhar, ao seu tato, ao seu olfato e a todos os seus sentidos. Eles eram brutalmente humanos, e não é como se isso o ferisse ou soasse como uma ameaça. Não, o lobo de Derek havia acolhido os dois no pack e isso trazia harmonia para aquele equilíbrio delicado que estavam criando. Não era o fato de eles serem humanos que era um problema, era o quanto ver a humanidade deles deixava claro para Derek o quanto ele mesmo não era mais humano.

Ele era lobo, havia nascido lobo e aprendido a ser humano depois, e agora, ao se tornar alfa, era como se sentisse sua humanidade escapar por entre seus dedos a cada criatura que tinha que caçar para manter seu território limpo, a cada ômega que avaliava e espantava por poder modificar aquele delicado equilíbrio que seu pack estava desenvolvendo, a cada noite de lua em que ele corria na forma completa de lobo, a forma que seus betas não podiam acompanhar e sumia negra na escuridão da mata, desviando das formas das árvores que brilhavam em vermelho para seus olhos.

Derek não temia ficar louco como Peter ficou ao se tornar alfa. Aquilo que ele sentia não era loucura, ele estava estranhamente consciente das suas necessidades e das necessidades de seu pack, como grupo ou individualmente. Era uma outra forma de liberdade deixar seu lobo vir à tona daquela forma. Não era ruim. Era sufocante e meio desesperador, como alcançar a superfície depois de prender a respiração sob a água por tempo demais. Não era bom, mas era o que o mantinha vivo nesse momento.

Ele precisava dessa liberdade para guiar seu pack e para manter sua própria sanidade com tanta força quanto sentia falta de se sentir humano. Porque seu pack era humano, ele continha dois humanos, ele tinha seu tio que, pouco a pouco, recobrava sua humanidade junto com sua sanidade, assim como Jackson reencontrava sua humanidade nos braços de Lydia e seus adolescentes esqueciam lentamente toda a dor fora da lua para pensar em notas, nas compras do mês e em suas pequenas paixões humanas.

E Derek não era parte disso. Ele era aquilo que os mantinha unidos, que selava todos os elos, a consciência maior de toda essa humanidade, que centrava e estruturava o pack, mas que não fazia parte dele. Ele era o alfa, ele era o lobo que garantia a segurança e a sobrevivência de todos os outros, ele era o sentir e o saber além das preocupações humanas com a cor das cortinas ou as contas para pagar. Ele dava a paz e a harmonia daquelas oito pessoas, mas ele não fazia parte disso. Ele tinha sua casa e sua família de volta, uma outra casa e uma outra família, que eram suas e ele sabia que eles precisavam dele e ele estava ali, para eles, zelando e fazendo todo o necessário, de fora.

Estava tudo bem. Mas Derek não fazia parte disso.

E quando a lua cheia chegou, ele sabia que havia algo errado. Ele não conseguiu identificar o que era por muito tempo, ele não conseguiu perceber e racionalizar a tempo, apesar de sentir. A lua chegou e seus lobos estavam em casa, abraçados às suas âncoras, tranquilos em sua paz zelada que haviam construído juntos.

Mas o alfa uivava no meio da mata, sua mente perdida no desespero do quanto isso poderia fazer com que seu pack se perdesse, simplesmente porque ele não tinha mais âncora.

Não havia mais ódio o suficiente. Não havia mais o que odiar, não havia mais ressentimento por algo que estava morto, enterrado e destruído por tudo aquilo que haviam construído sobre o chão queimado e o sangue. Eles estavam bem, e ele sentia isso, e isso diminuía seu ódio e não havia mais em que se agarrar quando a luz da lua o atingiu e inundou seu peito com a força do lobo.

Ele era o lobo, puro e simples em todo o seu instinto e a sua violência e ele queria morder e sentir o gosto do sangue em sua boca, não por raiva, mas pelo prazer da carne e do cheiro e do calor que um corpo dominado sob o seu poderia lhe dar.

Uma parte de seu instinto queria proteger seu pack e ele correu sozinho para a mata, uma parte queria convoca-los para partilhar do seu banquete, e algo em sua mente gritava que ele precisava parar, que ele não podia, que ele precisava de uma âncora, qualquer coisa que o trouxesse de volta, que o impedisse de matar, que o deixasse menos fera e mais... humano.

Ele precisava de sua humanidade de volta. Precisava se lembrar como era, como foi a primeira vez, há tanto tempo, antes de aprender o ódio, antes de perder a família e a casa e tudo aquilo que o fazia são enquanto a lua subia no céu e o empurrava a correr cada vez mais rápido em meio às árvores vermelhas em busca do sangue da cor dos seus olhos. Ele precisava de qualquer coisa que o devolvesse aquilo, aquilo que não tinha mais, fosse a raiva, fosse a dor, fosse aquela sensação quente e norteadora de ser simplesmente humano.

Ser humano na forma humana, na forma de pernas e braços e peito largo e plano, sem pelos, sem dentes, sem garras. De ser humano na forma de riso e palmas e olhos quentes e doces e cabelos curtos e macios e cheiro de inocência. Ele precisava de humanidade na forma de palavras e sons e gritos que tivessem sentido além da dor do momento da morte. Ele não queria matar e precisava de algo que fosse humano o bastante, humano intenso o suficiente para impedi-lo de fazer isso. Ele precisava de humanidade fluída em cheiro e gosto que não fosse de sangue, humanidade que o invadisse por todos os sentidos na forma de preocupação e consciência e saber que conseguisse atingir seu lobo de forma direta para que ele não matasse, para que ele se mantivesse são, para que ele se mantivesse humano.

Porque ele se importava com sua humanidade e não queria perde-la completamente e tudo de que ele precisava era de alguém que se importasse o suficiente, e fosse humano o suficiente para lutar por ele contra o poder da lua.

E, em meio à loucura e à inconsciência, ele lutou por isso.

o0o

- Derek. – uma voz rouca e baixa chamou, como um carinho contra seu ouvido, e foi o suficiente para despertá-lo.

Derek abriu devagar os olhos, piscando, confuso com a quantidade de luz que inundava o ambiente, cegando-o por um momento, e ele rosnou, irritado, movendo a cabeça para poder esconder o rosto e se habituar aos poucos ao ambiente. Seu nariz tocou algo quente e ele se sentiu confortável, inspirando o cheiro familiar.

- Oh. – a voz voltou a dizer, entre uma inspiração e um gemido que parecia ser de dor.

Isso soou à mente de Derek como algo com que se preocupar, havia algo errado e potencialmente uma ameaça ao seu bem estar, o que, em seu estado de semi-consciência, resultou em ele tentar manter ainda mais perto algo muito importante, algo que ele não podia soltar, não podia se afastar, porque era o que o estava mantendo confortável neste momento. Ele pressionou ainda mais o corpo que mantinha contra o seu, suas unhas afundando na carne macia, o cheiro de sangue satisfazendo seu lobo.

- AH! – a reação imediata foi um grito alto, o corpo se debatendo em seus braços. Havia dor e havia choro, ele estava fraco ou cansado ou ferido demais, e a voz que implorou em seguida era puro desespero perdido entre soluços – Derek... Por favor...

Derek piscou. Havia algo de muito errado. Ele balançou de leve a cabeça, que passou a doer ao se afastar do lugar perfeito em que havia se encaixado contra o pescoço do menino. Ele estremeceu em seus braços e fez um esforço de se afastar mais uma vez, e Derek percebeu que ele o impedia por suas garras estarem cravadas em seu corpo, uma mão mantendo um braço imóvel, outra o quadril. O garoto estava quase nu, retalhos de roupas perdidas entre os lençóis, também rasgados e sujos de sangue, e todo o seu tronco, peito e pescoço estavam marcados por hematomas e arranhões. Por um momento, Derek procurou em desespero por uma mordida, mas não havia nenhum vestígio. Ele respirou aliviado, principalmente ao reconhecer quem era a pessoa que ainda mantinha imóvel com o peso do próprio corpo.

- Stiles? – sua mente ainda estava confusa, tentando entender o que aconteceu, mas o garoto simplesmente virou o rosto contra o lençol, as lágrimas correndo sua face e seu peito balançando em soluços. Derek percebeu que ainda o estava ferindo e, de forma brusca ao se dar conta disso, puxou as garras que ainda estavam cravadas no corpo do garoto. O movimento o fez gritar, dessa vez mais alto, não sendo abafado pela proximidade de Derek – Stiles... Deus, o que que eu fiz? – os olhos do garoto se arregalaram em surpresa e confusão e Derek se afastou mais, lentamente, o que fez o menino se encolher para longe, tentando se cobrir - Stiles, fale comigo, eu...

A porta do quarto se abriu com violência, revelando a figura do xerife, que puxou imediatamente a arma do coldre ao ver a cena do filho ferido sobre a cama junto com um homem que ele reconheceu como um criminoso.

- Não, pai! – Stiles gritou ao mesmo tempo em que Derek se colocou entre ele e a arma, seu lobo ordenando que o protegesse, o membro do seu pack ameaçado, tentando desconsiderar que ele mesmo o havia ferido há apenas alguns segundos. O xerife pareceu considerar isso também porque a arma disparou uma vez atingindo sua perna, e Derek sentiu seu corpo mudar imediatamente frente à dor, ele estava rosnando quando o segundo tiro o atingiu e todo o barulho abafava os gritos de Stiles – PAI, PARA, NÃO! DEREK, NÃO! POR FAVOR, É MEU PAI, NÃO!

A mão do xerife tremia, o impedindo de continuar atirando, ao ver o lobo em garras e dentes e olhos vermelhos em clara posição de ataque à sua frente, os dois tiros parecendo nem serem sentidos, na verdade, já se fechando, nenhum traço de humanidade no rosto do monstro que se transformara à sua frente e que, pelo que via, somente não havia pulado sobre ele ainda porque seu filho o segurava pelos ombros.

- Derek... Derek... Olha para mim... Por favor... Sou eu, Stiles, DEREK! – Derek se voltou de frente para ele e a visão do garoto chorando fez com que o lobo recuasse, sua aparência voltando a ser humana, o toque quente das mãos contra seus ombros quase queimando sua pele - É meu pai! Ele não sabe... Merda! Derek! Derek!

Stiles estava chorando e estava sangrando e Derek nem percebeu os próprios ferimentos quando se levantou, puxando o lençol para envolver o corpo do garoto.

- Ele precisa de cuidados. – sua voz estava estável quando se voltou para o xerife – Vocês têm um kit médico?

O homem não respondeu, tentando somente chegar até a cama onde estava seu filho, mas Derek se colocou em frente a ele, indicando que aquilo não era uma boa ideia, seu lobo não estava pronto para ter qualquer outra pessoa tocando Stiles nesse momento, enquanto ele não tivesse certeza de que ele estava bem e seguro, e ele se esforçou para não voltar a se transformar. Em vez disso, puxou o celular do bolso e discou rapidamente.

- Scott? Eu preciso de wolfsbane e um kit de primeiros socorros aqui na casa do Stilinski. E entre em contato com Chris Argent, diga para vir para cá. Rápido.

- Tem um kit embaixo da pia do banheiro. – Stiles conseguiu falar – Pai... Você pode pegar, por favor? E um pouco de água. Derek não vai me machucar. – ele olhou com um pouco de desconfiança para o homem.

- Eu não vou te deixar sozinho com ele. – o xerife pareceu retomar a coragem, voltando a empunhar a arma apontada para Derek.

- Pai, Derek é um lobisomem, ele pode te matar e eu realmente estou tentando fazer com que isso não aconteça. Eu preciso de água, de curativos e de um tempo para falar com ele e entender o que diabos está acontecendo. Por favor?

O homem encarou Derek por mais alguns segundos, absorvendo a informação. Não foi difícil acreditar nas palavras de Stiles depois de ter visto Derek se transformar. Ele guardou a arma com movimentos lentos, como quem pesa o que está fazendo, e seguiu para o banheiro no corredor.

- O que eu te fiz? – Derek perguntou aflito assim que o homem deixou o quarto – Eu te mordi? – Stiles pareceu em pânico por um momento, Derek baixou um pouco a voz – Stiles, eu preciso saber... Eu te forcei... alguma coisa? Qualquer coisa?

- Você quebrou minha janela. – Stiles se encolheu um pouco mais, puxando o lençol para perto, mas sua voz estava carregada de raiva – Eu estava dormindo, acordei assustado, mas fiquei calmo ao ver que era você. Você estava estranho, eu achei que alguma merda tinha acontecido, que vocês estavam em perigo. Você não disse nada, me jogou na cama, rasgou minhas roupas e começou a passar as mãos pelo meu corpo e me unhar. – ele não olhava mais para Derek, sua voz hesitou um pouco em rouquidão, Derek não queria imaginar o quanto ele havia gritado – Você falava coisas que eu não entendia e se esfregava em mim. Eu... Eu pensei que...

- Eu nunca quis machucar você. – Derek afirmou, mas Stiles riu, amargo – É complicado, Stiles, mas é verdade.

- É muito difícil de acreditar nisso. – o xerife voltou para o quarto com uma caixa e uma garrafa de água, que ofereceu imediatamente a Stiles – Lobisomem ou não, senhor Hale, o senhor vai me acompanhar até a delegacia imediatamente, preso em fragrante por agressão contra meu filho.

- O que? – a voz de Scott soou assustada quando ele parou sobre a janela quebrada do quarto de Stiles – O que aconteceu aqui?

Derek analisou por um momento os três ocupantes do quarto, indo até Scott e pegando o galho de wolfsbane que trazia embrulhado em sua mão. A desfez em um pouco de água e ofereceu para Stiles.

- Tome, deve impedir que você seja contaminado, mesmo unhas e arranhões podem conter a maldição.

O silêncio se espalhou pelo quarto enquanto Stiles bebia a infusão e então havia três pessoas ansiosas, esperando explicações de Derek, que, por mais que tentasse se focar em limpar os ferimentos de Stiles, ainda sentia os olhos sobre ele, perguntando silenciosamente, aguardando a explicação.

- Eu... perdi minha âncora. – e fechou os olhos, sentindo ele mesmo o quanto aquela perda significava.

-:=:-

NA: Hey, guys.

Então, eu preciso dar um aviso sobre essa fic que talvez afaste muitos leitores, mas eu realmente acho que ele é necessário: essa fic vai ser ruim.

Tipo, não crack!fic, ruim mesmo, com problemas de ritmo e personagens mei OOC e coisa e tal. E, sim, eu estou consciente disso e estou postando a fic mesmo assim.

O fato é, faz MUITO tempo que eu não faço uma fic longa (e eu acho que essa fic nem vai ser tão longa assim, uns 4/5/6 capítulos, se muito – ou talvez eu me surpreenda), mesmo antes de eu parar de escrever nos últimos anos, eu já estava em um processo de fazer mais oneshots, drabbles e capítulos menores e mais espaçados nas minhas fics. Aí eu parei de vez por vários meses e voltei com uma fic feita de capítulos curtos e meio independentes. Essa vai ser a primeira long que eu estou escrevendo em muito tempo.

Fora isso, eu estou entrando em um fandom novo. Um fandom novo que eu ando lendo quase exclusivamente em inglês e cuja língua original é o inglês também. Uma das minhas maiores dificuldades de caracterização estão sendo a língua – as expressões, a forma de falar e agir, que eu sinto que não estou traduzindo devidamente. E isso está me frustrando um pouco, porque o meu processo criativo ainda é em português, mas quando eu leio a minha fic, ela soa... errado.

Quem conhece meu trabalho sabe que eu tenho um certo compromisso com fics – eu gosto de escrever e eu fico realmente feliz de fazer algo de qualidade, me orgulho disso. Claro que o meu conceito de qualidade mudou com o tempo, conforme eu fui amadurecendo, minha escrita amadureceu também e meu trabalho ficou melhor. Então, quando eu digo que essa fic vai ser ruim, eu prometo que não vai ser a pior coisa que você já leu na sua vida, mas ela está incoerente com os meus últimos trabalhos e com o meu nível de qualidade.

Eu estou trabalhando DEMAIS e estou cansada e eu poderia me dedicar a revisar mais e tentar resolver os problemas dessa fic e tal, mas eu sei que eu não vou ter tempo hábil para isso, e, mesmo que eu tenha, eu corro seriamente o risco de desanimar com o que eu estou fazendo e simplesmente desistir da fic. E, nesse momento em particular, eu estou feliz por simplesmente estar escrevendo.

Eu pensei muito sobre tudo isso e a minha resolução foi que eu não estou me importando muito com qualidade no momento, eu quero me divertir um pouco fazendo fanfiction, só isso. Se você é o tipo de pessoa que não se importa muito com detalhes desde que tenha uma boa história para ler, vá em frente. Se você é do tipo que não consegue ficar quieto quando vê problemas no mundo, sinto muito, mas eu estou muito sinceramente dispensando seus comentários. Eu conheço os problemas da minha escrita neste momento, só não estou com cabeça para lidar com eles.

Quem sabe um dia, eu pare, revise e reposte todos os capítulos, mais coerentes e bem feitos, como eu tenho intensão de fazer com várias das minhas fics mais antigas. Mas, nesse momento, isso é tudo o que eu posso oferecer.

Então, por favor, enjoy.