Arashi Kaminari
Ontem já não faz parte do passado. Porque todos os ontens são vultos que me assobram hoje e que pregados na parede, me perguntam sobre o amanhã. A solução é simples, mas na prática se torna complicada. Sinto que uma hora dessas, eu não vou agüentar e finalmente a hora d´eu escolher vai chegar.
Jogo a almofada que me deu sobre as outras e dou alguns passos até a janela. Sei que em breve você vai aparecer em seu carro reluzente para me levar para sair, para tentar me comprar, assim como todas as outras vezes... Será que não percebe que tudo o que desejo de você é amor?
Devo ser apenas mais um de seus jogos e devo ser desafiadora, porque você não parece querer desistir de mim. A cada barreira, a cada dificuldade de percurso, você vem com suas conversas, seus pedidos de uma nova chance, suas promessas que sempre se quebram... Pergunto-me se você já não tem todas as cenas na ponta da língua, porque me sinto uma personagem no seu teatro.
Não sei como ainda estou nessa. Cansada e abatida, estou numa batalha que já não é mais minha. Numa guerra que há tempos já está perdida.
Eu seria compreensível, mesmo que triste, se tivesse a certeza que você gosta dela. Mas minhas dúvidas não saem da cabeça. Porque acho que ela é um jogo também. Só resta saber se é melhor do que eu. Às vezes acho que sou mais desafiadora, outras acho que sou um jogo sem fim. Talvez seja por isso que você não deixa que eu me vá.
Com quantas peças seu jogo começa?
Saio para dar uma volta. Não quero te encontrar. Preciso colocar meus pensamentos em ordem e se eu ficar em casa, vou enlouquecer. Respiro fundo e suspendo minhas lágrimas. Não preciso dar um showzinho barato a desconhecidos para saber o quão desestabilizada estou. Mais a frente, um casal de mãos dadas ri alto e feliz.
Há quanto tempo não protagonizamos essa cena? Eu deveria largar você? Devia deixar tudo de lado? Porque amar a mim mesma, eu já me esqueci.
Eu sei que você não vai mudar e que contigo eu não tenho chance. Então porque eu ainda insisto? Por amor demais a você ou por amor de menos a mim mesma?
A resposta está a minha frente, saindo do seu carro, do outro lado da pista, sem nenhum dos dois sequer me notar.
Recomeçar não deve ser tão difícil... Mas me pergunto se não será tarde demais para isso...
30 de janeiro de 2007
Nota da autora:
Inspirada em "Too little, too late" da Jojo.
