Autoras: Thoru e Blanxe
Casal: 1x2
Gênero: Yaoi, Romance, Angst
Obs: A historia não seguirá fielmente os acontecimentos do anime no que se refere as guerras. E segue o aviso de que esta não é uma death-fic.
You´re Still You
Capítulo 1
Não era para ser uma missão fácil. Estavam na Terra e seguiam em direção a uma das bases inimigas. Os cientistas haviam enviado uma ordem para que conseguissem certas informações que estariam guardadas no computador central do local e destruíssem a base, com a firme consciência de que aquela se tratava de um dos mais importantes redutos da OZ e que era fortemente guardado.
A princípio chegaram a pensar que os cientistas teriam enlouquecido de vez, pois estavam se aproximando do local e, até então, não havia sinais de um ataque de proteção para aquela base. Estavam em seus respectivos gundans e cada vez se aproximando mais e mais do local que deveriam destruir.
Heero foi o primeiro a estranhar, mas foi Duo quem pulou na tela de comunicação, pronto para debochar de seu soldado perfeito.
- Essa estação parece que não está muito bem guardada, não é mesmo? – seu sorriso sarcástico já dizia tudo e irritava o japonês. – Acho que o J tá dando os primeiros sinais de caduquisse.
Heero não deu atenção ao americano, continuou a seguir pilotando o Wing. Achava que os comentários de Duo eram dispensáveis e que se ficasse de boca fechada seria bem melhor, mas não podia negar, pelo menos para si mesmo, que era apaixonado por ele mesmo assim. Duo era extremamente imprudente, seu falatório era irritante, sua necessidade constante por atenção lhe perturbavam… Duo era tudo o que ele não precisava durante aquela guerra. Mas tinha o sorriso, os olhos e aquela aura que ele emanava, que faziam com que ele, o soldado perfeito, se rendesse quando estavam juntos, apenas os dois. Apesar de todos os prós e contras que tinham, eles de alguma forma pareciam se completar. O americano com toda sua alegria e espontaneidade havia conseguido entrar em seu coração, mas não o bastante para quebrar totalmente seu treinamento e sua personalidade fria e auto-suficiente.
A voz de Trowa soou nos auto-falantes do Wing chamando sua atenção.
- Acho que nosso comitê de boas-vindas chegou.
Heero olhou para o painel do radar e notou os pontos que indicavam a aproximação de mobile dolls. Encarou a conexão de imagem que havia sido aberta por Duo e este arqueou uma das sobrancelhas, entendendo muito bem a ironia em seu olhar.
- Tudo bem, Heero. Seu cientista maluco, não está tão maluco assim. – admitiu soando derrotado, mas logo voltou a exibir seu sorriso maníaco. – Vamos brincar um pouco com essas latas velhas!
A imagem do americano sumiu do painel e, pelo visor panorâmico do cockpit, ele pode ver Deathscythe saindo da formação, ganhado velocidade a frente para antecipar-se no ataque. Novamente a palavra imprudente saltava na mente de Heero. Duo jamais aprenderia a ser responsável e, tudo o que fazia levava, como se fosse uma brincadeira.
Desta vez a voz de Wufei veio lhe alertar.
- De onde saíram tantos mobile dolls assim?
Mais uma vez visualizando o radar, Heero certificava-se que o inimigo estava mesmo disposto a não deixar que se aproximassem daquela base. Ele sabia de sua meta primordial e essa teria que ser cumprida a qualquer custo.
Abrindo canal de comunicação com todos os outros gundans ele deu a ordem.
- Duo e eu vamos entrar na base, colher as informações e implantar os explosivos, vocês conseguem criar distração suficiente?
- Sem problemas, Heero. – foi a resposta vinda de Quatre. – Tenham cuidado.
Heero nada respondeu. Apenas fez com que Wing ganhasse velocidade suficiente para alcançar Deathscythe e evitando combate direto com os mobile dolls que surgiam.
Duo combatia um dos md´s que o atacava e viu Wing passar em direção a base.
- Hey, me espera!
Assim ele acabou de destruir o empecilho com a sua foice, rapidamente tratou de seguir Heero, já que sabia que se não se apressasse, o japonês não lhe esperaria mesmo. Esse era o Heero Yui por quem se apaixonara. Com apenas quinze anos, Duo podia afirmar seus sentimentos por aquele japonês frio e insensível. Desde a primeira vez que haviam se encontrado que sentira algo diferente por Heero. Amor a primeira vista? Com certeza. Quando finalmente haviam se unido como um grupo e passaram a atuar em missões para os cientistas, Duo havia tentado de todas as formas se aproximar e ganhar as afeições de Heero. Não demorou muito para que conseguisse se tornar amigo do sério japonês e, não muito tempo depois, graças a sua ousadia natural, também conseguira se tornar amante dele. Apesar de estarem juntos, Duo ainda não conseguira descobrir os verdadeiros sentimentos de Heero, pois este sempre era reservado demais, nunca expressava ou demonstrava nada alem do necessário. Mas quando estavam juntos, sozinhos, Heero era carinhoso, apesar de jamais proclamar sentir nada além de atração física, Duo sabia que o japonês tinha sentimentos por ele, por isso, sempre fazia questão de dizer que o amava, tendo a certeza que um dia ouviria aquelas palavras dele também. Mesmo sem ter muitas indicações positivas, ele esperava que no futuro, quando as guerras acabassem, pudesse continuar ao lado de Heero. Era seu maior e único desejo.
-
Eles haviam conseguido se infiltrar na base. O alarme soou assim que invadiram. Tendo Heero lhe dando cobertura, Duo entrou no sistema e colheu as informações exigidas pelos cientistas. Logo depois, implantou seus explosivos nos principais pontos do lugar. Tiveram que se separar em certo ponto para que Duo não fosse atingido. Heero atraiu as atenções dos soldados para ele, deixando o americano livre para trabalhar. Duo era perito em explosivos e confiava totalmente nele quando se tratava daqueles assuntos.
Quando voltou a se encontrar com o amante na plataforma, onde voltariam para os seus gundans, Heero soube pelo sorriso de Duo que este havia conseguido com sucesso fazer a implantação dos explosivos.
- Essa gente precisa começar a recrutar gente mais capacitada. Já está ficando chato essa falta de desafio. – brincou Duo, enquanto corria, seguindo Heero pela plataforma.
- Cale a boca, baka! – Heero repreendeu sem olhar para trás. – Vamos sair logo daqui e finalizar essa missão.
- Missão, missão… É tão tocante esse carinho todo que você demonstra por mim. – Duo debochou rindo.
- Duo… - alertou com a voz em ameaça. Não iria tolerar aquela conversa num momento como aquele.
- Ta bom, finja que não me escutou. – disse num tom baixo.
Eles deixaram a estação em seus gundans e logo Heero abriu comunicação com os outros. Ainda havia md's atacando com tudo o que podiam.
- Conseguimos implantar as bombas. Retroagir o mais rápido possível.
- Já não era sem tempo. – Wufei comentou, já cansado de lutar contra aquelas marionetes.
- Ta reclamando, Wu? – Duo indagou ironicamente. – Da próxima vez a gente troca, você faz a infiltração e eu cuido desses brinquedinhos, o que acha?
- Eu acho que vou te picar inteiro com a minha katana e você não terá outra oportunidade de nem de detonar com md's, nem de me chamar desses apelidos idiotas de novo. – o chinês ameaçou, enquanto destruía dois md's, de uma única vez, com seu tridente.
A risada de Duo ecoou pelos intercomunicadores dos gundans e ele não se intimidou:
- Ora, Wu-babe, você teria coragem de privar o mundo dessa coisa maravilhosa chamada Duo Maxwell?
Quatre não conteve o riso, enquanto Wufei respondeu irritado.
- Eu estaria fazendo um favor ao mundo erradicando uma praga.
- Vocês dois querem parar de conversa fiada? – exigiu a voz fria de Heero. – Duo, detone os explosivos.
- É pra já, Hee-koi.
Heero contou até dez mentalmente para não replicar aquela forma como Duo o havia chamado. O americano tinha aquela mania feia de colocar apelidos em todos, alegando que era como expressava seus intensos sentimentos pelos amigos e também porque gostava de ver as reações tanto dele, quanto do amigo chinês, porque Quatre e Trowa não se importavam de serem apelidados. Duo era mesmo impossível.
- Hora do show! – Duo disse, ao mesmo tempo em que acionou o dispositivo para detonar as bombas e nada aconteceu. – Ops…
Heero não gostou nada daquele "ops" do americano.
- Que diabos aconteceu, Duo?
Ele verificou os dispositivo e descobriu o problema.
- O detonador não está funcionando. – disse, já dando meia volta com Deathscythe. – Eu vou ter que voltar e acionar o contador manual.
- O quê! Ficou louco? – Quatre abriu o modo visual para falar com o amigo. – Você não pode voltar. É muito arriscado.
- Calminha, Q. – pediu com o semblante mais despreocupado do mundo. – Não é nada demais. Estarei com vocês em dois tempos.
Heero estava tentando processar os riscos daquela atitude de Duo, ao mesmo tempo em que via Deathscythe se afastar mais e mais. Duo só teria que reentrar na base e ligar o contador do explosivo principal, apenas tempo suficiente para que ele saísse e tomasse distancia, para assim evitar o impacto do deslocamento de ar causado pela explosão. Teriam que prestar mais uma vez cobertura para que ele conseguisse, mas isso não diminuía os riscos de seu retorno a base.
- Dêem cobertura a ele. – foi a ordem que deu aos outros, mesmo que por dentro estivesse se contraindo por aquele sentimento de preocupação. – Seja rápido, Duo.
- Não vai nem dar tempo pra sentirem minha falta. – ironizou, já se aproximando da base, enquanto os outros cuidavam dos md's.
Quatre abriu uma conexão privada com o Wing e Heero logo se deu com a visão de um árabe muito contrariado.
- Heero, como você pode permitir que ele se arrisque desse jeito? – a voz de Quatre beirava a raiva, afinal, já percebera que para o japonês a missão estava acima de qualquer coisa, até mesmo de suas próprias vidas. – Essa loucura não vale a vida dele.
Heero não se importava para o que os outros pensavam dele, mas as palavras do loiro naquele momento o atingiam porque era de Duo que estavam falando. Percebia que Quatre pensava realmente que para ele não faria diferença se o americano morresse, se para isso a missão fosse concluída. O incomodava porque não era verdade.
- Eu confio nele, Quatre. Você não deveria duvidar da capacidade que ele tem. – foi tudo o que disse antes de fechar a comunicação com o árabe, não querendo aturar a metralhadora de justificativas que este jogaria bem na sua cara.
Duo não encontrou dificuldades em reentrar na base. Armado, ele atirou em quem apareceu por seu caminho até chegar ao dispositivo principal, onde rapidamente programou com o novo código e assim a contagem de cinco minutos começou a retroagir.
Trowa, mesmo não querendo demonstrar, já começava a ficar preocupado com a demora de Duo.
- Heero, você não acha que alguém deveria ir checar e ver se o Duo precisa de ajuda? – ainda lutavam com os md's que começavam a ficar em um numero menor.
Heero pensou nessa possibilidade, de ele próprio seguir para a estação e verificar Duo, mas quando iria responder ao piloto do Heavyarms, a explosão se deu e tudo pareceu parar entre eles.
Heero se angustiou, assim como os companheiros, ao ver que Duo não estava em lugar nenhum.
- Ele… o Duo… - Quatre não conseguia formular palavras, pois estava chocado demais, tentava apenas se defender dos ataques que os md's restantes ainda faziam de contra Sandrock.
Heero não podia acreditar que Duo não havia conseguido sair da base antes da detonação dos explosivos. Estava estático. O americano idiota havia mesmo dado a vida por aquela missão idiota e ele permitira?
- Olhem! – Wufei chamou.
Heero sentiu seu peito se aliviar daquela dor que começava a se apossar dele, quando viu Deathscythe deixar as chamas e a fumaça causadas pela explosão. Por um momento aquela possibilidade de ter perdido definitivamente o americano havia lhe causado sentimentos que jamais pensou que desenvolveria. E era terrível.
Desta vez foi ele quem abriu comunicação com o gundam de Duo.
- Status?
A resposta de Duo demorou a vir, mas trouxe alivio a todos quando a voz brincalhona se fez ouvida pelos intercomunicadores.
- Sentiram a minha falta, mesmo nesse espaço tão curtinho de tempo? Eu não sabia que era tão querido.
Quatre riu, deixando o nervosismo se esvair com a voz otimista do amigo.
- Baka. – Heero xingou, mas de uma forma mais amena.
- Eu também te amo, Hee-koi. – implicou, sabendo que fazia com que o amante tivesse a certeza que tudo estava bem.
- Acho que agora podemos dar o fora daqui, não é mesmo? – Wufei sugeriu.
- Vamos embora. – Heero ordenou.
Eles tinham a plena intenção de partir deixando aquele lugar o mais rápido possível. Não havia mais tantos mobile dolls quanto no principio e poderiam abandonar o campo de batalha sem ter que destruí-los, pois a missão que lhes tinha sido solicitada estava cumprida.
Foi quando a primeira explosão aconteceu, assustando os cinco pilotos.
Heero olhou ao redor e viu exatamente o que acontecia. Era perigoso permanecer ali.
- Eles estão se auto-destruindo!
Era preciso evitá-los, mas parecia que a intenção de quem quer que estivesse comandando, era tentar atingi-los de qualquer maneira que fosse e, mesmo pensando a principio que fossem poucos, naquele momento, md's se auto-destruindo se tornavam demais para quererem enfrentar. Era difícil controlarem os gundans com a confusão das sucessivas explosões e dos md's se aproximando.
Duo estava usando a foice para destruí-los, antes que se aproximassem demais e o mesmo faziam os outros com suas respectivas armas. Viu Heero destruindo alguns md's que se aproximavam com agilidade a sua dianteira e apressou-se para ajudá-lo.
Heero destruiu dois md's que lhe impediam a passagem e quando terminou escutou uma explosão vindo de trás de Wing. Imediatamente virou o gundam, vendo o resto do md que Duo acabara de destruir antes que se aproximasse por trás de Wing.
- Precisando da minha ajuda, Hee-koi?
- Duo, cuidado!
Duo virou Deathscythe rapidamente, mas não o suficiente para evitar que o mobile doll se agarrasse a frente de seu gundam e auto-detonasse. A explosão fez com que toda a máquina tremesse causando um grande dano na parte do cockpit. Duo perdeu todo o entendimento do que acontecia quando uma nova explosão, vinda da parte de trás de seu gundam, o jogou de contra o painel e fez com que batesse a cabeça violentamente. A única coisa que conseguiu registrar, foram os alarmes internos apitando de forma frenética e a voz de Heero chegando num tom que jamais escutara desde que o conhecera. Aquele tom não combinava com ele, parecia até mesmo preocupado. Sabia que ele chamava por seu nome, mas não conseguia responder. Perdeu os sentidos assim que sentiu Deathscythe colidir com algo. Tinha caído? Provavelmente. Mas porque não sentira o impacto do chão? De qualquer forma, ainda balbuciara a única coisa que lhe importava, porque de alguma forma, tinha a impressão de que não escaparia dali.
Heero assistiu atônito e impossibilitado de reagir, Duo ser atacado primeiro pela frente de Deathscythe e depois pelas costas. Ambos os md's tinham se agarrado ao gundam e se auto-destruido. Estava lutando, ainda tentando se livrar da própria ameaça e inutilmente chegar até o americano.
- Duo! Duo!
Ele chamou abrindo a conexão entre os intercomunicadores, mas nada além dos alarmes internos chegavam como resposta. Tentou abrir o visual, mas parecia que aquela parte do sistema tinha sido avariada. Os outros três pilotos também tentavam chegar, mas eram impedidos pelos mobile dolls. O gundam de Duo simplesmente caiu em queda-livre, se chocando com as águas do lago pelo qual estavam sobrevoando no momento do ataque.
- Duo, responda! Duo!
- Hee-chan…
Heero havia escutado a resposta de Duo. Muito fraca, mas havia ouvido. Tinha que tirar o gundam dele do lago e ver a extensão de seus ferimentos para poder ajudá-lo. Já não havia muitos md's. O ataque estava acabando.
Eles eliminaram o resto da ameaça que se apresentava e, antes mesmo que pudesse pensar em mergulhar Wing atrás de Deathscythe, Sandrock já se adiantara e, apenas o impacto do mergulho do gundam de Quatre, foi visto por ele.
Heero tentou fazer contato mais uma vez pelo intercomunicador, mas desta vez o aparelho estava completamente mudo. Seus chamados de nada adiantariam. Provavelmente o sistema interno de Deathscythe entrara em pane e nada deveria estar funcionando.
Junto com Wufei e Trowa, Heero pousou em terra firme no mesmo instante em que Sandrock deixou as águas do grande lago trazendo Deathscythe consigo. Não demorou para que Quatre colocasse o gundam imóvel no chão e logo deixasse apressado seu próprio cockpit, descendo de Sandrock. Levantando seus óculos de proteção, o árabe correu na direção em que os outros companheiros já se encaminhavam.
Wufei foi o primeiro a alcançar a porta do cockpit e ao tentar abri-la. Foi fácil perceber que estava emperrada. Todos ali podiam ver que até mesmo o gundanium, que era o material mais resistente que tinham naqueles dias, havia se danificado com as duas sucessivas explosões causadas pelos mobile dolls. Trowa logo arrumou uma barra de metal e usou como alavanca para forçar a abertura da porta.
Os quatro se assustaram com a quantidade de água que deixou o local. O cockpit era vedado até mesmo para o espaço, por isso, não teria como aquela água toda ter entrado ali. Certamente a avaria causada pelo ataque teria danificado mais o gundam do que imaginavam. O fato era que Duo havia ficado submerso dentro do cockpit e sabiam que havia sido por tempo suficiente para que se afogasse.
Heero tomou a frente, notando o corpo sem vida de Duo e sentiu aquela angustia mais intensa do que nunca. Ele retirou o corpo mole de dentro do cockpit e carregou-o rapidamente, deitando-o no chão. Foi grande o choque para ele encarar o rosto molhado e mortalmente pálido do americano, que tinha os lábios arroxeados. No canto de sua testa havia um corte profundo que voltava a sangrar.
Tentou se manter calmo, pensar, agir. Precisava agir. E foi o que fez.
Quatre desesperadamente chorava, rezando uma prece em seu idioma, enquanto Trowa tentava lhe passar algum conforto. Heero começou a fazer respiração boca a boca e, em seguida, as compressões cardíacas. Wufei estava ajoelhado do outro lado do corpo de Duo, observando apreensivo por qualquer indicação de que o ressucitamento surtia efeito, mas o que viu foi Heero tentando inutilmente reverter uma situação que estava concreta. Duo tinha aquele ferimento profundo na cabeça e havia ficado tempo demais submerso naquele lago, certamente inconsciente. Wufei não gostava de ser pessimista, mas não acreditava que Heero pudesse modificar aquele quadro e se pudesse, a que custo?
Heero não podia se permitir desistir. Nunca poderia falhar com Duo daquela maneira. Duo ficaria bem, tinha a convicção de que ele logo abriria os olhos e que lhe afirmaria que ficaria bem. Não podia perdê-lo. Nunca ele. Duo era tudo o que tinha.
Em sua vigorosa tentativa de trazer Duo de volta a vida, estava tão concentrado, tão empenhado, que teve um sobressalto quando sentiu a mão de Wufei segurar as suas que se posicionavam mais uma vez sobre o coração de Duo.
Ele levantou o olhar para o chinês e viu o pesar que expressava em seu semblante que sempre fora tão forte e determinado.
- Pare, Yui. Não vai adiantar.
Ele levantou o olhar e viu Quatre já aninhado no peito de Trowa, que tentava conter o próprio sofrimento para poder consolar o amante, e recebeu dele o mesmo olhar de pena. Heero então voltou a olhar para Wufei e fez uma vã negativa com a cabeça. Não era real.
- O coração dele não bate mais e ele já está sem respirar a bem mais do que os dez minutos que você está tentando o ressucitamento. – Wufei suspirou entristecido e Heero se assustou com o marejado que viu nos olhos do chinês. – Ele…
Para Wufei havia sobrado o papel de tentar fazer Heero processar a morte do amante. O chinês tinha plena noção, mesmo com o japonês se fazendo sempre de durão e frio, que Duo Maxwell significava o mundo para ele. Que quando os dois estavam juntos, Heero conseguia baixar toda sua guarda e ser apenas o adolescente de quinze anos que só tinha uma pessoa a quem tinha amor e era correspondido com a mesma intensidade.
Heero ainda parecia perdido, negando veementemente com a cabeça o que o chinês lhe falava. Era mentira. Mentira porque era impossível o Deus da Morte morrer.
- Eu sinto muito, Heero. – o chinês lamentou e Heero teve um pequeno sobressalto ao escutar chamá-lo pelo primeiro nome. Aquilo era um sinal de algo estava mesmo errado.
O japonês, com a expressão dolorida, olhou novamente para o rosto de Duo. A palidez mórbida, o rosto inclinado para o lado e os lábios levemente entreabertos. Ele poderia estar dormindo… mas no fundo a verdade lhe corroia, só não queria aceitar.
Wufei sabia que Heero não estava muito em si naquele momento e ainda tentou lhe trazer um pouco mais de razão.
- Yui, nós precisamos sair daqui. Precisamos esconder os gundans antes que sejam enviados reforços e…
Wufei imediatamente parou o que falava quando uma arma foi apontada para sua testa. Ele, assustado, arregalou os olhos e encarou diretamente as raivosas orbes azuis de Heero. Ele não parecia estar de brincadeira.
- Saiam daqui agora! – Heero ordenou pausadamente cada palavra.
Quatre virou-se para mais uma vez se dar com a visão do corpo sem vida do até então melhor amigo e sentindo uma onda de dor violenta por aquela perda. Duo era a última pessoa que imaginaria que morreria naquela guerra e isso mostrava também o quanto eram vulneráveis e nada invencíveis.
Trowa, agindo de forma sensata, fez com que Quatre o acompanhasse de volta a seus gundans, mas antes avisou:
- Não demore muito aqui, Heero. Você sabe que os reforços virão e seria uma pena ver que a morte de Duo foi realmente em vão.
Heero mais uma vez sentiu aquela dor se intensificar na menção do estado do americano e não podia mais agüentar aqueles olhares de pesar e todas as lamentações dos companheiros.
- Eu mandei irem embora! – gritou ainda apontando a arma para a cabeça do chinês.
Wufei se levantou devagar e, assim como Quatre e Trowa, seguiu para seu gundam. Heero parecia fora de si e, além de passar pelo sofrimento da perda do companheiro, ainda tinha que se preocupar com a estabilidade mental de um japonês magoado.
Assim que entrou em seu gundam, abriu comunicação com os outros.
- Tem certeza que é sábio deixá-lo sozinho? – perguntou, observando pelo visor a imagem de Heero, que havia colocado a arma no chão e agora acariciava a face do americano.
- É o sofrimento dele, Wufei. Ele precisa desse espaço, caso contrário, não vai conseguir colocar o que sente para fora. – Trowa respondeu, usando Heavyarms para pegar o gundam de Duo.
Wufei concordava com Trowa. Quatre permanecia em silêncio e sabia que provavelmente ainda chorava e lamentava a morte tão prematura de Duo. A guerra não poupava nada, nem ninguém, muito menos eles, que lutavam diretamente para acabar com ela.
Os três partiram, levando Deathscythe com eles, deixando para trás alguém que seria difícil de superar a perda e um companheiro que talvez nunca superasse.
Heero notou a partida dos outros e ainda acariciava a face fria do americano. Não havia mais vida ali. Onde estava o sorriso maroto que tanto amava? Seria loucura pedir ao Deus de Duo para que lhe devolvessem aquela pessoa que estimava tanto? Seu olhar pegou então o brilho que vinha do pescoço do americano e triste, viu que estava para fora do colar de sua vestimenta, o cordão dourado com a cruz que havia sido dada por Padre Maxwell, quando Duo ainda era um menino. O amante havia lhe contado sobre sua vida nas ruas, sobre a morte de Solo, de como fora pego roubando comida e assim enviado para os cuidados da Igreja Maxwell, onde o padre e a Irmã Helen cuidaram dele como um verdadeiro filho. Sabia também do massacre que o deixara novamente sozinho. Sozinho… era como Heero se sentia naquele momento. Sozinho e vazio, se não fosse pela existência daquela dor crescente e insuportável em seu peito.
- Aishiteru, Duo no baka… – confessou afastando a franja molhada dos olhos fechados do americano e expondo ainda mais o ferimento de sua testa.
Heero jamais dissera aquelas palavras enquanto podia tê-lo em seus braços e era irônico fazer isso justamente quando Duo não podia mais respondê-lo. Talvez estivesse tentando ganhar alguma reação que sabia que nunca viria. Era martirizante imaginar qual seria reação de Duo se pudesse ouvir sua confissão. Nunca dissera com palavras que o amava e ele se arrependia por isso. Não era uma coisa fácil para ele, que havia sido treinado para esquecer suas emoções e ser apenas uma máquina de guerra, declarar que dependia sentimentalmente de outra pessoa. Ele jamais esperava encontrar aquele americano e que este fizesse com que tudo o que fora induzido a acreditar fosse jogado por terra abaixo. Duo o fizera sentir, o fizera amar, e ali, naquele momento, perdia sua alegria junto com ele.
Heero reclinou o corpo e aproximou seus lábios dos de Duo e com os olhos fortemente cerrados o beijou levemente, num misto de carinho e tristeza. Tão frio… tão sem vida. Heero não conseguiu levantar de novo, pois começou a soluçar. Nem deu por si que se agarrara ao corpo de Duo e, com a cabeça escondida na junção de seu pescoço, chorava desesperadamente.
-
No esconderijo havia se passado três dias e nada de Heero aparecer. Quatre ainda estava abatido, enquanto Trowa e Wufei pareciam aceitar um pouco mais o fato que haviam perdido um deles, mas o que lhes preocupava era o sumiço do piloto japonês. Estavam já cogitando a idéia de entrar em contato com J para avisá-lo. Não queriam imaginar que Heero cometeria alguma loucura, mas a verdade era que não sabiam a extensão do sofrimento dele para isso.
Estavam na sala, quando Wufei tomou a decisão.
- Já chega. – pegou o laptop que estava pousado na mesa e começou a conecta-lo a rede. – Não podemos mais esperar. – ele tinha a plena intenção de fazer contato com os cientistas, mas foi interrompido com o barulho da porta se abrindo.
Juntamente com Quatre e Trowa, Wufei voltou sua atenção para a entrada da casa que servia de esconderijo para eles e deu-se diretamente com a expressão fria, desprovida de qualquer emoção de Heero Yui.
Eles ficaram a observá-lo por um momento, sem saber o que ao certo poderiam falar, até que o próprio quebrou o silêncio com sua voz apática.
- Nós temos uma missão.
Heero Yui estava de volta e a única coisa que denunciava que não era a mesma pessoa de alguns dias atrás, era a cruz de ouro que agora se via pendurada pelo cordão em seu pescoço.
Continua…
Notas:
Thoru - Gostaria de agradecer a Blanxe que me deu a chance de realizar o sonho de uma apaixonada por fics, o sonho de poder criar uma! Agradeço por ter lapidado uma idéia que surgiu, em dos meus vários surtos! Obrigada pela força, por ter me incentivado e entendido perfeitamente o que eu queria passar!
Dedico essa fic a você e a minha amiga Mokona, a pessoa que me apresentou esse mundo até então desconhecido! Valeu o apoio.
Blanxe - Primeiramente, sou eu quem tem que agradecer pela Thoru ter me procurado com essa idéia, e ter me dado a honra de desenvolve-la. Quero ressaltar aqui que a idealizadora desta fic é ela e eu sou apenas coadjuvante nessa obra, onde empresto a minha escrita e às vezes imponho uma idéia ou outra. Ah! Lembro de novo que esta não será uma death-fic!
