ATUALIZADA EM 02/07/17

NARUTO pertence a Masashi Kishimoto

A música Do I Wanna Know pretence a banda Arctic Monkeys

Do I Wanna Know

Por N. Owens

Capítulo Um:

Have you got colour in your cheeks?

Suas bochechas estão coradas?

Os olhos claros da shinobi não conseguiam acompanhar o ritmo dos ônix pela sua distração e espontaneidade naquele momento, de modo que não percebeu que ele a observava realizar seu trajeto, apesar de Sasuke o fazer de forma praticamente desinibida, porém o moreno não se importava, em sua vida atual, depois de tudo pelo qual passou, já não se incomodava com o que qualquer um pensasse, ou almejasse para si e só queria fazer o que quisesse, levando a vida em paz. O tempo de guerras, dor e loucura haviam passado, tudo o que desejava era poder ajudar no que pudesse, ainda mais por estar consciente que aquilo era desejado por Uzumaki Naruto.

Ele sempre fora um observador nato, e talvez houvesse sido essa particularidade em si que o tivesse levado até o status no qual dispunha atualmente. Naquele dia, talvez fosse um mero acaso, ele não sabia, mas enquanto a observava passar pelas movimentadas ruas de Konoha, carregando uma caixa mediana nos braços ao qual ela tomava cuidado para não derrubar e nem esbarrar nas outras pessoas, o que soava estranho demais para uma tarefa realizada por uma shinobi de alto nível, como a morena.

Naquele momento, Konoha lutava contra o tempo para ser reconstruída, e as equipes que trabalhavam em sua restauração recebiam ajuda ilimitada dele e consequentemente de seus poderosos clones, em meio à isso, ele se sentiu livre por um momento para observá-la. O Uchiha não nutria sentimento algum pela garota que passava pela rua, o que na verdade o induzia a olhá-la, era unicamente por ele a achar irritantemente interessante, visto que essa era a primogênita e futura líder do Clã Hyuuga, ao qual ele não mostrava ter empatia levando em consideração seus problemas antigos com o Clã Uchiha. Toda via, por mais privilegiada que a menina pudesse ser, ela seguia seus dias levando o que quase poderia ser considerada uma vida ordinária para alguém de seu porte social. Sua rotina era chata, seu modo de agir previsível, sua inteligência e habilidades apenas medianos, e até mesmo o corte de cabelo era irritantemente reto e sem graça. Sasuke considerava essa contradição quase uma aberração da natureza, mas o que realmente o fazia olhá-la, era um pequeno e turvo pensamento que às vezes era acolhido em sua mente.

"E se", era como ele começava.

Chuvisco.

Sentiu uma gota bater exatamente no topo de sua cabeleira escura, enquanto isso as pessoas mais atentas rapidamente haviam percebido que começara a chover e já batiam em retirada para suas casas, ou adentravam em estabelecimentos comerciais, mas ela não. Prosseguia seu caminho com passos leves, e agora, ele percebera que ela havia levado seu chakra em direção as pernas, provavelmente começaria a correr a qualquer momento, porém não era isso que ele queria. A caixa que a moça carregava parecia não possuir tampa, e os olhos claros, outrora serenos, agora se encontravam aflitos. A rua já se esvaziara, poucos se encontravam na chuva, casais apaixonados buscavam fugir dela, crianças desejavam deixa-la beijar seus corpos quentes pela adrenalina proporcionada pelas brincadeiras. A morena utilizara de sua agilidade e parara rapidamente do outro lado da rua, embaixo de uma alta e antiga árvore, em um pedaço mais afastado e de menor visibilidade. Sasuke moveu-se alguns metros para poder vê-la melhor.

Chuva.

Hinata tirando o casaco grosso, o utilizava para sobrepor a caixa e protegê-la dos grossos pingos. O moreno continuava se aproximando, estava curioso com o que ela levava, mas não foi com seu conteúdo que ele se surpreendeu, já que naquele dia Sasuke descobriu que a Hyuuga possuía um belo corpo, o que não era do feitio dele se interessar, mas não sabia que ela possuía tanto a esconder. Agora que usava apenas a blusa de rede comumente conhecida no mundo ninja, tornou a pegar a caixa em seus braços e observou o céu atentamente, enquanto a olhava, Sasuke quase conseguiu ouvir um sussurro de seus pensamentos, desejando que o cé abrisse para que pudesse seguir seu caminho. As mãos nos bolsos, a expressão séria e o olhar obstinado – que Hinata não sabia, mas era também seu olhar curioso – fizeram a herdeira Hyuuga parar seus pensamentos e olhá-lo, enquanto se aproximava calmamente, deixando-se ser tocado pelas gotas frias, mas seus olhos não iam de encontro aos dele, era tímida demais para tal.

- Uchiha-san. – Ela falou, visivelmente nervosa por estar sem seu casaco de frio padrão.

- Hyuuga. – Sasuke devolveu o cumprimento, com seu modo meio ríspido. – O que tem na caixa? – Não aguentou-se. Quando percebera já havia soltado a pergunta.

- Ah!– Ela soltou. Tornou a olhar Sasuke na altura dos ombros, e escasseou a distância entre eles aproximando-se da caixa, olhou para ele com certo receio que não passava de mera falta de tato social e fez um sinal com a mão para que ele chegasse mais perto, que acabou também abaixado ao lado dela. – Olhe.

O jovem portador do sharingan tocou o tecido do casaco de Hinata e naquele breve momento, pode perceber que este, ao contrário do que imaginava, era muito leve. Ergue-o e revelou-se um filhote de gato. Ele era muito negro, e dormia.

- Eu o achei dentro de uma sacola. – Disse, dentro de sua voz era possível identificar um tom de amargura. Ele achou interessante que naquele momento atual da cidade, ela fosse capaz de perder tempo que deveria ser gasto nas suas atividade em prol da reconstrução de Konoha para amparar um gato sem dono.

- O que vai fazer com ele? – Perguntou. Ela enfiou a mão na caixa e alisou o pelo ralo do felino, que acordara e se mexia devagar. Sasuke achou-o muito pequeno e seu pelo espetado parecia duro. O gatinho olhou para os lados com seus olhos amarelos caramelados, em busca de algo e dera de cara com o Uchiha, este o encarava e inconscientemente, arriscou-se a tocá-lo, o pequenino não se movera e apenas aguardou o contato com o detentor de dois dos três grandes doujutsus do mundo ninja, que sentiu o pelo que era pouco e ralo, porém suave e macio, imediatamente sentiu um dejavú dos tempos em que brincava com Itachi de apanhar gatos, aquilo fazia seu coração amolecer.

Hinata sorriu.

- Quer ficar com ele? – Ela perguntou.

Quando mais novo, costumava gostar muito de gatos, eles viravam até tema para jogos e desafios entre ele e Itachi, onde possuíam a Enciclopédia da Pata, e lembrou-se de Nekomata dando orelhas de gato a ele e seus colegas de time.

- Sim. – Sasuke respondeu, mais por impulso que por vontade própria. Olhou para Hinata e ela sorria, com o gatinho enrolado em uma bola em seu colo.

- Que bom, Uchiha-san. – Ela suspirou, por mais que achasse que Sasuke viria com um sonoro "Não" para ela, estava feliz por ter encontrado um lar para o pequeno bichano.

- Então vamos, Hyuuga. – Falou. Devolvera o preto a caixa, pegou-a no colo e ergueu-se. Hinata ficara no chão, olhando-o. – Vamos nos molhar. – Ela pareceu assentir por um momento, mas olhou para o Uchiha, num pedido mudo para que a deixasse carregar a caixa.

- Eu levo. – Disse sério. Ela não questionou e não pediu o casaco de volta, e passaram a caminhar lado a lado.

O sobrevivente sugeriu que passassem em sua casa primeiro, pois esta era mais próxima, e estava ficando muito frio, a morena concordou. Sem que percebesse Sasuke vendo-a se arrepiar toda, pensou que a daria seu casaco se estivesse com ele, mas não deixou de observar com seus olhos atentos o quanto as curvas daquela moça eram bonitas. Ele não era o tipo que ficava dando em cima de garotas, por mais atraentes que estas fossem, e ele sabia que reconstruir o clã não era algo que ele realmente almejasse, já que seu passado obscuro e sangrento estava de lado naquele momento, em seu íntimo ele só queria honrar sua amizade com Naruto e deixar o loiro orgulhoso de si, por mais que nunca fosse dizer aquilo abertamente a ninguém. Esse também era o motivo de nunca ter aceitado os sentimentos da Haruno para consigo, o Uchiha já havia chegado a almejar um relacionamento com a rosácea, mas outrora seus motivos eram sujos e não regidos por afeto, ele apenas desejava uma mulher fértil e forte que pudesse dar à luz sua prole, mas após o fim da guerra e seu entendimento com o Uzumaki, ele queria realmente saber o que era se apaixonar, e procurara no fundo de seu coração sentimentos que não fossem fraternos pela colega de time, mas sua busca acabara dando em nada, ele sequer a achava verdadeiramente atraente, via Sakura como uma verdadeira irmã, assim como via Naruto, além de saber que este nutria sentimentos fortíssimos pela amiga.

O silencio não era incomodo para nenhum deles, mas um conforto para suas almas. Cada um seguia em frente com seus próprios pensamentos.

Hinata nunca tinha passado pelo bairro Uchiha, até aquele momento. Achou que a arquitetura era muito rica, e ao mesmo tempo simplória. As pinturas claras destacavam ainda mais os detalhes feitos a partir das cores fortes do clã de Sasuke, e ela percebera que olhando de longe, tudo parecia direto e simples, mas após chegarem próximos, a riqueza em detalhes era revelada a seus observadores. Arquitetura e paisagismo realmente poderiam ser um das habilidades e passamentos preferidos dos falecidos membros daquele clã.

Por hora, o herdeiro Uchiha percebera que os olhos claríssimos da moça se alastraram sob o bairro de sua família, e que observavam com atenção os detalhes, como se quisesse gravá-los em sua mente.

- "Ela tem bons olhos." – Pensou. Por acaso, lembrou-se de quando viera com Naruto e Sakura. O loiro falava muito sobre trivialidades, enquanto Sakura não parava de olhá-lo, imersa em pensamentos internos. Somente depois de algumas visitas ela parecera perceber os detalhes, tão amados por Sasuke.

- É a primeira vez que vem aqui? – Quis saber.

- S-sim, Uchiha-san. – Hinata respondeu, sem olhá-lo.

- Nunca teve curiosidade?

- Sempre pensei que os donos dessas terras não iam querer que eu ficasse aqui. – Ainda sem olhá-lo, mas Sasuke olhou-a pelo canto do olho.

O Uchiha vivia na casa principal, que era certamente a maior construção do bairro, e de certo a única que não estava debilitada a ponto de não poder ser habitada. Ao chegarem a porta, viu Hinata parar antes de subir os poucos degraus, como se não soubesse se podia entrar. Sasuke os subiu, colocou a caixa no chão, tirou suas sandálias colocando-as num canto, pegou a caixa novamente e entrou sem dizer nada a Hyuuga, que ficou em pé na porta, aguardando o carrancudo shinobi, que após um curto momento, voltara com algo nas mãos.

- Entre. – disse enquanto estendia uma toalha branca a Hinata, que estava encharcada. Ele a acharia tola por não ir entrando embaixo da cobertura que aquela casa oferecia, mas os olhos dela demonstravam algo que nem mesmo Sasuke poderia chamar de tolice: respeito. Ela nunca fora ao bairro por respeito, talvez até mesmo à ele.

Encharcada a jovem achou melhor pegar a toalha de bom grado, agradeceu mentalmente por Sasuke não deixa-la lá fora. Secou os braços e o dorso da melhor forma que pôde, jogou a toalha sobre os ombros e tirou as sandálias ninja, colocando-as ao lado das de Sasuke, que já havia entrado novamente. Visivelmente acanhada, a Hyuuga soltou um baixo "Com licença", e adentrou as mediações. O lugar era simples e limpo. Haviam alguns ornamentos, mas era uma casa tipicamente oriental e muito grande para que somente uma pessoa vivesse nela.

Hinata se perguntou se ele não se sentia só.

Assim como no começo da chuva, naquele dia, Sasuke estava observando-a vasculhar sua casa com os grandes olhos cristalinos. Ela não parecia assustada por estar ali, somente devia estar constrangida, ele imaginava. Deixou seus pensamentos de lado, aproximou-se da moça e silenciosamente a conduziu para ir a cozinha, ela o seguiu sem dizer nada.

- Sente-se. – Sasuke disse. A jovem obedeceu a ordem e sentou-se à mesa, podia ver o moreno colocando água e leite para esquentar, e novamente saindo para buscar alguma coisa. Nesse meio tempo, ela pode perceber duas coisas: primeiro, Uchiha Sasuke era organizado, e segundo, ele era solitário. Como aquele homem poderia viver sozinho em um lugar enorme daqueles? Hinata sabia do ocorrido com o clã Uchiha. Será que as lembranças não o atormentavam? Ela se levantou e seguiu até um porta retrato pequeno e simples que ficava depositado encima da geladeira. Irmãos e gatos.

- Acho que não se molhou. – A voz rouca parecia vinda do além. A caixa nos braços. As roupas trocadas e cabelos molhados.

Hinata sorriu pela afirmação, mas sem esquecer-se completamente de seus pensamentos anteriores. Uchiha Sasuke era um bom observador. O que tinha de diferente daquele sorriso, para os outros?

- O que foi? – Perguntou, sem rodeios. Atualmente seus clones estavam trabalhando arduamente na reconstrução da aldeia, e ele se deu ao luxo de ser uma pessoa normal, sem mundo ninja para interferir.

A herdeira assustou-se com a pergunta e obrigou-se a olhá-lo, bem dentro dos olhos perigosos e bicolores dele.

- U-uchiha-san – Ela começou, a gagueira seguindo-a, dando-a um ar infantil, tola e frágil. – V-você não se sente solitário?

Sasuke não respondeu, ele olhou para ela, com seu cabelo muito longo, as mãos finas, o rosto bonito e delicado. Não era assim tão sem graça quanto parecia, quando a vida de longe. E tão recantada que não o azucrinou por uma resposta, ela sabia que havia falado mais do que deveria, e que era talvez, um milagre ele não a ter chamado de intrometida e mandado-a embora de sua casa. Ele ainda era Uchiha Sasuke, afinal.

Terminara de arrumar o leite em um tigelinha e o filhote bebia com voracidade, meio barulhento. O cabelo da shinobi já secara, mas estava meio embolado pelo jeito que o havia feito.

Hinata também não se atreveu a falar.

Beberam o chá oferecido pelo anfitrião da casa, ele havia lhe oferecido o comum chá verde, conhecido como bom antioxidante, Hinata gostara do sabor e da folhinha de hortelã que Sasuke deixou boiando na xícara, por não ter um chá de melhor qualidade consigo, foi o que ele pôde fazer para dar-lhe um toque de casa.

O tempo corria, eventualmente se encaravam e fingiam não perceber isso, aproveitavam para continuar imersos em pensamentos, ela se sentia estranha estando ali, pois tudo parecia muito casual, mas a própria sabia que não possuía aptidão com os rapazes, e não lhe restava dúvidas se o belo moreno estava com segundas intenções sobre si, e a resposta lhe era categórica: não, logo não havia nada com o que se preocupar, nem segundas intenções a serem vistas, ela estava apenas sentada com Sasuke, e ele era amigo de Naurto, além de ter voltado para a vila e estar dando duro com seu trabalho nas equipes de reconstrução de konoha, em contrapartida, ele se deixava levar pela curiosidade em relação as pessoas, seus sentimentos e a casualidade, o Uchiha queria poder ter aquilo que lhe foi tomado pela guerra e a vingança, ele desejava ser uma pessoa normal e ver, sentir e ouvir tudo aquilo que havia perdido.

Depois de terminado o chá, ambos já se sentiam mais quentes e dispostos, a chuva parecia ter passado. O moreno recolhera as xícaras e Hinata podia observar pela forma que ele mexia em tudo, que tinha certa familiaridade com a cozinha e provavelmente saberia cozinhar.

- Você não se sente solitária? – O silencio fora quebrado por ele, de repente. Seus pensamentos pairavam sob a pergunta da garota, desde que esta o havia feito.

- À-às vezes sim, Uchiha-san. – Ela fixava seus olhos no símbolo do clã quase extinto que ele carregava nas costas, ela achava leques bonitos e tinha uma sensação refrescante quando os via. A mãe possuía um monopólio de leques, ao qual usava com frequência nos dias de calor, e eles eram um mais belo que o outro.

- E o que você faz quando se sente assim? – Enxugou uma xícara. A Hyuuga pareceu pensar.

- Eu penso nas coisas que gosto. – Ela ergueu-se com a toalha que ele lhe emprestara, o moreno perguntou-se por um momento se ela pensava no loiro barulhento. – Muito obrigada pelo chá, Uchiha-san. Eu irei lavá-la e a devolverei. – Referia-se a toalha. – Sin- sinto muito pelo incomodo! – Ela disse, voltando a gaguejar.

- Não se preocupe. – Simplista, ele estava contente pela tarde casual com uma garota em sua casa, sentia que era isso que pessoas normais faziam: recebiam visitas, apesar de que não pretendia fazer sua residência de ponto de encontro, o caso da morena havia sido um caso isolado motivado apenas por curiosidade, não havia nenhum sentimento que lhe dissesse respeito. Ele a acompanhou até a porta e observou enquanto ela calçava as sandálias ninja.

- Obrigada por tudo, Uchiha-san. – Ela fizera uma leve reverência.

- Quando eu sentir-me só, espero vê-la. – Sasuke disse mais para si que para ela, e viu a pele alva de Hinata tornar-se rubra, o embaraço era visível. – Suas bochechas estão coradas. – Seus pensamentos soaram altos aos ouvidos dela.

Notas:

Desculpe, mas a betagem não foi feita.