Prólogo
Inglaterra – Junho de 1878.
O céu estava escuro, encoberto por nuvens espessas e cinzentas, prevendo uma tempestade que viria no final daquele dia. Era final da tarde e um jovem alto para a sua idade, de cabelos cor de palha, entregava o último pacote a uma senhora. Ela apressou-se em sair da loja, após ouvir os trovões que anunciavam uma tempestade. Dois rapazes, um louro e outro moreno, apressaram-se em fechar o estabelecimento e deixar o local; os trovões tornavam-se mais constantes e uma garoa fina, acompanhada de um vento irritante que esvoaçava os vestidos de algumas criadas e mulheres que estavam na rua, tomaram o local.
O rapaz louro carregava uma pesada cesta com suprimentos que sua mãe lhe pedira. Após algumas quadras de caminhada, a garoa fina tornou-se mais constante e espessa; o céu estava negro, era impossível distinguir se as nuvens negras eram de fumaça das fábricas ou de uma longa tempestade que atravessaria a noite. O jovem louro passou a correr, suas vestes ficaram encharcadas e sujas de lama. Ele lutava para respirar enquanto corria e carregava o pacote pesado. Outros também corriam esbaforidos para todos os lados, tentando fugir da chuva que chegava rapidamente. Os comerciantes fechavam seus armazéns. Algumas senhoritas arrastavam seus vestidos de algodão pela lama, sem se importar com a sujeira ou com os ratos em que tropeçavam. Alguns indigentes, pobres e famintos esgueiravam-se nos becos, a procura de um lugar quente para se aquecer; e o jovem continuava ora correndo, ora caminhando apressadamente, através dos becos, indo em direção à periferia. Seu nome era Matthew Donovan, o mesmo de seu pai; ele tinha cabelos cor de palha, olhos castanhos e a pele era pálida como a lua, embora naquele dia ele estivesse coberto de fuligem e lama; mas mesmo sua sujeira não impedia que prostitutas se atirassem e se esfregassem nele, afim de obter uma miserável quantia. "Elas são odiosas", ele pensou quando finalmente saía de um dos muitos becos onde as mulheres da vida ficavam.
Aquela sombria cidade era Londres, abarrotada de residências que cresciam próximo às fábricas; umas eram miseráveis e outras nem tanto; alguns senhores mais abastados possuíam moradias mais distantes, dispunham de serviçais, móveis requintados e vestes elegantes. O pai de Matt Donovan era um homem de meia idade, honesto, cujo armazém havia herdado do pai e, com a mesma honestidade, continuara seu negócio. Com algum esforço, ele pôde contratar um jovem para trabalhar junto a seu filho, quando ele próprio não pudesse estar presente.
– Matt, você demorou.
– Desculpe-me. A chuva pegou-me desprevenido e o Sr. Stanley tinha um pedido grande. – Matthew Donovan colocou a cesta sobre uma mesa de madeira simples, quando entrou numa residência pouco mais afastada da cidade.
– Você andou pelos becos de novo, não foi? Aquele lugar não é para você, Matthew. – Sua mãe ralhou. – Vá tirar essas roupas sujas e fique apresentável, o jantar será servido em breve.
– Sim, senhora. – Ele assentiu.
– A propósito, chegarão vestes novas para você. Algumas camisas, calças e casacas.
– Como? Temo pela senhora quando vai à fábrica, minha mãe. Lá não é um ambiente para uma dama como a senhorita. – Ele beijou a mão de sua mãe.
– Seu galanteador. – Ela brincou. – O marido da Senhora Bennett sempre lhe consegue bons tecidos. Eu lhe dei alguns pães que assei pela manhã e ela me deu muitos tecidos. Vou levá-los à costureira amanhã pela manhã.
– Menos mal. – O garoto aproximou-se do fogão a lenha e esfregou suas mãos. – E o Sr. Bennett, como vai? Acho muito gentil da parte dele nos dar tecidos.
– Ele vai bem. E você vai adoecer se ficar encharcado dessa maneira. – Susan ralhou novamente.
A residência da família Donovan não era uma residência de luxo, mas permitia que a família pudesse desfrutar de alguns confortos que a sociedade lhes dava, como os bailes oferecidos por diversas famílias mais abastadas da época. Kelly era a senhora da casa, bela, de cabelos cor de louro como fios de ouro e olhos castanhos cintilantes. Ela trajava um belo vestido longo, de cor escura e um avental por cima. Naquela tarde havia preparado um bolo de milho que aprendera com sua mãe e terminava o jantar com a ajuda de uma criada. Kelly Donovan era uma cozinheira de mão cheia, muito admirada pelas senhoras da sociedade que, depois do primeiro jantar em sua residência, quando apresentaram seu filho à sociedade, todas as senhoras de seu circulo social passaram a comprar os bolos e pães que Kelly fazia. Além de boa cozinheira, era uma esposa adorável, que amava seu marido e cuidava muito bem da casa e de seu filho.
Um criado despejou dois baldes grandes de água fervente, na banheira de cobre. Matt Donovan despiu-se e deixou a água morna acalmar os nervos e levar a sujeira embora. Ele sentia-se exausto; havia entregado algumas encomendas para o senhor seu pai e, como se não bastasse, ainda ficou responsável pelo armazém pelo restante do dia. Era difícil, mas ele era filho único e assim que tivera idade suficiente para entender de certas coisas, foi levado pelo pai, para que aprendesse o ofício e ajudasse nas vendas. E, nos dias em que seu pai tinha de tratar de negócios que ele ainda não entendia, ou não podia entender, ele trabalhava o dobro, pois seu pai lhe dissera que ele deveria tomar conta das entradas e saídas, nunca o criado. Mas Matthew, em sua inocência nunca entendera porque seu pai tratava o criado Shane daquela maneira, para ele, Shane, o rapaz com quatro anos a mais que ele, era um de seus melhores amigos, mas para o próprio Shane, essa amizade não poderia ir muito a diante.
Matt quase adormeceu na banheira, seus pés, pernas e braços relaxaram e a água fez com que a dor fosse parcialmente embora. Todas as vezes que ele voltava sozinho, ele corria e percorria os becos, era mais fácil e rápido, embora sua mãe o reprovasse, alegando que ele poderia ficar doente ao andar muito perto de gentalhas. Mas Matthew não se importava e também não se importou muito com a água que agora estava fria, mas mesmo assim saiu. Ele vestiu uma calça cáqui, camisa de algodão simples e um par de sapatos de couro. Sua mãe detestava que ele participasse dos jantares desarrumado.
Na sala de jantar, apenas três lugares estavam arrumados na mesa onde cabiam oito convidados. Os talheres usuais eram mais simples, os de prata eram para ocasiões formais e sempre deviam ser polidos antes de serem usados. A mesa era de madeira escura, a direita ficava uma cristaleira com as taças e peças que se usava apenas em jantares importantes. As paredes eram repletas de pinturas da família e o centro da mesa ganhava dois grandes castiçais de prata e um lindo e colorido arranjo de flores. Kelly sentou-se na cadeira que ficava à ponta da mesa, seu filho sentou-se a frente, pois a cadeira na cabeceira era destinada ao chefe da família.
– Agora sim este é um rapaz apresentável. – Ela comentou enquanto uma criada lhe servia um pouco de comida.
– Meus braços doem. E minhas pernas. Acredito que um dia eu me acostume.
– Vai se acostumar querido. Como está a loja? Está fazendo tudo o que seu pai lhe pediu?
– Sim, exatamente como ele pediu. – O menino concordou. – E, falando no senhor meu pai, ele está se demorando.
– Ele vai chegar. Não se preocupe.
Já estava ficando tarde, o vento continuava furioso contra as árvores e a chuva tornou-se mais constante e violenta. Raios e trovões caíam sobre a cidade de Londres; algumas famílias recolhiam-se aos seus aposentos e crianças choravam assustadas no colo de suas mães. O vento uivava, balançava e derrubava pequenas árvores, arrastava objetos deixados sob o tempo ruim; mais distante, nos campos onde agora residiam pouquíssimas famílias, a chuva enchia os córregos e inundava campos. Aquelas tempestades eram um sinal de aviso. Os camponeses deveriam estocar e produzir o quanto pudessem, ou então, quando os meses em que as chuvas eram mais constantes chegassem, não haveria alimento.
A noite era a mais assustadora, e mesmo assustando até os homens mais fortes, ainda restavam alguns que insistiam em enfrentar aquela força da natureza. Um homem andava devagar, com uma das mãos na altura dos olhos e a outra tateando a parede em busca de um apoio. Ele parou por alguns instantes, curvando-se, gemendo e tossindo. Talvez parar para tomar uma boa dose de um uísque não tivesse sido uma excelente ideia, porque elas deixaram de ser apenas uma e tornaram-se várias, e algumas damas começaram a lhe assediar, aproveitando-se de sua situação. Ele realmente hesitou quando viu uma linda dama em trajes ousados sentar-se ao seu lado, mas a lembrança da bela Kelly, de sua pele clara e macia, de sua devoção por ele próprio e por seu filho, lhe fizera recuar. A cortesã fez uma careta e tentou a sorte com o homem novamente, mas mesmo sob efeito do uísque, ele recusou, levantou-se bruscamente e empurrou-a.
– O que pensa que está fazendo? – A cortesã desferiu-lhe um tapa num lado da face.
Matthew perdeu o rumo e a paciência. Um fervor subiu-lhe às bochechas e suas mãos tremeram. Quem era aquela audaciosa mulher da vida? Ele não iria trair sua amada Kelly, ele havia aprendido a amá-la e ninguém seria como ela. O senhor Donovan perdeu a linha de raciocínio e quando se deu por conta, seus dedos estavam fechados em torno do pescoço fino da cortesã mesquinha. Porém, antes que pudesse pensar racionalmente, alguém lhe desferiu um golpe certeiro em seu maxilar, fazendo-o recuar, cambalear e quase perder a consciência. Usando o pouco de consciência e força que lhe restava, ele jogou algumas moedas no chão do lugar e saiu, aos tropeços, pela rua a fora, enfrentando a chuva torrencial.
Um outro homem deixou o estabelecimento. Ele vestiu sua capa e saiu porta afora, sem importar-se com a chuva forte. Parecia não lhe incomodar. Ele estalou os dedos e ficou observando o senhor Donovan seguir rua acima, tateando as paredes e parando para tossir.
Após uma longa, temerosa e tempestuosa noite, e pouco antes da primeira hora da manhã, quando somente os criados estavam acordados, descobriu-se certo alvoroço nas ruas próximas ao rio naquela manhã. Os criados não sabiam do que se tratavam, ou por que o Inspetor da Scotland Yard andava pelo local, provavelmente mais algum indigente havia se jogado no rio, alguns pensavam. O inspetor Forbes, após verificar a identidade do indivíduo encontrado na vala ao lado do rio, suspirou pesadamente.
– Uma manhã negra. – Ele disse baixo, próximo ao seu subordinado. – Me acompanhe.
Uma carruagem negra, com o inspetor e seu assistente, percorreu rapidamente as ruas da periferia e seguiu primeiro rumo ao centro de Londres, e depois rumo às residências mais afastadas. Os cavalos negros, de pelos reluzentes, batiam seus cascos rapidamente ao comando do cocheiro na direção indicada.
O inspetor saltou da carruagem, percorreu o caminho entre as flores e parou frente à porta de entrada de uma residência. Insistentemente ele bateu na porta, usando o arco de ferro. Uma, duas, uma, duas, e uma e duas vezes novamente, até que algum criado finalmente atendesse à porta.
– Meu senhor Inspetor, o que deseja?
– Chame sua senhora, rápido! – Ele disse rispidamente a criada.
A criada ergueu o vestido de algodão levemente e subiu as escadas correndo, esbaforida. "Só pode ser coisa ruim.", pensou enquanto tentava respirar e não entrar aos gritos no quarto de sua senhora. Ela percorreu o corredor até o final, estacou ao se deparar com uma porta de madeira escura, com entalhes, onde dormia a senhora Kelly.
– Minha senhora, desculpe-me acordá-la. – A criada pousou levemente a mão sobre o ombro descoberto de Kelly Donovan, que se remexeu um pouco e logo despertou. – Senhora. O Inspetor da Scotland Yard está a sua espera no hall.
– Pegue meu robe. – Kelly levantou-se e passou um pente largo nos cabelos.
– Aqui. – A criada abriu o robe e ajudou sua senhora a vesti-lo.
Sem hesitar, Kelly desceu as escadas rapidamente, com sua criada ao seu encalço. Ela temia pela presença do inspetor em sua casa, temia pela notícia que ele lhe daria, mas embora não quisesse admitir, ela tinha a forte impressão de que ele iria lhe falar sobre seu marido.
O inspetor esperava próximo a porta, segurando seu chapéu junto ao peito e com uma expressão nada reconfortante. Quando viu a Senhora Donovan, ele fez uma reverência curta, endireitou-se e pigarreou.
– Senhora Donovan, sinto muito em lhe informar... Mas encontramos o corpo do senhor seu marido próximo ao rio.
– Não creio... – Ela disse baixo, levou uma das mãos aos lábios, incrédula com o que acabara de ouvir. O que seu marido havia feito para acabar jazendo sem vida numa vala qualquer? Que mal Matthew causara?
– Sinto muito, senhora. – O Inspetor disse novamente.
– O que... O que matou meu marido? – Ela perguntou baixo, mal conseguindo pronunciar as palavras. – Abigail, vá...
– Acordar o senhorzinho. – Ela assentiu, já sabendo o que deveria fazer. – Com licença.
– Ainda não sabemos o que o matou senhora. Nós o encontramos há cerca de uma hora e um médico irá dizer o que o matou em poucos minutos. – O Inspetor dissera. – Não vou dizer a senhora que me acompanhe, porque não é um ambiente que uma dama deva estar. Mas posso lhe adiantar que, infelizmente, o Senhor Donovan foi alvo de algum assassino.
– Por Deus, quem faria tal atrocidade!
– Mãe! – Matthew Donovan, o filho, desceu as escadas correndo, quase tropeçando em seus próprios pés e correu para os braços da mãe. – Abigail me contou. Eu é que devia ter ido entregar a encomenda!
– Não diga asneiras! Temos que ser fortes agora, e preciso que você seja forte. – Kelly disse carinhosamente, enxugando as lágrimas do filho.
– Jovem senhor Donovan, sinto muito pela sua perda. Eu conhecia o senhor seu pai e o considerava deveras. Se precisarem de qualquer coisa, não hesitem em me chamar. – O Inspetor disse solene. – Vou voltar ao meu serviço e, mais tarde, lhes trarei notícias.
– Inspetor, vai procurar quem fez isso com o meu pai? – Matt perguntou-lhe.
– Sim, o farei. Até breve.
Quando a criada fechou a porta, Kelly desatou a chorar. Não imaginava que fosse sentir o peso da morte assombrar-lhe tão cedo. Matthew era forte como um cavalo, só bebia socialmente, trabalhava duro e detestava frequentar os bailes da sociedade. E mesmo assim morrera tragicamente. Kelly não conseguia imaginar tragédia maior que ver seu filho crescer sem um pai, e pior ainda, sem saber o que havia tirado a vida de seu ídolo.
Matt abraçou a mãe, foi junto com ela para o quarto e tentou acalmá-la. Pediu que Abigail fizesse um chá calmante e ficasse com ela. Ele tinha que cuidar dela agora, era o único homem da casa, e teria de aprender sozinho como cuidar de tudo. Ele se perguntou o que deveria ser feito naquele momento, então se lembrou de que precisaria avisar alguém, pois ele não sabia como tratar de falecimentos na família. Assim, pediu ao criado que avisasse sua mãe que ele havia saído. Então pegou sua casaca escura, o chapéu e pediu ao cocheiro que o levasse para tratar de alguns assuntos.
Kelly não se surpreendeu ao saber que seu filho havia saído, ora Matt era a versão mais jovem de seu marido. O jovem senhor foi à residência da confidente de sua mãe, a senhora Bennett; lá, contou-lhe sobre o que acontecera. A senhora ficara chocada e, imediatamente, contou ao senhor seu marido o fato daquela manhã. Condescendente, o Sr. Paul Bennett dissera ao jovem Donovan que iam cuidar de sua mãe e dos preparativos para o funeral. O jovem agradeceu e encaminhou-se rapidamente para o armazém.
– Shane! Não vamos abrir hoje. – O menino disse ao rapaz. – Meu pai...
– Meus pêsames, Matt. – O criado respondeu sentido. – O que posso fazer para ajudá-lo? Deve estar ocupado com tudo.
– Só feche o armazém. Velaremos por meu pai essa noite.
– Sim, senhor.
Matt subiu para o escritório onde seu pai guardava os papéis com os nomes dos clientes. Remexeu, remexeu e remexeu até encontrar o que lhe interessava. O endereço e nome do contador. Ele precisava ser informado do falecimento. E Matthew, ao contrário do que seu pai sempre lhe dissera, deixou que Shane fechasse o armazém e, somente com a companhia silenciosa do cocheiro, um senhor que aparentava ter seus quarenta ou cinquenta anos, seguiu para o endereço. Ele não conhecia o contador, porque aqueles assuntos eram pertinentes a adultos e ele ainda não tinha idade.
– Jovem Matt, o que faz aqui esta manhã? Achei que o senhor seu pai viria aqui para tratarmos de assuntos. – O homem que lhe atendera no hall de sua casa estranhou a visita do filho de seu cliente. – Chamo-me Charlie Swan, creio que o senhor não me conheça, mas eu o conheço.
– Sinto muito senhor Swan, mas tenho que dar-lhe uma notícia deveras desagradável. – O menino suspirou. Já dizia mecanicamente, pois havia dito isso há mais três ou quatro pessoas que encontrara pela rua. – O senhor meu pai faleceu. Foi encontrado próximo ao rio. Ainda não sabemos o que o matou.
– Santo Deus! – Charlie exclamou alto.
– Papai? O senhor gritou. Está machucado? – Uma voz de criança, inocente e doce, ecoou até os ouvidos de John e flutuou até o fundo de sua alma.
Automaticamente ele virou a cabeça para olhar de quem era aquela voz tão ingênua e que lhe fizera questionar o que sentia naquele momento. Ele não sabia o que era, não sabia se era certo porque ele deveria estar triste e tremendamente abalado pelo repentino falecimento de seu pai, todavia, aquela voz lhe passava uma calma sem precedentes. Os olhos de Matthew brilharam quando pousaram na figura ingênua da filha do contador.
– Oh, minha querida, não estou machucado. Estou muito triste. Meu melhor amigo foi levado pelos anjos de Deus. – Charlie disse carinhosamente para a filha. – Matthew, esta é minha doce Isabella.
Isabella era a filha mais nova de Charlie e Renée Swan; tinha dez anos e prometia ser de uma beleza ímpar, pois sua pele era pálida, com leve tom róseo nas bochechas e sardas delicadas no rosto. Os olhos eram castanhos, e seu rosto era emoldurado por cabelos ondulados, num lindo tom avermelhado. A menina segurou o vestido com as duas mãos e fez uma reverência delicada. Matthew, cavalheiro como era, beijou uma das mãos da jovem e contemplou o sorriso brilhante dela.
– Muito prazer, senhor Matthew. – A menina disse sorrindo.
– O prazer é todo meu, senhorita Swan.
– Vejo que Isabella ganhou um amigo. – Isabella sorriu. – Vá ficar com sua mãe, senhor Matt, cuidarei dos negócios de meu amigo e lhe ajudarei no que puder.
– Muito obrigado, senhor Swan. Até mais ver.
Matthew voltou para sua casa naquele dia certo de que poderia respirar tranquilo e poderia cuidar de sua mãe e do armazém sem que se preocupasse com as finanças. Se seu pai considerava Charlie da forma como ele viu, então ele faria o mesmo. Mas mesmo com essas certezas, em seu interior Matt debatia-se com um sentimento ambíguo e com outro que beirava o ódio. Ele não sabia que futuro aguardava por ele, mas faria de tudo para que a jovem Isabella estivesse em sua companhia, mesmo ele tendo que esperar para que ela tivesse a idade certa que as damas deveriam ter; e também, faria de tudo para pegar quem tirou a vida de seu pai...
– Nem que seja a última coisa que eu faça em minha vida.
