Cap. 1 - Negação
Tudo começou na UAC alguns meses atrás, ou talvez muitíssimo antes, quando ela apareceu em nossas vidas. O importante é que faz alguns meses que tudo finalmente tornou-se claro.
Foi uma temporada difícil. Daquela em que mal chegávamos de uma viagem tínhamos que correr para nos preparar para a seguinte. Não tínhamos descanso. Coincidiu com o tempo em que JJ voltava de sua licença gestação e estávamos nos readaptando à normalidade.
Voltávamos de um caso difícil, um homem assassinando jovens casais, com mulheres bonitas. Tudo por que nunca conseguiu manter uma relação amorosa. Cinco casais assassinados antes que o detivéssemos. Creio que este caso despertou muitos sentimentos na equipe.
Casos assim nos faziam perder o chão, talvez por isto as coisas tomaram um rumo tão diferente nesta noite... Eu fazia o relatório do caso em minha sala, quando ela bateu na porta. Parecia muito cansada e certamente confusa.
- Está tudo em ordem? – perguntei.
- Tudo bem. – Emily respondeu. – Só vim ver se precisa de ajuda com algo.
- Não, não... Posso terminar com tudo sozinho.
- Mas já é tarde e não comeu ou descansou, pensei em lhe ajudar um pouco.
Meu movimento seguinte foi desajeitado e sem querer derrubei parte do arquivo que estava sobre minha mesa, que acabou se esparramando pelo chão. Imediatamente me levantei para recolher os papéis e ela se aproximou para me ajudar.
Senti-me atordoado, como poucas vezes me sentia, e tudo porque ela estava ali. Foi um momento estranho, estendemos as mãos para juntar um papel ao mesmo tempo e, também ao mesmo tempo, as recolhemos ao ver que o outro também as estendera. Ela riu.
- Causei um desastre aqui. – Comentei.
- É que já está tarde, Hotch. Por isto acho melhor te ajudar, não é o melhor momento para trabalhar e isto não é tão urgente.
- Acho que tem razão. – Disse e não pude evitar lhe sorrir.
É verdade que muitas vezes me sentia diferente diante dela, nervoso e ansioso, e às vezes podia ver que o mesmo se passava com ela, como se algo inexplicável houvesse entre nós dois, mas ainda assim não esperava o que aconteceu.
- Podemos jantar e amanhã terminamos com isto. Que acha? - Ela perguntou sem me olhar.
Surpreendi-me completamente, era um convite e não o esperava. Comparado com os mínimos flertes que tivemos, era um passo enorme. Não sabia como agir.
Levantei-me sem terminar de juntar os papeis do chão. Ela também se ergueu e houve um momento de imensa tensão. Nos olhamos em silencio por pouco mais de um segundo, tentando adivinhar o que iria acontecer.
- Não, acho que não é uma boa idéia. – Disse com firmeza.
- Hotch, eu... - Ela tentou se explicar.
- É tarde. Tenho que terminar este relatório, é melhor sair, Prentiss.
Não me escapou o repentino toque de dor que apareceu em seu olhar durante um instante, quando lhe disse isto. Quase acreditei que a tinha ferido, mas fiquei nervoso ao ver que ela se aproximara mais e reagi. Por um momento achei que ela sentisse algo a mais por mim.
Ela se foi dizendo um "tchau" quase inaudível, tentando parecer a mesma de quando entrou. Fiquei um tempo parado, sem saber o que fazer, até que me abaixei e terminei de recolher os papeis. Neste momento entrou Garcia, bateu a porta e me olhou confusa por me encontrar em meio à bagunça de papeis jogados no chão.
- Tudo bem, senhor?
- Sim, Garcia. Somente caíram alguns papeis.
- Acabei de ver Prentiss sair e eu...
Ela parou na metade de sua frase, para pensar muito bem no que ia dizer, ao mesmo tempo em que eu terminava de recolher os papeis restantes. Olhei Garcia enquanto ela hesitava.
- Sei que não é de minha conta, senhor. – Começou temerosa. – Mas está tudo bem entre você e Emily? Sei que é estranho, mas sinto que vocês...
- Tem razão Garcia, - cortei seco. – não é sua conta. E não, Prentiss e eu não temos nada fora do normal.
- Eu sei, Senhor, me referia... mmmm... sei que não é meu problema, mas gosto dela e vejo a atração. E pensei que em você também, acreditei... E pensei que o senhor deveria pensar sobre isto, sinto muito, com sua licença.
Saiu quase tão rápido quanto entrou e me deixou um momento refletindo sobre o que disse. Emily e eu? Não, não devia pensar nisto, não era possível.
Nesta mesma madrugada nos chamaram para trabalharmos num caso. Um homem, que ninguém conseguia identificar, seqüestrava pessoas aleatoriamente, as detinha durante dois dias, pedia resgate e depois as matava, para logo desaparecer e fazer o mesmo novamente em poucas semanas.
Tínhamos que nos organizar rápido, antes que houvesse um novo seqüestro, tínhamos muitas áreas para cobrir e um perfil para trabalhar. Considerando o incidente da noite anterior, organizei tudo de modo a não trabalhar diretamente com ela. Foi um erro.
Estando tão ocupado pensando no que ocorrera e em não trabalhar com Emily para evitar qualquer mal entendido, sem querer deixamos passar algo importante.
- Hei, Hotch! Vou revisar uma das cenas do crime, para me certificar de que não esquecemos nada importante. – Avisou Morgan.
- De acordo. Não tem nenhum problema, - assegurei – leve a Prentiss para te ajudar.
- Tem certeza? Não seria melhor ela te ajudar aqui?
- Não, tenho tudo sob controle aqui. Leve-a com você.
- Amigo, sei que não é assunto meu, mas me parece que tem algo estranho entre vocês dois.
- Não tem nada. – Exaltei-me.
- Garcia me disse que discutiram ontem à noite. Acho que deveria falar com ela sobre o que quer que haja entre vocês, e não me diga que não, apenas pense um pouco.
Enquanto pensava numa resposta para dar, ele se foi. Menos de duas horas depois se desencadeou o desastre. Morgan me ligou pedindo que nos reuníssemos urgentemente na cena de crime que inspecionavam. O assassino havia voltado a agir, surpreendendo-os. Quando estava preste a desligar ele me interrompeu.
- Tem algo a mais que deveria saber, Hotch. – Disse constrito.
Suas palavras seguintes foram um golpe tão forte que fiquei alguns segundos sem conseguir reagir.
- Ele tem Prentiss de refém.
Continua...
