MERCADOR DA MORTE

Fanfiction de amigo secreto para Akane Mitsuko Adachi Sagahara Tange

Casal/Personagens: Radamanthys de Wyvern e Valentine de Harpia

Classificação: NC-18 (conteúdo permitido apenas pra maiores de 18 anos)

Gênero: Angst/Romance

Alerta: Lemon/Universo Alternativo/Violência

Tipo: Em Capítulos

Completa: Não

DISCLAIMER: Saint Seiya não me pertence, Toei, Kurumada e Shueisha é que ganham horrores com os rapazinhos fofos. Minha intenção é apenas divertir os leitores e dar vazão aos meus sonhos nem um pouco inocentes com esse bando de homens lindos.

ATENÇÃO: Esta é uma fic yaoi, ou seja, com relacionamento homossexual, sendo bem clara, amor e provavelmente sexo (lemon) entre dois homens! Se não é sua praia, por favor não leia, não me mande ameaças, não me xingue, cada um na sua. Seja produtivo e arranje outra coisa para ler que tem um montão de histórias por aqui. Não costumo demorar com as continuações mas eventualmente posso demorar, não fiquem chateados, a gente tem vida real para encarar não é mesmo? Abraços e obrigada. Querendo, comentem, critiquem, fiquem à vontade. A maior alegria de um ficwriter (senão a única recompensa) é receber reviews, mesmo com críticas pois são as tais críticas que fazem a gente melhorar.

LOCALIZAÇÃO TEMPORAL: Esta história se passa anos depois da Saga de Hades. Os cavaleiros foram todos revividos e tentam se readaptar ao novo mundo que os espera. Saga agora tem trinta anos. Explicações dadas, boa leitura.

O casal é um dos preferidos dela, embora o fandom os ignore sempre. Nem sei se prestou isso, penei para escrever, podia ter feito Camus e Milo, mas me amarro em desafios. E, pow, foi demais tentar uma história que prestasse com eles. Espero que não esteja uma porcaria. Vai desculpando se não tiver bom. Eu tentei tá?

Parte I

Valentine - POV

- "Fique deitado!"

O que eu fiz? Fiquei rente ao chão com aquele homem que era um pesadelo ambulante deitado em cima de mim. Não! Não é o que estão pensando! Estávamos sob fogo cruzado e ele me jogou numa vala de escoamento de águas pluviais que devido às últimas chuvas, não continha apenas água. Maneira educada de mencionar algo que parecia o esgoto.

Ouvi mais tiros, vários deles. Aquele homem... Ele parecia ter olhos em todos os lugares, parecia ter mãos suficientes para empunhar variadas armas e parecia uma parede a se levar em consideração a musculatura poderosa em cima de mim.

O primeiro a chegar. Ele é sempre o primeiro a chegar. Todo de preto, elegantíssimo, o salto das botas de cano baixo por baixo da calça do terno. Eu já vi o que há nessas botas. Lâminas na ponta e no salto, facas nos dois pés. Sem falar em uma arma reserva escondida. Ele é perigoso, mas não para mim, para os outros.

Sirenes, ensandecidas, múltiplas, rápidas. Freadas, uma profusão de passos e mais tiros. Logo tudo fica silencioso. Que ótimo, o aparato de segurança desse inglês chegou todo. Por isso que pago tanto dinheiro a ele, para que eu seja protegido. O problema é que não quero mais ser protegido, quero agir. Ele discorda.

- "Está ferido?"

A voz era levemente parecida com uma crítica. Ora, ao inferno com tudo aquilo!

- "Não, não estou ferido. Não por eles. Você quase quebrou meu braço, mas creio que foi necessário."

- "Não cometo atos desnecessários. Por que me desobedeceu?"

- "Não sou uma pobre criança perdida na selva."

- "Talvez devesse mudar minha pergunta para algo próximo de: por que insiste em bancar um completo idiota?"

- "Você precisa ser tão grosseiro?" Minha voz não oscila muito, é baixa apesar de tudo.

- "Você precisa me obedecer! Qual seu problema com autoridade?"

- "Você não pode estar pensando, seriamente, que eu vou obedecer a tudo que mandar como um cachorrinho adestrado! Eu tenho raciocínio próprio."

- "Pode até ser, mas seu raciocínio foi errado dessa vez. Achou mesmo que estaria seguro no meio da rua quase deserta à uma da manhã? Por que deixou o restaurante sem dizer nada?"

- "Talvez sim. Até assassinos precisam dormir e, eu não lhe devo explicações de meus motivos."

- "Terroristas não dormem. Não aprendeu nada nesses meses?"

- "Aprendi que você me despreza. Que não aprecia meu trabalho e que simplesmente não me tolera, e me pergunto por que continua aqui se está tão infeliz. Eu estou molhado, cansado, friorento e, pior, fedendo. Belo fim de noite para um empresário de renome."

- "Você é fabricante de armas, queria o quê? Uma recepção vip? Ora, vamos embora."

O jeito como Radamanthys me levanta me irrita, o jeito como ele me olha, de cima, me irrita. A voz dele me irrita. Céus, eu vou matar esse homem!

- "E se me desobedecer de novo..."

- "Vá se danar!"

- "Está mal humorado por que quebrou a cara ao me desobedecer ou por que está fedendo como gambá? Entre logo na limousine."

- "Vocês estão bem?"

Sylphid abre a porta do carro guardado por três homens com metralhadoras. Elas são boas armas. Como sei? Eu as vendo.

- "Sim, estamos ótimos. Podemos ir agora e, Radamanthys, você não cansa de bancar o insuportável?"

- "Não estou bancando o insuportável, é uma característica minha irritar meus clientes para que morram de infarto e eu não consiga protegê-los."

O riso irônico no rosto dele me faz revirar os olhos. Entro no carro fortemente blindado com ele sentando ao meu lado e tocando em meus braços e pernas.

- "Radamanthys, eu não quebrei nada."

- "Senhor Valentine, é meu dever ter certeza. E agora pare de reclamar e me diga o que veio fazer a essa hora da noite sozinho por aqui. Levei quase meia hora para achá-lo. Sua sorte é que eles não são tão bons quanto eu. Por que fez isso?"

- "Sua modéstia não mudou nada e, se quer mesmo saber, cansei de me esconder, de que me adianta tudo que tenho se não posso aproveitar?"

- "Ah, que ótimo. Então pague meu último salário e depois me recontrate, agora como assassino, que terei o maior prazer em te dar um tiro sem dor para poupar o trabalho de todos os que o querem morto."

Aquela voz dele, de novo. Dava para eu sentir a raiva contida nele. Dava para eu quase ver por trás dos olhos dourados o quanto ele me desprezava.

- "Quero perguntar algo a você, Radamanthys."

- "Fale."

- "Por que me odeia tanto?"

Eu acho que consegui atingi-lo. Ele abre e fecha a boca e silencia. Vejo-o estreitar os olhos e suspirar.

- "Eu não o odeio."

- "Então por que simplesmente não conseguimos nos entender?" Minha voz sai baixa demais, como se eu estivesse fazendo uma confidência. Lembro-me de dar uma olhada em meu estado. Desanimador! Eu devo estar lindo mesmo... Cabelos longos são bonitos, mas melados de água pútrida devem estar maravilhosos... Meu terno preto está um lixo. – "Eu preciso de uns dez banhos."

- "Você não obedece. Eu odeio gente que não se valoriza o suficiente."

- "Gostaria de um pouco de carne e talharim, também. Não pude jantar, fugir do restaurante cansou-me e, quando ia comer alguma coisa, fui repentinamente atirado no esgoto." Olho para ele com ar de quem não o ouviu.

- "Por que pergunta se não escuta as respostas?"

- "Eu sou o patrão. Quem disse que devo obedecer?" Eu sei que ele vai ficar furioso. Ele detesta que eu o lembre que sou eu quem manda.

- "Não quero vê-lo morrer, Valentine."

O tom dele... O olhar dele. Tão diferente. A esperada farpa que não veio. O que há agora? Viro-me para ele e nos encaramos um tanto. Ele parece quase triste. Dou um longo suspiro. Eu sou fabricante de armas poderosas e não consigo lidar com um guarda-costas? Não é possível.

- "Estamos chegando."

A voz de Radamanthys muda para algo próximo à indiferença e eu me encolho no banco, estou com frio. Ouço-o gemer baixo e viro-me para ele, sem entender.

- "O que há?"

- "Estamos chegando."

Ele repete a frase e vejo Sylphid suspirar. Ah, claro, os dois são pagos para me proteger, só que mais parecem duas mães de um bebê indefeso.

- "Por que não me disse, Rada?"

Ouço a voz de Sylphid baixa e preocupada. Do que ele está falando? Continuo sem entender quando Radamanthys geme novamente e Sylphid muda de posição para ampará-lo. E eu nunca imaginei que aquele loiro inglês precisasse algum dia de alguém para ampará-lo.

- "Alguém vai me responder ou... Droga, Radamanthys!"

Sylphid abriu o terno perfeito dele e vejo o sangue escorrer pela mão direita. A camisa cinza chumbo está empapada de vermelho do ombro até o punho. Quando foi que o atingiram? Não ouvi sequer um gemido de dor!

- "Não foi nada, Sylphid, tire suas patas de mim!"

- "Cale-se ou eu mesmo dou-te um tiro."

Os diálogos entre meus dois seguranças eram sempre assim, delicados.

- "Vamos para o hospital." Tomo minha decisão e pego o intercomunicador para falar com o motorista. Radamanthys tem ao menos duas balas no ombro. Por que esse idiota não usa colete?

- "Não."

- "Você não manda em mim, inglês."

- "Senhor Valentine, ao menos entre em sua casa, eu vou deixar uma equipe. Eu não tenho ferimentos fatais, o deixaremos em sua residência e eu vou para o hospital com Sylphid."

Eu hesito um pouco e fico abismado ao ver Sylphid rasgar a camisa do outro, retirar a roupa e depois cortar em tiras para apertar o ferimento. Não parece bom.

- "Não fico seguro sem meu segurança."

Respondo sentindo um nó na garganta aparecer não sei de onde. Esse idiota loiro!

- "Nós vamos para o hospital. Mande a equipe inteira para a ala de emergência, eu vou para lá. Avisem a todos. Radamanthys foi ferido. Entendeu, Queen?"

Ouço a resposta do motorista que faz uma manobra incrível virando o imenso carro a mais de 80 quilômetros por hora. Todos eles foram estupidamente bem treinados. Treinados por ele. Por esse homem incrível que eu admiro muito, embora ele não saiba e eu nunca tenha dito nada.

Foi há um ano que as ameaças começaram.

O ruim de trabalhar com armas é que todo mundo acha que somos assassinos machões que adoram estourar cabeças alheias.

Não sou assim. Gosto de poesia, literatura, boa música. Sou um gourmet e delicio-me com variados sabores de todas as grandes cozinhas internacionais. Só que, por acaso, herdei o negócio de meu tio. Sou órfão desde os dois anos, ironicamente por conta de um atentado a bomba no Chipre.

Fui criado por um homem distante, frio e dedicado ao trabalho. Aprendi desde cedo que armas podem ser boas aliadas, se você souber usá-las. Não tenho nada contra o que faço, mesmo porque se não fosse eu, seria outro. E há tantos outros negócios piores.

Ora, não vamos ser hipócritas.

Há vendedores porque há compradores.

Uma lei tão simples de mercado.

O ser humano vai se livrar das armas quando houver paz em todos os lugares, ou seja, em minha opinião, nunca.

Eu apenas fabrico um quinto de todo o material bélico disponível.

Meu apelido é Mercador da Morte.

Prefiro pensar em mim como alguém que garante vidas impedindo que outros insanos armados tenham sucesso em seus projetos.

Não sou impiedoso, muito menos sádico, mas cansei de ver gente bem intencionada propondo o fim do mercado de armas, sem entender que logo arrumariam outra coisa para colocar no lugar.

Tenho rígidos valores. Não negocio com traficantes, nem com países tão pobres que não tenham dinheiro para comida. Isso parece estranho? Eu não acho. Cuido bem de meus empregados, pago meus impostos e negocio com justiça.

Vendo para organizações protecionistas, acreditem se quiserem. Também vendo para guardas nacionais, para organizações paramilitares de alguns países onde ter um revólver é uma espécie de transição da infância para a idade adulta.

E cobro um bom preço pelo que vendo. Eu não exploro ninguém. Não faço mercado duplo: não vendo para dois países em guerra ao mesmo tempo.

Infelizmente nem todos pensam assim. Infelizmente trocam drogas por armas, dinheiro de guerras sangrentas e de opressão financiam vários dos meus concorrentes. E acho que por isso eu desperto tanta raiva. Ou talvez por que desenvolvi uma arma tão espetacular que não há defesa possível para ela ainda e decidi não vender para duas repúblicas de fachada que poderiam causar danos ao país que escolhi para viver. Oh, não, o dinheiro não tem pátria, mas eu tenho vida.

Ou pensava que tinha.

Só que ultimamente, no último ano, vi-me numa sucessão de "acidentes" que só não deram certo por que meus inimigos cometeram um erro comigo: avisaram-me que eu era um alvo.

Quando a primeira caixa com sangue de animais dentro de um vidro chegou, eu pensei que era alguma piada de mau gosto.

Só que depois dela, mandaram-me pedaços de animais, ratos mortos, cobras vivas em embalagens estranhas e até um boneco de vudu.

Sem falar no atentado com antraz. Esse último me fez ver que eu não estava nada seguro.

Foi então que eu fiz meu trabalho de casa e encontrei o melhor que o dinheiro podia pagar. Encontrei Radamanthys de Wyvern.

Não pensem que sou indefeso, sou ótimo atirador, excelente com facas e um lutador de artes marciais muito bom. Sempre me cuidei muito e sempre acreditei que se eu não conheço meu produto, não posso confiar nele, nem vendê-lo. Uso armas com a facilidade de alguém que é chef de cozinha e maneja facas.

Só que não era o bastante.

A negociação foi bem difícil. Encontrar o loiro inglês foi o primeiro desafio. Ele não gosta de ser encontrado. Troca de mensagens cifradas por jornais, troca de emails não rastreáveis, conversas com modificadores de voz por celulares que eram jogados fora ao final da ligação.

E depois de tudo isso, um encontro no meio de um depósito abandonado quando ele decidiria se eu valia à pena. Imagine se eu aceitaria algo assim? Só que aceitei.

Aceitei depois que eles explodiram o carro de um dos meus diretores, como um aviso para mim, deixando-o na porta de minha mansão.

Aceitei depois que minha secretária de mais de cinqüenta anos de idade foi atacada, estuprada, sodomizada e fotografada. Eles a deixaram num carro na minha vaga de estacionamento de uma das sedes da empresa. Ninguém os viu, ninguém os ouviu.

Medo.

Eu senti medo.

E se para encontrar alguém que diziam que era o melhor no que fazia eu tinha que aceitar situações estranhas e exigências maníacas, tudo bem.

E lá fui eu. Sozinho, num carro alugado, não vou negar que com um pouco de medo. Só que o tal Radamanthys havia me dito que na hora em que eu saísse da agência de veículos com o carro que ele designara para mim ele estaria me acompanhando e que eu não sofreria nada, ao menos até que nos encontrássemos e, não sei o motivo, mas confiei nele.

E confiar em ingleses é algo bem complicado para um cipriota.

Nosso encontro foi memorável.

Fiquei em pé no meio de um galpão escuro, fora dos limites da cidade, ouvindo sons esquisitos e então ele surgiu de uma parede como se lá tivesse se materializado.

Radamanthys me impressionou ao ponto de eu arregalar os olhos. E eu não me impressiono facilmente, não depois do que já vi em guerras e em cenas que acontecem por conta de armas. Oh, não, eu não me impressiono com muitas coisas. Só que me impressionei com ele.

Um homem alto, com uma balaclava preta que escondia seu rosto e deixava à vista apenas seus olhos se dirigiu a mim numa voz rouca e baixa. E eu soube que ele era perigoso. A malha preta aderida ao corpo que ele usava não deixava muito para a imaginação e eu fiquei olhando-o, admito, por que, sendo nada discreto, que corpo aquele homem tinha! Ele se movia em movimentos não usuais, não caminhou para mim em linha reta, embora eu tenha demorado um pouco para perceber isso.

Tomei um susto quando mãos fortes me revistaram, vindas de minhas costas. Outra voz, mais suave, dizendo que eu não devia me mexer ou morreria. Temi que tivesse sido alvo de um atentado, mas as mãos de quem eu depois saberia chamar-se Sylphid apenas estava procurando escutas, armas ou sei lá mais o quê.

- "Clear, Mister Wyvern."

- "Acho que agora podemos conversar, Senhor Valentine."

- "Para que tanto aparato, gosta de impressionar?"

- "Na minha profissão, o ideal é que não sejamos percebidos até o último momento. Além disso, eu tenho meus cuidados. Não ser contratado por qualquer um é algo que gosto que fique bem claro. Eu sou o melhor no que faço, mas nem todo mundo merece meu trabalho."

Pensei comigo mesmo o quão arrogante ele era. Distraí-me por segundos e isso foi suficiente para que ele parasse fora do meu campo de visão e eu ficasse procurando-o sem achar.

- "Como eu disse, tenho que ser invisível."

A voz vinha por detrás de mim e descobri que ele estava oculto ali tão perto, numa espécie de fundo falso que eu juro que não havia visto antes e olha que sou muito observador. Impressionante.

- "O que exatamente quer de mim, Senhor Valentine?"

O pronunciado sotaque inglês dele era até bonito. O jeito com que ele falava, sem eu saber que emoção ele tinha por detrás daquela voz também me impressionou.

- "Que cuide de mim, o que mais poderia ser?" Penso rapidamente quão estranha ficou essa frase. Sou algum bebê a exigir cuidados?

- "Também sou excelente assassino, caso não saiba. Afinal de contas, para proteger, também devo saber como exterminar."

- "Seu ponto de vista é discutível."

- "Não sou pago para dar aulas de como penso. Eu apenas tenho meu modo de enxergar, mas não foi para discutir minha filosofia de trabalho que viemos até aqui, a menos que tudo tenha sido um engano."

- "Um homem prático."

- "E metódico ao extremo. Qual ameaça se abate sobre sua vida?"

- "Como sabe que é um caso de ameaça?"

- "Você é desconfiado, checou tudo mais de uma vez, informou-se por vários canais não convencionais sobre mim e comentou com um amigo de seu clube de grandes empresários que algo o preocupava no tocante à sua segurança."

- "Mas... Como?" Ele não parava de me surpreender. E ficou pior quando discorreu sobre tudo que eu vinha enfrentando, com a voz monocórdia mais sem emoção que já ouvi em minha vida. Parecia que falávamos de algum lanchinho ameno ao final do dia e estávamos discutindo minha vida!

- "Como eu disse, não aceito qualquer um como cliente. Você me investigou, eu o investiguei. Simples assim."

- "Que achou de tudo que descobriu? Acha que mereço tudo que está havendo? Sou um fabricante de armas, não um terrorista."

- "Não sou pago para achar nada sobre coisa alguma. Posso sugerir algumas coisas e quero deixar muito óbvio que eu vou ser obedecido ou abandono o trabalho. Só que antes, eu preciso me decidir sobre uma coisa."

Ele fez uma pequena pausa e eu fiquei nervoso com aquilo. Não sei bem por que, mas havia a sensação de que eu estava em perigo e que o perigo era aquele homem.

- "Do que está falando? Que coisa precisa decidir? Seu preço?"

Silêncio. Por que ele não responde? Olho para trás e não consigo ver nada além de escuridão. Sylphid também desapareceu, silenciosamente. Então um celular tocou bem perto de mim.

- "Ei, tem alguém aí?"

Silêncio. Não havia vozes, nem movimento, apenas o celular tocando. Resolvi atender.

- "Terá notícias minhas, Senhor Valentine. Pode jogar fora o aparelho, ele já cumpriu sua função. Até outro dia, ou até nunca mais."

Um clique seco e vi-me sem ter o que fazer a não ser voltar para a agência de veículos e devolver o carro. Para minha surpresa, estava pago. Radamanthys. Que homem era ele?

Uma semana depois eu recebi um envelope totalmente preto, pouco discreto por sinal. Fiquei intrigado e temeroso que fosse outro atentado, mas meu celular tocou e atendi com calma.

- "Alô?"

- "Abra o envelope. Minha proposta está aí dentro. Se concordar, nos veremos amanhã. Se não, basta mandar sua negativa para o email que está escrito no final da página. Ausência de resposta significa um sim. Tenha um bom dia."

- "Radamanthys?"

Um clique seco.

- "DIABOS!" Quem ele pensa que é? Eu posso contratar qualquer um! Qualquer um! Não preciso ser feito de idiota por esse homem. A mesma voz sem emoção, o mesmo tom sem vida. Não à-toa o apelido dele era juiz da morte. Diziam que quando ele decidia algo, invariavelmente alguém morria.

O que eu fiz? Nada. Não fiz nada. E isso foi como um sim para ele. E foi mesmo um sim para ele! No dia seguinte, quando eu cheguei ao meu escritório, ele simplesmente estava lá, acompanhado de Sylphid.

- "Bom dia, Senhor Valentine. Podemos começar?" Radamanthys estava sentado numa das poltronas, uma roupa esportiva azul marinho e um imenso óculos escuros.

- "Bom dia, Senhor Valentine." Sylphid usava o mesmo tipo de roupa e óculos. Pareciam quase irmãos com os fios loiros quase iguais.

- "Vejo que minha segurança precisa ser aprimorada. Como entraram?"

- "Sua nova secretária não sabe quem são seus contatos, não pessoalmente, sugiro providenciar sempre foto de quem vai receber por aqui. Aliás, se me permite, deveria ter emissários para resolver muitas das coisas que dizem que precisa resolver. Não é necessário que esteja em todos os fechamentos de contrato."

- "Sua noção de negócios pode ser diferente da minha, Senhor Radamanthys."

- "Sua noção de quanto perigo corre está errada, mas eu vou corrigir isso, Senhor Valentine."

- "Nem me conhece direito."

- "Não preciso conhecê-lo para saber que tem coisas erradas por aqui. O segurança habitual do edifício foi substituído e você nem se deu conta, seu carro tinha um novo cheiro esta manhã e ninguém notou, o ascensorista desapareceu e ninguém deu falta. Há uma obra no seu andar da qual ninguém foi informado, sem falar que todas as suas cortinas estão abertas, deixando-o visível para qualquer atirador de elite e você está num local perfeito para um disparo."

- "Como sabe tudo isso?" Afasto-me um tanto das janelas, e ele ri. Droga, ele me irrita.

- "Por que eu providenciei cada uma dessas mudanças."

- "Como?"

- "Um bom mágico não conta seus truques."

Radamanthys retira os óculos e finalmente vejo seu rosto. Ele tem mesmo olhos dourados! Naquele outro dia pensei que fosse imaginação minha... Devo ter arregalado os olhos, pois ouço uma baixa risada.

- "Senhor Radamanthys sempre causa um efeito e tanto."

Sylphid comenta com um sorriso sacana no rosto e eu sinceramente acho que vou desistir de tudo. Eles combinaram me deixar zangado, só pode ter sido algo assim.

- "Agora que já falei algumas coisas, será que podemos começar a trabalhar? Preciso de sua agenda, itinerários, compromissos, oficiais ou não, tempo estimado para chegar de um local a outro e, também, conhecer seu motorista, seus assessores mais chegados, seu staff principal, saber onde compra suas roupas, onde faz tudo que possa alterar sua rotina. Preciso saber, inclusive sobre sua namorada, ou amante, para que eu possa protegê-lo quando for estar com ela, pois não consta que seja casado."

- "Não." Minha voz está raivosa.

- "Como?"

- "Eu disse que não." Ele é surdo ou o que?

- "Certo. Não a que?"

- "Como não a que? Não pode invadir minha vida desse jeito, do nada!"

- "Senhor Valentine, o meu caro colega, Radamanthys, não é um homem que possa simplesmente ser ignorado. Aconselho-o a fazer o que ele disse." Sylphid fala algo após alguns instantes, simplesmente porque aquele loiro de olhos dourados não disse nada!

- "Sylphid, acho que terminamos."

Radamanthys se levantou, ignorando-me totalmente e andou até a porta. Acho que Sylphid não gostou muito, a julgar pelo esgar em sua face.

- "Wyvern, você recusou o outro contrato por causa deste."

- "Eu sei. Foi uma decisão interessante."

- "Devia contar a ele qual era o outro contrato."

- "Poderiam parar, vocês dois, de falar como se eu não estivesse aqui?" Eu realmente não compreendo esse homem. Ele aceita, agora não quer mais.

- "Sylphid, acho que devemos sair, agora."

O olhar de Radamanthys sobre mim me faz estremecer. Eu sei que ele está irritado, e sei disso pela sua postura, embora não transpareça quase nada no jeito como ele me observa.

- "Qual era seu outro contrato, Mister Radamanthys?" Mal reconheço minha voz, há dúvida nela. Por que ele me deixa na defensiva?

- "Não discuto meus negócios."

- "E eu não gosto que invadam minha vida. Nem que tentem controlá-la. Apenas isso. É pedir muito que seja mais amigável e tolerante?" Ele me fita intensamente. O que esse homem é? Quem ele é realmente? Por que tenho tanta dificuldade em descobrir o que ele está pensando?

- "Não posso ser seu amigo, nem posso ser tolerante, se pretender protegê-lo, inclusive de si mesmo e de suas opções erradas. Tenho que ter pulso forte para evitar que se machuque, não posso me permitir hesitar ponderando o que você vai achar. É assim que eu trabalho e é por isso que sou tão bom no que faço. Eu não falho, mas alguns que querem me contratar o fazem e por isso, não raro, pagam um alto preço. Eu não gostaria que você pagasse um alto preço."

- "Senhor Valentine, Radamanthys é o único capaz de protegê-lo, acredite-me."

Algo na voz de Sylphid, uma certa urgência. O que eu não estou sabendo? Dou um longo suspiro e vejo a mão de Radamanthys, totalmente enluvada de preto, correr na maçaneta. Talvez... – "O que não gosta em minha rotina? Se é que sabe qual é."

Um silêncio se instala por momentos. Então Radamanthys volta para onde estivera antes e se senta.

- "Vamos começar."

Desde então minha vida foi revirada, pesquisada e modificada por Radamanthys. Desde coisas simples como usar uma roupa menos chamativa, sentar numa mesa de canto, num local sem janelas, de onde se pudesse ver todo o movimento do restaurante até miudezas incríveis como usar um transmissor debaixo da minha pele que diz a ele, o tempo todo, onde estou.

Invasão de privacidade? Vocês nem imaginam o quanto. Só falta ele tomar banho comigo e deitar na minha cama, porque ele se assenhoreou de toda a minha vida de uma forma como acho que ninguém jamais o fez.

Descobri o quão inteligente ele é, que sabe coisas incríveis sobre artes e filosofia, que teve um ótimo treinamento em artes de ninjas, que é um esgrimista digno de olimpíadas, que tem fôlego superior ao de um homem dito normal e que raramente sorri, descansa ou relaxa.

Todos os meus empregados, desde o faxineiro de minha empresa até os mais conceituados diretores-presidente foram investigados por ele. Impressionante! Caixas e caixas de dados, gigabytes de informação que ele analisou com sistemas próprios, detectando possíveis traidores, falhas de caráter, comportamentos estranhos e tudo que fosse servir para traçar um perfil de ameaça.

Também fiquei ciente do quanto ele pesquisou sobre minha vida, meus possíveis inimigos, meus concorrentes, tudo que fosse possível.

Pela primeira vez em muito tempo eu me senti verdadeiramente seguro. Ele se mudou para minha mansão, seu quarto era ao lado do meu, o de Sylphid no andar de baixo.

Desde então eu já sofri vários outros atentados, só que todos foram contornados graças a ele, a Radamanthys.

Obviamente que não sem alguns machucados, hematomas ou situações constrangedoras.

Uma vez ele pôs abaixo a decoração de uma festa de aniversário do filho de um dos meus diretores porque suspeitou que houvesse câmeras escondidas me vigiando.

Sabem o que foi assustador? Ele tinha razão. A capacidade dele de enxergar além da situação normal me espanta até hoje. Só que agora, tenho outra preocupação. Levá-lo para o hospital.

- "Radamanthys, estamos chegando. Se você não fosse um teimoso, já poderíamos estar aqui." Minha voz saiu um tanto preocupada demais.

- "Não se preocupe, está tudo bem."

A voz dele era imponente como sempre, mas havia uma certa nota de sorriso nela e virei-me para olhá-lo.

Olhos de um dourado que antes tanto me intimidavam estavam fitos em mim e não sei por que, mas meu coração acelerou e eu, bobamente, sorri para ele. Eu não costumo sorrir, acho que já mencionei isso.

Logo mãos diversas, corpos diversos e ternos pretos em profusão estavam cercando a todos nós. O aparato de segurança externa de Radamanthys para aparições públicas. Eu nem sabia de onde eles vinham, mas bastava ele chamar e uma miríade de homens estranhos surgia.

Havia um gigante, cujo nome eu aprendi logo, Stand. Ele sempre ficava bem perto de mim como uma carapaça e não foi diferente desta vez. Tão logo desci da limousine, ainda imundo, nada apresentável, ele ficou ao meu lado.

- "Como está o Senhor Radamanthys? Eu já soube que está bem, Senhor Valentine."

Profissionais. Stand perguntou sem esquecer de que sua diretriz era me manter a salvo. Estou começando a achar que Radamanthys é uma espécie de guia deles.

- "Dois tiros no ombro, um transfixou, a bala do segundo ainda está no ferimento, mas não é grave. Sem danos ao osso, há mais sangue que gravidade. Ele ficará bem logo, Stand."

A voz de Sylphid é cortês e eu vejo os padioleiros serem substituídos por mais homens de Radamanthys. Queen, nosso motorista, logo estará aqui, após estacionar a limousine. Entramos todos e fico novamente impressionado em como esses homens são capazes de formar um cordão de isolamento em torno de mim.

- "Será que a imprensa vai aparecer?"

- "Serão mantidos à distância, Senhor Valentine. São duas da manhã, não creio que estejam tão dispostos assim a tal hora."

- "Obrigado, Gordon. Quem é o médico responsável?"

- "Shion. O melhor cirurgião de emergência das redondezas. E também tiramos o Dr. Dohko da cama, especialista em articulações, apenas para o caso de haver algum dano ao ombro dele."

A voz de Ox era agradável, mas não submissa. Ele eu não conhecia tão bem. Sabia apenas que, como a maioria deles, havia sido retirado de alguma situação estranha, ou de dano iminente, por Radamanthys. Quem na verdade era o loiro? Não posso pensar nisso agora, tenho que ver como meu segurança está. Sou impedido por uma voz calma, mas cheia de autoridade.

- "Providenciamos um banho, roupas limpas e uma cama para que descanse."

Novamente Sylphid. Há algumas coisas que sei sobre ele e Radamanthys e por isso a nota de preocupação na voz dele não é de me passar despercebida.

- "Ele ficará bem, Sylphid. É um homem duro de quebrar."

- "Sempre insisti para aquele idiota usar colete."

Ouço o suspiro dele e sinto algo aparecer em meu coração. Estou preocupado com Radamanthys. Talvez um pouco mais que isso. Só que...

- "Seu namorado é um homem teimoso, Sylphid." Minha voz é baixa, cheguei mais perto para dizer isso. Ah, eu já os peguei juntos, uma única vez, e não creio que eles saibam. Foi um acaso. Eu deveria estar dormindo, tudo estava quieto, só que resolvi me levantar e andar um pouco. Como eu já devo ter dito, o quarto de Radamanthys é ao lado do meu, com uma porta de comunicação que ele insiste em que jamais seja trancada e eu já aprendi a não contrariar esse homem.

Pois bem, eu voltei ao meu quarto e ia me deitar quando pensei ouvir algo e franzi o cenho. Andava ainda um pouco nervoso com ameaças e fazia pouco tempo que Radamanthys estava conosco, eu ainda não confiava tão cegamente nele. Fiz o que ele me dissera para não fazer: fui olhar.

O barulho parecia ter vindo exatamente do quarto de Radamanthys e eu desencostei a porta de comunicação em silêncio. Acho que ele apenas não notou porque estava... Bem, ele estava ocupado, digamos assim, o corpo poderoso dele parecia esmagar Sylphid contra a parede. Estavam fazendo sexo, se ainda não entenderam e eu fiquei... Certo, sem subterfúgios, fiquei excitado e isso me abalou mais que ver os dois juntos.

Eu sei que é um tanto absurdo, mas hoje, eu acho que ficaria mais nervoso por saber que Radamanthys está com Sylphid que pelo ato em si.

- "Ele não é meu namorado, Senhor Valentine, e creio que esse assunto não é exatamente de seu interesse."

Maneira refinada de Sylphid dizer que não é da minha conta. Não digo nada e ele me leva para um quarto que deve ser de descanso dos médicos. Tomo finalmente um banho decente, troco de roupas e descubro que eles a trouxeram para mim, um terno azul marinho bem cortado, italiano, e uma roupa menos formal, esportiva, que escolho usar. Decididamente, eles pensam em tudo.

Sinto-me melhor de cabelos lavados e penteados e vestido com algo que não cheire a peixe morto. Deito-me no pequeno sofá-cama e simplesmente adormeço.

oOoOoOo

Nota da autora: Essa fanfiction foi algo que me deixou feliz ao escrever. Gosto do tema, dos personagens e construí uma história que eu julguei muito boa. Não espero muitos reviews, Radamanthys e Valentine é nosso casal especial, meu e de Akane. Poucos gostam deles, e acho que apenas eu escrevo com eles. De tal forma, como a presenteada os adora, para mim já é tudo, pois fazer Akane sorrir é tudo que eu posso querer. Felicidades, meu bem. Sabe que eu a amo. É o bastante.