Clic
O cidadão se descuidou por um segundo e roubaram seu celular. Como era um executivo e não sabia mais viver sem celular, ficou furioso. Deu parte do roubo, depois teve uma idéia. Ligou para o número do telefone. Uma mulher atendeu.
-Alô.
-Quem fala?
-Com quem quer falar?
-O dono desse telefone.
-Ele não pode atender.
-Quer chamá-lo, por favor?
-Ele está no banheiro. Eu posso anotar o recado?
-Bate na porta e chama esse vagabundo! Agora!
Clic. A mulher desligou. Saga controlou-se. Ligou de novo
-Alô.
-Escute. Desculpe o jeito que eu falei antes. Eu preciso falar com ele, viu? É urgente.
-Ele já vai sair do banheiro.
-Você é a...
-Uma amiga.
-Como é o seu nome?
-Quem quer saber?
-Saga. Sou irmão gêmeo dele.
-Irmão gêmeo do Kaninho?
Kaninho. O safado já tinha um nome.
-É. De Atenas.
-Eu não sabia que o Kanon era de Atenas.
-Pois é...
-Saori.
-Hein?
-Meu nome. É Saori.
-Ah. Vocês são...
-Não, não. Nos conhecemos há pouco.
-Escute, Saori. Eu trouxe uma encomenda pro Kanon. De Atenas. Mas eu não me lembro do endereço.
-Eu também não sei o endereço dele.
-Mas vocês...
-Nós estamos num motel. Este telefone é celular.
-Ah.
-Vem cá. Como é que você sabia o número do telefone dele? Ele recém-comprou.
-Ele disse que comprou?
-Por quê?
Saga não se conteve.
-Porque ele não comprou, não. Ele roubou. Está entendendo? Roubou. De mim!
-Não acredito.
-Ah, não acredita? Então pergunta pra ele. Bate na porta do banheiro e pergunta.
-O Kanoninho não roubaria um telefone do próprio irmão.
E Saori desligou de novo.
O cidadão deixou passar um tempo, enquanto se recuperava. Depois ligou outra vez.
-Alô.
-Saori, é o Saga. Por favor, chame o Kanon.
-Ele continua no banheiro.
-Em que motel vocês estão?
-Por quê?
-Saori, você parece ser uma boa moça. Eu sei que você gosta do Kanon...
-Recém nos conhecemos!
-Mas você simpatizou. Estou certo? Você não quer acreditar que ele seja um ladrão. Mas ele é, Saori. Enfrente a realidade. O Kanon pode ter muitas qualidades, sei lá. Há quanto tempo vocês saem juntos?
-Esta é a primeira vez.
-Vocês nunca tinham se visto antes?
-Já, já. Mas, assim, só conversa.
-E você nem sabe o endereço dele, Saori. Na verdade, você não sabe nada sobre ele. Não sabia que ele é de Atenas.
-Pensei que fosse da Itália.
-Ai está, Saori. Isso diz tudo. Um cara que se faz passar por italiano.
-Não, não. Eu é que pensei.
-Ele ainda está no banheiro?
-Está.
-Então saia daí. Pegue as suas coisas e saia. Esse negócio pode acabar mal. Você pode ser envolvida. Saia daí enquanto é tempo!
-Mas...
-Eu sei. Você não precisa dizer. Eu sei. Você não quer acabar a amizade. Vocês se dão bem, ele é muito legal. Mas ele é um ladrão, Saori. Um bandido. Quem rouba celular é capaz de tudo. Sua vida corre perigo.
-Ele está saindo do banheiro.
-Corra! Leve o telefone e corra! Daqui a pouco eu ligo para saber onde você está.
Clic.
Dez minutos depois, Saga ligou de novo.
-Alô.
-Saori, onde você está?
-O Kaninho está aqui do meu lado e me pediu para lhe dizer uma coisa.
-Saori, eu...
-Nós conversamos e ele quer pedir desculpas a você. Diz que vai devolver o telefone, que foi só uma brincadeira. Jurou que não vai fazer mais isso.
O cidadão engoliu a raiva. Depois de alguns segundos, falou:
-Como ele vai devolver o telefone?
-Domingo, no almoço da tia Hilda. Diz que encontra você lá.
-Saori, não...
Mas a moça já tinha desligado.
O cidadão precisou de mais cinco minutos para se recompor.
Depois ligou outra vez.
-Alô.
Pelo ruído, o cidadão deduziu que ela estava dentro de um carro em movimento.
-Saori, é o Saga. Escute aqui. Você está sendo cúmplice de um crime. Esse telefone que você tem na mão, está me entendendo? E telefone que agora tem suas impressões digitais. É meu! Esse salafrário roubou meu celular!
-Mas ele disse que vai devolver na...
-Não existe tia Hilda nenhuma! Eu não sou irmão gêmeo dele. Não conheço esse cafajeste. Ele está mentindo para você!
-Então você também mentiu!
-Saori...
Clic.
Cinco minutos depois, quando o cidadão se ergueu do chão onde estivera mordendo o carpete, e ligou de novo, ouviu um "Alô" homem.
-Kanon?
-Irmão! Muito bem. Você conseguiu, viu? A Saori acaba de descer do carro.
-Olha aqui, seu...
-Você já tinha liquidado com o nosso programa no motel o maior clima e você estragou, e agora acabou com tudo. Ela está desiludida com todos os homens, para sempre. Mandou parar o carro e desceu. Parabéns, maninho. Você venceu. Quer saber como ela era?
-Só quero o meu telefone.
-Tinha ceblo lilás. Olhos verdes. Não resistiu ao meu celular, não fosse o celular, ela não teria topado o programa. E se não fosse o celular, nós ainda estaríamos no motel. Como é que chama isso mesmo? Ironia do destino?
-Quero o meu celular de volta!
-Certo, certo. Seu celular. Você tem que fechar negócios, impressionar clientes, enganar trouxas. Só o que eu queria era a Saori...
-Ladrão!
-Executivo!
-Devolve o meu...
Clic.
Cinco minutos mais tarde. Cidadão liga de novo. Telefone toca várias vezes. Atende uma voz diferente.
-Ahn?
-Quem fala?
-É o Julian.
-Como você conseguiu esse telefone?
-Sei lá. Alguém jogou pela janela de um carro. Quase me acertou.
-Onde você está?
-Como eu estou? Bem, bem. Catando meus papéis, sabe como é. Mas eu já fui de circo. É. Capitão Julian. Andei até pelo Paraguai.
-Não quero saber de sua vida. Estou pagando uma recompensa por esse telefone. Me diga onde você está que eu vou buscar.
-Bem. Fora a Thétis, tudo bem. Sabe como é mulher. Quando nos vê por baixo, aproveita. Ontem mesmo...
-Onde você está? Eu quero saber onde!
-Aqui mesmo, embaixo do viaduto. De noitinha. Ela chegou com o índio e o Marvão, os três com a cara cheia, e...
-- Fim --
N/A: Sim! Hoje é níver dos gêmeos totosos. E como eu to sem tempo eu tive que fazer mais uma das minhas adaptações do tio Luíz Fernando Veríssimo... Ah ele ainda me mata por causa disso.
FELIZ NÍVER SAGA E KANON!!
Já né
