Os personagens desta fanfic não me pertencem. Mas eu não pretendo comercializá-los ou ganhar qualquer coisa por ter escrito esta fic além de comentários preciosos.

Desafio: Projeto ...Again? da seção Harry/Draco do fórum 6v

Ship: Harry/Draco

Capa: no meu perfil

Sinopse: Pequenas mudanças que transformam uma vida inteira.

Spoiller: 7, ignora o epílogo

Beta: no one

Finalização: ainda não

Quantidade de capítulos: acho que uns 8, talvez. Quem sabe?

Aviso: contém insinuação de incesto e sexo não-consensual – mas só insinuação, tipo, alguém contando que isso aconteceu e as consequencias, mas não vou lidar com o ato em si. Ah, mas a mpreg é real.

Little steps

Capítulo 01

Tudo havia acabado.

Harry podia sentir sua respiração mais calma e leve a cada passo que ele dava pelo Salão Principal, e a única coisa que o impedia de sorrir era a consciência de que ele caminhava entre corpos caídos.

Tanta coisa teria que recomeçar a partir de agora. Tanta coisa terminara ali.

Além de Voldemort. Além do Garoto que Sobreviveu.

Harry se concentrou por um momento em fitar cada rosto caído. Aquilo doía. Aquilo iria doer para sempre, ele sabia. Sabia que seria como tantas outras cicatrizes que ele teria após aquele dia, mas era algo de que ele precisava. De certa forma, ele também era um corpo que caíra naquele salão, mas se levantara porque queria viver.

E ele estava pronto para começar a viver agora.

Os olhos verdes foram chamados para o brilho loiro em um dos cantos do salão e ele sorriu de leve reconhecendo os Malfoy abraçados. Narcissa, com quem ele sabia ter uma dívida grande e estava disposto a pagar quando fosse requisitado. E, com ela, Lucius Malfoy, o homem que o fazia temer a cobrança dessa dívida, mas que ele sabia que teria dado a vida para ver seu filho vivo e bem, como Narcissa havia feito.

Mas Draco não estava com eles.

Harry franziu o cenho e notou, com certa agonia, que Lucius parecia chorar em desespero nos braços de Narcissa – e essa era uma cena que ele nunca imaginou ver. Lucius Malfoy desesperado. Lucius Malfoy chorando. Harry conseguia discernir o nome de Draco entre as palavras trêmulas que saíam de seus lábios.

Tomado pela aflição do casal, Harry sentiu sua própria respiração se alterar, seus olhos correndo entre os corpos em busca do brilho loiro, de qualquer sinal de que Draco se encontrava ali, entre os caídos. Ele havia garantido a Narcissa que ele estava vivo.

E foi com surpresa que ele o viu encolhido em um canto, sozinho. As mãos trêmulas que abraçavam as pernas contra o peito diziam que ele ainda estava vivo, o rosto também enxarcado de lágrimas coberto pelos fios loiros, sujo da batalha.

Harry olhou do garoto para o casal. Eles estavam distantes, mas poderiam se ver. Ele tinha certeza que Lucius o havia visto e chamado pelo nome do filho, mas Narcissa o impedira de ir até ele. Ele não compreendia o que estava acontecendo, mas se tratava de Malfoy, e Harry não sentia que estava em sua alçada compreender nada que se referisse a essa família neste momento.

Seu mundo havia desmoronado com aquele castelo, ele precisava achar entre os escombros o que restara de sua própria vida para colocá-la no lugar. E a visão de Ron e Mione muito próximos de onde ele estava era só o início dessa jornada.

o0o

Os dias após a batalha passaram rápido demais. Eram poucos, mas tanta coisa já havia acontecido.

Mesmo que o que Harry quisesse fosse um tempo para parar e pensar no que fazer, tudo o que estava acontecendo chegava até ele de uma forma ou de outra, fosse notícias vindas de Hogwarts através de ex-colegas e ex-professores que estavam ajudando na identificação de corpos, socorro dos feridos que não puderam ser removidos e a organização do castelo; fosse pelo ministro que vinha frequentemente pedí-lo para comparecer ao tribunal ou assinar documentos que se referiam aos assuntos de guerra; fosse pelas fotos que se moviam sob manchetes chamativas na pilha de jornais e edições extraordinárias acumulada em um canto da sala dos Weasley.

Harry passou as mãos pelo rosto e pelos cabelos. Ele estava cansado, mas não podia simplesmente virar as costas para tudo o que estava acontecendo. Ele estava envolvido demais. E ele queria estar envolvido, pois, como Hermione não se cansava de dizer, sua presença era fundamental para que sua própria história fosse contada como se deve e não houvessem tantas injustiças como na primeira guerra.

Então ele continuava.

E, de certa forma, ele queria continuar. Ele precisava continuar. Ele sentia que, se ele simplesmente não tivesse mais nada para fazer no dia seguinte, iria se perder de alguma forma.

Harry Potter era um homem sem objetivo. Ou ao menos um objetivo próprio. E esse fato parecia levitar em algum ponto no canto dos seus olhos, fora de seu campo de visão, fora de tudo o que colocavam à sua frente para fazer, e ele sabia que estava ali, incomodando, mas era bom ter mais um papel para assinar, mais algum pedido para atender, e não ter que lidar com isso agora.

Era por isso, inclusive, que quando ninguém batia à sua porta – ou à porta da casa dos Weasley, já que era na Toca que ele residia provisoriamente -, ele ia até o Ministério ou até Hogwarts, só para ver se estava tudo ok, dentro do possível.

Hogwarts, ou a parte de Hogwarts que não estava em reconstrução, havia sido convertida em uma grande enfermaria. Harry não gostava tanto de ir lá. Era como ver sua adolescência em forma de escombros ou de túmulos que pontuavam os jardins. Ele sabia que não deveria ignorar isso, mas era pertubador.

Ele passou no escritorio de McGonnagall, mas havia uma fila de pessoas esperando para falar com ela, e ele só queria saber se precisava de alguma coisa. O pensamento de que, se ela precisasse, não hesitaria em procurá-lo o tranquilizou o suficiente para deixá-la em paz.

Uma paz que parecia quase latente na enfermaria, que havia sido magicamente expandida para o tamanho de quase dois andares do colégio: diferente das primeiras horas ou primeiros dias após o ataque ao castelo, em que macas e enfermeiros tropeçavam entre gente gritando por ajuda e corpos espalhados, agora ela se resumia a um imenso salão de camas brancas, onde pessoas dormiam tranquilamente e o silêncio só era quebrado pelo passo leve das enfermeiras ou os pássaros que soavam ao longe, na Floresta Proibida, que podia ser vista das grandes janelas que deixavam uma luz calma entrar e se espalhar pelo ambiente.

A enfermaria não tinha estrutura para grandes atendimentos, então no começo foi muito útil para separar vivos e mortos e organizar por prioridade os feridos que seriam levados a outros hospitais. Agora sua utilidade era desafogar esses hospitais, recebendo as pessoas que precisavam somente de acompanhamento ou um lugar para recuperação, além dos muitos que ainda não tinham para onde ir depois do fim da guerra, mesmo depois de curados.

- Tudo bem? - Harry sorriu para uma das enfermeiras, que trocava as ataduras de um paciente, e ela sorriu de volta, concordando com a cabeça.

- Madame Pomfrey está ali. - ela disse, baixo, apontando o outro lado do grande aposento.

Ele se aproximou da mulher que organizava algumas fichas em cima de um gabinete e a chamou em um tom baixo para não assustá-la.

- Ah, Harry, que bom que veio. - ela o encarou, séria, os olhos treinados procurando qualquer problema aparente em uma análise rápida – Você parece bem. - ela constatou, por fim.

- Sim. - ele sorriu – Vim ver se não precisa de nada.

- Não, tudo em ordem por aqui. Parece que finalmente as coisas então entrando em uma rotina, tomando seus lugares...

O sorriso do garoto se desmanchou e ele passou a mão no rosto, disfarçando seu desânimo súbito. Ele ainda não tinha um lugar para tomar na rotina das coisas. E a enfermeira voltou a analisá-lo, séria, percebendo a mudança de expressão.

- Mas, bem, se você quer ser útil em algo, acho que nosso maior problema é o senhor Malfoy. Ele não tem comido muito e não deixa ninguém examiná-lo mais detalhadamente desde que chegou aqui. Obviamente não tem nada grave, mas não deixa de ser uma preocupação. Você não gostaria de tentar conversar com ele?

- Não sei se sou... a pessoa mais apropriada. - Harry ponderou, seus olhos correndo as muitas macas em busca de qualquer brilho loiro, sem sucesso.

- Ele está sozinho, Harry. - o tom pesado da enfermeira chamou sua atenção, fazendo-o encará-la – Os pais estão presos, ele não tem mais para onde ir ou qualquer pessoa em que confiar. Ele não sai daquela maca há dias e não reage a muita coisa, mesmo que eu acredite que não esteja doente. Ele precisa de alguém que se preocupe particularmente com ele neste momento, nem que seja para ele se sentir particularmente hostilizado por algo, embora eu não te recomende essa postura.

O garoto sorriu e concordou com a cabeça, caminhando devagar na direção que ela lhe apontou. Talvez ele também precisasse disso, daquele pedacinho de passado, talvez.

Mas não havia nada do Draco Malfoy que ele conhecera no garoto deitado na maca. Draco estava magro de um jeito estranho, como se seu corpo estivesse diferente, mas abatido. Seus cabelos estavam opacos, sujos e perdendo o corte habitual. Ele estava em uma maca em um dos cantos do aposento e havia se deitado de costas para a janela, como se tentasse fugir da luz, o lençol branco o cobrindo quase completamente.

- Er... Oi, Draco. - Harry se aproximou, sem jeito, sentando sobre uma banqueta colocada ao lado da cama vizinha ao do loiro.

O menino abriu os olhos, parecendo reconhecê-lo, mas em seguida os fechou e se encolheu na cama, puxando o lençol para mais perto do corpo, como se estivesse com frio.

- Eu... estou ajudando Madame Pomfrey. Ela disse que você não deixou que te examinassem. Eu queria saber se está tudo bem. Se você precisa de alguma coisa.

Draco negou com a cabeça e novamente não respondeu. Harry engoliu em seco. Havia algo de muito errado com ele. Para começar, onde estava a hostilidade, os olhares raivosos, a pose Malfoy? Ele já o havia visto despido de tudo isso vezes demais, e nunca significou algo bom. Mas dessa vez, ele não estava sob nenhuma ameaça, estava?

Harry o olhou com mais atenção. Draco não parecia sequer ter se limpado após a última batalha. Seu rosto e suas mãos, únicas partes de seu corpo que eram aparentes, estavam sujos de poeira e sangue. Em sua testa havia um corte coberto com sangue seco. Harry pegou sobre uma mesinha próxima uma tigela com água e um pano, se aproximando do loiro e limpando o ferimento devagar, em uma tentativa de aproximação.

Os olhos claros piscaram e voltaram a encará-lo, como se tentassem entender o que estava acontecendo. Mas, ao perceber a proximidade do outro e o toque leve em sua testa, Draco pareceu entrar em pânico. Se ergueu em um movimento brusco, sentando-se na cama o mais longe possível de Harry, encolhido, os olhos assustados lacrimenjando, e sua voz carregada de medo e rancor.

- NÃO OUSE ME TOCAR! SAI DAQUI!

Harry o olhava atônito e mãos o pegaram pelos ombros e o conduziram para fora da enfermaria enquanto ele via uma enfermeira se aproximar da cama de Draco, falando com ele em um tom calmo, e o loiro voltou a se deitar, dessa vez de costas para todos os outros, o lençol o cobrindo completamente.

Ele precisava de ajuda. Essa era a única certeza que Harry tinha.

E ele não tinha nada melhor para fazer mesmo. Talvez pudesse dedicar um pouco de seu tempo a entender o que, afinal, estava acontecendo com Draco Malfoy.

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NA: Olá, pessoas!

Essa fic era para ser oneshot, uma fic rápida escrita para o projeto, mas, né, parece que nada no mundo é do jeito que eu planejo.

Ela está com 4 capítulos escritos, e são todos curtinhos como esse, pela própria dinâmica da fic. Eu vou postá-los pelas próximas semanas, mas a fic está incompleta, então só os astros sabem quando ela estará completamente aqui.

Enfim, espero que gostem!

Beijos