Tradução

SLASH , se não gostar não leia!

Estou com outra fic aqui. Quando eu li o resumo, tinha achado interessante nada mais além disso. Fui ler. Li mais por desespero mesmo, porque não estou achando nada que preste tanto aqui no fanfiction (na parte em inglês) tanto no Livejournal. Estou vivendo de Fic Rec (sim, as boas e velhas recomendações xD) Esse foi o jeito que achei essa linda histórinha aqui. Mas bem, como falei li e acabei me apaixonando perdidamente por ela, uma das razões porque quis traduzí-la!

Espero que vocês gostem tanto quanto eu gostei. Enquanto eu lia fui colocando no google imagens o nome dos lugares mencionados ou no wikipedia (tem ótimas fotos). E recomendo fazer isso enquanto lê. Mas claro, faça isso se quiser hehehe De qualquer modo, no final vou colocar os nomes dos lugares para quem quiser procurar. Os nomes vão estar em portugês, alemão e inglês. Porque você sempre acaba achando uma imagem diferente. Em português, por exemplo, tinha mais imagens do interior dos lugares. Mas isso foi a minha experiência hehehe, como eu disse, faça como quiser!

Mas eu vou parar de tagarelar, vocês já devem estar cansados de lerem isso (pelo menos quem lê, e eu sei que é a minoria xD)!

Divirtam-se!


15 de Junho, 2005

As criptas nos subterrâneos da Igreja de St Michael eram nada mais do que pequenos corredores escuros que foram feitos as pressas nas paredes; era estranho o fato de que um dia foram prestigiosas sepulturas para os bem nascidos e os ricos. Os caixões de madeira pintados estavam organizados em colunas horizontais e verticais de um modo espaçado; eles aparentavam firmeza mesmo após séculos embaixo da terra.

Harry seguiu o guia, que estava falando sobre a história das criptas para um grupo de turistas em um tom que deixava claro que ele tinha recitado esse texto milhares de vezes. Harry mergulhou em seus pensamentos; tinha suas próprias razões para estar ali, e história da arte não era uma delas.

O guia virou em um canto, e os turistas que o seguiam se maravilharam: no cômodo que entraram, a tampa de um dos caixões estava aberta, e seus conteúdos estavam sendo iluminados pela luz fraca das pequenas lâmpadas nas paredes. Grande parte dos caixões não continham objetos, mas em alguns que se localizavam nos cantos possuíam um embrulho que tinha a forma de uma múmia.

O guia sorriu ironicamente, como se quisesse mostrar para os visitantes como achava a fascinação pelos mortos, uma coisa patética. Na mesma voz monótona, ele começou a falar da umidade, que em vez de fazer os corpos apodrecerem, os preservaram; ele apontou para um homem que tinha sido torturado até a morte, e depois para uma jovem que tinha morrido no parto, sua barriga ainda proeminente e sua cara redonda amarelada e enrugada para toda a eternidade.

Enquanto que os observavam e reclamavam sobre a impossibilidade de tirar fotos devido à escuridão, Harry apenas colocou a mão sobre a parede. A estranha sensação confirmou suas suspeitas; fechou os olhos e se concentrou.

Energia. O que mumificou os corpos não foi a umidade, foi um pequeno resquício de magia. Não era um tipo familiar a ele; era antiga e muito fraca para ser canalizada. Não podia ser usada. O que sobrou foi apenas um longínquo eco.

Respirando fundo, Harry afastou-se da parede e seguiu o guia, que estava os levando para fora da igreja. Estava feliz em voltar para a luz do sol, para as ruas de uma cidade na qual as memórias de magia haviam sido engolidas pelo solo, não deixando mais nada para o mundo lá em cima.

Estivera certo em vir para Viena.

***

16 de Junho, 2005

Harry descobriu rapidamente que era um péssimo turista. Não ficara surpreso; essa era, afinal de contas, a primeira vez em sua vida que havia saído da Grã Bretanha, e a idéia de ir para um lugar apenas para visitá-lo parecia... estranha. Desde que se lembrava, sempre tinha coisas para fazer: cozinhar, limpar ou cortar grama (na casa dos tios), estudar e evitar ser morto em Hogwarts, depois o planejamento e luta que foram realizados na guerra. E um tempo depois, sua mesa na divisão dos Aurores que sempre estava afogada em um mar de papéis.

Agora, pela primeira vez, não tinha nada mais para fazer do que – como Arthur Weasley tinha dito? – se divertir.

Depois de sua pequena experiência no subterrâneo vienense no dia anterior, Harry passou o resto do dia vagando pelas ruas da cidade, olhando e tentando conectar as coisas que via com as informações dadas pelo guia que Hermione providenciara. Por algum tempo tinha sido interessante, mas começou a se entediar, eventualmente, e quando seus pés começaram a doer, ele retornou ao hotel que tinha escolhido com ajuda de Hermione. A primeira noite de sua semana fora aproveitada com a NBC e CNN, os únicos canais em inglês que o hotel conseguira arranjar.

Percebeu como tinha subestimado o quanto estava desacostumado com o mundo Trouxa.

Então após o café da manhã do segundo dia, finalmente perguntou ao recepcionista como passar seus sete dias em Viena, já que não tinha a menor idéia do que fazer ou como começar. O homem não pareceu muito entusiasmado com o pedido, mas ainda fora prestativo, lhe dando vários mapas, panfletos e folders e recomendando um tour guiado pela cidade. Obviamente, havia um horário regular para esses tours, e o recepcionista sugeriu um que começaria as duas horas da tarde. Ele marcou o ponto de encontro em um dos mapas que tinha dado a Harry e o desejou um bom dia, claramente aliviado por ter se livrado dele.

Então, agora Harry estava na praça perto do edifício da Opera Estatal de Viena, procurando o local de encontro do tour que estaria para começar. Esse era claramente um dos pontos mais turísticos, de acordo com a multidão de pessoas com câmeras. Finalmente avistou uma mulher aparentando uns cinqüenta anos segurando uma placa que dizia "Wiener Stadtspaziergänge – Tours de Viena".

Por volta das duas horas, pelo menos cinqüenta pessoas tinham se agrupado em volta da mulher. Franzindo, ela tirou o celular da bolsa e ligou para alguém antes de começar a falar com a multidão. Primeiramente falou algumas coisas em alemão; depois, para o alívio de Harry, ela mudou para inglês.

"Bem vindos em nossa tour que nos levará para os mais importantes lugares do primeiro distrito. Essa tour seria em alemão e inglês, mas como temos um grande grupo hoje, mudaremos os planos. Quais de vocês querem fazer a tour em inglês?" Quando umas trinta pessoas levantaram a mão, ela balançou a cabeça. "Bem, então dividiremos o grupo. Acabei de ligar para um colega meu que estará nos aguardando na catedral de Saint Stephen que guiará o grupo de inglês. Agora poderiam me dar o seus tickets, por favor?"

Depois de começarem a andar por uma das ruas de compra mais chiques de Viena, a constante mudança entre as duas línguas – das quais uma ele não entendia – estava começando a irritá-lo. Ele estava realmente agradecido quando a rua começou a revelar uma grande praça que estava dominada pelo estilo gótico da Catedral de Saint Sephen, a qual, Harry pensou, seria uma vista e tanto se não estivesse coberta por andaimes. Um jovem, de cabelos escuros estava esperando ao lado da catedral e pegou o grupo do inglês da outra guia.

Quando o seu novo guia começou a falar sobre a catedral, Harry suspirou aliviado. A mulher falava com um forte sotaque, mas o inglês de seu colega era sem sotaque e sem dúvidas, britânico. Pensava que deveria estar satisfeito por poder aproveitar dos pontos turísticos do distrito servidos em uma bandeja de prata agora – mas algo estava diferente. Alguma coisa martelando dentro de sua cabeça desde que o homem abriu a boca, um desconforto de não poder dizer de onde conhecia aquela voz e como lhe era estranhamente familiar.

Harry franziu as sobrancelhas e observou o guia mais atentamente. Um homem magro de uns vinte e poucos anos, pálido, olhos escondidos por óculos escuros, cabelo um pouco comprido preto, preso num rabo de cavalo. Ele estava usando calças jeans velhas, uma camisa e tênis; nada fora do normal. Entretanto, o desconforto de Harry crescia a cada minuto que ouvia aquela voz que jurava já ter escutado antes.

Durante todo o tempo que estivera com o grupo na catedral, Harry estava colocando seu cérebro para funcionar com nenhum sucesso. A solução para o seu desconforto apareceu quando o guia tirou os óculos escuros e revelou olhos cinzas que contrastavam com o cabelo escuro.

Harry parou de andar, sem se importar com o homem atrás dele que teve de desviar murmurando, irritado. Não era – era... mas ele já tinha visto aqueles olhos inúmeras vezes, apesar da cor do cabelo ter sido um loiro bem claro, e os olhos refletirem um certo ódio –

O guia se virou para ele, e quando o viu parado, deu um sorriu debochado que era muito familiar. "Bem, bem," ele disse em um tom, que mesmo passado alguns anos, ainda era equivalente ao barulho de unha arranhando o quadro negro para Harry, "a quanto tempo, Potter."

***

Duas horas depois, Harry estava mais uma vez parado na praça ao lado da Opera Estatal de Viena, imaginando se ele acabara de ter uma estranha alucinação.

Malfoy, de todas as pessoas que tinha de encontrar. Draco Malfoy, o filho da puta covarde que fez sua vida em Hogwarts um inferno. Quem tinha desaparecido sem deixar pistas oito anos atrás após ter fugido de Hogwarts com Snape no horrível dia da morte de Dumbledore.

O herdeiro de uma das famílias de sangue-puro mais arrogantes e racistas, o que estava a um passo de se tornar um Comensal da Morte, estava trabalhando como um guia turístico para os Trouxas em uma cidade sem magia. Harry olhou por cima dos ombros para o lugar onde algumas pessoas estavam reunidas perto de Malfoy, obviamente o bombardeando de perguntas e sugestões que ele aceitava com um sorriso educado. Harry balançou a cabeça. Danem-se as aparências, nem fudendo que esse realmente era Draco Malfoy – nem Flitwick desistiria de seu cargo de professor para ensinar para trouxas.

Ainda assim, Harry continuou a observar discretamente até que os últimos turistas se foram. Quando finalmente estava sozinho, Malfoy andou em direção a Opera Estatal onde uma garota loira, esperando ali a um tempo, estava acenando para ele. Quando se encontraram, ele deu um beijo na bochecha dela e depois, colocou o braço em volta de seus ombros e eles saíram na direção contraria a Harry. Ele os observou até que sumiram de vista.

***

Após duas horas vagando pelas ruas, Harry finalmente decidiu que não deixaria um encontro estranho arruinar as suas férias. Mesmo que tenha sido Malfoy ou não – e precisava admitir que não era uma opção tão remota assim – ele estava aqui para se divertir, e não perseguir a pessoa de que menos gostava. Além do mais, até onde seu conhecimento ia, Malfoy júnior nunca tinha sido realmente um bom Comensal da Morte, pelo menos não por falta de tentativas. Harry se forçou a fazer as pazes com Snape – nunca iria perdoá-lo totalmente por ter matado Dumbledore, mas teve de admitir que tinha quebrado a cara no final quando descobriu que Snape era um agente duplo. Comparando com isso, o fato de Draco Malfoy estar na mesma cidade que ele não deveria ser muito difícil.

Também não agüentaria mais um dia assistindo CNN. Na praça, havia escutado duas garotas americanas falando sobre a Ópera Estatal – "Meu Deus, é tão bonito, fui lá de novo ontem e vale muito a pena esperar na fila para conseguir um ingresso e ele é muito barato!" – e percebeu que nunca tinha assistido a uma ópera em toda a sua vida. Agora parecia uma boa hora para mudar isso.

Depois de perguntar a algumas pessoas, ele encontrou a entrada onde várias pessoas estavam fazendo fila. Harry percebeu que as coisas eram feitas de um modo diferente aqui – havia muito mais confusão nela do que estava acostumado, e algumas pessoas tentavam furar a fila. Isso levou logo a brigas e discussões até que dois empregados do teatro interviram. Em frente a Harry – que estava observando a confusão, fascinado – uma mulher um pouco baixa estava fuzilando um homem que tentava passar a sua vez, com um olhar de proporções Snape, até que ele desistiu. Quando a mulher virou para ver se o homem tinha ido embora, Harry instintivamente deu um passo para trás, colidindo com alguém que estava atrás dele.

"Descul-" Harry nunca conseguiu terminar seu pedido de desculpa porque virou para ver em quem tinha pisado.

Draco Malfoy suspirou. "Não dá para se livrar de você não é, Potter?"

***

"Então foi para cá que você desapareceu." Harry tentou falar do modo mais pacífico possível. A expressão de Malfoy estava cuidadosamente casual, então não tinha como saber o que estava realmente pensando.

Malfoy deu de ombros. "Não é o lugar que eu fui quando fugi, mas o lugar que eventualmente decidi ficar, sim."

"Você está realmente morando aqui?" Harry percebeu o quão estúpida tinha sido a sua pergunta, mas era tarde demais.

"Bem, eu tenho um emprego, não?"

"Percebi." Harry respondeu, secamente. Não admitiria que estava meio curioso agora – nesses anos teve se perguntado bastante sobre o qual foi o destino de seu arqui-inimigo. Snape nunca disse uma palavra sobre o paradeiro de Malfoy, e ninguém nunca mais ouviu falar nele de novo.

Malfoy deu um sorriso de lado. "Pelo jeito que você tava quando me reconheceu, posso concluir que não veio aqui por minha causa." Seu tom estava casual, mas havia um leve toque de ansiedade em sua voz como se quisesse tranqüilizar a si mesmo de que a súbita aparição de Harry não significava perigo.

Se lembrando de que estavam entre Trouxas, Harry ergueu um pouco a mão e lançou um feitiço silenciador. O som das vozes diminuiu, mas não desapareceu por completo. Harry franziu as sobrancelhas – não era muito habilidoso a fazer feitiços sem a varinha, mas geralmente não tinha problemas com os simples. Ele tentou novamente com um pouco mais de força, e dessa vez o burburinho da multidão desapareceu por completo. Malfoy, ainda cauteloso, estava apenas observando. Harry meio que esperava algum comentário sarcástico sobre o seu feitiço, mas nenhum foi feito.

"Não, não estou aqui por sua causa. Se você quer tanto saber, eu apenas estou de férias em Viena."

"Sozinho?"

"O que isso importa para você? Está com medo que eu chamem reforços?"

"Eu definitivamente não tenho medo de você, Potter," Malfoy replicou em um tom que lembrava o garoto de uma década atrás. "e vendo a dificuldade que tem com feitiços de terceira série, eu duvido muito que você possa ser uma grande ameaça mortal. Só perguntei porque Viena parece uma opção muito incomum para você."

"E porque?" Harry tentou ao máximo manter a calma; não queria dar a Malfoy nenhuma informação.

"Porque, Potter, Viena surpreendentemente não possui duas coisas que são esperadas uma cidade grande possuir, e elas são um Hard Rock Café e uma comunidade bruxa. Você não sabia?"

Harry deu de ombros. "Não sabia sobre o Hard Rock Café, não."

"Bem. Então você está aqui com apenas a sua solidão como companhia na única grande cidade da Europa onde o herói do mundo bruxo não seria reconhecido. Ou," adicionou com um sorriso sarcástico, "era o que você pensava."

"Pensei que essa era a sua razão para estar aqui. Não ser reconhecido."

"E é. Mas é diferente. Eu sou um excluído, e mesmo que o seu adorável Ministério me concedesse anistia por crimes menores cometidos durante a guerra, eu meio que duvido que qualquer comunidade mágica me receberia de braços abertos."

Harry cerrou os dentes. "Tentar matar Dumbledore e deixar os Comensais da Morte entrarem em Hogwarts não são considerados crimes menores!"

"O Ministério parece pensar que eles são, porque fui informado que posso voltar para a Grã Bretanha agora."

Harry não precisou perguntar sobre quem o tinha informado. "Então porque não voltou?"

"Porque me disseram o que acontece com aqueles que ganham o perdão do Ministério. Sua magia é restrita, todos seus passos são monitorados até o ponto em que não se consegue viver. Você realmente acha espera que eu volte para isso? Além do mais, o mundo que eu cresci não existi mais. Não tenho nenhuma razão lá, que me faça voltar."

Havia surpreendentemente pouca emoção em sua voz. Parecia que já tinha aceitado esse fato a muito tempo. Harry não deve ter conseguido esconder sua surpresa pois Malfoy sorriu. "Eu ainda sou um Malfoy, Potter. E somos nada senão adaptáveis."

"É o que parece. Eu honestamente esperava que você me amaldiçoar se me visse de novo."

"Isso teria sido muito estúpido da minha parte, não? Realmente pensa que eu arriscaria vida que eu consegui aqui por causa de uma rivalidade de colégio?"

"Bem, eu quase te matei no seu último ano em Hogwarts."

"E eu quase matei Dumbledore. Se me lembro corretamente, você não me amaldiçoou por isso. Certamente não estou reclamando, mas fiquei um pouco surpreso."

Foi a fez de Harry de balançar os ombros. "Não mudaria nada se eu tivesse."

"Nada do que a gente faz muda o passado, Potter; apenas o futuro. Estou feliz por não ser a única pessoa que percebeu isso. Se bem que o seu futuro não está sendo exatamente como planejou, está?"

Harry franziu as sobrancelhas. "O que te deu essa idéia, Malfoy?"

"Como eu disse, o Menino Que É Assediado de férias, sozinho, em uma cidade sem bruxos, isso me dá uma idéia."

"Bem, então tente organizar as suas idéias, porque certamente não vou te falar nada do que não é do seu interesse. Não vim para conversar com você, mas para assistir uma ópera."

Malfoy levantou as sobrancelhas. "Uma pena que tenha vindo no dia errado, então."

"Oh, e porque?" O sorriso debochado de Malfoy nada fez para acalmar o seu mau humor.

"Porque, Potter, a programação de hoje é ballet, e não ópera. Você nem olhou o cartaz antes de vir?"

Sentindo-se completamente estúpido, Harry forçou um semblante despreocupado. "Bem, nunca vi uma apresentação de ballet, então tanto faz." Isso não era exatamente verdade – a palavra ballet o fazia pensar em garotas anoréxicas em tutus, o que não parecia ser uma visão agradável – mas preferia morrer do que deixar Malfoy perceber o que realmente estava imaginando.

"Bem, aproveite. Finite incantatem." Com um gesto da mão de Malfoy, o barulho da multidão crescia novamente; Harry levou em considerou que o gesto colocava um fim na discussão e entrou por outra porta do teatro.

***

Depois de se recuperar com o choque inicial causado pela decoração do interior da Ópera Estatal (um pesadelo de ouro, estuque e pelúcia vermelha), Harry surpreendentemente achou a apresentação bonita. Não havia mulheres anoréxicas – na verdade, não tinha muitas mulheres – e não havia tutus, o que lhe pareceu lógico quando descobriu que a história do ballet era sobre Spartacus. Isso provavelmente explicava a predominância das fantasias com couro.

O Hall estava cheio de pessoas barulhentas, mas Harry estava se divertindo – ignorando o lugar desconfortável que estava e a dor em seus pés. Provavelmente estaria gostando mais se a cabeça de Malfoy não estivesse bloqueando a sua vista do palco – de alguma forma aquele idiota tinha conseguido um lugar em frente ao seu. Algumas coisas, obviamente, nunca mudariam.

Harry perder Malfoy de vista depois do fim da apresentação quando estava tentando se afastar da multidão, que falava umas vinte línguas diferentes. Não era muito fã delas, e quando finalmente conseguiu sair do teatro, sua cabeça estava girando por causa do barulho e do calor que estava lá dentro.

Encostando-se na parede, Harry fechou os olhos e respirou fundo. Seu alívio não durou muito, porque uma voz apareceu ao seu lado.

"Choque cultural é muito para você, Potter?"

Harry nem abriu os olhos. "Você não tem nada melhor para fazer do que me perseguir, Malfoy?"

"Eu? Te perseguindo?" Malfoy parecia estar se divertindo com a situação. "Que comentário insensível. E isso vindo de alguém que praticamente monitorou todos os meus passos no sexto ano."

Agora, os olhos de Harry se abriram. "Você percebeu?"

"É claro que percebi, Potter. Você é tão súbito quanto um hipogrifo atacando uma presa. O que provado hoje, novamente, quando você quase surtou quando me reconheceu."

Harry olhou para ele. "E eu tenho culpa? Esperava nunca mais te ver na minha vida; a maioria das pessoas pensa que você está morto."

Malfoy deu de ombros. "Desculpe por desapontá-lo, então."

"Eu nunca disse que queria te ver morto, Malfoy."

"Ah não?".Malfoy não parecia estar se divertindo agora, mas sim curioso.

Foi a vez de Harry de dar de ombros. "Acho que já teve mortes suficientes."

Malfoy parecia prestes a responder, mas naquele momento, uma garota asiática passou por eles, acenou para Malfoy e disse alguma coisa em alemão que ele respondeu com um sorriso. Harry o encarou; não tinha entendido uma palavra que ela tinha dito, mas ouviu claramente como tinha o chamado."

"Você está usando o seu verdadeiro nome aqui?"

"Não precisa ficar surpreso, Potter. Posso estar rodeado de Trouxas, mas ainda sou eu."

"É por isso que escolheu um lugar sem bruxos? Só para poder continuar usando o seu nome?"

Malfoy pareceu bem sério de repente. "Essa é uma boa razão quando o seu nome é única coisa que você tem, Potter."

Harry balançou a cabeça, incrédulo. "Então porque se importou em mudar a cor do seu cabelo?"

O outro garoto estava sorrindo, novamente. "Para me sentir menos único?"

"Há milhões de pessoas com cabelo preto," Harry raciocinou, "Eu só nunca imaginei que você faria parte dessas pessoas."

"Bem, admito, não foi idéia minha. Minha mãe mudou quando saímos da Inglaterra; ela achava que faria eu parecer menos suspeito."

Harry sorriu. "Nem quero imaginar o escândalo que você deve ter feito."

"Sim, porque eu certamente não tinha grandes preocupações naquele tempo." O familiar sorriso debochado estava de volta em Malfoy.

"Certo." Harry lutou contra o impulso de se desculpar; essa pode ter sido a mais longa conversa educada que eles já tiveram, mas ainda era Draco Malfoy. Além do mais, a conversa parecia ter terminado porque Malfoy estava se virando para ir.

"Bem, Potter, por mais prazerosa que essa reunião inesperada tenha sido, estou indo. Não acho que você aparecerá em outra de minhas tours?"

"Não se preocupe, Malfoy." Harry fez o melhor que pode para dar uma resposta igualmente sarcástica. "Receio que grupos turísticos não são muito a minha praia, então a não ser que você faça uma tour particular, você está a salvo de mim."

Um lento, sorriso predatório se abriu na cara de Malfoy. "Na verdade, eu faço tours particulares, ocasionalmente. Mas como eu duvido muito que você possa me comprar, acho que continuo seguro."

Foi, Harry percebeu tarde demais, a armadilha mais antiga do mundo – e claro, ele caiu direitinho nela. "Ah, é? Me diz, Malfoy, quanto alguém tem de pagar pela prazer duvidoso de sua atenção exclusiva?"

"O preço usual é trezentos Euros por metade do dia, quinhentos para o dia inteiro." Malfoy respondeu, de repente bastante profissional. "Para tours em Viena. Entradas não incluídas."

Harry respirou fundo. Ele iria se arrepender, mas não iria deixar de aceitar o desafio agora. "Muito bem, então. Ainda há espaço na sua ocupadíssima agenda nesses próximos dias?"

Malfoy estava sorrindo de novo. "Estava planejando em tirar folga amanha já que eu vou trabalhar uma semana direto, mas não posso recusar uma oferta do herói do mundo bruxo. Vou querer pagamento adiantado, caso você desista."

"Oh, e o que me garante que você aparecerá amanha se receber o pagamento agora?"

Malfoy suspirou. "Potter, como você já deve ter percebido, eu sou um guia turístico profissional. Aqui está o meu cartão, se isso te faz se sentir melhor. Você realmente acha que eu arriscaria a minha reputação de modo tão estúpido? Se você quer uma razão para acovardar, sugiro escolher outra."

Cerrando os dentes, Harry tirou a sua carteira do bolso. Estava secretamente contente de não ter tido uma oportunidade de gastar o seu dinheiro porque tinha quinhentos Euros na carteira. Entregando-os para Malfoy, ele disse da maneira mais comum possível: "Te verei amanhã, então."

Malfoy concordou. "Precisa de um recibo?"

"Uh, não, acho que não. Porque?"

"Porque," Malfoy replicou com um sorriso enquanto guardava o dinheiro. "nesse caso, Karl-Heinz nunca precisará ouvir disto."

"Quem?"

"O ministro da finança."

Levou uns segundos para Harry captar a mensagem. "Sonegação de impostos, Malfoy?"

Malfoy, completamente calmo, sorriu. "Um dos maiores benefícios de ser um freelancer. Além do mais, é praticamente um hobby nacional. Apesar de que se eu tivesse perguntado para um austríaco a mesma pergunta que eu te fiz, ele iria pedir um desconto."

"E você daria?"

Malfoy sorriu debochado. "Claro. Por isso eu prefiro fazer negócios com estrangeiros inocentes como você, Potter. Onde você está hospedado?"

Harry franziu as sobrancelhas. "Porque quer saber?"

Malfoy revirou os olhos. "Para eu poder te matar enquanto você dorme. Potter, eu terei que te encontrar em algum lugar amanhã, não? Geralmente as pessoas apreciam ser buscadas no hotel, mas se você está com medo de me dar o endereço..."

Harry suspirou. "Malfoy, estamos velhos para isso não? Estou no Hotel Ibis."

"Aquele perto do Westbahnhof?"

"Esse mesmo. Pode chegar umas oito e meia?"

Malfoy lhe deu um sorriso sardônico. "Conte com isso, Potter."


Lugares:

1. Igreja de Saint Michael / Michaelerkirche / Saint Michael's Church

2. Catedral de Saint Stephen / Stephansdom / Saint Stephen's Cathedral

3. Ópera Estatal de Viena / Wiener Staatsoper / Vienna State Opera

4. Hotel Ibis (Viena) / Ibis Hotel (Wien) / Ibis Hotel (Vienna)

5. Wien Westbahnhof / Vienna West Station ou Vienna Western Station (não achei o nome em português)