Cinzas
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Fanfic escrita para o FF-SOL 100 Temas – Desafio Miss Sunshine: O RETORNO!
Tema: 17 – Restos
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Cinzas. Era o que restava depois do fogo. E não importava o tamanho da chama, o quão forte ela queimava. Mesmo os vulcões terminavam sua explosão de fúria em cinzas. Opaca, seca, inútil cinza.
Era o que restara de Azula.
Tudo o que um dia fora – aorgulhosatemidaimbatívelAzula – abarrotado em um mundo de cinzas.
Encolhida no canto daquela cela – prisãoquartotúmulotúmulo – nem seu reflexo lhe dava sequer uma faísca de esperança – esperança que ela tentara destruirrasgarqueimar -, reflexo que antes era emoldurado por um espelho do mais puro ouro – como seus olhos, como sua chama interna – agora simplesmente jazia numa poça no chão daquele lugar.
Sua nova realidade era feita de restos. O que restou da ambição de seu pai. O que restou de sua ambição. De seus sonhos. Do monstro de chamas que ela era.
Se transformara em cinzas.
O barulho da pesada porta de metal se abrindo fez com que levantasse seus olhos âmbares - antes adornados com lápis de carvão real, agora rodeados por olheiras do mais odiado cinza. Demorou a se acostumar com a claridade que vinha de fora – e antes era tão acostumada com a luz, com o calor, comofogonãoascinzasofogoofogo...
Uma conhecida figura feminina adentrou aquele cubículo que chamavam de cela, onde só havia restos do que foi um dia. A porta se fechou e a única lâmpada daquele lugar – que era incapaz de lembrá-la do sol, do fogo que ele fazia correr em suas veias – foi acesa. Mai parou a sua frente, tão completa como sempre fora.
- O que está fazendo aqui? – até mesmo sua voz, antes tão autoritária, parecia vir de uma garganta cheia de pó.
Mai não respondeu. Seu semblante sério, seus olhos firmes, sua pele pálida. Completa.
- Huh... Meu irmão mandou você aqui? – encostou a cabeça na parede e encarou a outra mulher, buscando um filete, uma faísca em meio às cinzas.
- Ouvi dizer que não anda comendo. – até a voz continuava suave como sempre. Será que só ela tinha se desfeito em restos?
- Hahaha... – riu, amargurada, com o que lhe sobrara de forças – Foi por isso que ele te mandou aqui?
- Zuko está preocupado com você. Ele não fala, mas eu sei que-
Azula riu, e por um instante sentiu uma brasa dentro de si. E riu, riu mais alto, pra acender o fogo, a chama, fazê-la queimarqueimarqueimar!
- Me poupe – escorou-se na parede e ficou de pé, ficando frente a frente com aquele rosto que sempre lhe lembrava o fogo – Zuko está se sentindo culpado e manda você aqui pra tentar fazer média comigo? Que patético!
- Ninguém me mandou aqui, Azula – aqueles olhos, cheios de fogo, tão quentes... – Eu vim porque quis. Porque ninguém mais vem te ver. – ...arrasaram as últimas faíscas que restaram entre as cinzas.
Azula tomou passos cambaleantes até Mai – e os odiou por isso, tudo o que restara do seu andar altivo e confiante – até parar a poucos centímetros da outra.
- Eu não ligo se ninguém me visitar. Eu não ligo se nunca mais aparecer aqui – sibilou fracamente no ouvido de Mai. – Eu sou um monstro. Você deveria ter medo de mim...
Voltou a encarar a outra, sentindo a respiração quente de Mai em seu rosto, queimando sua face como se estivesse perto demais da chama.
- Há muito tempo que eu deixei de temer você, Azula.
E seus lábios se chocaram com os de Mai, buscando o calor, uma chama, qualquer coisa, qualquer coisa para reavivar o fogo que já não queimava em Azula.
Mas Mai segurou seus pulsos e a empurrou contra a parede, afastando todo o calor, toda a chama que acendia em Azula quando Mai – única comparação com o sol que ela jamais veria outra vez – se aproximava. A porta se abriu novamente e Mai saiu por ela, tão rápido quanto entrou.
Levando o sol... o calor... o fogo...
E só restaram as cinzas.
